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Sobre recordes, #1, Serena e Kerber no US Open (o guia versão feminina)

Alexandre Cossenza

28/08/2016 14h13

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Ano passado, Serena Williams teve a chance de fechar o Grand Slam em casa. Desta vez, a americana tem outros recordes na mira em Nova York. Se vencer o US Open, deixará para trás Steffi Graf e se tornará de forma isolada a maior vencedora de Slams da Era Aberta. Seu 23º título seria também o sétimo em Nova York, outro recorde (Chris Evert venceu seis vezes).

Além disso, se sair do US Open na liderança do ranking, Serena quebrará o recorde de Steffi Graf, que ficou na ponta por 186 semanas consecutivas. A americana, contudo, é ameaçada justamente por outra alemã: Angelique Kerber, que tem chances nada desprezíveis de sair de NY como número 1 do mundo.

Com tudo isso em mente, chega a hora de o guiazão dissecar as chaves, fazer a matemática da briga pelo ranking e deixar tudo mastigadinho para você, leitor, curtir bastante o último Slam da temporada. É só rolar a página, ler e ficar por dentro. E, se quiser deixar seus palpites na caixinha de comentário (aqui no blog ou na página do Saque e Voleio no Facebook), fique à vontade.

A matemática

Segundo a WTA, nem é preciso fazer tantas contas assim para saber quem sairá no topo do mundo quando acabar o US Open, daqui a duas semanas. O primeiro a se saber é simples:

– Serena continuará no topo se for campeã do US Open.
– Serena precisa alcançar pelo menos as semifinais, independentemente do resultado de Kerber, que está apenas 190 pontos atrás no ranking.

No entanto, se alemã for avançando em Flushing Meadows, Serena precisará de algo realmente especial. Vejamos:

– Se Kerber chegar às quartas, Serena precisa alcançar a final.
– Se ambas chegarem à final, a campeã será a número 1 do mundo.

Além de tudo isso, é preciso considerar que Garbiñe Muguruza e Agnieszka Radwanska também têm chances de tomar a liderança do ranking. A espanhola precisa pelo menos alcançar a final para isso (dependeria, entretanto, de uma combinação de resultados). Se for campeã, aí sim Muguruza será a nova número 1, não importa o que aconteça com as outras três.

Para a polonesa, o mínimo necessário também seria uma final, mas chegar ao topo também dependeria de uma série de derrotas precoces das outras três que brigam pela posição.

As favoritas / Quem se deu bem

Falar e pensar nas chances de Serena Williams neste momento exige um asterisco enorme: uma lesão no ombro que incomoda desde o fim de Wimbledon e prejudicou seu rendimento nos Jogos Olímpicos Rio 2016. A americana, aliás, não jogou nem em Montreal nem em Cincinnati por causa das dores e já avisou que não está 100% para o US Open. "Não joguei muito, não treinei muito, mas estou começando a me sentir melhor", disse, segundo o site da WTA. Está longe de ser a mais animadora das declarações.

Sua chave em NY também não é muito amistosa, a começar pela estreia contra Ekaterina Makarova, #36, campeã olímpica de duplas. Serena ainda pode enfrentar Ivanovic na terceira rodada, Stosur ou Kasatkina nas oitavas e Halep (já chego na romena) nas quartas. No papel, a semi seria contra Radwanska, cabeça 4. Não é um caminho simples, mas a questão maior parece ser o preparo da número 1. Em condições normais, Serena seria favoritíssima em qualquer chave. Sem treino, nem tanto. Mas o quanto essa lesão atrapalhou/atrapalhará seus planos só ficará claro quando ela pisar no Estádio Arthur Ashe para sua estreia.

Angelique Kerber não tem lá a mais espinhosa das rotas, mas cascas de banana podem surgir pelo caminho, como Alizé Cornet na segunda rodada e Petra Kvitova nas oitavas. Nas quartas, a alemã enfrentaria a vencedora da seção que tem Vinci, Cibulkova, Begu e Doi como cabeças de chave. A semi prevista é contra Muguruza ou Keys – caso não haja uma zebra maior antes disso, é claro.

É possível afirmar que, de modo geral, a metade de baixo da chave está menos complicada do que a parte encabeçada por Serena Williams. Ainda assim, vale ponderar o quanto (e se) pesará para Kerber a chance perdida em Cincinnati. Tivesse derrotado Karolina Pliskova na final, a alemã já seria a número 1 do mundo.

Olhar para a chave de Garbiñe Muguruza, cabeça 3, significa avistar na terceira rodada um confronto em potencial contra Mónica Puig, sua algoz no Rio de Janeiro. "Algoz" talvez nem defina direito o que aconteceu. A porto-riquenha atropelou a espanhola, deixando Muguruza dizendo que nunca tinha visto Puig jogar daquele jeito. "Aquele jeito" foi a forma de campeã olímpica de Puig. Mas será que a jovem, depois de comemorar o ouro olímpico por duas semanas, estará tão afiada em Nova York? Difícil dizer. Eu apostaria que não. Isso se ela não sofrer um torcicolo antes, depois de tanto tempo sem tirar a medalha do pescoço!

Fora isso, Muguruza enfrentaria Bencic ou Konta nas oitavas e, depois, nas quartas, a "campeã" da seção com Keys, Kuznetsova, Strycova e Vandeweghe. Não é o mais difícil dos caminhos, sejamos sinceros.

Por fim, Agnieszka Radwanska, cabeça 4, chefia o que considero ser o quarto mais fraco da chave. As outras cabeças são Venus, Pliskova, Bacsinszky, Pavlyuchenkova, Bertens, Garcia e Siegemund. A polonesa tem espaço para avançar. Estreia contra Pegula, pega Naomy Broady ou Laura Robson (aquela!) na segunda rodada e Garcia na terceira. A casca de banana aqui é Eugenie Bouchard, que pode chegar nessa terceira rodada em vez de Garcia.

Quem se deu mal mesmo no sorteio foi Simona Halep. A romena, campeã em Montreal e semifinalista em Cincinnati, desistiu do Rio e apostou todas fichas no US Open. Pois vai estrear contra Kirsten Flipkens e enfrentar Safarova ou Gavrilova na segunda rodada. Na terceira, possivelmente encara Timea Babos ou Heather Watson. Se chegar às quartas, pode encarar Serena. É claro que o caminho pode se abrir com uma eliminação precoce da número 1, mas hoje, com a chave no papel, Halep é quem tem mais obstáculos grandes no caminho.

A brasileira

Teliana Pereira, única brasileira na chave, não deu sorte. Ela vai estrear contra a espanhola Carla Suárez Navarro, atual #12 do mundo. As duas se enfrentaram em Roma este ano, e CSN venceu por 6/1 e 7/5. Teliana, fazendo uma temporada decepcionante, vem de seis derrotas seguidas em torneios de nível WTA. A brasileira soma quatro vitórias e 19 reveses em torneio deste porte em 2016. Suárez Navarro entra no confronto como favoritíssima.

As grandes ausências

Dois nomes sempre fazem falta em um Slam: Maria Sharapova, que cumpre suspensão por doping, e Victoria Azarenka, que está grávida. Na prática, porém, ninguém mais contava com elas. A ausência de última hora que provocou uma mudança significativa é a de Sloane Stephens, forçada por uma lesão no pé direito. Com sua saída, a campeã olímpica Mónica Puig foi promovida a cabeça de chave. A porto-riquenha, entretanto, não caiu em uma chave tão simples assim.

Os melhores jogos nos primeiros dias

A lista é boa. A primeira rodada feminina tem Serena x Makarova, Safarova x Gavrilova, Wozniacki x Townsend e Flipkens x Halep. Meu preferido, no entanto é o clássico Francesca Schiavone x Svetlana Kuznetsova!

As tenistas mais perigosas "soltas" na chave

Caroline Wozniacki, Eugenie Bouchard e Lucie Safarova não estão entre as cabeças de chave deste US Open, o que significa alguns duelos interessantes antes do que se imaginaria. Wozniacki, por exemplo, pode enfrentar Kuznetsova já na segunda fase. Isso se a dinamarquesa passar pela talentosa-mas-irregular americana Taylor Townsend na estreia. Wozniacki, lembremos, tem mais derrotas do que vitórias na temporada.

Bouchard, por sua vez, pode encarar Caroline Garcia na segunda rodada e Aga Radwanska na sequência. Atual #40 do mundo, a canadense vem recuperando aos poucos a forma. Ainda que não esteja tão perto assim do tênis que a colocou no top 5 em 2014, não convém descartá-la totalmente. A sensação é de Genie pode engrenar uma sequência a qualquer momento.

Correndo por fora

Essa seção deveria se chamar "Adivinhe quando Karolina Pliskova vai perder" porque quase sempre incluo a tcheca entre os nomes que podem ir mais longe em um Slam e até agora isso nunca aconteceu.

Continuo achando que vai acontecer, mas independentemente disso, é preciso reconhecer que sua chave está interessante neste US Open. A tcheca é favorita para encontrar Venus nas oitavas e, se conseguir essa vitória, já estará no lucro. Convém a Pliskova, porém, torcer também para que Radwanska não chegue às quartas. Ela e a polonesa já se enfrentaram seis vezes, e Aga venceu todos os sets até hoje.

Onde ver

SporTV e ESPN transmitirão o US Open. O site do canal da Globosat indica que o torneio será exibido no SporTV3, mesmo canal que já vinha sendo usado para exibir a programação de tênis da emissora. O site da ESPN, por sua vez, prevê transmissões na ESPN e na ESPN+, além do não tão confiável WatchESPN, que trava sempre que algum programa é muito assistido.

Nas casas de apostas

A conhecida casa bet365 coloca Serena Williams (novidade!) como mais cotada, seguida por Kerber, Halep e Muguruza. Parece a ordem mais óbvia. O resto do top 10 inclui Keys, Kvitova, Pliskova, Radwanska, Puig e Konta.

Vale notar que Venus é a 12ª mais cotada, pagando 66/1, e que Wozniacki é a 15ª, pagando 80/1 – o mesmo que Safarova e Bacsinszky.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

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