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Saque e Voleio

Quando o sonho acaba e é preciso dizer 'segue o baile'

Alexandre Cossenza

10/08/2016 12h33

A noite de terça-feira foi especialmente dura para o tênis brasileiro. Sim, Thomaz Bellucci derrotou Pablo Cuevas e passou para a terceira rodada na chave de simples, mas a maior chance de medalha do país na modalidade acabou. Bruno Soares e Marcelo Melo foram eliminados nas quartas de final pelos romenos Florin Mergea e Horia Tecau.

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Faltava uma vitória para que os mineiros jogassem por uma medalha. Faltou, no fim das contas, um set. Foi um golpe e tanto. Foi um baque na torcida, que encheu a Quadra 1 e deu show nos três jogos de Soares e Melo em uma sintonia rara de ver; foi duro para a imprensa, que acompanhou a trajetória bacana de dois campeões de Grand Slam; e, claro, foi devastador para Bruno e Marcelo.

Machucou porque foi em casa, porque coincidiu de os Jogos Olímpicos acontecerem no Brasil e justamente durante o auge da carreira de ambos. Doeu porque os dois queriam muito. Bruno disse durante a semana que nunca viveu o tênis tão intensamente quanto nestes dias. Nunca curtiu tanto ir dormir pensando no jogo do dia seguinte. Abalou porque era possível. Quase palpável. Tecau e Mergea são uma ótima dupla, mas não são um Phelps. "Só" jogaram como se fossem. Ainda assim, duas bolas aqui, outras duas ali, e o jogo teria outro fim.

Só que o que dá o sabor tão especial ao Jogos Olímpicos é o mesmo ingrediente da crueldade. Não há margem para erro. A próxima chance vem só daqui a quatro anos e será longe de casa, em Tóquio, trocando o dia pela noite. Marcelo terá 36 anos. Bruno, 38. É possível que ambos já não estejam jogando seu melhor tênis. E isso faz doer mais ainda. Talvez a melhor chance – não a única – tenha passado.

Bruno e Marcelo não fazem parte de nenhuma minoria social ou étnica. Não foram criados na favela, não são nordestinos nem negros. São homens criados em famílias que nunca passaram fome. Não precisaram lidar com preconceitos. Nem por isso são menos brasileiros ou merecedores que outros. Encararam o mais duro dos esportes individuais, abraçando uma vida em que não há clubes bancando treinadores nem viagens. É cada um por si, e os patrocinadores são escassos.

A dupla mineira nunca se escondeu atrás de assessores de imprensa e jamais fugiu de uma entrevista depois de uma derrota. Bruno e Marcelo não são de desculpas. Reconhecem suas falhas, dão mérito aos rivais. Uma medalha coroaria duas carreiras fantásticas, mas mais do que isso: duas pessoas fantásticas.

Uma entrevista pós-derrota quase sempre inclui um "segue o baile" vindo de Bruno. Não é minimizar o revés. É aceitar o que aconteceu e olhar para a frente. Foi assim que ele fez a vida inteira. Marcelo também. Sempre deu certo. E pode ser que em menos de um mês um deles esteja comemorando outro título de Slam. Acabam os Jogos Olímpicos. É difícil engolir e aceitar que o sonho acabou. Talvez nunca tenha sido tão difícil pedir ao DJ ou voltar à pista, mas não tem jeito. "Segue o baile."

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.