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Wimbledon, dia 13: Andy Murray, o campeão, voltou

Alexandre Cossenza

10/07/2016 17h30

Três anos, 12 torneios, uma cirurgia nas costas, um pedido de demissão de Ivan Lendl, quatro finais e uma recontratação de Ivan Lendl depois, aconteceu outra vez. Andy Murray é campeão de um Slam. O herói britânico, o homem que carregou o Reino Unido nas costas na Copa Davis, triunfa em casa, em Wimbledon, mais uma vez. Com uma atuação inteligente, consistente e digna de todo seu potencial, fez o gigante Milos Raonic parecer um atleta mediano, de poucos recursos. Aplicou 6/4, 7/6(3) e 7/6(2) e voltou a reinar na Quadra Central.

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A conquista não deixa de ser um prêmio gigante para quem enfrentou tanto em tão pouco tempo. Quando precisou passar por uma cirurgia nas costas, em 2013, Andy Murray vivia provavelmente o melhor momento de sua carreira até então. Disputou quatro finais de Slam seguidas (2012-13) e conquistou a medalha de ouro olímpica em simples. A operação foi realizada em setembro. Em março, Ivan Lendl pediu demissão. Queria mais tempo para seus próprios projetos. Foi um baque enorme para o número 1 britânico, que ainda tentava voltar ao nível competitivo de antes da cirurgia. O timing da separação foi o pior possível.

Era preciso readquirir confiança no corpo, conseguir um novo treinador e, ao mesmo tempo, encontrar uma maneira de ser competitivo e voltar a brigar com gente do nível de Djokovic, Nadal e Federer. A temporada de 2014 mostrou-se cedo demais para isso. Em 2015, já foi bem diferente. Murray fez uma final em Melbourne, semifinais em Roland Garros e Wimbledon e carregou a Grã-Bretanha ao título da Copa Davis em uma campanha fantástica, jogando sempre pressionado e sem um segundo simplista para apoiá-lo.

Faltava pouco, e veio 2016. Uma final na Austrália, um vice. Uma final em Roland Garros, outro vice. O título batia na trave, resvalando no espetacular tênis de Djokovic. Até que veio Wimbledon, onde tudo parece se encaixar para o jogo de Murray. Poderia ter acontecido em 2015, mas Federer tirou da cartola, naquela semifinal, possivelmente seu melhor jogo nos últimos cinco anos. Este ano, não. Tsonga ameaçou, mas não conseguiu; Berdych nem deu para a saída; e Raonic fez o que pôde, mas não foi o suficiente. Andy Murray e seu tênis gigante, cheio de recursos, triunfam novamente no maior dos palcos.

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O jogo

O primeiro set foi maiúsculo. Murray fez tudo que tirou Raonic da zona de conforto. Leu e devolveu saques bem com o backhand, não bateu duas bolas seguidas na mesma direção, forçando o grandão a se movimentar, e foi preciso nas passadas. Enquanto isso, o canadense apostou em variações no serviço que não funcionaram (apenas um ace na parcial) e subiu mal à rede. Foi num desses approaches no meio da quadra, aliás, que Murray conseguiu a única quebra do set.

A segunda parcial não foi muito diferente no ponto-a-ponto, mas as falhas vieram nos momentos mais delicados. Break points vieram e se foram em três games diferentes. No nono game, o escocês jogou duas ótimas chances na rede. Primeiro, com um slice. Depois, com uma direita nada forçada. Raonic tentou coisas diferentes. Arriscou do fundo, subiu à rede, sacou mais forte. Disparou, inclusive, o serviço mais rápido do torneio. E olha o que aconteceu…

Ainda assim, o canadense poderia ter equilibrado o jogo no tie-break do segundo set. Só que o dia era de Murray. O escocês foi perfeito. Abriu 6/1, fechou em 7/3. Faltava só um set para o bicampeonato em Wimbledon.

Raonic tentou um pouco de tudo. Do fundo de quadra, ficava no prejuízo. Quando tentava subir, era vítima de passadas precisas, quase sempre de backhand e na cruzada. Curtinhas não eram opção contra a velocidade de Murray. Slices não faziam diferença. Ainda assim, o canadense teve uma fresta para entrar no jogo. Dois break points no quinto game. Errou uma devolução e um slice. Ambos na rede. Murray confirmou, e outro tie-break foi necessário.

Era o momento para decidir, e Murray foi enfático. Uma passada de backhand lhe deu o primeiro mini-break. Um par de winners lhe colocou na frente de vez. Quando Raonic fez seu primeiro ponto, já perdia por 5/0. Faltava pouco, e o adversário não teve mais chances. Andy Murray, de volta a seu melhor nível, de volta com Ivan Lendl, e com o troféu de volta às mãos.

O efeito Lendl

Tudo bem, são três títulos de Slam ao lado de Ivan Lendl. Nenhum sem ele. Ainda assim, talvez seja o caso de não superestimar a influência do técnico. Ou não de subestimar a importância de Amélie Mauresmo, que esteve ao lado de Murray em dias mais complicados. As duas finais em Melbourne foram ao lado da francesa. A semi de Wimbledon/2015 também. Não faltou tanto assim. De qualquer modo, os números ao lado de Lendl são relevantes:

O ranking

Com o resultado deste domingo, Andy Murray reduziu significativamente a vantagem de Novak Djokovic na liderança do ranking. Ainda assim, o sérvio continua com folga no topo, somando 15.040 pontos contra 10.195 do escocês. A diferença, que era de 8.035 pontos, cai para 4.845.

O top 10 não sofreu grandes mudanças e fica assim: Djokovic, Murray, Federer, Nadal, Wawrinka, Nishikori, Raonic, Berdych, Thiem e Tsonga. Raonic, não sobe, mas cola em Nishikori e se aproxima de Wawrinka. Tsonga subiu duas posições e voltou ao grupo, no lugar de Gasquet.

O melhor vídeo

Murray conseguiu uma dúzia de passadas bacanas contra Raonic na final, mas minha imagem preferida deste domingo ainda é essa…

Os melhores momentos

Ainda assim, vale ver os melhores momentos do jogo. Por que não?

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.