Topo

Saque e Voleio

Wimbledon, dia 9: da salvação de Federer à força de Murray

Alexandre Cossenza

06/07/2016 17h05

A Quadra Central vibrou como nunca nesta edição de Wimbledon. Do início do dia ao match point do segundo jogo, foram dez sets, dezenas de pontos memoráveis, três match points salvos, uma virada gloriosa e mais de sete horas transcorridas. Tudo isso para que os favoritos Roger Federer e Andy Murray avançassem às semifinais do torneio. E foi mais ou menos assim que aconteceu.

Federer_W16_qf_reu_blog

O melhor jogo

Foram dois sets estranhos de Roger Federer. No começo, faltava agressividade no backhand, e o slice não incomodava Marin Cilic o suficiente. Mais do que isso, o suíço deixou passar uma chance rara. Umazinha que apareceu no primeiro set. Um 0/30 no quinto game, com a quadra aberta. Mandou uma direita para fora. O croata ainda cedeu dois break points naquele mesmo game, mas se salvou e ganhou o tie-break. Um set a zero. O alarme estava ligado.

Não que fosse uma atuação mais ou menos de Cilic. O número 13 do mundo era muito competente. Sacava bem e errava pouco. Mas não era espetacular. Certamente, não no nível espetacular-campeão-daquele-US-Open. Confirmava o serviço e esperava chances. Salvou mais dois break points no segundo set e quebrou o suíço. Mas era um estranho suíço.

Quando Cilic sacava para fechar o segundo set, com 0/15 no placar, Federer teve um backhand fácil para matar e pressionar o rival. Jogou na rede. O público sentiu o golpe. O heptacampeão sentiu o golpe. Cilic abriu 2 sets a 0. "Na bola", ponto a ponto, golpe a golpe, a diferença não era tão grande assim, só que o placar indicava outra coisa. Era uma tarde estranha.

Cilic ficou muito perto da vitória. O placar mostrava 3/3, 0/40, com Federer no serviço no terceiro set. O croata cometeu três erros. O suíço gritou, vibrou. A torcida acordou. A conta veio rápido, já no game seguinte. Um erro não forçado e uma dupla falta de Cilic deram a Federer uma quebra. O dia já não parecia tão estranho. O heptacampeão já tinha no currículo nove vitórias após estar perdendo por 2 a 0. A décima estava só começando.

Não que tenha sido ladeira abaixo depois disso. Cilic jogou fora dois break points no quarto game, errando devoluções de segundo saque. Teve um match point com Federer sacando em 4/5. Mandou para fora uma devolução de segundo saque. Sim, mais uma. Cilic teve outro match point dois games depois, mas nem jogou. Um ace de Federer evitou o adeus.

O tie-break teve mais drama. Ninguém se espantaria com erros nervosos de Cilic. Eles vieram. Surpresa mesmo foram as falhas do heptacampeão, o senhor dos pontos grandes. Primeiro, uma madeirada deu ao rival o primeiro mini-break do game. Mais tarde, com 6/5 no placar, outra madeirada jogou fora o set point. Federer ainda cedeu mais um match point, mas Cilic não conseguiu responder um segundo saque forçado. O game ainda teve o suíço perdendo outro set point com um erro não forçado (estranho, muito estranho), mas foi o croata que cedeu ao falhar mais duas vezes. Tudo igual: 2 sets a 2.

O estranho ficou para trás. Todo mundo sabia. O backhand na paralela já entrava mais, e a velocidade na movimentação não indicava nenhum resquício de lesão. Cilic ainda brigou, salvou break point no sexto game. Federer, mais Federer do que nunca (ou tão Federer como sempre!?) já não cedia mais nada. Era questão de tempo. Game, set, match: 6/7(4), 4/6, 6/3, 7/6(9), 6/3. Suíço na semi. Um caminho estranho, um resultado normal.

Federer agora é o recordista de vitórias em torneios do Grand Slam, com 307 – uma a mais que Martina Navratilova e cinco a mais que Serena Williams. E, com mais esse triunfo, agora acumula 40 semifinais de Grand Slam e 84 vitórias em Wimbledon, igualando a marca de Jimmy Connors.

Seu adversário na semi será Milos Raonic (#7), que avançou no buraco deixado por Novak Djokovic. O canadense, que quase tombou diante de David Goffin nas oitavas, superou nas quartas o americano Sam Querrey (#41): 6/4, 7/5, 5/7 e 6/4. Difícil dizer se Raonic será um desafio maior do que Cilic. O canadense tem um saque mais potente, mas não é tão sólido quanto o croata do fundo de quadra nem devolve saques tão bem.

A outra semi

Primeiro, parecia que Jo-Wilfried Tsonga (#12) venceria o primeiro set. O francês, afinal, teve três set points no tie-break. Depois, parecia que Andy Murray (#2) completaria uma vitória sem mais dramas. Isso porque o escocês fez 6/1 no segundo set. E aí tudo mudou outra vez quando Tsonga venceu o terceiro set e se encheu de confiança, mas mudou mais uma vez quando Murray abriu 4/2 no quarto set e virou de cabeça para baixo outra vez porque o francês venceu quatro games seguidos e forçou o quinto set.

Brincadeiras à parte, foi um jogaço de alto nível (a não ser pelo segundo set), com todo tipo de lance e os dois tenistas protagonizando lances espetaculares – às vezes, em sequência. No fim, Murray mostrou raça, grande força mental, chamou a torcida e disparou na frente no quinto set, fechando em 7/6(10), 6/1, 3/6, 4/6 e 6/1.

O adversário do britânico na semi será – vejam a ironia – o tenista mais estável do dia: Tomas Berdych (#9), que derrotou Lucas Pouille (#30) por 7/6(4), 6/3 e 6/2. O tcheco perdeu o serviço apenas uma vez em toda a partida e será o atleta mais descansado na sexta-feira, nas semifinais. Difícil imaginar que preparo físico será uma vantagem diante de Andy Murray, mas pelo menos não será uma desvantagem. Já é algo para Berdych, que é um claro azarão na partida.

O último brasileiro

Bruno Soares e Jamie Murray quase conseguiram uma virada memorável, mas ficaram pelo caminho. Nas quartas de final, brasileiro e britânico viram Edouard Roger-Vasselin e Julien Benneteau abrirem 2 sets a 0, mas reagiram, igualaram o placar e só foram perder no quinto set longo: 6/4, 6/4, 6/7(11), 6/7(1) e 10/8.

O mineiro ainda voltaria à quadra nesta quarta pela chave de duplas mistas, mas ele e Elena Vesnina abandonaram o torneio. A russa, vale lembrar, está classificada para as semifinais de simples (vai enfrentar Serena amanhã) e as quartas de duplas (ela e Makarova enfrentam Venus e Serena).

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.