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Wimbledon, dia 4: crise nervosa, ameaça judicial e várias cabeças rolando

Alexandre Cossenza

30/06/2016 17h37

A programação estava cheia por causa da chuva que acumulou jogos sem terminar, e a quinta-feira de Wimbledon acabou sendo um dia agitadíssimo. Desde o tombo gigante de Garbiñe Muguruza até a memorável crise de nervos de Viktor Troicki, passando por Gilles Simon, que aparentemente ameaçou processar o planeta inteiro (calma, não foi tudo isso), e incluindo Agnieszka Radwanska, que só sobreviveu depois de salvar match points e ver a rival se lesionar. Sim, é muita coisa para um dia só, mas o resumaço conta tudo. Ou quase tudo.

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A zebra

Atual vice-campeã de Wimbledon, campeã de Roland Garros e número 2 do ranking, Garbiñe Muguruza era favoritíssima contra Jana Cepelova, #124, vindo do qualifying e com um histórico de nunca ter passado da terceira rodada em Wimbledon (embora tenha derrotado Simona Halep na estreia no ano passado).

Cinquenta e nove minutos depois, estava concretizada a maior zebra do torneio até agora. Cepelova fez mais winners (14 a 9), errou menos (12 a 22) e aplicou um sonoro 6/3 e 6/2 na mesma Quadra 1 em que ela eliminou Halep em 2015.

A notícia é boa para Simona Halep e Angelique Kerber, que são as principais cabeças dessa metade da chave, mas parece melhor ainda para Sabine Lisicki, que vem de duas vitórias imponentes e encontraria Muguruza nas oitavas. Lucie Safarova (#29) também se deu bem, já que ela será a oponente de Cepelova na terceira rodada.

Vale também registrar uma estatística interessante. Nos últimos três anos, Cepelova só enfrentou três tenistas no top 10: Serena Williams, Simona Halep e Garbiñe Muguruza. A eslovaca derrotou as três (e também sofreu uma derrota para Halep no US Open de 2014).

O favorito que avançou

O único grande candidato ao título que venceu hoje foi Andy Murray (#2), que passou por Yen-Hsun Lu (#76) por 6/3, 6/2 e 6/1, em 1h40min. Na terceira rodada, o britânico, campeão do torneio em 2013, vai encarar John Millman (#67), que derrubou Benoit Paire (#23) por 7/6(5), 6/3, 4/6 e 6/2.

A crise de nervos

Viktor Troicki não ficou nada feliz quando o árbitro de cadeira deu bola boa no serviço de Albert Ramos, que sacava em 5/3 e 30/30. Revoltado, o sérvio isolou a bola, gritou com o árbitro, disse que ele não enxergou nada o jogo inteiro e que é o pior árbitro de todos os tempos, entre otras cositas más. Assistam!

O acidente

Quando aconteceu, Ana Konjuh (#103) já havia desperdiçado três match points e sacado duas vezes para eliminar Agnieszka Radwanska (#3). A polonesa sacava em 7/7 e 40/15 (não tem tie-break no set decisivo) quando a croata correu numa curtinha e acabou pisando na bolinha, torcendo o tornozelo. O atendimento fez a partida ser interrompida por um bom tempo e, quando o jogo recomeçou, a favorita se aproveitou da movimentação limitada da oponente e fechou o jogo em 9/7.

Correndo por fora

Sabine Lisicki (#81), que fez um pré-Wimbledon curto (perdeu nas oitavas em Mallorca) e faz uma temporada nada animadora – não vencia dois jogos seguidos desde fevereiro – bateu Sam Stosur (#16) por 6/4 e 6/2 e passou para a terceira rodada e vai enfrenar Yaroslava (#96) Shvedova ou Elina Svitolina (#20). Lisicki, vice-campeã de Wimbledon em 2013, está entre as mais cotadas ao título nas casas de apostas. Muito mais pelo currículo e pelos aces do que pela forma atual, mas convém ficar de olho depois de hoje.

Outras favoritas que venceram nesta quinta foram Simona Halep, Venus Williams, Angelique Kerber e Madison Keys. Vale apontar que Halep e Keys terão jogos um tanto interessantes na terceira rodada. A romena vai encarar a holandesa Kiki Bertens, enquanto a americana vai duelar com Alizé Cornet. As vencedoras desses dois jogos vão se encontrar nas oitavas.

Na chave masculina, Milos Raonic precisou de apenas 1h57min para derrotar o italiano Andreas Seppi: 7/6(5), 6/4 e 6/2. O canadense, que em tese vai enfrentar Novak Djokovic nas quartas, fez 25 aces (41 winners no total) e 19 erros não forçados nesses três sets. Outro candidato que avançou foi Kei Nishikori (#6), que perdeu o primeiro set, mas eliminou o Julien-Benneteau-de-vida-eterna (#547, é isso mesmo, quinhentos e quarenta e sete) por 4/6, 6/4, 6/4 e 6/2.

Cabeças que rolaram

Fora a óbvia decepção com o tombo de Muguruza, Karolina Pliskova (#17) talvez tenha sido a cabeça de chave mais importante a dar adeus precoce nesta quinta-feira. Campeã em Nottingham, vice em Eastbourne e líder de aces na temporada, a tcheca sempre esteve entre as mais cotadas em Wimbledon, apesar de seu histórico nada invejável em Slams. Ela tombou diante da japonesa Misaki Doi (349), que fez 7/6(5) e 6/3. O resultado é bom para Kerber, que agora enfrenta Witthoeft na terceira fase e vai pegar Doi ou Friedsam nas oitavas. Assim, a alemã tem a chance de alcançar as quartas sem precisar bater uma cabeça de chave.

Entre os homens, o principal cabeça de chave a dar adeus foi Dominic Thiem (#8), que não conseguiu encontrar uma maneira de fazer seu jogo de fundo de quadra desestabilizar Jiri Vesely (#64). O tcheco venceu em três tie-breaks: 7/6(4), 7/6(5) e 7/6(3). Não chega a ser um resultado decepcionante, dado o histórico do austríaco em Slams. Fora a exceção sortuda de Roland Garros, onde alcançou a semi (enfrentaria Nadal nas oitavas), Thiem tem no currículo apenas uma ida às oitavas de final (US Open/2014).

Mais decepção do que zebra foi a derrota de Alexander Dolgopolov (#33), cabeça de chave 30, para o britânico Daniel Evans (#91): 7/6(6), 6/4 e 6/1. O ucraniano seria um desafio interessante e incomum para Roger Federer na terceira rodada. Em vez disso, o heptacampeão, que vem de vitória sobre o novo queridinho britânico, Marcus Willis, vai enfrentar outro tenista da casa. Difícil imaginar Federer se complicando (não que fosse tão diferente assim contra Dolgopolov). É mais um jogo para ele calibrar golpes rumo à segunda semana.

Do mesmo modo, na chave feminina, Kristina Mladenovic (#31) tombou diante e Aliaksandra Sasnovich (#98) por 6/3 e 6/3. A francesa era vista como uma oponente perigosa para Serena Williams na terceira rodada. Em tese o caminho da número 1 do mundo fica um pouco mais fácil rumo às oitavas. Caroline Garcia (#32) foi outra tenista que vinha bem na grama (foi campeã em Mallorca) e não conseguiu sequência em Wimbledon. Caiu nesta quinta, eliminada pela tcheca Katerina Siniakova (#114): 4/6, 6/4 e 6/1.

A lista de cabeças foi bem razoável e incluiu David Ferrer, Sam Stosur, Ivo Karlovic, Jelena Jankovic, Benoit Paire, Sara Errani, Gilles Simon, Elina Svitolina, Viktor Troicki, Andrea Petkovic, Johanna Konta e Belinda Bencic (que abandonou com uma lesão no punho esquerdo), mas parece justo dizer que nenhum desses pré-classificados era muito cotado a ir longe no All England Club este ano.

De todos esses resultados, vale destacar Nicolas Mahut (#51), que é sempre um tenista mais perigoso na grama e bateu Ferrer (#14) por 6/1, 6/4 e 6/3; e Grigor Dimitrov (#37), que fazia uma péssima temporada, somava seis reveses consecutivos e chegou a Wimbledon fora da lista dos cabeça de chave, mas eliminou Simon (#20) nesta quinta por 6/3, 7/6(1), 4/6 e 6/4. O búlgaro agora vai encontrar Steve Johnson com boas chances de avançar mais uma vez e enfrentar Roger Federer nas oitavas.

O processo

Gilles Simon, incomodado com as condições de jogo, ameaçou processar o árbitro de cadeira, que se recusava a suspender a partida quando, segundo o francês, chovia e a quadra estava escorregadia. "Se eu me lesionar, vou processar você, e você vai pagar", disse Simon ainda em quadra.

Na coletiva, o tenista francês, derrotado, ainda bufava de raiva. "Acho que no dia que me lesionar na grama escorregadia, vou processar todo mundo no estádio. Tentamos entender os dois lados, torneio e jogadores, mas em um ponto ontem foi simplesmente ridículo." Outros trechos da entrevista do francês estão nesta repostagem da ESPN (em inglês).

Os brasileiros

Thomaz Bellucci (#62) não conseguiu mudar a história de seu jogo contra Sam Querrey (#41). O americano, que liderava por 6/4 e 5/2 quando a partida foi interrompida na quarta-feira, perdeu só três games nesta quinta. Ele fechou por 6/4, 6/3 e 6/2 e vai enfrentar Novak Djokovic na terceira rodada. No fim das contas, embora tenha sido uma atuação nada inspirada do brasileiro, não dá pra dizer que ele sai no prejuízo, já que não vencia um jogo na grama desde 2011. Fica, no entanto, a sensação de que há muito para melhorar e que, por enquanto, o paulista disputa apenas três Slams por temporada.

Na Quadra 18, Bruno Soares e Jamie Murray estrearam com vitória e fizeram 6/2, 6/7(9) e 6/3 sobre Jonathan Erlich e Colin Fleming. Por causa da chuva, a organização reduziu para melhor de três o formato das duplas, que normalmente são disputadas em melhor de cinco desde as rodadas iniciais em Wimbledon.

Quem também venceu foi o gaúcho Marcelo Demoliner, que atuou ao lado do paquistanês Aisam Qureshi. Os dois superaram Julian Knowle e Artem Sitak por 7/6(4) e 6/3. Enquanto isso, André Sá não teve a mesma sorte. Ele e o australiano Chris Guccione foram superados por Mate Pavic e Michael Venus: 7/6(6) e 6/3.

A lista olímpica

A ITF divulgou a lista dos tenistas aptos a disputarem os Jogos Olímpicos Rio 2016. O Brasil tem, por enquanto, Thomaz Bellucci, Rogerinho e Teliana Pereira nas simples, e Bruno Soares, Marcelo Melo e Paula Gonçalves (junto com Teliana) nas duplas. A participação de André Sá ainda depende de apelo junto ao comitê olímpico da ITF. É preciso provar que o mineiro não jogou Copa Davis pelo Brasil porque não foi convocado, e não porque não se disponibilizou a defender o país. É o mesmo caso de Rogerinho, mas o paulista foi convocado (também nesta quinta) para o próximo confronto, em Belo Horizonte, contra o Equador. Bellucci, Melo e Soares são os outros três do time.

É, aliás, também a mesma situação de Rafael Nadal. Enquanto isso, Caroline Wozniacki, que não cumpriu a cota mínima de confrontos de Fed Cup, teve seu recurso aceito (ela se lesionou antes do último confronto) e estará no Rio. A lista completa de participantes está no site da ITF.

Os melhores lances

O ponto do dia é de Fabio Fognini, que derrotou Federico Delbonis em cinco sets.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

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