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Wimbledon 2016: o guia (versão feminina)

Alexandre Cossenza

26/06/2016 11h01

Serena Williams à parte, Wimbledon é sempre um mistério no que diz respeito à chave feminina. As surpresas não foram poucas nos anos recentes, desde Agnieszka Radwanska em 2012 a Garbiñe Muguruza no ano passado, passando por Lisicki e Bouchard e incluindo, é claro, o inesperado título de Marion Bartoli. O que a edição de 2016 reserva? Serena Williams, vice em Melbourne e Paris, voltará a vencer um Slam? Quem seria a principal candidata a pará-la?

Este guiazão de Wimbledon traz uma análise da chave feminina, avaliando os resultados recentes e imaginado o que pode acontecer nas próximas duas semanas. É só rolar a página…

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As favoritas / Quem se deu bem

De forma geral, não dá para dizer que alguém "ganhou" esse sorteio de sexta-feira em Wimbledon. Serena Williams, por exemplo, tem um caminho sem um óbvio nome forte em boa fase, mas tem alguns trechos escorregadios como um possível encontro com Mladenovic na terceira rodada ou Sloane Stephens nas oitavas, onde também pode aparecer Kuznetsova ou Wozniacki. Pelo ranking, a provável rival de Serena nas quartas seria Roberta Vinci, cabeça 6, mas na prática a italiana corre muito por fora. Coco Vandewegue, campeã em 's-Hertogenbosch e quadrifinalista de Wimbledon no ano passado, parece ser o nome mais interessante aqui.

É a mesma metade da chave onde também estão Radwanska, cabeça 3, e a bicampeã de Wimbledon Petra Kvitova. A polonesa vem em uma série de boas campanhas no Slam da grama (finalista em 2012, semi em 2013 e 2015), enquanto a tcheca não venceu dois jogos seguidos no piso este ano (esteve em Birmingham e Eastbourne), mas convém não esquecê-la completamente.

A seção de Radwanska inclui, além de Kvitova, Caroline Garcia, campeã do WTA de Mallorca (em uma chave fraca, é verdade) e que pode ser sua oponente na terceira rodada. A polonesa ainda pode encarar nas oitavas Dominika Cibulkova, sua algoz e campeã em Eastbourne, ou Johanna Konta, semifinalista no mesmo torneio, mas que nunca venceu um jogo em Wimbledon. Se chegar às quartas, aí sim Aga pode enfrentar Kvitova, mas esse seção também tem Ekaterina Makarova, Andrea Petkovic e Belinda Bencic, cabeça 7, mas que vem de duas derrotas seguidas na estreia (Birmingham e Eastbourne).

A metade de baixo, encabeçada por Garbiñe Muguruza, cabeça 2, não é lá tão boa para a espanhola, que estreia contra Camila Giorgi e pode encontrar Lucie Safarova na terceira rodada e Stosur, Lisicki, Rogers ou Svitolina nas oitavas. Se chegar às quartas, Muguruza ainda pode enfrentar Venus, que pegou um caminho menos turbulento. Se o corpo resistir, a veterana de 36 anos tem uma chance interessante de ir longe.

A outra parte tem Angelique Kerber e Simona Halep, cabeças 4 e 5, respectivamente, mas podemos também chamar essa região de "terra de ninguém". A romena não esteve em nenhum torneio de grama antes de Wimbledon, e a alemã foi a Birmingham, onde perdeu para Suárez Navarro. Parece a seção ideal para alguém surpreender. Aliás, é nesse bolo que estão Madison Keys, campeã do Premier de Birmingham, e Karolina Pliskova, campeã em Nottingham e vice em Eastbourne. Não por acaso, ambas estão bem cotadas nas casas de apostas.

A incógnita

Wimbledon talvez seja o melhor indicador sobre o que esperar do futuro de Serena Williams. A número 1 do mundo não mostrou o nível altíssimo de tênis que o mundo espera dela nem na final do Australian Open nem na decisão de Roland Garros. Momentos justamente em que a americana sempre brilhou. Sua movimentação não foi a mesma de outros anos. O número de aces – principalmente aqueles em pontos importantes – também diminuiu. Uma derrota precoce em Londres, onde sempre foi ainda mais superior ao resto do circuito, pode dar mais um indício de que o fim está próximo. Será?

O número 1 em jogo

A vantagem obscena na liderança do ranking já se foi. Serena começa sua participação em Wimbledon correndo o risco de perder o posto de número 1. Muguruza, Radwanska, Kerber e Halep podem ultrapassá-la, ainda que seja necessária uma combinação de resultados.

Quem corre por fora

Saindo do óbvio-olhei-o-ranking-e-palpitei, a grama sempre oferece uma chance um pouco maior a tenistas que não estão necessariamente entre os favoritos durante o resto da temporada.

Karolina Pliskova é um desses nomes. A tcheca de 1,86m não tem a melhor movimentação do circuito e precisa estar no comando dos pontos para se dar bem. Seu impressionante saque lhe dá essa vantagem, especialmente na grama. Não é por acaso que a líder de aces na temporada (muito à frente de Serena) foi campeã em Nottingham e vice em Eastbourne. No quadrante de Kerber e Halep, não seria a maior das zebras se Pliskova saísse atropelando até a semifinal.

Quem também corre bem nesse quadrante é Madison Keys, que leva consigo um jogo de muita potência do fundo de quadra. A americana, mais nova integrante to top 10 (a primeira americana a entrar no top 10 desde 1999!), só jogou um torneio na grama e foi campeã em Birmingham, justamente o mais importante do calendário pré-Wimbledon. De novo: não seria grande surpresa se Keys e Pliskova se encontrassem nas quartas de final, deixando Halep e Kerber para trás.

Outro nome interessante para a grama é Coco Vandeweghe, a americana que passou pelo media day com a camisa do Independiente da Argentina. Coco não se encaixa no estereótipo de meninas magrinhas do circuito e talvez não seja a mais rápida das tenistas, mas carrega um saque potente e que lhe dá muitos pontos de graça. Foi assim que cegou às quartas de Wimbledon no ano passado e venceu oito jogos seguidos na grama em 2016, levantando o troféu em 's-Hertogenbosch. Sorteada em uma seção onde a principal cabeça é Roberta Vinci, Coco pode muito bem alcançar as quartas e encarar Serena Williams. Seria interessante.

A brasileira

Teliana Pereira estreará contra a americana Varvara Lepchenko, número 64 do mundo, que não teve grandes resultados na curta temporada de grama e inclusive soma uma derrota para Laura Robson (sim, aquela!). A brasileira, por sua vez, nem jogou na grama antes de Wimbledon.

A maior ausência

Victoria Azarenka abandonou Roland Garros por causa de uma lesão no joelho e não conseguiu se recuperar a tempo. Na última quinta-feira, véspera do sorteio da chave, a bielorrussa anunciou que não disputaria Wimbledon. Semifinalista em 2011 e 2012, ela seria a cabeça de chave número 6.

A desistência teve consequências consideráveis, jogando Venus para o grupo das oito primeiras cabeças e inserindo Andrea Petkovic entre as pré-classificadas.

Os melhores jogos nos primeiros dias

O óbvio jogo mais interessante da primeira rodada será entre Caroline Wozniacki, que não é cabeça de chave, e Svetlana Kuznetsova, e só deus sabe o que esperar desse encontro. Além disso, a segunda e a terça-feira de Wimbledon terão a suíça Belinda Bencic, cabeça 7, enfrentando Tsvetana Pironkova, aquela que até o ano passado só conseguia resultados bons justamente em Wimbledon. Não dá para descartar o potencial de zebra desse jogo, assim como em Muguruza x Giorgi, que é minha partida preferida nessa lista.

Outros confrontos interessantes são Kvitova x Cirstea, Kerber x Robson e Safarova x Mattek-Sands. Ou seja, não vai faltar o que ver nesse dois primeiros dias.

As tenistas mais perigosas que ninguém está olhando

Quando o assunto é grama e Wimbledon, o padrão é pensar em tenistas altas e que batem forte na bola. Serena, Venus, Kvitova, Sharapova… A lista de campeãs sugere isso. Só que de vez em quando aparece uma baixinha talentosa como Agnieszka Radwanska para mostrar que é possível ir longe no All England Club sem essa potência toda.

Neste ano, há dois nomes que mais ou menos se encaixam aí. Um dele é Dominika Cibulkova, que faz uma temporada de recuperação. Em fevereiro, era a número 66 do mundo. Agora, está em 21º no ranking, somando finais em Acapulco, Madri, Katowice e Eastbourne (campeã nestes dois últimos). Sua chave é que não ajuda muito. Cibulkova pode encarar Bouchard ou Konta na terceira rodada e Radwanska nas oitavas. Em todo caso, fiquemos de olho.

Com 1,64m, Barbora Strycova também entra nesta lista aqui. Pouca altura, muito talento e um jogo inteligente, cheio de variações. A semifinal em Birmingham, onde bateu Karolina Pliskova e Coco Vandeweghe, indica que há chances em Wimbledon. Um eventual duelo de terceira rodada contra Kvitova no All England Club daria uma palavra final sobre isso.

Além disso, uma bicampeã do torneio deveria estar entre as favoritas, mas a temporada desastrosa fez Petra Kvitova sair do top 10 pela primeira vez em três anos. Logo, ela chega a Wimbledon bastante fora do radar e não vai ter tanta gente espantada com um revés logo na primeira rodada diante de Cirstea ou uma eliminação na segunda fase diante de Makarova. Maaaas é Kvitova, é grama e tudo pode acontecer. Não dá para esquecer disso.

Para encerrar a lista, que tal lembrar de Venus Williams, ex-número 1, campeã oito anos atrás e que está de volta ao top 10, mas não chama tanta atenção quanto deveria por causa da idade e dos problemas de saúde? A americana tem uma chave bastante favorável e, levando em conta que os jogos na grama costumam ser mais curtos, existe uma chance considerável de Venus fazer uma (última?) campanha para realmente brigar pelo título.

Onde ver

SporTV e ESPN mostram o torneio. Ano passado, lembremos, o canal da Disney driblou o da Globosat, pagando pelos direitos e aproveitando o sinal da ESPN americana para mostrar mais quadras enquanto o SporTV ficava preso a seu pacote básico. Ninguém deu muitos detalhes ainda de como serão as transmissões deste ano, mas já se sabe que a ESPN mostrará o evento em dois canais (contra um do SporTV). Em todo caso, vale ficar com o controle remoto na mão. Durante o torneio, estarei no Twitter dizendo o que rola em cada canal.

Nas casas de apostas

A prestar atenção nas cotações da casa virtual bet365: Madison Keys é a terceira favorita ao título, e Sabine Lisicki está entre os dez primeiros nomes. Coco Vandeweghe também está ali no meio.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.