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RG, dia 4: os boyhoodianos Murray, Karlovic, Simon e Begu

Alexandre Cossenza

25/05/2016 16h24

Pra que cinco sets nas primeiras rodadas de Slam? Para ter drama, claro. São esses, afinal, os melhores jogos de ver nos primeiros dias, quando os principais nomes do circuito costumam ganhar com facilidade. Mas se tem um favorito em um desses jogos "boyhoodianos", melhor ainda. Foi assim com Andy Murray, que agora soma dez sets jogados em três dias consecutivos. E também foi assim com Ivo Karlovic e Gilles Simon, vencedores de partidas dramáticas, com mais de 4h de duração e participação intensa da torcida.

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O quarto dia de Roland Garros também teve uma importante vitória brasileira com André Sá, que derrubou, ao lado do australiano Chris Guccione, os colombianos Juan Sebastián Cabal e Robert Farah, cabeças 13. O melhor do dia está abaixo.

O susto

Em seu terceiro dia seguido dentro de quadra, Andy Murray continua sendo a atração mais "valiosa" para os fãs. Nesta quarta, precisou de mais cinco sets para bater o wild card francês Mathias Bourgue (#164): 6/2, 2/6, 4/6, 6/2 e 6/3. O britânico não esteve tão perto da derrota quanto no duelo com Stepanek, mas em um determinado momento da partida parecia em um buraco sem saída.

Nem parecia que seria tão dramático. Murray abriu 6/2 e 2/0, mesmo sem fazer nada espetacular. Bourgue, então, venceu oito games seguidos. Quando tomou a dianteira na terceira parcial, já jogava em alto nível, aproveitando o empurrão da torcida local, e segurou Murray até fazer 6/4.

O momento mais tenso para Murray talvez tenha sido o primeiro game do quarto set. Sem margem para erro, viu-se sacando em 15/40, mas escapou brilhantemente. Em um dos break points, fazer um bate-pronto dificílimo. Depois disso, o escocês tomou o controle do jogo – até porque Bourgue não conseguiu manter o ritmo (nem técnica nem fisicamente) das parciais anteriores.

O último susto aconteceu no quinto set. Murray sacou em 5/1 e foi quebrado. Depois, teve o serviço em 5/3 e 15/30 e venceu um ponto duríssimo para evitar o 15/40. Em seguida, fechou o jogo e caminhou para a terceira rodada são e salvo.

Os outros jogos boyhoodianos

Grand Slam, melhor de cinco, sem tie-break no último set… Torneio assim sempre rende uma partidas dramáticas. Foi assim com Ivo Karlovic (#28) e Jordan Thompson (#94) nesta quarta-feira. Depois de três tie-breaks, croata e australiano foram longe no quinto set, sem que ninguém conseguisse uma quebra de saque. No fim, depois de 4h31min, quem triunfou foi Karlovic, 2,11m de altura e 37 anos. Graças a 102 winners (41 deles foram aces), o croata avançou para a terceira rodada com o placar mostrando 6/7(2), 6/3, 7/6(3), 6/7(4) e 12/10.

Karlovic chegou a Roland Garros, no piso que lhe é menos favorável, em péssimo momento. Desde janeiro, havia vencido apenas dois jogos e perdido nove. Agora, no entanto, já repete o melhor resultado da carreira no Slam francês (chegou à terceira rodada apenas em 2014, depois de bater Dimitrov e Haider Maurer).

Enquanto Karlovic comemorava na Quadra 3, mais drama se desenrolava na Quadra 1, onde Guido Pella (#48) abriu 2 sets a 0 sobre Giles Simon (#18) e esteve pertíssimo de derrubar o tenista da casa. No terceiro set, o argentino teve 4/2 de vantagem. Na parcial seguinte, sacou para o jogo. Não aproveitar as chances custou caro, e Simon viu a chance e triunfou no quinto set, em 4h32min.

Para quem gosta de drama (meu caso), a continuidade de Simon na chave alimenta o sonho de ver um imprevisível Wawrinka x Simon nas oitavas – de preferência, durando 5h e terminando em 15/13 no quinto set!

E, antes que eu fechasse este post, no figurado apagar das luzes em Paris (figurado porque não há iluminação artificial em Roland Garros!), deu tempo de Irina-Camelia Begu (#28) completar a vitória sobre a americana Coco Vandeweghe (#43) em um terceiro set longo: 6/7(4), 7/6(4) e 10/8, em 3h38min – a partida feminina mais longa de 2016 até agora.

Os favoritos

O dia foi bom para os principais candidatos ao título. A começar por Simona Halep (#6), que teve um primeiro set complicado e chegou a estar perdendo por 4/1, mas venceu a parcial no tie-break e derrotou a cazaque Zarina Diyas (#90) por 7/6(5) e 6/2, avançando para a terceira rodada. Até agora sem perder sets, Halep enfrenta na sequência a japonesa Naomi Osaka (#101), que vem de triunfos sobre Jelena Ostapenko (cabeça 32) e Mirjana Lucic Baroni.

Outra favorita a vencer foi Garbiñe Muguruza (#4), desta vez sem todo o drama vivido na primeira rodada. Nesta quarta, a espanhola aproveitou a frágil adversária – a francesa Myrtille Georges (#203) – e triunfou em 54 minutos, perdendo apenas dois games: 6/2 e 6/0. Muguruza está na mesma seção da chave onde Roberta Vinci (cabeça 7) e Karolina Pliskova (cabeça 17) já caíram, mas ainda há adversárias interessantes no caminho. Se vencer o próximo jogo, a espanhola vai enfrentar Kuznetsova ou Pavlyuchenkova nas oitavas.

Na chave masculina, Kei Nishikori (#6) passou em sets diretos por Andrey Kuznetsov (#40): 6/3, 6/3 e 6/3. Não vi o jogo e nem posso falar muito além do óbvio sobre o bom momento do japonês, mas acho que todos deveriam tirar 30 segundos para apreciar a pérola que é o tweet abaixo.

Em seguida, Stan Wawrinka (#4) mostrou o mesmo tênis irregular da estreia, só que diante de um oponente menos perigoso, o japonês Taro Daniel (#93). Ainda assim, o suíço precisou salvar dois set points no tie-break da primeira parcial antes de fechar por 7/6(6), 6/3 e 6/4.

Ainda assim, Stan vem mostrando um tênis bem inferior ao que lhe rendeu o título do ano passado. Não que alguém esperasse que aquela atuação da final contra Djokovic se repetisse tanto, mas a diferença é grande até para o nível "normal" do suíço. Resta saber se ele está tentando se poupar (até porque sua movimentação não anda lá tão boa assim) ou se e isso é mesmo tudo que ele vai conseguir mostrar nos próximos jogos.

Os brasileiros

André Sá, que teve seu jogo interrompido na terça-feira por falta de luz natural, voltou à quadra hoje e anotou uma vitória enorme. Ele e Chris Guccione derrubaram Juan Sebastián Cabal e Robert Farah por 4/6, 7/6(5) e 6/3. A dupla colombiana era cabeça de chave 13 do torneio. Sá e Guccione agora enfrentam os vencedores do jogo entre Chardy/Verdasco e Mayer/Sousa.

Marcelo Demoliner não teve a mesma sorte. O gaúcho, que volta após ser flagrado em um exame antidoping, jogou ao lado do croata Marin Draganja e, depois de não conseguir converter dois match points no segundo set, foi derrotado pela parceria do lituano Ricardas Berankis com o tcheco Lukas Rosol: 6/7(3), 7/6(9) e 6/4.

As cabeças que rolaram

Ekaterina Makarova (#29) foi a única das cabeças de chave a dar adeus nesta quarta-feira. A russa, que dependia oitavas de final, tombou diante da belga Yanina Wickmayer (lembram dela?), número 12 do mundo em 2010 e atual 54ª na lista da WTA. A belga, que chegou a Paris vindo de quatro derrotas seguidas (para Mitu, Giorgi, Svitolina e Bacsinszky), fez 6/2, 2/6 e 6/2 e avançou para encarar Garbiñe Muguruza. Será que ela consegue mais uma zebra?

Entre os homens, a guilhotina proverbial tirou Benoit Paire (#21). O carrasco foi o ex-georgiano e atual russo Teymuraz Gabashivil (#79): 6/3, 6/2, 3/6 e 6/2. O resultado é menos surpreendente pela qualidade de Gabashvili do que por seu atual momento. No saibro, o russo tinha uma vitória e sete derrotas antes de Paris. Cinco desses reveses foram consecutivos, em Barcelona, Istambul (Dzhumhur), Madri (Istomin), Roma (troicki) e Genebra (Ramos). A ironia é que a sequência negativa começou justamente com uma derrota diante do mesmo Benoit Paire.

Outro nome caseiro que tombou foi Lukas Pouille (#31), superado pelo lucky loser eslovaco Andrej Martin (#133): 6/3, 7/5 e 6/3. Como resultado, não parece algo que vá causar mudanças drásticas na chave – a não ser que Martin derrube Milos Raonic (#9) na próxima rodada. O canadense ainda não perdeu sets e, nesta quarta, bateu o francês Adrian Mannarino (#58) por 6/1, 7/6(0) e 6/1.

Correndo por fora

Depois de um nervoso jogo de três sets na primeira rodada, Petra Kvitova (#12) viveu um dia muito menos inconstante, disparando 27 winners e cometendo 17 erros não forçados. Assim, conseguiu evitar o terceiro set e bateu a taiwanesa Su-Wei Hsieh (#80) por 6/4 e 6/1, em 1h14min. Foi a 300ª vitória da carreira de Kvitova, que tem um caminho bastante acessível até as quartas. Ela enfrenta na terceira rodada a americana Shelby Rogers e, se avançar, a tenista de melhor ranking que pode aparecer nas oitavas é a romena irina-Camelia Begu (#28).

Lucie Safarova (#13), atual vice-campeã de Roland Garros, voltou a vencer com folga. Fez 6/2 e 6/2 sobre a qualifier suíça Viktorija Golubic (#130) e avançou para fazer um duelo com outra vice-campeã do torneio: Sam Stosur (#24), que bateu a chinesa Shuai Zhang (#69) por 6/3 e 6/4. É de se esperar que quem vencer entre a tcheca e a australiana chegará forte às oitavas.

Entre os homens, também há um jogo bastante esperado na terceira rodada. Richard Gasquet (#9), que passou em sets diretos pelo americano Bjorn Fratangelo (#103) – 6/1, 7/6(3) e 6/2 – vai encarar Nick Kyrgios (#19). O australiano ficou em quadra por apenas 1h19min nesta quarta e despachou o lucky loser holandês Igor Sijsling (#123) por 6/3, 6/2 e 6/1.

Já no fim do dia, Agnieszka Radwanska (#2) fez 6/2 e 6/4 contra Caroline Garcia (#40). A vitória foi menos dura do que poderia ter sido, só que mais complicada do que o placar sugere. A francesa saiu com uma quebra na frente na primeira parcial (perdeu o saque na sequência) e, no segundo set, reagiu no fim, devolvendo uma quebra depois de salvar match point. Tivesse confirmado o set no décimo game, quando sacou em 4/5, sabe-se lá como teria terminado o confronto.

Radwanska enfrentará na terceira rodada a tcheca Barbora Strycova (#33), que vem de vitória sobre Polona Hercog (#94) por duplo 6/4. Aga venceu todos quatro duelos entre elas e nunca perdeu mais de quatro games em um set. Vale conferir se o retrospecto continuará, já que Strycova vem de um bom resultado em Roma, onde alcançou as quartas, e ainda não perdeu sets em Paris este ano.

Os melhores lances

Andy Murray, com um smash de backhand, merece destaque nesta seção:

O mesmo vale para este momento de Wawrinka, que fez um pouco de tudo junto à rede:

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.