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O que significou o espetacular Djokovic x Nadal em Roma?

Alexandre Cossenza

13/05/2016 21h49

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Foi a melhor partida da semana e, possivelmente, a melhor de 2016 no saibro. Novak Djokovic, vindo de um título em Madri, contra Rafael Nadal, cada vez mais afiado na temporada europeia de saibro. O resultado final – 7/5 e 7/6(4) para o sérvio – pode ser visto de algumas maneiras. Por um lado, apenas estendeu a série de vitórias do número 1 sobre o espanhol. Agora são sete triunfos consecutivos, com 15 sets vencidos e nenhum perdido. Por outro, mostrou um Nadal mais competitivo – foi o mais duro dos sete jogos – e mais perto de seu melhor nível. Como, então, devemos analisar as consequências do duelo de Roma?

Pelo lado de Djokovic, trata-se de mais uma vitória extremamente relevante no circuito. O sérvio, afinal, tinha muito mais a perder no confronto. Um revés poderia (ou não, claro) abalar sua confiança às vésperas do torneio que é o mais importante de seu calendário. Roland Garros é o grande título que lhe falta, então cada pequeno ingrediente dessa receita que leva forma técnica, preparo físico e força mental, entre outros temperos, torna-se realmente importante.

Mas não é só isso. O número 1 do mundo sai de quadra com uma noção melhor de quem é o Nadal de agora. E, como todo bom gato escaldado, Djokovic também sabe que chegar a Paris com vitórias nos Masters 1.000 não significa tanto assim. Em 2014, por exemplo, bateu Nadal em Roma, mas perdeu a final do Slam do saibro para o espanhol. Todo cuidado é pouco.

Nadal era quem realmente tinha a ganhar com a partida e dá até para dizer que, apesar da derrota, o espanhol sai mais forte de Roma. Primeiro porque apesar do ótimo momento no saibro, que começou em Monte Carlo, ainda lhe faltava o maior dos testes. A partida contra Djokovic aconteceu, e o espanhol saiu da quadra sabendo precisamente onde está no circuito e no que ainda precisa evoluir.

Além do mais, Nadal passou tanto tempo sem jogar nesse nível altíssimo de tênis que a falta de vivência recente nesses momentos lhe custou pontos cruciais – como os cinco set points na segunda parcial. Passar por isso em Roma fez bem. Ele mesmo admitiu isso depois do jogo e comemorou o fato de ter feito uma belíssima partida contra Djokovic sem fazer nada "ultraespetacular" (leia aqui).

O que eu acho disso tudo? Djokovic ainda é o claro favorito para Roland Garros, mas neste momento não consigo imaginar Nadal perdendo de nenhum outro tenista em um duelo melhor de cinco sets (deixo para comentar Murray em outro momento). Mais um encontro em Paris seria fantástico em qualquer que seja a fase – até porque o mais memorável dos jogos entre eles lá aconteceu em uma semifinal.

E as cotações?

Nada mudou. Ou melhor, quase nada. Djokovic continua como favorito, e Nadal segue sendo o segundo mais cotado nas casas de apostas. No dia 21 de abril, publiquei aqui no blog que um título do sérvio pagava 1,66/1 na Bet365. Significa que o apostador recebe US$ 1,66 para cada dólar apostado. Enquanto isso, uma conquista de Nadal pagaria 4/1. Hoje, depois da final de Roma, as cotações na mesma casa são, respectivamente, 1,72/1 e 4/1.

Trocando em miúdos, não houve nenhuma alteração relevante. Talvez haja depois da divulgação da chave de Roland Garros, mas aí é outra história. Não caberia uma comparação 100% justa.

No ranking

O resultado do jogo desta sexta-feira também significa que Nadal não será um dos quatro principais cabeças de chave no Slam do saibro, o que pode ocasionar um novo duelo como Djokovic nas quartas. A não ser, é claro, que Roger Federer não melhore da lesão nas costas e decida não jogar em Paris. Neste caso, Wawrinka subiria para cabeça três e Nadal só enfrentaria o número 1 nas semifinais – na pior das hipóteses. Murray será o número 2 independentemente do resto de sua campanha no torneio italiano.

Bônus track

Desenterrado por Rob Koenig, comentarista do TennisTV, o jogaço entre Rafael Nadal e Guillermo Coria que decidiu o título de Roma em 2005. Serve para muita gente comparar com o tênis atual: 1) a velocidade geral do jogo; 2) a velocidade de Nadal; e 3) o estilo que quase sempre predominou no saibro.

É obrigatório para quem acredita que Nadal só sabia se defender quando venceu Roland Garros pela primeira vez.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.