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Saque e Voleio

Nadal voltou? Voltou mesmo?

Alexandre Cossenza

21/04/2016 14h37

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Foi o tom de muitos comentários durante a última semana e, especialmente, após o título do Masters 1.000 de Monte Carlo: "Nadal voltou!" Agora, três dias depois da conquista, o ex-número 1 do mundo está classificado para as quartas de final do ATP 500 de Barcelona e segue mostrando um ótimo tênis. Mas será mesmo que "Nadal voltou"? "Aquele" Nadal? E, afinal, o que isso significa?

O cenário

Antes de mais nada, cabe certa cautela na análise. Em 2015, a comoção foi parecida quando, depois de um começo de ano decepcionante, Rafael Nadal alcançou a final do Masters de Madri. Naquele torneio, o espanhol derrotou Dimitrov e Berdych em sequência, e parecia barbada para levar o troféu antes de uma atuação abaixo da crítica diante de Murray na final. Aquela partida foi o balde que calou os gritos de "Nadal voltou".

Este ano, o panorama parece melhor. Antes de Monte Carlo, o Rei do Saibro já havia feito ótimas partidas em Indian Wells. No principado, bateu Dominic Thiem, Stan Wawrinka, Andy Murray e Gael Monfils em sequência. Se não foi o tenista dominante de 8-10 anos atrás, foi convincente e superior a uma grande promessa, ao atual campeão de Roland Garros e ao vice-líder do ranking.

O que melhorou?

É indiscutível que Nadal vem jogando um tênis melhor e mais eficiente do que o apresentado durante a maior parte de 2015 e o começo desta temporada. Talvez tenha a um pouco ver com a mudança nas cordas (Nadal voltou a usar a RPM Blast, que adotou durante a maior pate da carreira), mas é impossível dizer apenas vendo seus jogos, sem ouvir uma análise do próprio tenista.

De fato constatável mesmo, fica nítida a mudança estratégica. O Nadal de Indian Wells e Monte Carlo foi um pouco menos agressivo. Continuou atacando sempre que possível, mas com um pouco mais de paciência, usando bolas mais altas e tentando empurrar o oponente para trás. Na essência, é o mesmo que ele sempre fez na carreira. A agressividade excessiva não vinha dando resultado.

Essas bolas a mais fazem enorme diferença no balanço psicológico de um jogo. Errando menos, o espanhol tira do oponente a opção "vou trocar bola e esperar uma falha". Nadal, assim, exige que seu rival ganhe a maioria dos pontos por méritos próprios. Não são tantos tenistas que conseguem fazer isso ponto após ponto contra o eneacampeão de Roland Garros. Com tudo isso acontecendo, Nadal tem mais margem e, especialmente, confiança para os pontos mais importantes. É uma grande bola de neve que vem se desfazendo aos poucos – para seu benefício.

Voltou mesmo?

Nunca fui fã do "fulano voltou", quem quer que seja o fulano. Até porque todas as circunstâncias que envolvem o "voltou" mudam. O que quer dizer "Nadal voltou"? Que ele joga o mesmo nível de tênis do que em 2013, 2010 ou 2008? Como comparar quatro períodos distintos de forma justa? Ou "Nadal voltou" quer dizer que ele é o melhor do saibro mais uma vez? Ou apenas sugere que "Nadal voltou a ser competitivo"? Neste último caso, a resposta obrigatoriamente deve ser "não", já que o espanhol nunca deixou de ser competitivo e, mesmo na suposta má fase, já era o número 5 no ranking mundial.

No entanto, qualquer que seja a hipótese, tendo a responder "não" porque o Nadal-Rei-do-Saibro era imbatível na superfície. Soa injusto, mas é o nível de domínio que o mundo se acostumou a ver do espanhol. O Rafael Nadal de hoje tem um saque vulnerável (foram 17 break points diante de Thiem e cinco quebras cedidas a Gael Monfils, que não tem uma devolução imponente) e, mais do que qualquer outra coisa, ainda precisa mostrar que pode bater Novak Djokovic – considerando que o revés de Nole na estreia em MC tenha sido apenas uma aberração.

Ainda assim, o que Nadal apresentou em Monte Carlo parece estar muito perto do melhor que ele pode mostrar no circuito de hoje, com adversários mais jovens, mais rápidos e mais fortes. O mais provável é que o espanhol nunca volte a dominar o circuito como fez no passado, mas será que que se faz necessário aquilo tudo para que ele "volte" a vencer em Roland Garros? É possível que não. Mas os resultados de Barcelona, Madri e Roma deixarão esse cenário um tanto menos nebuloso antes de Paris.

Favorito a Roland Garros?

Por enquanto, Djokovic, número 1 do mundo com sobras, ainda é o mais cotado a triunfar no saibro francês. As casas de apostas colocam o sérvio como principal favorito, seguido (não tão de perto assim) por Nadal. A bet365, por exemplo, paga apenas 1,66 para um em caso de título de Nole. Uma conquista de Nadal paga quatro para um. A Sportsbet.com.au, por sua vez, paga 1,72 para Djokovic, e 4,00 para Nadal. Vale acompanhar o quanto essas cotações mudarão nas próximas semanas, após mais dois Masters na terra batida.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.