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Saque e Voleio

Semana 15: O eneacampeão, uma zebra, a volta de Fed e uma volta na Fed

Alexandre Cossenza

18/04/2016 10h55

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Monte Carlo foi o grande evento da semana, e Rafael Nadal, o maior nome. O espanhol conquistou o torneio pela nona vez, superando uma chave duríssima e mostrando-se novamente uma força no saibro. O tênis feminino, no entanto, também teve muita coisa acontecendo, especialmente na Fed Cup, mas também no modesto WTA de Bogotá, onde uma brasileira fez muito mais do que o esperado.

Este resumaço da semana fala dos principais eventos, registra lances espetaculares, histórias legais e inusitadas (houve até um "snake delay"), e as notícias mais relevantes dos últimos dias. Role a página e fique por dentro.

O campeão

Quando a chave de Monte Carlo foi divulgada, era consenso de que Rafael Nadal teria um teste de verdade para seu tênis, que mostrou evolução em Indian Wells, mas foi vítima do calor em Miami. De volta ao saibro, seria possível reconquistar a velha forma? O caminho previa uma sequência contra Dominic Thiem nas oitavas, Stan Wawrinka nas quartas e Andy Murray na semi antes de uma eventual decisão contra Novak Djokovic, o novo dono do circuito.

O sérvio tombou na estreia, mas Nadal teve de enfrentar os outros três e passou com louvor no teste. Salvou 15 de 17 break points contra Thiem, foi bastante superior a um irregular Wawrinka e virou um jogo complicado contra Murray, que não conseguiu equiparar-se em consistência ao espanhol.

A final foi mais um duelo típico de seu tênis no saibro. Pontos longos, ralis de tirar o fôlego e poucas subidas à rede. Gael Monfils, ressalte-se, foi brilhante enquanto aguentou. Depois de navegar competentemente na chave que ficou esburacada pelas derrotas de Djokovic e Federer, o francês fez uma ótima final, variando entre pontos longos na defesa e golpes arriscados, buscando winners.

Nadal, no fim, foi mais consistente e melhor fisicamente. Lembrou os velhos tempos, encontrando maneiras de superar adversários inspirados. Sim, seu saque continua vulnerável – e o foi especialmente com o saibro pesado da final pós-chuva – mas não o bastante para evitar o nono título em Monte Carlo. O eneacampeão (por favor, tomem um segundo para absorver a dimensão da palavra "eneacampeão"), agora, mostra-se novamente uma força do saibro. O resto do circuito que fique de olho em Madri e Roma.

A questão agora é saber se o nível de tênis apresentado pelo espanhol será suficiente para derrubar Djokovic em forma. Ninguém, afinal, espera que o número 1 do mundo apareça em Madri e Roma jogando no mesmo nível decepcionante que foi apresentado no torneio monegasco.

Vale também fazer um último lembrete. Diante do último ano e meio de resultados instáveis, é até fácil esquecer o quão brilhante é a carreira de Rafael Nadal. Com a decisão em Monte Carlo, o espanhol agora soma 100 finais no currículo. Do total, 20 foram em Slams e 42 em Masters. Ou seja, 62% em torneios de altíssimo nível. E são sete finais na grama – cinco em Wimbledon. Nada mau, não?

A zebra

O resultado mais inesperado da semana foi a eliminação de Novak Djokovic logo em sua estreia em Monte Carlo, diante de Jiri Vesely. O sérvio, lembremos, vinha de 11 finais seguidas em Masters 1.000, 22 vitórias consecutivas em torneios desse porte e 14 jogos sem perder no circuito mundial.

A derrota do número 1, além de deixar a chave do torneio monegasco um tanto mais aberta, jogou no ventilador uma série de questões que, a meu ver, fazem muito bem ao tênis neste momento. Escrevi mais sobre isso neste post.

A volta

Roger Federer está de volta ao circuito. A boa notícia: nenhum sinal de problema no joelho operado. A má notícia: uma derrota inesperada para Jo-Wilfried Tsonga nas quartas de final de um torneio cuja chave não era das piores para o suíço. Seriam pontinhos valiosos que aproximariam Federer de ser número 2 do mundo outra vez. Ah, sim: o jogo de rede mostrou um pouco de ferrugem no duelo com Tsonga, mas não parece ser algo tão preocupante para quem costuma volear tão bem e ficou dois meses e meio sem disputar uma partida oficial.

De incomum mesmo, apenas dois gestos do suíço. No segundo set, uma raquete atirada na direção do banco após uma quebra de saque. No terceiro, já no finzinho da partida, uma bola atirada para fora da quadra – resultado da frustração após errar um voleio em um momento delicado. O árbitro brasileiro Carlos Bernardes aplicou uma advertência por abuso de bola.

Os brasileiros

Bruno Soares voltou a ser o brasileiro de mais destaque no circuito. E quase não aconteceu, já que ele e Jamie Murray tiveram uma dramática estreia em Monte Carlo contra Daniel Nestor e Radek Stepanek, com direito a três match points salvos. Na sequência, brasileiro e escocês superaram Bopanna/Mergea nas quartas e Melo/Dodig na semi. Na decisão, caíram diante de Herbert e Mahut.

Com mais este título, que veio com parciais de 4/6, 6/0 e 10/6, a parceria francesa se estabelece ainda mais como a dupla a ser batida no momento. Depois de dois resultados nada empolgantes em Brisbane e no Australian Open, Herber e Mahut foram campeões em Roterdã, Indian Wells, Miami e Monte Carlo. Eles, inclusive, acabam de ultrapassar Bruno e Jamie e assumem a liderança da Corrida – aquele ranking que conta só os resultados da temporada. Em compensação, no ranking de 52 semanas, Soares volta ao top 10, ganhando cinco postos e subindo para a sétima posição.

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Nas simples, o nome da semana foi Paula Gonçalves. Diante da fraca lista de inscritas do WTA International de Bogotá, a paulista, que começou a semana como número 238 do mundo, entrou direto na chave e aproveitou a chance, derrotando, em sequência, Verónica Cepede Royg (#161), Tatjana Maria (#105) e Alexandra Panova (#155). A brasileira só parou nas semifinais, derrotada por Silvia Soler Espinosa (#170): 6/4, 6/7(4) e 6/2. Com a ótima campanha, Paula alcança o melhor ranking da carreira: #177.

Teliana Pereira, por sua vez, voltou a perder. A algoz da vez foi a argentina Catalina Pella, #274, que fez 3/6, 6/3 e 7/6(3). A temporada da número 1 do Brasil agora acumula uma vitória (sobre Bia Haddad) e nove derrotas. A pernambucana, que começou a semana como #55 e defendendo os pontos do título de Bogotá, conquistado no ano passado, agora é a #86.

Com essa posição, Teliana provavelmente ficará fora do grupo de classificação direta para os Jogos Olímpicos Rio 2016. O Brasil, no entanto, tem direito a uma vaga – chamada "ITF Place" – no caso de nenhuma tenista estar classificada por ranking. Assim, joga o torneio olímpico a número 1 do país. Como Paula ainda está bastante longe de Teliana no ranking (são 464 pontos de diferença), parece improvável que a pernambucana não esteja na Rio 2016.

Thomaz Bellucci (#35), por sua vez, sofreu a sexta derrota seguida. Seu algoz em Monte Carlo foi Guillermo García López (#38), que fez 7/5 e 6/1. O número 1 do Brasil não vence desde a semifinal do ATP de Quito, ainda em fevereiro. De lá para cá, acumula reveses diante de Estrella, Dolgopolov, Carballés Baena, Coric, Kukushkin e García López.

Nos Challengers, Clezar fez uma boa campanha em Sarasota (US$ 100 mil), nos Estados Unidos, mas sentiu dores na coxa esquerda na semifinal e abandonou a partida contra Gerald Melzer. O placar mostrava 6/7(4), 6/4 e 3/2 para o austríaco no momento da desistência do gaúcho. Tiago Monteiro também jogou o torneio, mas perdeu na estreia para o mesmo Melzer.

Em Barletta (US$ 50 mil), na Itália, Rogerinho era o cabeça de chave número 1 e perdeu nas quartas de final para o estoniano Jurgen Zopp: 7/6(5) e 6/4. O paulista de 32 anos continua como número 2 do Brasil no 100º posto do ranking.

A Fed Cup

A República Tcheca (sem Petra Kvitova e Lucie Safarova!) e a França venceram seus confrontos do fim de semana e decidirão o título da Fed Cup deste ano. O fim de semana foi animado, com as duas semifinais decididas no jogo de duplas.

Em Lucerna (quadra dura indoor), a República Tcheca teve Barbora Strycova e Karolina Pliskova derrotando Timea Bacsinszky, enquanto Viktorija Golubic, #129 e surpresa do fim de semana, conquistou dois pontos de virada para o time da casa, compensando a ausência de Belinda Bencic. Na decisão, Lucie Hradecka e Karolina Pliskova superaram Golubic e Martina Hingis por duplo 6/2.

Em Trélazé (saibro indoor), a holanda surpreendeu com Kiki Bertens vencendo seus dois pontos de simples, mas Kristina Mladenovic e Caroline Garcia derrotaram, respectivamente, Richel Hogenkamp e Arantxa Rus. Nas duplas, Garcia e Mladenovic fizeram 4/6, 6/3 e 6/3 sobre Bertens e Hogenkamp.

Para a França, capitaneada atualmente por Amélie Mauresmo, será a primeira final desde 2005. A República Tcheca, por sua vez, lidera o ranking da Fed Cup e está de volta à decisão. O time foi campeão da competição em quatro das últimas cinco edições: 2011, 2012, 2014 e 2015.

A campeã

No único WTA da semana, em Bogotá, que também é um dos WTAs mais fracos do calendário (e, ainda assim, mais forte que Florianópolis, aquele que é financiado pela Confederação Brasileira de Tênis), a americana Irina Falconi (#93) levantou o (pequeno) troféu após derrotar Silvia Soler Espinosa na decisão: 6/2, 2/6 e 6/4. Com a conquista, Falconi subiu para o 67º posto no ranking mundial.

A lenda

A americana Gail Falkenberg, 69 anos, venceu uma partida no qualifying do ITD de Pelham (EUA), torneio com premiação de US$ 25 mil. Ela aplicou 6/0 e 6/1 na jovem Rosalyn Small, de 22 anos, e perdeu na rodada seguinte para Taylor Townsend, ex-top 100. Eu relatei a história de Gail neste post.

Snake delay

No Challenger de Sarasota, nos EUA, a partida entre Gonzalo Lama e James Ward teve de ser interrompida por causa de uma cobra que entrou na quadra logo quando o chileno tinha match point.

Lances bacanas

A final de Monte Carlo teve vários ralis de tirar o fôlego, mas se fosse preciso escolher um golpe de todo jogo, essa assustadora direita de Gael Monfils seria fácil de selecionar. Vejam!

Na primeira rodada do Masters de Monte Carlo, Radek Stepanek fez esse winner contra Bruno Soares e Jamie Murray.

O lance levou o segundo set para mais um tie-break, que acabou vencido por brasileiro e britânico depois de dois match points salvos. Jamie e Bruno escaparam após outro match point (uma dupla falta de Nestor) no match tie-break e triunfaram por 6/7(5), 7/6(9) e 14/12.

Nas quartas de final, foi a vez de Soares fazer seu ponto bacana. Por fora da rede.

Ele e Murray derrotaram Rohan Bopanna e Florin Mergea por 6/2 e 6/3.

As melhores histórias

O destaque da semana vai para outro belo texto de Eric Butorac, recomendado pela Aliny Calejon. Desta vez, o duplista ex-parceiro de Bruno Soares e atual presidente do conselho dos jogadores responde à velha pergunta: "Federer é tão legal quanto parece ou é só aparência?" O relato inclui o curioso caso de como Butorac acidentalmente conheceu os pais do suíço durante uma partida. Em inglês, aqui.

O prêmio mais gordo

Na quarta-feira, Roland Garros anunciou um aumento de 14% na sua premiação para o torneio deste ano. O torneio distribuirá, ao todo, 32,107 milhões de euros. Os campeões de simples embolsarão 2 milhões cada. As duplas campeãs, por sua vez, receberão 500 mil euros (valor por time). Segundo o comunicado do torneio francês, o maior aumento em termos percentuais foi dado aos tenistas que perderem nas segunda, terceira e quarta rodadas. Veja mais no link do tuíte.

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Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

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