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Saque e Voleio

Derrota de Djokovic levanta dúvidas e faz bem

Alexandre Cossenza

13/04/2016 14h48

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Dúvida faz bem no esporte. A linha entre o tesão de ver um atleta espetacular e o tédio de saber o resultado final é nem sempre é fácil de enxergar, mas anda (ou andou?) bem visível no tênis ultimamente. Novak Djokovic ganhou quatro dos últimos cinco Slams, levantou 15 troféus nos últimos 14 meses, disputou 11 finais seguidas em Masters 1.000 e acumulou mais do que o dobro de pontos de Andy Murray, atual vice-líder do ranking mundial.

Logo, quando Jiri Vesely, 22 anos, 55º do mundo, derrubou o número 1 por 6/4, 2/6 e 6/4 na segunda rodada do Masters 1.000 de Monte Carlo, primeiro torneio grande da série de saibro na Europa, é fácil compreender por que muita gente abriu sorrisos pelo mundo. Um pouco porque será um Masters diferente, o primeiro do ano sem o sérvio campeão, mas especialmente porque levanta dúvidas que ficarão no ar por pelo menos duas semanas. E isso, hoje, faz muito bem ao tênis.

A partida foi interessante porque não foi uma atuação pavorosa de Djokovic como naquele primeiro set contra Bjorn Fratangelo em Indian Wells. Okay, não foi a melhor atuação do sérvio em 2016 – longe disso -, mas Vesely teve seus méritos. Primeiro por tentar tomar a iniciativa dos pontos com frequência. Segundo, pela execução do plano de jogo. Terceiro, pelas curtinhas. Não lembro de ter visto alguém usar tantos drop shots e com tanta eficiência diante de Djokovic. Foi, realmente, admirável por parte do jovem tcheco.

O número 1, por sua vez, esteve pouco inspirado. Não foi possível ver um plano de jogo claro em momento algum. Além disso, o sérvio foi passivo na maior parte do tempo. Nem mesmo quando esteve nas cordas, com Vesely sacando para o jogo. Por isso, pagou o preço com sua eliminação.

Depois do jogo, Djokovic disse que treinou bastante, mas que nunca sentiu seu corpo descansado o suficiente. Admitiu que jogou mal, disse que Vesely esteve muito bem em quadra e prometeu "descanso total". À jornalista Carole Bouchard (a mesma do tuíte abaixo), afirmou ainda estar confiante e disse que "tudo acontece por um motivo".

Até o Masters 1.000 de Madri, com início marcado para 1º de maio, o mundo seguirá imaginando o que esperar de Djokovic neste tour do saibro. Com duas semanas de intervalo, o número 1 aparecerá na Espanha na melhor forma? E o período de descanso forçado desta semana ajudará lá na frente, em Roland Garros, o único Slam que lhe falta?

E como será que o resto do circuito verá essa derrota em Monte Carlo? Como um sinal de vulnerabilidade ou apenas um caso isolado? E quem aproveitará a brecha no principado para conquistar os mil pontos? Quem ganha mais com isso? Hoje, são dúvidas que fazem muito bem ao tênis.

Coisas que eu acho que acho:

– Sobre o tamanho da vitória de Vesely, vale lembrar que ele quebrou três sequências importantes de Djokovic: 11 Masters 1.000 chegando em finais, 22 vitórias em Masters 1.000, e 14 triunfos no circuito.

– Com a eliminação precoce, Djokovic deixará de ter mais do que o dobro dos pontos de Andy Murray. Coitado, não?

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.