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Saque e Voleio

Brasil Open: a nova casa, os brasileiros e o uruguaio que fez a festa

Alexandre Cossenza

28/02/2016 18h46

Chegou ao fim mais uma edição do Brasil Open – a primeira no Esporte Clube Pinheiros – e parece um momento interessante para fazer um balanço do que significou a nova casa, de como o evento transcorreu e de como foram os brasileiros em quadra no torneio.

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Sobre o "novo" torneio

É inegável a impressão de encolhimento quando se fala que um torneio trocou um ginásio para dez mil espectadores por um clube com uma arena para pouco mais de duas mil pessoas. No entanto, houve vantagens claras para organização e público no novo local. O que chama mais atenção é o "clima" de torneio, que nunca existiu no Ibirapuera. No Pinheiros, os fãs podem ver os tenistas treinando e circulando, e as três quadras estão bem pertinho uma da outra. Ou seja, a locomoção é rápida para quem quer deixar de ver uma partida e rumar até outra quadra onde a partida esteja, quem sabe, mais equilibrada.

Um ponto que pode melhorar é a quantidade de opções, tanto de entretenimento quanto de alimentação. Não sei os termos do acordo entre a Koch Tavares e o Pinheiros, mas o espaço cedido pelo clube não é tão grande. Outra questão que deixa a desejar diz respeito aos assentos na quadra central. Vários deles – próximos à quadra, logo atrás dos camarotes – dão visão apenas parcial. Isso inclui lugares nas laterais e também no fundo de quadra. De onde vi (terceira fileira no fundo de quadra) o jogo de duplas que acabou com a eliminação de Marcelo Melo e Bruno Soares, era impossível enxergar a linha de fundo próxima a mim.

Por outro lado, a arena mais modesta acaba jogando a favor de um ambiente mais animado. Muita gente – inclusiva na sala de imprensa – acredita que é melhor ter uma quadra de duas mil pessoas lotada do que um Ibirapuera com quatro mil pessoas (60% vazio). De fato, o ambiente no jogo de Thiago Monteiro contra Pablo Cuevas era ótimo. Não foi muito pior quando Marcelo Melo e Bruno Soares enfrentaram Guillermo Durán e Andrés Molteni, também num jogo noturno.

O diretor do torneio, Roberto Marcher, não especificou um número para 2017, mas disse que a intenção do torneio é aumentar a capacidade da quadra central. Na coletiva após a final de simples, ele declarou que o evento continuaria lotado se fosse realizado em um espaço com capacidade maior.

E a chave… Bem, não foi um torneio dos mais fortes, mas isso já foi debatido aqui no blog, e a explicação para isso foi dada por Marcher nesta entrevista. O dólar e o calendário pesaram, e resta a Koch Tavares brigar por uma data diferente e/ou, quem sabe, torcer por um melhor momento econômico do país em 2017. Por sorte, o Brasil Open 2016 teve uma final bem digna de seu tamanho: Pablo Cuevas x Pablo Carreño Busta. No papel, é uma decisão até mais interessante do que Cuevas x Pella, como aconteceu no milionário ATP 500 carioca, que tinha Nadal, Ferrer, Tsonga, Isner e Thiem.

Sobre os brasileiros

Thiago Monteiro, mais uma vez, roubou o show. Venceu um rival de nome (Nicolás Almagro), somou mais uma derrota e só parou nas quartas de final, diante de Cuevas. Foi o cearense, vale lembrar, quem mais deu trabalho ao uruguaio em São Paulo. Assim, o jovem de 21 anos completou duas semanas memoráveis no Brasil, atraindo holofotes, jornalistas e ganhando uma dose cavalar de confiança para voltar ao circuito Challenger cheio de moral e somar muitos pontos.

Quanto a Thomaz Bellucci, a passagem pelo Brasil só trouxe preocupações e derrotas. No Rio, caiu diante de Alexandr Dolgopolov, o que seria um resultado normal se não fosse o misterioso problema físico que lhe incomodou. Para piorar, o tal problema voltou em São Paulo, em um jogo muito ganhável contra Roberto Carballés Baena. Resumindo: o número 1 do país não só perdeu a chance de somar pontos em casa (especialmente em SP, numa chave acessível) como voltou a se preocupar com uma questão para a qual não encontra resposta há anos.

Nas duplas, a expectativa pela ouro olímpico levou um banho gelado que começou no Rio Open e terminou nas quartas de final do Brasil Open, com derrota para Guillermo Durán e Andrés Molteni. Não foi uma atuação pavorosa dos mineiros – longe disso -, mas um jogo acima da média da parceria argentina, que foi melhor nos pontos decisivos tanto no início do primeiro set quanto no fim do match tie-break. Talvez os dois resultados abaixo do esperado sirvam para diminuir a pressão e deixar Soares e Melo mais tranquilos até os Jogos Olímpicos. De qualquer modo, fica o aviso: eles não são tão favoritos à medalha de ouro como tanta gente pensava antes desses dois torneios.

Sobre o campeão

Pablo Cuevas foi o maior vencedor do circuito sul-americano de saibro. O uruguaio encontrou uma forma invejável no Rio de Janeiro, onde eliminou Rafael Nadal, e manteve o embalo nesta semana, em São Paulo. Sólido do fundo de quadra e inteligente para variar o plano de jogo quando necessário, o veterano de 30 anos navegou tranquilo na capital paulista (só perdeu set para Monteiro) e terminou a "gira" somando 795 pontos. Sua única derrota aconteceu diante de David Ferrer, nas quartas de final em Buenos Aires. Os resultados colocam Cuevas no 25º posto do ranking mundial – o mais bem colocado entre os sul-americanos.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.