Topo

Saque e Voleio

O mistério de Bellucci e o convidado que não sabia o local da festa

Alexandre Cossenza

25/02/2016 22h04

Thomaz Bellucci não quer dizer do que se trata, mas também não sabe como solucionar. Mais uma vez, o físico deixou o número 1 do Brasil pelo caminho em um torneio. Desta vez, em um torneio bem acessível e, digamos, ganhável. Foi assim, de surpresa, que o paulista atual #35 do mundo caiu logo na estreia no Brasil Open. O post de hoje ainda cita a curiosa história de Benoit Paire, convidado do torneio que esperava jogar em quadra coberta, e registra mais uma campanha inédita na carreira de Thiago Monteiro.

Bellucci_SP16_R16_Zambrana2_blog

A zebra

Era para ser um dia rotineiro. Thomaz Bellucci jogando em São Paulo, com torcida a favor, na altitude que lhe é favorável (cerca de 800m) e diante do lucky loser espanhol Roberto Carballés Baena, #122 do mundo, adversário que não possuía armas para derrotá-lo. Era para ser uma vitória comum, sem destaque especial.

Era. E até parecia que seria assim até a metade do segundo set. Depois de fazer 6/2 com folga na primeira parcial, Bellucci abriu 2/0, quebrando o espanhol e mantendo a soberania em quadra. O paulista, no entanto, perdeu o saque no quarto game. Ainda assim, houve chances de sobra.

No 4/4, com o espanhol no saque, Bellucci teve quatro break points. Perdeu todos em erros não forçados – inclusive duas devoluções de segundo saque e uma curtinha na rede. No 4/5, o brasileiro abriu 40/15 e voltou a vacilar. Cometeu três erros, cedeu um set point e viu Carballés Baena fechar com uma direita vencedora.

O terceiro set foi drama puro, especialmente depois do quinto game, quando Bellucci pediu atendimento médico e tomou um comprimido – situação igual aconteceu no Rio, onde o #1 do Brasil não quis revelar a origem do problema. Desta vez, em São Paulo, Bellucci mal mostrava condições de seguir em quadra. Passou a encurtar pontos, forçando curtinhas e usando o saque-e-voleio.

Escapou de dois break points no sexto game, mas não no oitavo. E não mais ameaçou o rival, que fechou em 2/6, 6/4 e 6/3.

Bellucci_SP16_R16_Zambrana3_blog

O mistério

Na coletiva, Bellucci fez o mesmo que no Rio de Janeiro. Não disse especificamente qual é o problema nem detalhou seus sintomas. Desta vez, porém, deu algumas pistas, afirmando que foi uma questão parecida com a sofrida no Rio Open e revelando que ninguém encontrou a solução.

"Não é lesão, não. Fisicamente, eu não consigo manter a intensidade, tenho um peso muito grande no corpo, e no terceiro set comecei a sentir muita cãibra e foi isso que aconteceu. Não sei o que acontece. Estamos tentando achar uma solução para tentar manter uma intensidade razoável. Se eu consigo manter uma intensidade alta, jogando bem, como eu estava no primeiro set, de cinco a dez derrotas por ano talvez eu não teria. Meu jogo seria outro, meu ranking seria outro, minha atitude seria outra dentro de quadra, mas infelizmente eu não consigo manter a intensidade. Chega uma hora que não sei o que acontece. Não consigo jogar e meu nível de jogo cai de 100 para zero."

Vale ressaltar que Bellucci apareceu para uma sala de entrevista coletiva com uma dúzia de jornalistas (pelo menos) e respondeu apenas quatro perguntas. O número foi pré-estabelecido pela mediadora, que é assessora de imprensa do torneio e, ao mesmo tempo, assessora de imprensa pessoal do tenista.

Paire_SP16_Zambrana_blog

O convidado que não sabia onde era a festa

Benoit Paire, #20 do mundo que pediu convite de última hora para disputar o Brasil Open, ficou pouco tempo no torneio. Pouco depois de Bellucci dar adeus, Paire foi eliminado pelo sérvio Dusan Lajovic por 6/0, 4/6 e 6/3.

A cena mais curiosa do dia foi protagonizada pelo francês. Logo depois da derrota, puxou uma cadeira, sentou e encostou a cabeça na pilastra bem em frente à sala de imprensa. Sua namorada estava por ali também.

A segunda cena mais intrigante do dia também envolveu Benoit Paire, que deixou o clube sem dar entrevista coletiva. A assessora da ATP, então, telefonou para o tenista e colocou seu celular na mesa de entrevistas coletivas. Assim, uma meia dúzia de profissionais conseguiu fazer perguntas por viva-voz.

A conversa com a pequena foto de Paire na telinha do celular, é preciso admitir, foi menos interessante. Primeiro porque o convidado do torneio revelou não saber onde seria o Brasil Open. O francês acreditava que o evento ainda era disputado em quadra coberta, no Ibirapuera, como em 2012, quando ele veio ao Brasil.

"Honestamente, eu não sabia que era um torneio outdoor. Quando eu vi que a partida seria outdoor, fiquei surpreso. Mas as condições eram boas. Eu gostava do torneio quando era indoor, no outro local (Ibirapuera), mas hoje o clube é bom, o ambiente é ótimo. Mas eu perdi hoje, então não fiquei feliz."

Paire_coletiva_blog

O #20 do mundo também disse que estava doente e lamentou a derrota porque gostou da chave em que estava. Sobre sua vinda de última hora, Paire disse que pediu o wild card porque não jogou bem no começo do ano.

"Perdi na primeira rodada na Austrália, na primeira em Roterdã e na primeira em Montpellier e por isso pedi um wild card. Eu precisava me preparar. Se eu não jogasse, teria três semanas livres até Indian Wells. Acho que foi uma boa escolha porque eu tinha chance de ganhar o torneio. Acho que se eu tivesse vencido hoje, poderia fazer semifinal ou final e estaria me sentindo cada vez melhor."

Monteiro outra vez

Sem Bellucci, o último brasileiro vivo, pela segunda semana consecutiva, é Thiago Monteiro. O cearense de 21 anos, que derrotou Jo-Wilfried Tsonga e Nicolás Almagro, bateu nesta quinta-feira o espanhol Daniel Muñoz de la Nava (#72) por 4/6, 6/3 e 6/2.

Com o resultado, o atual número 278 do ranking alcança pela primeira vez na carreira as quartas de final de um torneio de nível ATP. Os pontos conquistados em São Paulo já colocam Monteiro com o melhor ranking da carreira, superando o 254º posto que alcançou na semana de 4 de novembro de 2013. Mesmo que perca na próxima rodada, o cearense ficará perto do 240º posto.

O obstáculo no caminho de Monteiro nas quartas será o uruguaio Pablo Cuevas, seu algoz no Rio de Janeiro. No torneio carioca, o cearense teve boas chances no primeiro set e chegou a abrir 4/2 no tie-break, mas não conseguiu manter a dianteira. O resto da história todo mundo sabe: Cuevas bateu Rafael Nadal, Guido Pella e conquistou o título do Rio Open.

Cabeças que já rolaram

Paire foi o sexto cabeça de chave a perder logo na estreia em São Paulo. Os únicos sobreviventes nas quartas de final são o uruguaio Pablo Cuevas, campeão do Rio Open, e o argentino Federico Delbonis. Os outros já eliminados são Albert Ramos Viñolas (5), Paolo Lorenzi (6), Nicolás Almagro (7) e Pablo Andújar (8).

As duplas

A chave de duplas do Brasil Open viu a estreia de Bruno Soares e Marcelo Melo, que bateram o espanhol Nicolás Almagro e o convidado local Eduardo Russi Assumpção por 6/1 e 6/3. Os mineiros, eliminados na semi no Rio de Janeiro, gostaram de seu rendimento – especialmente Bruno Soares, que tem um problema histórico com o tipo de bola usada no torneio carioca. Em São Paulo, o campeão do Australian Open se mostrou bem mais à vontade.

Quem também venceu foi André Sá, que quebrou o amargo jejum de 2016 e finalmente somou uma vitória na temporada (depois de seis derrotas). Ele o argentino Máximo González passaram pelos italianos Marco Cecchinato e Paolo Lorenzi por 7/6(4) e 6/1.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.