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Saque e Voleio

Francesca, a fofa, e Cuevas, o carrasco de canhotos

Alexandre Cossenza

22/02/2016 01h46

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O domingo começou com pouca expectativa no Rio Open. O fortíssimo torneio masculino que tinha Nadal, Tsonga, Ferrer, Isner, Sock e Thiem acabou com Pablo Cuevas e Guido Pella na final. A chave de duplas tinha a parceria olímpica brasileira, mas Bruno Soares e Marcelo Melo também ficaram pelo caminho. Por fim, na fraca chave feminina, a esperança por uma uma boa campanha de Teliana Pereira, cabeça de chave #1, naufragou na primeira rodada.

Mas havia Francesca Schiavone. A veterana de 35 anos, campeã de Roland Garros, ex-top 5 e atual #132, estava meio esquecida na chave e chegou a brincar numa coletiva de que "talvez um dia fosse colocada na Quadra Central". Precisou salvar match point para chegar às semis e, no fim do torneio, salvou o dia. Derrotou Shelby Rogers de virada, conquistou seu primeiro título desde Marrakesh/2013 e, mais do que isso (muito mais), deu um show na comemoração.

Sacou da cintura um discurso em português, disse que "o Brasil é um país maravilhoso e os sorrisos de vocês preencheram os meus dias" e terminou desejando "sorte nas Olimpíadas". Foi, para muitos o momento mais emocionante dos três anos de Rio Open, mesmo que mais da metade dos assentos da Quadra Guga Kuerten estivesse desocupada.

Sobre o jogo, o duelo até que começou favorável para a jovem de 23 anos. Rogers, #131, impôs seus golpes mais potentes e venceu o primeiro set por 6/2. A segunda parcial começou com uma quebra da americana, mas aí viria o momento que colocou a veterana de volta na partida. No segundo game, ainda com o placar em 1/0, Rogers errou um voleio fácil (muito fácil!) no primeiro ponto, cometeu uma dupla falta pouco depois e acabou perdendo o serviço.

Schiavone, então, fez valer cada minuto de sua experiência. Cozinhou o jogo e usou todas as variações de seu livrinho até que Rogers já não encontrasse mais forças para vencer na base da pancada. Game, set, match: 2/6, 6/2 e 6/2.

A história de Schiavone no Rio de Janeiro é digna de registro. Dois anos atrás, a italiana chegou no Rio Open com status de estrela principal. Na época, Francesca era a 43ª do ranking, mas os resultados já não vinham como antes. Naquele torneio, caiu na estreia, diante da espanhola Lourdes Domínguez Lino.

Schiavone, então, foi cabisbaixa para a coletiva. Em inglês, falava baixo e com a voz cansada. Um repórter, então, lhe perguntou sobre a possibilidade de aposentadoria. A italiana respondeu com "Você acompanha tênis?" ("Do you follow tennis?" foi a frase original) e deu a entender que se veio até o Brasil para um evento de pequeno porte é porque ainda buscava se reerguer.

As coisas não saíram como Schiavone planejava. Em setembro do ano passado, ela já havia saído do top 100. Este ano, precisou jogar o qualifying do Australian Open e não passou. Encerrou, ali, uma série de 61 (!) Slams disputados. A veterana voltará ao top 100 e se o título no Rio não for um recomeço, será um ponto de exclamação num dos últimos capítulos de uma grande trajetória.

Cuevas, campeão na segunda-feira

Ao fim da final masculina, o cronômetro mostrava 2h16min de jogo, mas a partida começou pouco depois das 18h30min, foi interrompida por mais de três horas por causa da chuva e só terminou na segunda-feira, à 0h25min – quase seis horas depois do primeiro saque.

Cuevas venceu o primeiro set e poderia muito bem ter vencido a parelha segunda parcial, mas desperdiçou a vantagem de 5/4 e saque no tie-break. O uruguaio, no entanto, quebrou Guido Pella depois de pedir um tempo médico antes de o rival sacar em 4/5. No fim, o placar mostrou 6/4, 6/7(5) e 6/4.

Na coletiva, Cuevas, que conquistou seu primeiro ATP 500, falou de como foi especial a semana e enfatizou, repetindo um punhado de vezes o quão a semifinal melhor partida de sua carreira, contra o maior tenista do saibro. Sobre a afirmação de Guga (vide tuíte acima), Cuevas apenas agradeceu o elogio, "vindo de alguém que tem um revés espetacular."

Pouco depois do jogo, a ATP confirmou que Cuevas foi o primeiro tenista a ganhar um torneio de nível ATP enfrentando apenas canhotos: Bagnis, Monteiro, Delbonis, Nadal e Pella. O uruguaio disse que a coincidência até ajudou na caminhada, já que não foi preciso fazer grandes alterações táticas. Cuevas disse inclusive que provavelmente teria encontrado mais dificuldade se duelasse com um destro.

Coisas que eu acho que acho:

– O público para a final masculina foi decepcionante, considerando que todos bilhetes estavam esgotados para o público. É claro que a chuva teve peso considerável na quantidade de gente, mas é sempre decepcionante ver um título sendo decidido em uma arena quase vazia.

– A questão da final feminina foi bem diferente. Mais cedo, o tempo era bom. A questão, imagino aqui, é que muita gente deve ter comprado ingresso (aquele de R$ 640) e aparecido só para a final masculina.

– O que será que aconteceria se o Rio Open vendesse ingressos separadamente para cada final? Será que evitaria todos aqueles assentos vazios?

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.