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Saque e Voleio

Semana 7: um decepcionante Nadal e um trio de jovens em ascensão

Alexandre Cossenza

14/02/2016 20h47

Como todos vocês sabem, o blog tirou miniférias na segunda-feira, então o resumo desta sétima semana de 2016 será menor do que de costume. Ainda assim, há bastante a dizer sobre Rafael Nadal em Buenos Aires e outros assuntos, como a ótima campanha do garotão Taylor Fritz em Memphis, a entrada de Belinda Bencic no top 10 e a conquista de Dominic Thiem no saibro portenho.

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O intrigante Nadal

Antes de mais nada, não dá para não comentar a semana desastrosa de Rafael Nadal em Buenos Aires. Além da dor de barriga e das dificuldades encontradas com o calor e a umidade, o espanhol fez dois péssimos jogos em sequência. Primeiro, na sexta-feira, encontrou dificuldades inesperadas contra Paolo Lorenzi. Venceu por 7/6(3) e 6/2, mas jogando um tênis confuso, com escolhas de golpes ruins e execuções igualmente inconstantes. Triunfou porque a diferença de nível para o atual #52 era muito grande.

Depois, no sábado, fez mais do mesmo contra Dominic Thiem, 22 anos, #19 do mundo e bastante talento à disposição. Não foi o bastante, embora os nervos de Thiem tenham colaborado a ponto de Nadal ter um match point. O austríaco, contudo, salvou-se de maneira gloriosa (vide Vine abaixo) e beneficiou-se de um tie-break pavoroso do espanhol para fazer 6/4, 4/6 e 7/6(4).

Nadal começou o ano se dizendo em melhor forma do que em 2015, mas os resultados e as atuações recentes apontam o contrário. Uma queda na estreia em Melbourne, onde seu saque foi vilipendiado por Fernando Verdasco, foi seguida de atuações assustadoras para seu padrão de jogo no saibro.

O Nadal de Buenos Aires foi, provavelmente, o pior Nadal da história em um torneio de saibro. Oscilou entre seu tênis de segurança, mais adequado para o piso, e o estilo agressivo que tentou aplicar nas quadras duras. Não fez nenhum dos dois com consistência. Nem sequer aplicou a tática de bolas altas no backhand de uma só mão de Thiem. O saque foi frágil. O backhand, idem.

Muito se fala da necessidade de Nadal trazer um técnico de fora, alguém que se junte a tio Toni e procure as soluções que o espanhol não encontra desde 2015. Ainda que aos olhos de muitos pareça um recurso ao qual Nadal terá de recorrer em algum momento, vale lembrar que as atuações de Buenos Aires parecem muito além dos serviços de um treinador.

No saibro portenho (no saibro!), o ex-número 1 esteve confuso em seu plano de jogo. Foi afobado, agressivo e excessivamente defensivo. Tudo no mesmo jogo (às vezes no mesmo ponto!) e sem fazer nada bem. A não ser que Nadal esteja escondendo uma lesão ou algum problema recente, é difícil entender o que aconteceu com seu tênis – que inclusive parecia mais sólido no fim de 2015.

Toni disse recentemente que se não fosse tio, provavelmente já teria sido dispensado, mas não custa lembrar: foi com Toni que Nadal sacou frequentemante acima dos 200 km/h no US Open de 2010. Toni também sempre recebeu quase todo crédito pela força mental de Nadal. Será que a solução passa mesmo por um novo técnico? E será que há solução?

Enquanto o tênis segue aguardando essa resposta, vale ressaltar que Nadal não parece tão incomodado. Após a derrota para Thiem, disse que não estava preocupado "porque não uma fiz uma partida ruim hoje, apenas me faltou consistência, me faltou cometer menos erros, principalmente com o revés." Sim, Nadal esteve a um ponto da vitória, mas o que se viu no sábado pareceu muito, muito longe do espanhol que o mundo se habituou a ver no saibro.

Os brasileiros

Thomaz Bellucci pulou Buenos Aires, o que pode ter feito um bem danado. Embora tenha conquistado sua primeira vitória em um ATP na capital argentina, as altas temperaturas e a umidade da cidade portenha não renderam boas memórias. Aquele primeiro triunfo, ainda em 2008, é seu único no torneio até hoje.

Nas duplas, Bruno Soares não jogou, mas Marcelo Melo tentou a sorte em Roterdã ao lado de Ivan Dodig. O número 1 do mundo e seu parceiro croata perderam nas quartas de final (segunda rodada) para Henri Kontinen e John Peers: 3/6, 7/6(2) e 10/7. Melo e Dodig tiveram match point no segundo set.

Em Buenos Aires, ninguém passou da estreia. Marcelo Demoliner, em parceria com Alber Ramos-Viñolas, foi derrotado pelos colombianos Juan Sebastian Cabal e Robert Farah por 7/6(5) e 6/2. André Sá, por sua vez, formou parceria com o argentino Máximo González e foi superado por Gero Kretschmer e Alexander Satschko: 6/1 e 7/5.

Os campeões

No 500 de Roterdã, o ATP mais valioso da semana (em pontos, pelo menos), Martin Klizan protagonizou uma das semanas mais espetaculares da história recente nos ATPs 500. Salvou cinco match points nas quartas de final contra Roberto Bautista Agut e outros três na semi contra Nicolas Mahut antes de derrotar Gael Monfils por 6/7(1), 6/3 e 6/1 na decisão.

Ao todo, foram três viradas em sequência e seu melhor resultado da carreira. Klizan, #43, agora tem quatro títulos em quatro finais disputadas (também venceu São Petersburgo em 2012, Munique em 2014 e Casablanca em 2015). Ah, sim: a ATP informa (vide tuíte acima) que desde 2001 ninguém salvava tantos match points rumo a um título.

Em Buenos Aires, a sensação foi o austríaco Dominic Thiem, 22 anos, que eliminou Rafael Nadal nas semifinais – depois de salvar match point – e superou Nicolás Almagro na decisão por 7/6(2), 3/6 e 7/6(4). Ressalto: foram duas partidas longas em dois dias, e Thiem venceu todos games de desempate. Ainda que tenha contado com uma atuação abaixo da crítica de Nadal, o austríaco anota um resultado maiúsculo em sua jovem carreira.

Número 22 do mundo antes da conquista na Argentina, Thiem agora soma quatro títulos na carreira. Todos vieram no saibro em em eventos da série 250. Os três anteriores foram em 2015: Gstaad, Umag e Nice. Seu único vice foi em 2014, também no saibro, em Kitzbuhel.

Em Memphis, Kei Nishikori foi campeão. Até aí, surpresa nenhuma. A novidade mesmo foi a presença do americano Taylor Fritz, 18 anos e #145, na final. O adolescente até que deu trabalho ao favorito no primeiro set, mas acabou não conseguido igualar a consistência do rival. Nishikori levou a melhor por 6/4 e 6/4.

O triunfo deste domingo foi o 17º seguido do japonês em Memphis. Ele venceu as quatro últimas edições da competição. Para Fritz, que fazia apenas seu terceiro torneio de nível ATP, vale a memória de ter sido o mais jovem americano em uma final deste porte desde 1989.

No WTA mais importante da semana, em São Petersburgo, Roberta Vinci derrotou Belinda Bencic na final por 6/4 e 6/3. A italiana fez seu jogo de variações e escolheu bom os momentos de ir à rede. Ao todo, em 25 subidas, ganhou 17.

A veterana de 32 anos conquistou seu primeiro torneio de nível Premier. Enquanto isso, se serve de consolo, Bencic, 18 anos, aparecerá como no top 10 no ranking desta segunda-feira pela primeira vez na carreira.

Nas duplas, o registro quase semanal é mais uma conquista de Martina Hingis e Sania Mirza. #Santina conquistou sua 40ª vitória seguida ao bater Vera Dushevina e Barbora Krejcikova por 6/3 e 6/1 na final.

A última derrota de Hingis e Mirza como parceria aconteceu em agosto do ano passado, nas semifinais de Cincinnati, diante de Hao-Ching Chan e Yung-Jan Chan, de Taiwan. As irmãs Chan, aliás, também foram campeãs neste domingo. Em casa, no WTA de Kaohsiung, elas bateram as japonesas Eri Hozumi e Miyu Kato na final por 6/4 e 6/3, em 1h17min de partida.

Falando no modesto WTA de Kaohsiung, o torneio só não foi minúsculo graças à presença de Venus Williams, atual #12. A americana aproveitou a chave fraca e conquistou seu 49º título na carreira ao derrotar na final a cabeça 2, Misaki Doi, #62, por 6/4 e 6/2. Venus, vale lembrar, não perdeu um set sequer.

Foi o terceiro título seguido da ex-número 1 do mundo na Ásia. As duas conquistas anteriores de Venus aconteceram em Wuhan e Zhuhai.

Gael Monfils é bem parecido com Dustin Brown no sentido de deixar o espectador sem saber se um golpe foi muito fácil ou se o tenista foi displicente na execução. Até agora não entendi qual foi o caso neste ponto do francês em Roterdã.

Em Roterdã, a semifinal entre Martin Klizan e Nicolas Mahut teve até uma cambalhota do eslovaco para comemorar.

Klizan tinha lá seus motivos para comemorar. Pouco antes deste game, ele salvou um match point quando sacou em 3/5 no segundo set. A cambalhota veio ao quebrar Mahut e igualar a parcial em 5/5. Klizan ainda salvou outros dois match points no tie-break para forçar o terceiro set e vencer por 6/7(3), 7/6(7) e 6/2.

Outro pontaço da semana veio como cortesia de Ricardas-Richard-Ricardas-de-novo Berankis. O lance veio na partida contra Taylor Fritz, que acabou saindo vencedor por 2/6, 6/3 e 6/4.

Fanfarronices publicitárias

Milos Raonic desistiu do ATP de Delray Beach, mas apareceu para o jogo das celebridades do All-Star Weekend da NBA (não acho que seja um crime). O canadense até protagonizou a enterrada abaixo!

A melhor história

A reportagem mais interessante entre as que li estava no New York Times e contava a história de Denis Pitner, um árbitro croata que foi suspenso do tênis em agosto do ano passado. Segundo a ITF, Pitner enviou informações sobre o bem-estar físico de um jogador a um técnico durante um torneio. Ele também regularmente se conectava a uma conta em um site de apostas. A tal conta realizava apostas em jogos de tênis. A parte surreal da história – e é o foco da reportagem – é que o árbitro, mesmo suspenso, trabalhou como juiz de linha no US Open. O texto na íntegra (em inglês) está neste link.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.