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AO, dia 14: Djokovic, maior de todos e maior do que nunca

Alexandre Cossenza

01/02/2016 08h00

O cidadão termina uma temporada memorável, com 26 vitórias e três títulos em Slams, uma conquista no ATP Finals e uma liderança oceanopacífica no ranking mundial. Obviamente, é impossível repetir as atuações de 2015. Impossível jogar dois anos naquele nível, certo? Não para Novak Djokovic. Neste domingo, o sérvio não só repetiu a conquista do Australian Open (é seu sexto título em Melbourne) como completou duas semanas espetaculares. Nole venceu partidas com 100 erros e duelos sem erros. E mostrou que é possível ampliar seu domínio no circuito.

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A final

Andy Murray bem que ofereceu alguma resistência depois de sofrer um sonoro 6/1 no primeiro set. O britânico tentou ser mais agressivo, tentou dar curtinhas, tirou todos instrumentos de sua mala. Nada funcionou. Djokovic, como sempre, teve resposta para tudo. Mesmo quando o número 2 do mundo conseguia equilibrar as ações, ficava a impressão de que Nole tinha algo na reserva, de que seria possível deslanchar com a partida a qualquer momento. O líder do ranking nem chegou a disparar na frente, mas foi muito superior no tie-break do terceiro set, que poderia dar um novo ânimo a Murray. No fim, o placar mostrou 6/1, 7/5 e 7/6(3).

A campanha

Da estreia contra o garotão Hyeon Chung até a semifinal contra Roger Federer, Djokovic foi incrivelmente superior a todos. Essa lista inclui Gilles Simon, que levou o sérvio a cinco sets. Foi um dia atípico do número 1, que somou 100 erros não forçados. Ainda assim, é preciso, como escrevi naquele dia, contextualizar a estatística. Em cinco sets e diante de um adversário que devolve quase tudo, 20 erros por set não parece um número tão absurdo assim. Tanto que, no que poderia ser um nervoso quinto set, Djokovic nunca esteve perto de ser eliminado.

O triunfo sobre Federer, especialmente, foi simbólico. Quando venceu Doha atropelando Rafael Nadal, houve quem dissesse que o momento ruim de Nadal pesou muito aquele dia. O suíço, diferentemente, vem jogando o que ele mesmo já classificou como o melhor tênis de sua carreira. O placar, no entanto, mostrava 6/1 e 6/2 após menos de uma hora de jogo. Coincidência ou não, os mesmos números da final no Catar. Federer teve mais tempo e reagiu em um descuido do sérvio, mas a margem a favor de Djokovic era muito grande. O líder do ranking acabou levando a melhor em quatro sets: 6/1, 6/2, 3/6 e 6/3.

O domínio

Em dois torneios disputados, Djokovic agora soma 12 vitórias e nenhuma derrota em 2016. Mais do que isso: atropelou os números 2 e 3 do ranking – e isso numa época em que os números 2 e 3 são Murray e Federer! Nole também bateu com folga os números 5, 6 e 7. Agora, tem 7.845 pontos de vantagem sobre Murray, o vice-líder do ranking. E se tivesse descontados todos seus pontos nos Slams, Djokovic ainda seria o número 1.

A consciência

Na entrevista coletiva, Djokovic disse que segue tentando melhorar tecnicamente, taticamente e mentalmente. "Não estou aqui porque joguei o mesmo tênis do ano passado. Acho que estou jogando melhor."

O sérvio também citou uma metáfora que ouviu na véspera da decisão. Segundo ele, o lobo que sobe a montanha tem mais fome do que o lobo que já está no topo. "Não posso me permitir relaxar e curtir. Quer dizer, eu posso. É claro que quero curtir – e vou – mas não vai durar mais do que alguns dias. Depois disso, já estou pensando sobre como continuar jogando bem pelo resto da temporada."

Quando indagado se o lobo está com muita fome por Paris, Nole deu uma resposta ótima: "Muito faminto. Mas o lobo precisa comer refeições diferentes para chegar a Paris. Paris é uma sobremesa."

O ponto do dia

Não que sirva de consolo para Andy Murray a essa altura, mas o Australian Open escolheu esse ponto vencido pelo escocês como o melhor do domingo.

O melhor recado

Andy Murray, prestes a ter seu primeiro filho, encerrou o discurso com um agradecimento especial à esposa, Kim. "Você foi uma lenda nas últimas duas semanas, muito obrigado pelo apoio, e vou estar no próximo voo para casa." O discurso inteiro está aqui. Djokovic também fez um discurso bonito e desejou a Murray as mesmas sensações bonitas de quando ele, Nole, teve um filho.

O respeito

Após receber um enorme elogio de Billie Jean King, o número 1 do mundo respondeu à altura da grande tenista americana. "Nós, gerações mais jovens, nos apoiamos nos ombros de gigantes (vocês). Obrigado por suas palavras gentis."

O bom samaritano

Depois do título, Djokovic doou 20 mil dólares australianos a um programa de aprendizado no início da infância para jovens carentes promovido pela Melbourne City Mission. Leia mais aqui (em inglês).

Os fanáticos

Eles podem não ser mais numerosos que os fãs de Roger Federer e Rafael Nadal, mas devem ser os mais apaixonados. Certamente, são os mais barulhentos após as conquistas. Melbourne sabe bem como a coisa acontece.

Aguardado por dezenas de fãs durante a turnê de entrevistas pós-final, Djokovic atirou de presente um par de tênis. Um pé para cada lado.

Uma das raquetes de Nole também ficou com uma fanática.

Aviso: este post foi publicado à 1h de quarta-feira, dia 3 de fevereiro de 2016. Alterei a data do post para que ele apareça em ordem cronológica na página principal do blog.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.