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AO, dia 11: Djokovic deixa Federer para trás, Serena domina, Bruno na final

Alexandre Cossenza

28/01/2016 10h28

A quinta-feira cheia de expectativa foi das mais interessantes e deu muito assunto. Não só para o Brasil, que terá Bruno Soares em mais uma final de Slam, mas para a imprensa internacional, que pode falar mais e mais sobre os domínios de Serena Williams e Novak Djokovic e seus lugares na história do esporte.

A americana atropelou Agnieszka Radwanska, enquanto o sérvio derrubou Roger Federer em um jogo que teve quatro sets, mas deixou escancarada a superioridade do atual número 1 do mundo sobre o veterano. Este resumaço do 11º dia do Australian Open tem análises dos jogos, vídeos y otras cositas más. Divirtam-se.

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O jogo mais esperado

Djokovic (#1) x Federer (#3), como semifinal de Slam, não preencheu as expectativas de um jogão. A culpa (ou o mérito, dependendo da sua torcida) é de Djokovic, que jogou um tênis estratosférico durante os dois primeiros sets, sem deixar Federer respirar e cometendo raros erros. Enquanto o suíço tentava se encontrar na Rod Laver Arena, o sérvio fez 6/1 e 6/2 em 56 minutos.

Curiosamente, o placar até então foi o mesmo da final de Doha, aquela em que Djokovic atropelou Rafael Nadal algumas semanas atrás. Foi o jogo que motivou o espanhol a dizer que nunca tinha visto, desde que conhece tênis, alguém jogar em um nível tão alto. Um elogio e tanto, coisa rara de ver entre rivais desse porte. Na época, porém, houve quem dissesse que Nadal queria apenas justificar a sapatada que levou no Catar. Pois os dois primeiros sets desta quinta-feira alimentam a teoria de Rafael Nadal como uma churrascaria tijucana.

Não tivesse começado o terceiro set menos intenso, Djokovic poderia ter saído da quadra bem mais rápido. Mas a postura menos agressiva do número 1 e a luta de Federer fizeram um "jogo". O suíço saiu de um break point no quinto game e, finalmente, quebrou o número 1 na sequência. Sacando melhor do que nas parciais anteriores, o "azarão" manteve o saque até fechar a parcial – para a festa da torcida, que gritava seu nome em coro, ansiosa por mais tênis.

Foi então que o teto retrátil foi fechado por causa da chuva, e a paralisação de cerca de dez minutos deu uma esfriada na partida. Os ralis escassearam. Federer sacava bem, mas devolvia mal. Conseguiu um 0/30 logo no primeiro game, mas errou quatro devoluções seguidas (três no segundo serviço do sérvio) e perdeu o que seria sua melhor chance no set.

O oitavo game foi decisivo. Federer deixou o sérvio abrir 0/30, mas igualou o placar do game com uma passada de backhand espetacular (vide vídeo acima). Aquele, no entanto, foi o último ponto do suíço na partida. Djokovic chegou ao break point com uma passada com ajuda da fita, quebrou na sequência e sacou para o jogo. Confirmou de zero, sem piscar. Game, set, match: 6/1, 6/2, 3/6 e 6/3.

O resultado, além de colocar Djokovic em mais uma final no Australian Open, faz com que o sérvio deixe Roger Federer para trás também no histórico de confrontos diretos. A soma, agora, mostra 23 vitórias do atual número 1 em 45 confrontos. Djokovic, é bom lembrar, também leva vantagem sobre Rafael Nadal por 24 a 23. Ele agora espera o vencedor de Andy Murray (#2) x Milos Raonic (#14) para saber quem será seu adversário no domingo.

E as mulheres?

A primeira semifinal do dia, entre Serena Williams (#1) e Agnieszka Radwanska (#4), teve um primeiro set constrangedor e uma segunda parcial que só não foi mais desequilibrada porque a número 1 do mundo desandou a errar. O jogo durou só 1h06min, e o placar de 6/0 e 6/4 espelhou a superioridade da americana.

Não que a polonesa tenha feito uma apresentação ruim. Nada disso. Radwanska encaixou 54% de seus primeiros serviços e cometeu só sete erros não forçados. A questão é que a partida deu a dimensão de quantos níveis acima está Serena. Radwanska não tem potência nem no saque (média de 152 km/h no primeiro serviço e 124 km/h no segundo) nem nos golpes de fundo para incomodar a número 1.

O trunfo que Radwanska tem contra o resto do circuito, que é seu jogo variado, com slices, curtinhas e golpes bem colocados, vale muito pouco diante de Serena. A diferença de peso nos golpes é tanta que, quando tudo dá certo para a favorita – como no primeiro set – a polonesa passa mais tempo correndo atrás da bola de um lado para o outro do que fazendo seu próprio jogo.

E Radwanska, é bom lembrar, era a tenista com mais vitórias (27) e títulos (quatro) no circuito mundial desde o US Open. Além disso, vinha em uma sequência de 13 vitórias, que começou na fase de grupos do WTA Finals do ano passado e incluía o título do WTA de Shenzhen deste ano.

A dúvida que fica agora é saber o Angelique Kerber pode fazer de diferente na final. A alemã (#6) derrotou a britânica Johanna Konta (#47) na segunda semifinal por 7/5 e 6/2 e mostrou mais uma vez sua regularidade. Não que tenha sido um jogo perfeito da alemã. Kerber chegou a ter 3/0 com duas quebras de vantagem, mas deixou Konta atacar e virar o primeiro set para 5/4.

No fim, a tenista britânica não conseguiu a precisão ofensiva necessária para triunfar, mas é difícil imaginar Kerber incomodando Serena com um primeiro serviço que teve 151 km/h de média contra Konta (e a média do segundo serviço foi de 120 km/h). Se a americana estiver com a devolução calibrada, como esteve contra Radwanska e como normalmente atua em jogos importantes, Kerber pode conseguir ser pouco mais do que uma espectadora no sábado.

O brasileiro finalista

A semifinal de Bruno Soares e Jamie Murray contra os franceses Lucas Pouille e Adrian Mannarino começou atrasada por causa de um problema na rede da Rod Laver Arena (tipo de imprevisto que acontece na semifinal porque quase não usam uma certa rede na quadra). Nada que tirasse o brasileiro do sério. Enquanto esperava o reparo, ficava de pernas cruzadas rindo com o parceiro, com a calma de uma primeira rodada de ATP 250.

Quando a bolinha entrou em jogo, a supremacia de Bruno e Jamie foi nítida. Após um susto no quinto game, quando o mineiro precisou sair de 15/40 em seu saque, deslancharam. Embalados por uma atuação irretocável do brasileiro, quebraram no game seguinte, fecharam a parcial em 6/3 e já abriram o set seguinte com outra quebra no saque de Pouille. A partida durou 58 minutos e terminou com o placar mostrando 6/3 e 6/1.

O resultado, que significa a 12ª vitória seguida de Bruno Soares (somando o título em Sydney e as campanhas em duplas masculinas e mistas em Melbourne), coloca o brasileiro em sua segunda final de Slam. Na primeira, no US Open de 2013, seu parceiro, Alexander Peya, entrou em quadra lesionado, e a parceria mal teve chances diante da Leander Paes e Radek Stepanek.

Para Jamie Murray, será a terceira final de Slam consecutiva – um feito raríssimo. O escocês disputou o título em Wimbledon e no US Open do ano passado, mas ele e John Peers saíram de quadra derrotados em ambas ocasiões.

A final será contra o imortal Daniel Nestor (43 anos) e o tcheco Radek Stepanek, que derrotaram Pablo Cuevas e Marcel Granollers por 7/6(11) e 6/4. Brasileiro e britânico são favoritos nas casas de apostas. Na Sportsbet australiana, por exemplo, uma vitória de Bruno e Jamie paga 1,46 para cada dólar apostado. Um triunfo de Nestor e Stepanek paga 2,60.

Os melhores lances

O canal oficial do Australian Open montou este clipe da vitória de Bruno Soares e Jamie Murray na semifinal de duplas.

Esse lance espetacular deu dois break points a Roger Federer no terceiro set. Djokovic salvou-se de ambos, mas acabou perdendo o saque no mesmo game, que durou mais de dez minutos. Foi o início da reação do suíço.

Cheiro de campeão?

A entrevista pós-jogo com Jim Courier rendeu mais um momento divertido de Novak Djokovic. O americano disse que o bate-papo começou em um lugar e que o sérvio continuava a andar para trás. Courier quis saber se estava cheirando mal… Nole, então, respondeu que seu entrevistador tinha o hábito de fazer a pergunta e dar um passo para a frente. E todo mundo riu.

Bolão Impromptu do Dia

Nesta quinta, a pergunta aleatória lançada durante um momento qualquer na madrugada era sobre quantos games teria a partida entre Novak Djokovic e Roger Federer. O vencedor foi Felipe Priante, jornalista do Tenisbrasil, que foi ousado no palpite, considerando que os últimos confrontos entre sérvio e suíço em torneios de Grand Slam haviam ultrapassado os 40 games.

O que vem por aí no dia 12

A programação de sexta-feira, em Melbourne, só tem uma partida de simples: Andy Murray e Milos Raonic fazem a segunda semifinal masculina à noite, na Rod Laver Arena. Antes, a quadra principal do torneio tem uma semifinal de duplas mistas e a final de duplas femininas, com as quase imbatíveis Martina Hingis e Sania Mirza enfrentando as tchecas Andrea Hlavackova e Lucie Hradecka.

Bruno Soares, por sua vez, volta à quadra para buscar uma vaga também na final de duplas mistas. Ele e a russa Elena Vesnina fazem a última partida da Quadra 3, já no fim da tarde (ou no começo da noite) contra Sania Mirza e Ivan Dodig.

Veja aqui os horários e a programação completa.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.