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AO, dia 10: o tombo de Vika, as chances de Raonic, e Bruno em outra semi

Alexandre Cossenza

27/01/2016 09h58

A primeira derrota da cotadíssima Victoria Azarenka em 2016, a discussão sobre os méritos (ou não) de Angelique Kerber, o jogão de Andy Murray e David Ferrer, as chances de Milos Raonic e mais uma semifinal para Bruno Soares são os principais assuntos desta quarta-feira, décimo dia do Australian Open 2016.

Este resumaço da jornada inclui também o emocionante abraço de Johanna Konta e Shuai Zhang, os planos dos maiores órgãos do tênis para fortalecer o combate à manipulação de resultados, uma gafe do torneio e um bolão improvisado durante a madrugada. Role a página, clique nos muitos links e fique por dentro.

O jogo mais esperado

No primeiro verdadeiro teste de sua consistência no Australian Open, Victoria Azarenka sucumbiu. O belíssimo torneio da bielorrussa foi jogado fora em dois momentos. Um péssimo começo de partida e um desastroso fim de segundo set, com cinco set points perdidos em seu próprios games de serviço. Angelique Kerber, o retrato da regularidade, sobreviveu mesmo com um saque vulnerável e fez 6/3 e 7/5 para alcançar as semifinais em Melbourne pela primeira vez na carreira.

Obviamente foi um dia ruim de Vika, que nunca esteve à vontade para atacar buscando as linhas, algo necessário para enfrentar Kerber. Depois de deixar a alemã abrir 4/0, a bielorrussa diminuiu um pouco a agressividade, deixou a adversária errar um pouco mais e até equilibrou as ações, devolvendo uma das quebras, mas foi só.

A segunda parcial parecia bem encaminhada, mas a coisa desandou depois que Azarenka abriu 5/2 e 40/0. Kerber venceu três pontos seguidos sendo mais agressiva e salvou mais dois set points quando Vika teve 5/4 e 40/15. O que parecia um terceiro set certo tornou-se um pesadelo para a ex-número 1. Kerber viu a chance e não bobeou. Virou o set, conseguiu sua primeira vitória em sete partidas contra Azarenka e esbanjou alegria na comemoração.

A adversária de Kerber na semifinal será a britânica Johanna Konta (#47), que venceu o duelo de zebras contra a chinesa Shuai Zhang (#133). A inglesa nascida na Austrália fez 6/4 e 6/1 e se tornou a primeira britânica a alcançar a semifinal do Australian Open desde Jo Durie em 1983, ano em que foram lançados Billie Jean (Michael Jackson) e O Retorno de Jedi. Também foi o ano do bicampeonato do espetacular Nelson Piquet na Fórmula 1.

Konta, é bom lembrar, disputa uma chave principal de Slam pela nona vez, mas fez este ano sua estreia entre as 128 em Melbourne. De 2013 a 2015, disputou o qualifying e não conseguiu se classificar.

Eu ganhei, nós empatamos, vocês perderam

Em todo Slam, acontece pelo menos uma vez. Um tenista famoso perde e deixa a quadra dizendo algo do tipo "o jogo estava na minha raquete" ou "eu perdi", sem dar o devido mérito à adversária. Até que demorou, mas chegou este momento na edição 2016 do torneio australiano, cortesia de Victoria Azarenka – ou da interpretação que deram a sua entrevista coletiva.

A percepção da maioria (e eu nem sei se concordo, mas isso é outra discussão) foi que Vika não deu o devido mérito para Kerber. De fato, Azarenka faz uma grande lista se suas falhas durante o jogo, mas ela também admite que a alemã foi agressiva e que sacou bem nos momentos mais importantes.

A frase que marca mais é a seguinte: "Acho que ela foi agressiva. Ela sacou bem. Especialmente nos momentos importantes ela sacou muito bem, mas para mim é difícil de julgar porque acho que nos conhecemos muito bem. Hoje, eu realmente sinto que foi minha culpa. Não fiz o suficiente com o que tive hoje."

A avaliação de Kerber (que até onde eu sei, não tinha ideia da declaração de Azarenka) rendeu até o tuíte oficial do Australian Open copiado acima. A alemã crava: "Eu fiz meu jogo desde o primeiro ponto. Fui mais agressiva desta vez. Ela não perdeu; eu venci de verdade."

E os homens?

Andy Murray (#2) x David Ferrer (#8) foi tudo que se esperava de um jogo entre eles. Um tanto previsível, é bem verdade, mas bem divertido de ver. Ralis impressionantes, defesas incríveis, contra-ataques espetaculares e oito saques quebrados. O nível foi bem alto e se manteve bem alto durante a maior parte das 3h25min de jogo. De novidade, apenas uma paralisação de cerca de dez minutos para fechar o teto retrátil, já que uma chuva forte se aproximava.

No fim, porém, o placar também foi previsível: Murray venceu em quatro sets, com parciais de 6/3, 6/7(5), 6/2 e 6/3. Apenas pela curiosidade, os três últimos duelos entre eles em torneios do Grand Slam terminaram em quatro sets, com o britânico levando a melhor e com o espanhol ganhando um tie-break.

Murray, o vencedor

Soa como piada pronta, mas o grande vencedor desse jogo de quartas de final entre Milos Raonic e Gael Monfils foi… Andy Murray! Pelo menos era isso que estava na chave no site do Australian Open na noite deste quarta.

A verdade verdadeira

No mundo real, Andy Murray vai enfrentar Milos Raonic (#14) nas semifinais. O canadense enfrentou pouca resistência de Gael Monfils (#25), que até venceu um set, mas nem esteve perto nos outros. As parciais foram 6/3, 3/6, 6/3 e 6/4. Será a primeira semifinal em Melbourne na carreira de Raonic – a segunda em um Slam, depois de Wimbledon/2014.

Não dá para ignorar que o canadense agora tem nove vitórias consecutivas, o que é um recorde para ele em torneios de nível ATP. Antes do Australian Open, Raonic foi campeão em Brisbane, onde bateu Roger Federer na final. A sequência de vitórias também inclui triunfos sobre Stan Wawrinka, Viktor Troicki e Bernard Tomic. O momento é realmente estupendo e é justo imaginar que ele terá chances contra Andy Murray na sexta-feira. Mas… será?

O brasileiro

Bruno Soares venceu outra vez. Pela 11 vez seguida, aliás, somando o título do ATP de Sydney e as campanhas nas duplas e duplas mistas em Melbourne. O triunfo desta quarta colocou o mineiro nas semifinais também nas mistas. Ele e Elena Vesnina derrubaram Jamie Murray (sim, o parceiro) e Katarina Srebotnik por 6/2 e 6/3, sem grandes problemas.

Brasileiro e russa, que fizeram um bate-papo ao vivo via Periscope nesta quarta-feira, agora aguardam por seus próximos adversários, que sairão do jogo entre Sania Mirza e Ivan Dodig, cabeças de chave 1, e Martina Hingis e Leander Paes. Quem quer que vença será um adversário bastante indigesto.

A chave masculina:

[1] Novak Djokovic x [3] Roger Federer
[13] Milos Raonic x Andy Murray [2]

A chave feminina:

[1] Serena Williams x [4] Agnieszka Radwanska
[7] Angelique Kerber x Johanna Konta

Os melhores lances

Nem de perto foi o melhor lance do jogo, mas foi o que escolheram no canal oficial do Australian Open no YouTube. De qualquer modo, fica o registro dessa passada de Andy Murray na corrida.

Não foi um ponto, mas foi um lindo momento de Johanna Konta e Shuai Zhang junto à rede, logo depois do match point. Vale ver.

Bolão Impromptu do Dia

A partir deste parágrafo, esta seção é criada com status de permanente para elogiar os tuiteiros da madrugada que se dispõem a tentar acertar uma pergunta aleatória lançada durante uma partida qualquer. O grande nome desta quarta-feira foi o Matheus Bernardes, primeiro a dar a resposta certa.

União contra a manipulação

Após a polêmica história-não-história da semana passada, quando BBC e BuzzFeed disseram possuir uma lista de partidas investigadas, mas não divulgaram nomes, os principais órgãos do tênis (ITF, ATP, WTA e o Grand Slam Board) anunciaram a criação de um processo independente de revisão que tem como objetivo "preservar a integridade do jogo". A história completa está aqui.

O chamado IRP (Independent Review Panel), que será liderado por Adam Lewis, especializado em lei esportiva, terá como principais objetivos analisar questões como as citadas abaixo e fazer recomendações:

– Como a Tennis Integrity Unit (TIU, órgão que investiga partidas sob suspeita de manipulação) pode ser mais transparente sem comprometer a necessidade de confidencialidade em suas investigações;

– Avaliar recursos adicionais para a TIU nos torneio e internamente;

– Mudanças estruturais e/ou de governança que deem mais independência à TIU; e

– Como aumentar o alcance do programa de educação de integridade no tênis.

A história completa está no site da ITF.

O que vem por aí no dia 11

A programação de quinta-feira, em Melbourne, começa com Bruno Soares e Jamie Murray tentando uma vaga na final de duplas. Brasileiro e britânico encaram os franceses Adrian Mannarino e Lucas Pouille na Rod Laver Arena logo no primeiro horário do dia. Os outros dois jogos lá serão as semifinais femininas. Primeiro, Serena Williams enfrenta Agnieszka Radwanska. Em seguida, Angelique Kerber e Johanna Konta decidem a segunda vaga na decisão. À noite, Roger Federer e Novak Djokovic fazem a primeira semifinal masculina.

Veja aqui os horários e a programação completa.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.