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Saque e Voleio

AO, dia 8: aces que sumiram, a dor de Keys e "3" vitórias de Bruno Soares

Alexandre Cossenza

25/01/2016 12h00

A segunda-feira não foi um dia de muitos aces em Melbourne. John Isner disparou 18 e acabou eliminado, enquanto Milos Raonic conseguiu 24 em cinco sets (mesma média de Isner), mas compensou com voleios eficientes e um plano de jogo perfeito. O oitavo dia do Australian Open, porém, foi bom mesmo para Bruno Soares. Além de duas vitórias em quadra, o mineiro contou com a eliminação de Bob e Mike Bryan, que seriam seus adversários nas quartas de final.

Este resumo do dia fala ainda do esperado duelo entre Victoria Azarenka e Angelique Kerber, da doída – literalmente – eliminação de Madison Keys, da zebra de Johanna Konta e de Andy Murray, que venceu em três sets após um par de dias nada normais durante um Slam. Role a página e fique por dentro.

O brasileiro

Único representante do país no torneio, Bruno Soares continua 100% em Melbourne depois de duas partidas e "três" vitórias nesta segunda. Primeiro, ele e Jamie Murray derrotaram Robert Lindstedt e Dominic Inglot por 6/3 e 6/4. O jogo só teve drama no fim do segundo set, quando brasileiro e escocês perderam dois match points no saque de Lindstedt e depois precisaram salvar dois break points no serviço de Murray. Tudo, porém, deu certo, e Bruno Soares está nas quartas de final. O brasileiro, aparentemente, ganhou até no "Pedra, Papel, Tesoura".

A segunda vitória para Bruno e Jamie foi saber que eles não enfrentarão Bob e Mike Bryan nas quartas. Os gêmeos americanos levaram a virada e foram eliminados por Raven Klaasen e Rajeev Ram: 3/6, 6/3 e 6/4. A notícia é ótima também para Marcelo Melo, duplista número 1 do mundo, que perderia a liderança do ranking se os Bryans fossem campeões. O mineiro, no entanto, ainda não está 100% seguro e será ultrapassado se Horia Tecau e Jean Julien Rojer levantarem a taça.

Do ex-parceiro para o atual

Nas duplas mistas, Bruno Soares e Elena Vesnina venceram outra vez. As vítimas do dia foram o ex-parceiro de Bruno, Alexander Peya, e a taiwanesa Su-Wei Hsieh: 6/2 e 6/3, sem drama. A curiosidade é que nas quartas de final brasileiro e russa vão enfrentar o atual parceiro de Bruno, Jamie Murray. O britânico joga a chave de duplas mistas ao lado da eslovena Katarina Srebotnik.

Os favoritos

Na chave feminina, duas favoritas confirmaram as expectativas e se enfrentarão nas quartas. Isso também significa que ambas finalmente terão desafios à altura. Sim, as duas. Antes desta segunda-feira, Angelique Kerber havia derrotado Doi, Dulgheru e Brengle. Victoria Azarenka, por sua vez, teve no caminho Van Uytvanck, Kovinic e Osaka.

Para Kerber, a vítimas de hoje foi Annika Beck (#55), que até fez um primeiro set equilibrado com a compatriota, mas não conseguiu acompanhar a consistência da adversária no segundo set. Kerber acabou triunfando por 6/4 e 6/0.

Azarenka também teve mais trabalho. Mais do que em toda a temporada, é bom dizer. Barbora Strycova (#48) fez uma partida inteligente, usando curtinhas, slices e todas variações à disposição, mas acabou sucumbindo diante de uma oponente mais regular e com golpes mais potentes: 6/2 e 6/4.

Vale lembrar que os seis games conquistados por Strycova foram o máximo que Azarenka cedeu nesta temporada. E mais: somando as primeiras três rodadas do Australian Open, a ex-número 1 havia perdido apenas cinco games. Ela e Kerber agora reeditarão a final de Brisbane, vencida por Vika por 6/3 e 6/1. A bielorrussa, recordemos, nunca perdeu para a alemã – e já foram seis confrontos.

Ao fim do duelo desta segunda, Azarenka, fã de futebol americano (ou hater de Tom Brady, não sei exatamente o nível de sua ligação com a NFL) ainda perguntou em público se o Denver Broncos havia vencido a final da AFC contra o New England Patriots. Quando soube que sim, deu um grito que deixou o público meio confuso na Rod Laver Arena.

O estranho é que quando Azarenka entrou em quadra, o jogo entre Broncos e Patriots já havia acabado há mais de duas horas. Logo, ou Vika ficou totalmente desligada dos acontecimentos ou quis só fazer uma graça, comemorando na quadra central do Australian Open.

Entre os homens, o grande favorito da noite era Andy Murray (#2), que fez o esperado e despachou Bernard Tomic (#17): 6/4, 6/4 e 7/6(4). Foi o quarto duelo entre eles, e o australiano ainda não venceu um set. Apesar de vir em um jogo um tanto inconstante, com muitas quebras, a vitória em sets diretos é uma notícia ótima para o favorito, que viveu dias complicados. No sábado, correu para o hospital para ver o estado de seu sogro, que desmaiou durante uma partida de Ana Ivanovic. No domingo, voltou ao hospital para uma visita.

Na coletiva, Murray adotou um discurso bem diferente do de Federer para falar sobre Tomic. O escocês disse que Tomic vem evoluindo, que lida bem com a pressão e que costuma jogar bem no Australian Open. Para Murray, falta consistência ao longo do ano, mas "é normal para jovens ter altos e baixos." O britânico terminou a "avaliação" cravando que Tomic será um top 10 "for sure".

O jogo mais esperado

Stan Wawrinka (#4) tem ótimo histórico em Melbourne e vinha de um título em Chennai. Milos Raonic (#14) chegou embalado pela conquista em Brisbane e jogou um tênis empolgante nas primeiras rodadas. Por isso tudo, o duelo entre eles começou cheio de expectativa e não decepcionou.

O suíço teve problemas para encontrar seu jogo. Com Raonic sacando bem e pressionando com ótimas subidas à rede – tanto na execução de voleios e smashes quanto na escolha do momento de avançar – Wawrinka demorou a ficar à vontade do fundo de quadra. Perdeu o primeiro set e até conseguiu uma quebra no início do segundo, mas também acabou superado.

A partida começou a virar na terceira parcial, com o suíço finalmente encaixando alguns de seus melhores golpes do fundo de quadra e, principalmente, voltando a usar toda potência de forehands e backhands. Venceu o terceiro, venceu o quarto e forçou o quinto set.

O problema é que a pressão de Raonic era sempre grande e quem saca a mais de 200 km/h com tanta frequência acaba tendo uma certa margem para agredir mais. Se não conseguiu converter nenhum dos quatro break points no fim do quarto set, o canadense chegou à quebra no sexto game da parcial decisiva. Depois disso, Wawrinka não ameaçou mais: 6/4, 6/3, 5/7, 4/6 e 6/3, em 3h47min.

O adversário do invicto Raonic nas quartas em Melbourne será Gael Monfils (#25), que faz sua melhor campanha no Slam australiano. Não que não seja esperado. O francês se beneficiou da chave esburacada sem a presença de Rafael Nadal e foi avançando, derrubando Yuichi Sugita (#124), Nicolas Mahut (#63), Stéphane Robert (#225) e, nesta segunda, Andrey Kuznetsov (#74). Muitos ATPs 250 não têm chave tão acessível quando a de Monfils em Melbourne.

E antes que o leitor afobado diga "nossa, o Cossenza quer tirar o mérito do Monfils", digo que não. São duas coisas diferentes. Uma: Monfils não tem culpa de pegar a chave que pegou. Entrou em quadra e fez o seu. A outra: não dá para dizer que foram atuações espetaculares ou que o francês chega às quartas jogando um tênis de altíssimo nível porque a verdade é que ele não foi testado. Sem drama.

Os aces que faltaram

John Isner (#11) chegou às oitavas de final em Melbourne como líder de aces do torneio e sem ceder um break point sequer. Nesta segunda, diante de David Ferrer (#8), foi quebrado três vezes e eliminado do torneio por 3 sets a 0: 6/4, 6/4 e 7/5, em 2h05min de jogo.

Vale lembrar que Isner pediu para jogar no fim do dia porque queria ver a final da NFC, com o "seu" Carolina Panthers enfrentando e atropelando o Arizona Cardinals. O jogo, inclusive, teve um daqueles raros momentos em que 40-15 não é um placar de tênis. Mas eu divago. O interessante é imaginar se jogar à noite, quando as condições são bem mais lentas do que de dia, atrapalhou o americano. É impossível dizer ao certo o quanto Ferrer se beneficiou com o horário, mas talvez Isner passe algum tempo pensando nisso.

Ferrer, por outro lado, chega às quartas sem perder um set (bateu Gojowczyk, Hewitt, Johnson e Isner) sequer. Logo ele que trocou de raquete no começo do ano e teve apenas um mês para se adaptar à nova "ferramenta".

A zebra

Não foi um dia de resultados espantosos, mas é preciso registrar a surpreendente vitória da britânica Johanna Konta (#47) sobre a russa Ekaterina Makarova (#24): 4/6, 6/4 e 8/6, em 3h04min.

Responsável pela eliminação de Venus Williams na primeira rodada, a britânica que nasceu em Sydney (mas adotou a Inglaterra como residência) se tornou a primeira britânica desde Jo Durie – em 1983 – a alcançar as quartas de final.

Enquanto britânicos e australianos brigam pela nacionalidade de Johanna Konta, a moça se prepara para enfrentar a qualifier chinesa Shuai Zhang (#133), que passou pela americana Madison Keys (#17) em um jogo dramático: 3/6, 6/3 e 6/3.

A tensão ficou por conta de Keys, que venceu a primeira parcial, mas começou a sentir fortes dores desde o início do segundo set. Sem conseguir se movimentar normalmente, a americana fez o possível para se manter com chances de avançar, mas não foi possível. Saiu de quadra às lágrimas, de cabeça baixa, enquanto Zhang festejava e mal encontrava palavras (em inglês) para dar sua entrevista.

As quartas de final definidas

Na chave masculina, as quartas de final ficaram assim:

[1] Novak Djokovic x Kei Nishikori [7]
[3] Roger Federer x Tomas Berdych [6]
Gael Monfils [23] x [13] Milos Raonic
[8] David Ferrer x Andy Murray [2]

Na chave feminina, este é o cenário:

[1] Serena Williams x Maria Sharapova [5]
[4] Agnieszka Radwanska x [10] Carla Suárez Navarro
[7] Angelique Kerber x [14] Victoria Azarenka
Johanna Konta x [15] Madison Keys / Shuai Zhang

Os melhores lances

Um rali de 32 golpes entre Andy Murray e Bernard Tomic terminou com um incrível ângulo encontrado pelo escocês.

O melhor do dia 9

A programação de terça-feira, em Melbourne, tem apenas quatro jogos de simples, mas são todos grandes duelos. A sessão diurna da Rod Laver Arena tem Radwanska x Suárez Navarro, Serena x Sharapova e Federer x Berdych. À noite, Djokovic enfrenta Nishikori.

Na chave de duplas masculinas, Bruno Soares e Jamie Murray voltam à quadra em busca de um lugar nas semifinais. Eles fazem o quarto jogo da Quadra 2 contra Raven Klaasen e Rajeev Ram. Veja aqui os horários e a programação completa.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.