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AO, dia 7: Djokovic dos 100 erros, "Acepova" e cãibras que custam caro

Alexandre Cossenza

24/01/2016 12h03

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"Não posso ser pior do que isso", sentenciou Novak Djokovic depois da vitória sobre Gilles Simon. Foram 4h32min de cinco sets e muitos erros. Muitos mesmo. Curtinhas mal escolhidas/executadas, forehands e backhands por toda a parte. Exigido pelo adversário, que topou entrar em longas trocas de bola, o número 1 do mundo cometeu 100 (!!!) erros não forçados. Djokovic, no entanto, continua Djokovic. Saiu vencedor em uma jornada bem abaixo da média e avançou às quartas de final do Australian Open por 6/3, 6/7(1), 6/4, 4/6 e 6/3.

Sem querer fazer o papel de advogado do sérvio, é preciso contextualizar esses cem erros. Simon tem muito do mérito. Em seus dias bons, o francês consegue exigir bastante dos adversários com sua consistência do fundo de quadra aliada a uma capacidade defensiva invejável. Falta a Simon um saque compatível com o resto de seu jogo, até porque seus golpes de fundo têm bastante potência – algo que a gente só vê nas raras ocasiões em que ele opta por ser mais agressivo.

Assim sendo, é normal que alguém cometa mais erros contra Simon do que contra, digamos, um Tomas Berdych ou um Marin Cilic, tenistas cujo plano de jogo é sempre atacar primeiro. Quer dizer que Djokovic errou pouco? Também não. Vinte erros não forçados por set é muita coisa para um tenista de seu calibre, mas, só para efeito de comparação, Sharapova cometeu 46 erros em dois sets contra Belinda Bencic e também venceu neste domingo.

A grande questão agora passa a ser: qual a chance de Djokovic jogar nesse mesmo nível contra Kei Nishikori? O japonês, que passou fácil por Jo-Wilfried Tsonga neste domingo, também é consistente do fundo de quadra, só que mais agressivo e com um saque melhor do que o de Simon. A margem para erro será bem menor para o número 1. Mas alguém acredita que Nole terá duas partidas assim em sequência?

Os drops shots

Ainda dentro de quadra, na entrevista com Jim Courier, Djokovic mostrou-se bastante consciente de seus erros não forçados. Falava, inclusive, sobre reduzi-los quando ouviu um "conselho" de alguém na arquibancada. Pediu para ouvir de novo e percebeu que o torcedor não queria mais curtinhas.

Nole entrou na brincadeira e respondeu "odeio dizer isso, mas você está absolutamente certo" para ganhar gargalhadas da plateia.

A polêmica e a piada

Lembram que Gilles Simon havia dito que o vestiário inteiro torceria pelo francês porque todos estavam cansados de serem humilhados por Djokovic? Ficou no ar uma certa dúvida pela reação do sérvio. Pois o número 1 do mundo, depois da vitória, respondeu com uma piada. "Não sei de que vestiário ele está falando. No vestiário feminino, eu sou muito popular, eu sei disso."

Acepova

O primeiro jogo do dia foi o aguardado Maria Sharapova (#5) x Belinda Bencic (#13), que decepcionou tecnicamente, mas compensou em emoção. A russa, favorita, esteve inconstante do fundo de quadra, mas manteve a postura agressiva até o fim, já que conseguia tirar vantagem do saque frágil de Bencic. A suíça, por sua vez, apostou em atacar pouco e esperar por falhas da rival – o que teve até relativo sucesso, considerando que Sharapova cometeu 46 erros não forçados.

O que Bencic (nem ninguém) não esperava era o fantástico desempenho de Sharapova no saque. A russa acertou apenas 47% dos primeiros serviços, mas encaixou 21 aces – alguns, inclusive, no segundo saque. O sucesso permitiu que a russa continuasse atacando – e errando – do fundo de quadra sem deixar que Bencic abrisse vantagem no placar. No fim, a suíça sucumbiu sempre nos momentos decisivos: 7/5 e 7/5, em 2h05min de jogo.

Vale prestar atenção na comemoração de Sharapova assim que o Hawk-Eye mostrou que sua última bola havia quicado na linha.

Os resultados do dia confirmaram mais um Serena x Sharapova, já que a número 1 do mundo entrou em quadra pouco depois da russa e derrotou a moscovita Margarita Gasparyan por 6/2 e 6/1 em 57 minutos. Será uma repetição da final do Australian Open do ano passado e mais uma chance para Sharapova encerrar a série de 17 derrotas para a americana.

O técnico de Serena, Patrick Mouratoglou, que adora dar pitacos sobre quem quer que seja, já disse duvidar que Sharapova consiga sacar como neste domingo.

O susto e o drama

Agnieszka Radwanska (#4) esteve a um game da eliminação, com a alemã Anna-Lena Friedsam (#82) abrindo 5/2 e sacando em 5/3 no terceiro set. O grande drama da partida ficou por conta da condição física da alemã, que sofreu com cãibras no momento mais importante. Com o placar em 5/5, Friedsam tentou até sacar "por baixo", mas recebeu duas violações por excesso de tempo e acabou perdendo o game porque o árbitro lhe tirou um ponto com o placar em 15/40. A cena da dor da alemã é desesperadora.

No fim, Radwanska triunfou por 6/7(6), 6/1 e 7/5 e vai encarar Carla Suárez Navarro (#11). A espanhola levou um pneu no primeiro set, mas se recuperou e fez 0/6, 6/3 e 6/2 em cima da australiana Daria Gavrilova (#39), que vinha de vitórias sobre Petra Kvitova e Kristina Mladenovic.

O último torneio

Com a eliminação de Lleyton Hewitt também nas duplas, o site do Australian Open publicou um vídeo que repassa o último torneio do ídolo australiano.

Os brasileiros

Marcelo Melo está fora do Australian Open. O número 1 do mundo e seu parceiro, Ivan Dodig, foram eliminados ainda nas oitavas de final por Pablo Cuevas e Marcel Granollers: 7/6(3), 2/6 e 6/3. Foi um jogo muito equilibrado e que teve momentos ruins de Melo e Dodig em momentos cruciais. Nada deu certo no tie-break do primeiro set e, quando tudo parecia ter voltado ao normal, com brasileiro e croata vencendo a segunda parcial, Marcelo errou dois voleios colado na rede para ceder a quebra no saque do parceiro no último set.

Cuevas e Granollers, que comemoraram com uma enorme festa na Hisense Arena, enfrentarão agora Jack Sock e Vasek Pospisil, que derrotaram Lleyton Hewitt e Sam Groth por 6/4 e 6/2.

Quanto a Marcelo, a notícia realmente ruim é que ele perderá pontos valiosos (fez semifinal no ano passado) e corre sério risco de perder também a liderança do ranking. O brasileiro será ultrapassado se os irmãos Bryan ou se Rojer e Tecau forem campeões do Australian Open.

O único brasileiro vivo no torneio agora é Bruno Soares, que continua nas duplas masculinas e mistas. Nas mistas, ele e a russa Elena Vesnina estrearam neste domingo e derrotaram a chinesa Saisai Zheng e o sul-coreano Hyeon Chung no match tie-break: 6/3, 6/7 e 10/4.

O tenista multifuncional

Tomas Berdych teve trabalho diante de Robert Bautista Agut e precisou de cinco sets para vencer (4/6, 6/4, 6/3, 1/6 e 6/3), mas saiu de quadra classificado para as quartas de final e, aparentemente, apressado. O tcheco decidiu jantar e fazer sua recuperação ao mesmo tempo.

Federer, aliás, derrotou David Goffin com a facilidade de sempre: 6/2, 6/1 e 6/4. Nada de novo. O suíço, que já encontrou muitos problemas diante de Berdych, vem em uma sequência de quatro vitórias sobre o tcheco. A última vitória de Berdych aconteceu nas semifinais de Dubai/2013.

O melhor do dia 8

A programação de segunda-feira, em Melbourne, termina de definir as quartas de final e tem dois jogos bastante esperados: Milos Raonic x Stan Wawrinka e Andy Murray x Bernard Tomic. Na chave feminina, fica a expectativa pela confirmação do duelo entre Angelique Kerber e Victoria Azarenka. A alemã enfrenta a compatriota Annika Beck na abertura do dia, na Rod Laver Arena, e a bielorrussa joga logo em seguida contra Barbora Strycova.

Bruno Soares, único sobrevivente brasileiro no torneio, joga duas vezes na Quadra 3. Primeiro, ele e Jamie Murray encaram Robert Lindstedt e Dominic Inglot na chave de duplas. O jogo vale vaga nas quartas de final, que pode ser um duelo com os irmãos Bryan. Mais tarde, pela chave de duplas mistas, Soares e a russa Elena Vesnina enfrentarão a taiwanesa Su-Wei Hsieh e o austríaco Alexander Peya – sim, o ex-parceiro do mineiro. Deve ser divertido. Veja aqui os horários e a programação completa.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.