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Saque e Voleio

AO, dia 5: a ansiedade de Federer, uma frase traiçoeira e o furacão Serena

Alexandre Cossenza

22/01/2016 11h01

A sexta-feira do Australian Open não trouxe nenhum resultado espetacularmente surpreendente, mas esteve recheada de cenas interessantes. Desde as imagens de Roger Federer impaciente com o fim do jogo de Maria Sharapova até uma frase mal elaborada que fez a australiana-nascida-em-Moscou Daria Gavrilova ficar sem graça diante de uma quadra lotada.

Houve também um lance espetacular e um gesto bacana na partida entre David Goffin e Dominic Thiem, além de mais diálogos curiosos e nem sempre educados em uma partida de Nick Kyrgios. Este resumaço tem um pouco de tudo, então role a página e fique por dentro do que rolou.

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Os favoritos

Djokovic venceu em sets diretos. Serena Williams venceu em sets diretos. Até aí, nenhuma novidade. A parte interessante da sexta-feira é que o #1 teve, de fato, mais trabalho que o habitual, embora isso não signifique que sua vitória tenha estado ameaçada em algum momento.

Andreas Seppi conseguiu equilibrar dois sets inteiros, mas não quebrou o saque do sérvio. Foram três break points (em dois games) e dois set points (no tie-break do terceiro set) não convertidos. E Djokovic, que somou 34 winners e 37 erros não forçados, venceu por 6/1, 7/5 e 7/6(6), em 2h24min.

Quanto a Serena, aí é outra história. A americana ficou apenas 47 minutos em quadra. O suficiente para atropelar a russa Daria Kasatkina por 6/1 e 6/1 com seis aces, 27 winners e só oito erros não forçados. Kasatkina, #69 do mundo, não teve lá muitas chances. Contra o saque de Serena, fez apenas dois pontos (2/30) em toda a partida. Após o jogo, a russa disse saber que Serena é mesmo a melhor do mundo, mas que passou como um furacão hoje.

Serena agora acumula apenas 14 games perdidos nas três partidas que disputou no Australian Open (e nove deles contra Camila Giorgi, na estreia) e enfrentará a também russa Margarita Gasparyan nas oitavas de final. Em outras palavras, a #1 pode (e, provavelmente, vai) chegar às quartas sem derrubar cabeças de chave.

O cenário não é muito diferente para Agnieszka Radwanska, que começou o dia vindo de nove vitórias seguidas. Com a chave aberta, a polonesa #4 do mundo vem aproveitando e, nesta sexta-feira, derrotou a porto-riquenha Monica Puig (#52) por 6/4 e 6/0 para garantir um lugar nas oitavas.

O décimo triunfo consecutivo de Radwanska não veio tão fácil assim. O primeiro set foi bastante parelho, e Puig chegou a ter uma quebra de vantagem. A porto-riquenha teve até break point para fazer 5/4 e sacar para o set, mas não conseguiu converter e pagou o preço na sequência, perdendo o serviço e a parcial.

E se o quadrante de Aga já estava debilitado após as eliminações de Petra Kvitova, Sloane Stephens e Sam Stosur, ficou ainda mais acessível nesta sexta. A italiana Roberta Vinci (#15), vice-campeã do US Open, caiu diante da alemã Anna-Lena Friedsam (#82) por 0/6, 6/4 e 6/4. Assim, Radwanska também pode alcançar as quartas em Melbourne sem precisar derrotar uma cabeça de chave sequer.

Cabeças que rolaram / Lost in translation

Além da já mencionada derrota de Roberta Vinci, dois cabeças de chave favoritos deram adeus nesta sexta. Entre os homens, Marin Cilic (cabeça 12) foi eliminado por Roberto Bautista Agut em três sets: 6/4, 7/6(5) e 7/5. Na chave feminina, Kristina Mladenovic (cabeça 29) ficou em quadra por 2h53min e acabou derrotada pela australiana Daria Gavrilova (#39): 6/4, 4/6 e 11/9.

A vitória e a entrevista pós-jogo levaram o público da Hisense Arena ao delírio. Quando o jogo chegou a 6/6 no terceiro set (e não há tie-break no terceiro set do torneio feminino em Melbourne), Gavrilova passou a sacar com pressão extra, sabendo que um vacilo lhe custaria a partida.

A australiana lidou bem com a pressão e, para explicar sua capacidade de jogar bem enquanto atrás no placar, disse que era "good from behind". A moça, nascida em Moscou, logo percebeu que a frase em inglês não dizia exatamente o que ela queria dizer (a tradução para o que ela disse seria algo como "sou boa por trás") e tapou a boca. A galera se divertiu.

O jogo "boyhoodiano"

Tudo bem, não foi o mais demorado dos duelos da rodada, mas certamente as 2h16min foram mais do que todos imaginavam, principalmente depois do 6/1 que Maria Sharapova (#5) aplicou em cima da americana Lauren Davis (#103). Só que a russa desandou a errar no segundo set, acabou perdendo a parcial e precisou recalibrar seus golpes para chegar à vitória.

Dois momentos curiosos marcaram a partida. Primeiro, Lauren Davis comendo manteiga de amendoim em uma virada de lado. É um hábito "bastante americano", como diz a comentarista no vídeo abaixo.

Depois, enquanto esperavam para entrar em quadra, Federer e Dimitrov assistiam ao jogo das meninas no vestiário. O canal ao vivo do Australian Open mostrou tudo. Primeiro, o suíço comemora intensamente um voleio errado de Lauren Davis no tie-break. Pouco depois, mais para o fim do vídeo abaixo, fica decepcionado com o tempo a mais que precisaria esperar.

No fim das contas, Federer e Dimitrov nem precisaram esperar tanto assim. Depois dos 33 erros não forçados que cometeu no segundo set, Sharapova errou apenas cinco bolas na parcial decisiva e aplicou um pneu em 31 minutos (contando o intervalo e a ida da russa ao banheiro).

O placar final mostrou 6/1, 6/7(5) e 6/0. De favorável, os 16 aces de Sharapova. Por outro lado, preocupam os 42 erros não forçados contra uma adversária que não tinha nenhum golpe lhe incomodando consistentemente. É de se imaginar que a próxima adversária, a suíça Belinda Bencic (#13), não dará tanta margem para um trecho tão ruim de Sharapova. Promete ser um duelo bem interessante.

O jogo mais esperado

Diante do freguês Grigor Dimitrov (#28), o suíço até que encontrou mais problemas do que o esperado. O búlgaro fez um excelente segundo set, jogando de forma agressiva e pressionando Federer, e chegou a empatar a partida em 1 set a 1.

O esboço de reação de Dimitrov acabou se mostrando muito pouco. O favorito começou o terceiro set com uma quebra de serviço e manteve a vantagem. Para facilitar sua vida, o azarão começou a sentir dores no braço direito e não conseguiu mais sacar como antes. Com o primeiro serviço abaixo dos 180 km/h (alguns andaram na casa dos 150 km/h!), o búlgaro não conseguiu ameaçar mais. Federer fechou em 6/4, 3/6, 6/1 e 6/4, avançando para as oitavas de final.

O duelo desta sexta marcou a 300º vitória de Federer em torneios do Grand Slam e o colocou nas oitavas de final. Como esperado após o sorteio da chave, o suíço enfrentará outro freguês (e fã): David Goffin (#16), que avançou ao superar o austríaco Dominic Thiem (#20) por 6/1, 3/6, 7/6(2) e 7/5.

Entre a loucura e a genialidade

Nick Kyrgios é um excelente tenista, ainda que arrogante e mal educado em alguns momentos. A grande questão é que a combinação faz os jogos do australiano extremamente atrativos. O duelo com Tomas Berdych, por exemplo, foi o mais divertido desta sexta-feira. Não só pelo alto nível técnico dos dois atletas, mas porque todos querem ver as consequências do uso indevido da língua afiada/exagerada de Nick Kyrgios.

Ao mesmo tempo em que o garotão (Kyrgios tem 20 anos e é o #30 do ranking) consegue brincar com a spider cam e disparar uma direita a 170 km/h…

…ele consegue encher o saco do árbitro de cadeira por causa de uma música (que Berdych não ouvia) em algum lugar da arena e, no fim da partida, depois de errar um saque no match point, dizer que ele é um péssimo árbitro.

No fim, apesar de uma boa reação de Kyrgios no terceiro set, Berdych avançou às oitavas de final por 6/3, 6/4, 1/6 e 6/4. Foi o primeiro desafio real do tcheco, que ainda escapou de enfrentar Marin Cilic (vide seção abaixo) e é favorito para encontrar Roger Federer nas quartas.

As oitavas definidas

Na chave masculina, os jogos já confirmados para as oitavas de final são:

[1] Novak Djokovic x Gilles Simon [14]
[9] Jo-Wilfried Tsonga x Kei Nishikori [7]
[3] Roger Federer x David Goffin [15]
[24] Robert Bautista Agut x Tomas Berdych [6]

Na chave feminina, as oitavas estão assim por enquanto:

[1] Serena Williams x Margarita Gasparyan
[12] Belinda Bencic x Maria Sharapova [5]
[4] Agnieszka Radwanska x Anna-Lena Friedsam
[10] Carla Suárez Navarro x Daria Gavrilova

Os brasileiros

Por causa da chuva, Marcelo Melo e Ivan Dodig tiveram de esperar sete horas (!) até o início de sua partida, que abria a programação da Quadra 3. Quando o jogo finalmente começou, brasileiro e croata dominaram: 6/2 e 6/3 sobre os americanos Austin Krajicek e Donald Young. A vitória valeu vaga nas oitavas de final para a dupla cabeça de chave número 2.

Thomaz Bellucci e Marcelo Demoliner, por sua vez, até estiveram perto da vitória, mas acabaram derrotados de virada por Treat Huey e Max Mirnyi: 5/7, 7/6(2) e 6/4.

Nas duplas mistas, Bruno Soares foi vítima da chuva. Por causa do enorme atraso na programação, sua estreia ao lado da russa Elena Vesnina foi adiada. Eles enfrentariam a chinesa Saisai Zheng e o sul-coreano Hyeon Chung.

Os melhores lances

Reflexos na rede e um pouco mais, via David Goffin.

O bom samaritano

O gesto bonito do dia é de Dominic Thiem. Após ter uma bola marcada erradamente a seu favor, o austríaco vê o replay comprovar a falha do juiz de linha. O árbitro, então, manda que o ponto seja disputado novamente, mas Thiem concede o ponto a Goffin. O austríaco afirma que quando o juiz de linha chama a bola fora, ele já havia rebatido. Ganhou aplausos do estádio inteiro.

O melhor do dia 6

A programação de sábado, em Melbourne, definirá o resto das oitavas de final de simples e encaixará os mais de dez jogos que acabaram adiados por causa da chuva de sexta-feira. Entre os destaques está o jogo de Andy Murray contra João Sousa, marcado para abrir a sessão noturna da Margaret Court Arena.

Na Rod Laver, Muguruza, Azarenka e Wawrinka serão favoritíssimos durante o dia, enquanto a sessão da noite começa com Madison Keys x Ana Ivanovic e termina com o duelo australiano entre Bernard Tomic x John Millman, que, sinceramente, não parece ser muito atrativo para quem não é local.

O único brasileiro em quadra será Bruno Soares, que disputará uma vaga nas oitavas de final da chave de duplas. Ele e Jamie Murray fazem o segundo jogo da Quadra 6 contra Mariusz Fyrsteberg e Jerzy Janowicz. Veja aqui os horários e a programação completa.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.