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AO, dia 4: show de Vika, massacre de Murray e adeus de Hewitt

Alexandre Cossenza

21/01/2016 10h23

Victoria Azarenka e Andy Murray deram mais uma prova de que são fortes candidatos ao título do Australian Open. Nesta quinta-feira, ainda na segunda rodada do torneio, bielorrussa e escocês bateram seus adversários de forma contundente, deixado claro que estão em grande forma.

O momento mais marcante do dia, contudo, foi a despedida de Lleyton Hewitt, que encerra a carreira (embora ainda esteja vivo na chave de duplas) após 20 participações no Australian Open. Este resumaço do quarto dia de torneio relata a cerimônia de despedida do australiano, juntamente com outros destaques do dia: a partida "boyhoodiana" entre Feliciano e Guido Pella, um lance espetacular de Vika, a decepção com Bellucci e a lembrança de uma "maldição".

Os favoritos

A primeira favorita a entrar em quadra nesta quinta-feira foi Victoria Azarenka, que finalmente perdeu games no torneio. Só que não foram tantos assim. Depois da bicicleta na estreia, contra Alison Van Uytvanck, a bielorrussa fez 6/1 e 6/2 sobre a montenegrina Danka Kovinic (#54).

Não posso falar muito sobre o jogo – fiquei vendo as duplas de Soares e Sá, que foram jogadas no mesmo horário – mas os números de Vika continuam animadores. Ótima porcentagem de primeiro serviço (69%), excelente índice com o fundamento (92% de pontos vencidos) e nenhum break point cedido. Azarenka também somou 19 winners e só nove erros não forçados.

Talvez não tão animador para os fãs da bielorrussa seja a notícia de que Vika continua em rota de colisão com a espanhola Garbiñe Muguruza, que voltou a vencer com folga. A espanhola, número 3 do mundo, aplicou 6/4 e 6/2 sobre a belga Kirsten Flipkens (#80).

Agora basta mais uma vitória de cada para que Azarenka e Muguruza se encontrem nas oitavas de final. As duas nunca se enfrentaram, e esse primeiro duelo teria muito em jogo. Ambas estão na metade mais fraca da chave (longe de Serena, Radwanska e Sharapova), e a vencedora enfrentaria possivelmente Angelique Kerber (#6) nas quartas.

Entre os homens, o destaque do dia foi para Andy Murray, que deu mais uma demonstração de força ao domar os potentes saques de Sam Groth. Quando o australiano saiu do zero no placar, o britânico já liderava por 6/0 e 3/0. Groth ainda fez um segundo set razoável, mas a precisão de Murray impressionava. O #2 do mundo acabou vencendo por 6/0, 6/4 e 6/1.

O jogo mais esperado

Lleyton Hewitt e David Ferrer abriram a programação noturna na Rod Laver Arena com a carreira do australiano por um fio. A derrota significaria sua última partida oficial de simples (Rusty ainda está nas duplas ao lado de Sam Groth), e Ferrer acabou se mostrando consistente demais para o veterano de 34 anos.

O jogo cumpriu perfeitamente as expectativas, com um Ferrer mais sólido e um Hewitt brigando por todos os pontos e correndo atrás de todas as bolas, esbravejando a cada chance de quebra não convertida. O encontro incluiu até um bate-boca com o árbitro de cadeira, Pascal Maria. Típico Lleyton Hewitt.

O pós-jogo foi emocionante. Primeiro, David Ferrer deu uma longa (para seus padrões) entrevista, afirmando sua admiração por Hewitt e revelando que só tinha, em casa, uma camisa autografada: justamente a do australiano.

Em seguida, Hewitt foi entrevistado e viu mensagens exibidas no telão. Roger Federer agradeceu pela rivalidade, Rafa Nadal falou sobre o quando Rusty era uma inspiração e um exemplo, e Andy Murray disse que Hewitt sempre o respeito e ajudou desde os primeiros anos de carreira.

Foi uma cerimônia emocionante, com o público de pé a a família inteira de Hewitt na Rod Laver Arena. Seus três filhos entraram na quadra para receber os últimos aplausos ao lado do pai. Uma cena memorável, com direito a um pôster com os dizeres "Thanks, mate" no caminho para o vestiário.

Há muito a dizer sobre Hewitt, um adolescente prodígio que entrou no circuito na época de Sampras e Agassi, tirou o número 1 de Gustavo Kuerten e se tornou o líder do ranking mais jovem da história. Guardo a maioria para outro texto, a ser publicado ainda hoje aqui no blog.

O jogo "boyhoodiano"

Foram 4h36min, quatro tie-breaks e drama de sobra. Guido Pella (#75) ainda salvou dois match points e conseguiu levar a partida para o quinto set, mas Feliciano López (#19) acabou levando a melhor. O espanhol disparou 42 (!) aces e somou 97 (!!!) winners em toda partida. Pella, que fez "só" 13 aces, perdeu o saque no oitavo game do quinto set, mas devolveu a quebra logo na sequência, com Feliciano sacando para vencer. Pella, então, teve 4/5 para empatar o jogo, mas não resistiu. Ainda salvou outros dois match points, mas acabou derrotado com parciais de 7/6(2), 6/7(4), 7/6(3), 6/7(8) e 6/4.

Feliciano López, é bom dizer, ainda voltou para jogar duplas nesta quinta ao lado do compatriota Marc López. Eles enfrentaram e derrotaram os também espanhóis Daniel Muñoz de la Nava e Albert Ramos Viñolas por 6/4 e 6/3.

Cabeças que rolaram

Nenhum top 10 deu adeus nesta quinta, mas a chave feminina viu, logo no começo da tarde, Elina Svitolina (cabeça 18) tombar diante da qualifier Naomi Osaka, #127. A japonesa, que havia eliminado Donna Vekic na estreia, terá pela frente um obstáculo mais duro na sequência: Victoria Azarenka.

Outra seed a dar adeus foi Sabine Lisicki, cabeça 30. Um dia depois de perder seu recorde de aces para Kristyna Pliskova, a alemã foi derrotada em três sets pela tcheca Denisa Allertova: 6/3, 2/6 e 6/4. Allertova, #66, vai encarar Johanna Konta, #47, que superou Venus Williams na primeira rodada.

Jelena Jankovic (cabeça 19), ex-número 1 do mundo, foi outra pré-classificada a se despedir de Melbourne. A sérvia saiu na frente, mas cedeu a virada à alemã Laura Siegemund (#97) por 3/7, 7/6(5) e 6/4.

Na chave masculina, foram poucas as surpresas relevantes. A derrota de Jeremy Chardy, cabeça 30, nas mãos de Andrey Kuznetsov quase passa fora do radar, já que não se esperava muito do francês. Merece mais destaque a eliminação de Jack Sock (cabeça 25), de quem se esperava uma partida emocionante com Wawrinka na terceira rodada. O americano, entretanto, não passou por Lukas Rosol, que fez 7/66), 7/6(5) e 6/3. É dele a "recompensa" de encarar Stan the Man.

Os brasileiros

Duas duplas entraram em quadra quase ao mesmo tempo. A boa notícia é que, na Quadra 15, Bruno Soares e Jamie Murray deram sequência ao bom momento – os dois foram campeões em Sydney – e derrotaram Jonathan Marray e Aisam-ul-Haq Qureshi por 6/3 e 6/4.

A notícia ruim é que André Sá e Chris Guccione foram derrotados pelos favoritos Bob e Mike Bryan, que fizeram 7/5 e 7/6(4). A parte duplamente ruim da coisa é que os gêmeos americanos são os prováveis adversários de Soares e Murray nas quartas de final em Melbourne.

Nas duplas femininas, Teliana Pereira e Mariana Duque Mariño foram eliminadas pelas favoritíssimas Martina Hingis e Sania Mirza, líderes do ranking mundial. O jogo, que terminou em 6/2 e 6/3, significou a 31ª vitória seguida da parceria.

Por fim, Thomaz Bellucci decepcionou. Com uma rara chance de chegar à terceira rodada do Australian Open, o número 1 do Brasil ficou aquém do esperado. Não tanto pela derrota em si, mas pela maneira, sem sequer ameaçar o americano Steve Johnson, que avançou com parciais confortáveis: 6/3, 6/2 e 6/2, em menos de 1h30min. Nos três sets, Bellucci perdeu sempre seu primeiro game de serviço, só conseguiu break points em um game (não aproveitou) e cometeu 28 erros não forçados – o dobro do oponente.

Com a derrota em Melbourne, Bellucci, atual #37, termina uma campanha nada animadora pela Austrália. Fez quatro jogos e venceu apenas um – sobre um adversário que nem está entre os 100 melhores do mundo. Nas derrotas, não venceu nenhum set. Que a volta ao saibro lhe seja mais favorável.

A "maldição"

Ninguém disse que é fácil eliminar Rafael Nadal de um Slam, mas uma tendência curiosa se desenvolveu nas últimas oito vezes que um tenista considerado azarão eliminou o espanhol. Todos perderam nas rodadas imediatamente seguintes. A vítima da vez foi Fernando Verdasco. O homem que disparou 90 winners acabou tombando diante do israelense Dudi Sela (#87): 4/6, 6/3, 6/3 e 7/6(4).

É bom lembrar que a sequência não incluiu Novak Djokovic, responsável pela derrota de Nadal em Roland Garros/2015. É que o sérvio estava longe de ser azarão naquela partida. Logo, vem sendo excluído da "maldição".

Os melhores lances

Victoria Azarenka aproveitou o ângulo cedido pela direita de Danka Kovinic e soltou o braço, mandando a bolinha por fora da rede.

E que tal Nick Kyrgios soltando o braço nas duplas?

Isso, sim, é entrega

Grandes nomes do tênis australiano foram homenageados com selos. Eles se juntam a Rod Laver e Margaret Court, eternizados anteriormente.

O melhor texto

Eric Butorac, ex-parceiro de Bruno Soares, conta a viagem (e "viagem", aqui, tem duplo e até triplo sentido) de torcedor-com-ingresso-comprado a finalista do Australian Open em 12 anos. Texto em inglês. Dica da Aliny Calejon.

Mão mole

Vale o registro, ainda que só pela curiosidade. Stan Wawrinka, vestido como uma espécie de garoto-propaganda do McDonald's, deixou a raquete escapar da mão logo depois de um ponto. Ele ainda tentou rebater a bola seguinte meio sem jeito, mas não deu muito certo.

O melhor do dia 5

Na programação de sexta-feira, em Melbourne, os jogos mais esperados são Roger Federer x Grigor Dimitrov, programado para fechar a sessão diurna da Rod Laver Arena, e Nick Kyrgios x Tomas Berdych, que encerrarão a sessão noturna, também na quadra principal do complexo.

O dia, no entanto, está recheado de estrelas. Serena Williams, Maria Sharapova, Novak Djokovic, Agnieszka Radwanska, Kei Nishikori, Belinda Bencic… Não deve ter sido montar a programação desta sexta-feira.

Há também três jogos com brasileiros em quadra. Logo no comecinho do dia, Marcelo Melo e Ivan Dodig fazem o primeiro jogo da Quadra 3 contra Austin Krajicek e Donald Young. Um pouco mais tarde, abrindo a programação da Quadra 19, Bruno Soares estreia nas duplas mistas ao lado de Elena Vesnina. Mineiro e russa vão enfrentar a chinesa Saisai Zheng e o sul-coreano Hyeon Chung.

Em seguida, na mesma quadra, Thomaz Bellucci e Marcelo Demoliner voltam à quadra para a segunda rodada da chave de duplas. Eles enfrentam o filipino Treat Huey e o bielorrusso Max Mirnyi. Veja os horários e a programação completa.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.