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AO, dia 2: Sete anos depois, o "mesmo" Verdasco e outro Nadal

Alexandre Cossenza

19/01/2016 10h18

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A semifinal de 2009 foi dos jogos mais memoráveis do Australian Open. Foram 5h14min de lances espetaculares e um equilíbrio de tirar o fôlego. Rafael Nadal, vencedor naquele dia, era o número 1 do mundo. Fernando Verdasco, o 15º. Seria injusto esperar o mesmo nível de tênis sete anos depois, com um Nadal longe daquele nível e seu compatriota em 45º lugar no ranking.

Verdasco, imagino, discorda da afirmação acima. O veterano de 32 anos disparou 90 winners (!!!) em 4h41min, destruindo Nadal e vencendo seis games seguidos no quinto set para fechar o jogo em 7/6(6), 4/6, 3/6, 7/6(4) e 6/2. Uma atuação irregular, bem ao estilo Verdasco (com 91 erros não forçados), mas espetacular no momento crucial – algo que vai de encontro à sua fama de vacilar em pontos "grandes".

A vitória de Verdasco parecia improvável desde o fim do terceiro set. Na quarta parcial, o azarão foi quebrado quando sacou para fechar e ainda precisou sair de um 5/6 e 0/30para forçar o tie-break e, em seguida, o quinto set. Na parcial decisiva, Nadal novamente teve vantagem. Abriu 2/0 e teve um break point para fazer 3/0. Errou a devolução de saque e viu Verdasco renascer.

Arriscando – e acertando – nas devoluções, Verdasco demoliu o saque de Nadal, que já não conseguia mandar em ponto algum. Ao fim do confronto, enquanto o ex-número 1 rumava para perder seis games em sequência, o duelo parecia uma versão bizarra de Verdasco/2009 contra Nadal/2016. Um em grande momento; o outro, vacilante e não mais indestrutível.

Sim, Nadal executou golpes espetaculares em diversos momentos do jogo. Fez 37 winners, o que nem é tão pouco considerando o nível de risco que seu adversário aceitou assumir a partida inteira. Só que não foi uma atuação espetacular. Longe disso. Se não foi inconsistente, faltaram saque e a velha capacidade de fechar as portas para reações dos seus adversários. O Nadal de hoje, que se diz bem melhor do que no ano passado, ainda se parece mais com Nadal/2015 do que com Nadal/2009, e o circuito inteiro sabe disso. Esse "retorno" fica mais difícil a cada dia.

A última vitória

O segundo dia do Australian Open, porém, não foi só de Verdasco. Favoritos venceram, cabeças rolaram, muitos aces foram disparados e Bellucci venceu. Também houve desistências, inclusive com um tenista sendo retirado da quadra em uma maca. Mas comecemos por um dos momentos mais emocionantes do dia…

Lleyton Hewitt, fazendo o último torneio da carreira, entrou na sessão noturna da Rod Laver Arena com o país quase inteiro em reverência, apesar de o rival da estreia ser o compatriota James Duckworth. Pois Rusty foi lá e venceu em três sets, com parciais de 7/6(5), 6/2 e 6/4. Sua comemoração foi possivelmente o momento mais emocionante da terça-feira.

É bem provável que tenha sido a última vitória da carreira de Hewitt. O ex-número 1 do mundo, hoje com 34 anos, enfrentará David Ferrer na sequência. É grande a chance de que a última partida de Hewitt aconteça na quinta-feira.

Os favoritos

Atual vice-campeão do torneio, Andy Murray entrou em quadra para uma estreia perigosa contra Alexander Zverev, mas logo cedo ficou claro que a maré não estava a favor do jovem alemão de 18 anos, #83. Já no segundo game, o adolescente teve um sangramento no nariz e recebeu atendimento médico, o que atrasou o jogo por quase uns dez minutos.

Quando o jogo recomeçou, Murray ditou o jogo, fez belíssimas jogadas e não deu muitas chances a Zverev. Ao todo, foi uma ótima atuação do número 2 do mundo, deixando poucas dúvidas de que o escocês chegou em forma a Melbourne.

Outros nomes de peso que venceram neste segundo dia de evento na chave masculina foram Stan Wawrinka (seu adversário, Dmitry Tursunov, abandonou após dois sets) e Milos Raonic (atropelou Lucas Pouille), David Ferrer e John Isner.

Entre as mulheres, Victoria Azarenka foi quem mais impressionou. Escalada para o último jogo da Rod Laver Arena, entrou afiadíssima e não vacilou nem por um momento. Aplicou uma bicicleta (6/0 e 6/0) na belga Alison Van Uytvanck e deu uma primeira amostra em Melbourne de que é mesmo uma séria candidata.

O mesmo vale para a espanhola Garbiñe Muguruza, que fez o dever de cassa e passou fácil por Anna Kontaveit (6/0 e 6/4). Enquanto isso – acreditem – Ana Ivanovic voltou a vencer. A sérvia, beneficiada com um sorteio que lhe colocou diante de Tammi Paterson, convidada da organização e #459 do mundo, triunfou por 6/2 e 6/3. E antes que você pergunte "mas hoje não jogavam Halep, Kerber e Venus?", já sugiro que o leitor role a página porque elas se encaixam em outros tópicos deste resumaço.

Cabeças que rolaram

Das dez primeiras tenistas do ranking, apenas duas não sofreram com problemas físicos antes do Australian Open. Venus Williams foi uma delas. Talvez não sirva de consolo, já que a americana, atual #10, foi eliminada logo na primeira rodada em Melbourne. Sua algoz foi a britânica Johanna Konta (#47), que fez 6/4 e 6/2. Andy Murray aplaudiu virtualmente.

Após terminar o ano no top 10 – como bem lembrou o Mário Sérgio Cruz – Venus ainda não venceu em 2016. Em Auckland, seu primeiro torneio, foi derrotada pela russa Daria Kasatkina.

O "buraco" deixado por Venus na chave deixa a vida mais fácil no quadrante que era de Simona Halep. "Era" de Halep porque a número 2 do mundo também tombou no fim do dia. Carregando uma lesão no tendão de aquiles e vindo de uma semi em Sydney, a romena foi praticamente dominada pela qualifier chinesa Shuai Zhang, atual #133 do mundo, logo no início.

Halep até começou melhor a segunda parcial, com uma quebra de vantagem, mas perdeu os últimos cinco games e deu adeus ao torneio: 6/4 e 6/3. Enquanto isso, Zhang, 26 anos, revelou que por pouco não se aposentou e que viajou para a Austrália pensando que seria sua última vez no torneio.

Sem Venus e Halep no quadrante, as cabeças de chave restante nesse quadrante são Karolina Pliskova, Makarova, Ivanovic e Lisicki. É bem possível que uma delas alcance a semifinal em Melbourne. Ah, sim: vale registrar que a lista de cabeças eliminadas neste segundo dia de torneio também inclui Irina Camelia Begu (cabeça 29), Caroline Garcia (32) e Lesia Tsurenko (31).

Na chave masculina, a derrota mais significativa – depois de Nadal, claro – foi a do sul-africano Kevin Anderson, #12. Com problemas no joelho, o sul-africano perdia para o americano Rajeev Ram por 7/6(4), 6/7(4), 6/3 e 3/0 quando desistiu da partida. O resultado beneficia diretamente Gael Monfils, que enfrentaria Anderson na terceira rodada. Aliás, se o favoritismo prevalecesse, o vencedor de Anderson/Monfils enfrentaria Nadal nas quartas.

Outra cabeça que rolou foi a de Fabio Fognini, em uma partida tensa de quatro tie-breaks que testou os nervos do italiano. O luxemburguês Gilles Muller, dono de um saque invejável e de 34 aces no duelo, fez 7/6(6), 7/6(7), 6/7(5) e 7/6(1). Fognini fez um pouco de tudo: perdeu set points nas duas primeiras parciais, atirou raquetes, foi punido e esbravejou com árbitros.

O (outro) jogo boyhoodiano

Foram cinco sets, sete match points e 4h43min, até que Jeremy Chardy eliminou Ernests Gulbis por 7/5, 2/6, 6/7(5), 6/3 e 13/11. O resultado é especialmente amargo para o letão, não só pela derrota mas pela repetição do cenário. Ano passado, também na primeira rodada, Gulbis foi eliminado pelo australiano Thanasi Kokkinakis, que fechou em 8/6 no quinto set. Na ocasião, o letão teve quatro match points e não conseguiu converter.

O canhão

Atenção para os números da estreia de John Isner, que despachou o polonês Jerzy Janowicz em três sets: 37 aces, 78% de aproveitamento de primeiro serviço, 91% dos pontos vencidos com o primeiro saque e 72% com o segundo.

O brasileiro

Thomaz Bellucci fez o que se esperava – e fez bem feito. Diante do desconhecido convidado Jordan Thompson (#143), o brasileiro foi consistente e esteve sempre à frente no placar. No fim, fechou por 6/2, 6/3 e 6/2 e avançou à segunda rodada.

Caso volte a vencer, Bellucci alcançará o melhor resultado de sua carreira no Australian Open. Seu próximo oponente será o americano Steve Johnson, #32 e cabeça de chave 31 do torneio. Na estreia, Johnson derrotou o britânico Aljaz Bedene por 6/3, 6/4 e 7/6(3).

Os melhores lances

Foi o momento que selou o segundo set e, no fim das contas, acabou não sendo tão decisivo quanto pareceu na hora. Mesmo assim, este ponto vencido por Rafael Nadal merece ser visto e revisto.

A desistência

O abandono doído – literalmente – deste segundo dia do torneio ficou por conta de Diego Schwartzman, que chegou a ter dois sets de frente sobre o australiano John Millman. O argentino teve cãibras no calor e precisou ser retirado da quadra de maca. Millman herdou a vitória quando o placar mostrava 3/6, 5/7, 7/6(2) e 5/0.

O melhor do dia 3

Dois jogos se destacam na programação de quarta-feira em Melbourne. Primeiro, fechando a sessão diurna da Rod Laver Arena, Roger Federer encara Alexandr Dolgpolov. Em seguida, na abertura da sessão noturna, Agnieszka Radwanska enfrenta Eugenie Bouchard. A rodada ainda tem jogos de Maria Sharapova, Serena Williams, Novak Djokovic, Kei Nishikori e Petra Kvitova, entre outros.

Nas duplas, Marcelo Melo e Ivan Dodig fazem sua estreia. Eles jogam contra Aljaz Bedene e Dustin Brown na Quadra 5. Na Quadra 10, Bellucci e Demoliner enfrentam Santiago González e Julian Knowle. Veja a programação completa aqui.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.