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Saque e Voleio

Novas velhas suspeitas de manipulação de resultados

Alexandre Cossenza

18/01/2016 00h18

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Pouco antes do início do Australian Open, a BBC e o BuzzFeed publicaram textos simultâneos revelando terem obtido acesso a documentos que revelam o resultado de investigações iniciadas em 2007 pela ATP em casos suspeitos de manipulação de partidas. A notícia, no entanto, não passou disso. Nem a BBC nem o BuzzFeed revelaram o conteúdo do resultado dessas investigações.

Os veículos tampouco revelam os nomes dos tenistas envolvidos, o que é muito justo. Já pensou divulgar uma lista de nomes contra quem não foram encontradas provas? Dá para imaginar a quantidade de processos contra a BBC e o BuzzFeed. Os textos, no entanto, afirmam que a lista inclui 16 tenistas que estiveram no top 50 na última década (muita gente, não?), incluindo campeões de Grand Slam.

Acusações e suspeitas de manipulação de resultados não são novidades no tênis, mas tudo ganhou uma atenção maior depois da polêmica partida entre Davydenko e Vassallo Arguello. A ATP publicamente anunciou que investigaria a partida, mas nunca chegou a provar nada. Em seguida, a entidade continuou indo atrás de casos semelhantes, mas quase nada foi comprovado.

Não é difícil encontrar na internet relatos jogos que levantaram suspeitas (como nesta lista aqui). Até a vitória de Gustavo Kuerten sobre Filippo Volandri no Brasil Open de 2007 foi questionada por "entendidos" (este texto da Revista Tênis dá detalhes da situação). De comprovado, porém, muito pouco.

Pouco depois que as partidas começaram, o CEO da ATP, Chris Kermode, e Nigel Willerton, da Unidade de Integridade do Tênis, deram entrevista coletiva em Melbourne a asseguraram que nenhuma informação sobre investigações vem sendo omitida. Indagado se algum dos tenistas jogando o Australian Open seria alvo de monitoramento ou investigação, Willerton disse que não seria profissional de sua parte dar uma resposta para a pergunta.

Faz sentido. Que profissional revelaria o nome de alguém que está sendo investigado em uma questão assim (que envolve conduta ética e, consequentemente, a reputação da pessoa) sem que haja provas irrefutáveis?

Coisas que eu acho que acho:

– É inquestionavelmente difícil comprovar, sem sombra de dúvida, que alguém manipulou o resultado de um jogo de tênis. Fulano vencia com folga e de repente começou a errar? Como provar que ele não descalibrou de uma hora para a outra?Quem segue o circuito vê bastante isso acontecer. Outro cenário comum é do atleta que lidera fácil e começa a se queixar de dores. Quem vai provar que ele não está sentindo nada? É fácil levantar dúvidas a observar tendências estranhas de casas de apostas, mas daí a comprovar o envolvimento (repito: sem sombra de dúvida) do atleta com alguém que o subornou ou algo parecido é muito, muito difícil.

– Até as tendências estranhas das casas de apostas, que são quase sempre o melhor indício de que há algo suspeito em uma determinada partida, raramente são suficientes para condenar um tenista (de novo: para condenar, não pode haver dúvida). Afinal, suponhamos que uma casa de apostas aponte que durante a partida a maioria dos apostadores continue colocando dinheiro no tenista que está perdendo. Se esse tenista virar e vencer o jogo, essa tendência seria motivo suficiente para cravar algo? Aparentemente, não.

– Na coletiva, Kermode foi indagado sobre o envolvimento da ATP com casas de apostas (algumas patrocinam torneios de grande porte) e respondeu que não vê conflito de interesse. Pelo contrário. Kermode aponta que a ATP e a Unidade de Integridade do Tênis trabalham em conjunto com as casas de apostas. Além disso, o CEO da ATP lembra que apostar é uma atividade legal.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.