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Australian Open 2016: o guia feminino

Alexandre Cossenza

16/01/2016 23h21

Antes de mais nada, atenção para o que aconteceu com o top 5 nas últimas duas semanas: Serena Williams (#1 do mundo) desistiu da Copa Hopman por causa de dores no joelho; Simona Halep (#2) abandonou o WTA de Brisbane e jogou em Sydney com uma inflamação no tendão de aquiles; Garbiñe Muguruza (#3) saiu de Brisbane por causa de dores no pé esquerdo; e Maria Sharapova (#5) abandonou também em Brisbane por causa de uma lesão no antebraço esquerdo.

E o resto do top 10? Petra Kvitova (#6) sofreu um mal-estar em Shenzhen e deixou a China. Poucos dias depois, também anunciou que não jogaria em Sydney. Angelique Kerber (#7) deixou Sydney pelo mesmo motivo. Flavia Pennetta (#8) se aposentou no fim do ano passado. Lucie Safarova (#9) está fora do Australian Open devido a uma infecção pulmonar.

Sobram Agnieszka Radwanska (#4), campeã do modesto WTA de Shenzhen, e Venus Williams (#10), que só jogou uma partida no ano e perdeu (em Auckland para a russa Daria Kasatkina). São muitos problemas físicos e de saúde e, às vésperas de um Slam, é difícil saber quem está sendo cauteloso e quem realmente vem sentindo dores fortes.

A questão toda é que ficou duríssimo estabelecer um cenário de favoritismo para o Australian Open, que começa nesta segunda-feira (noite de domingo no Brasil). A única certeza por enquanto é que Victoria Azarenka, bicampeã do torneio, surge como nome forte após o título em Brisbane. Mas será que é justo alçar Vika à condição de principal favorita? Este guiazão da chave feminina tenta encontrar resposta para essa e outras perguntas.

As favoritas / Quem se deu bem

Ao mesmo tempo em que pode soar arriscado cravar Serena Williams como favorita mesmo com uma lesão no joelho, é igualmente ousado colocar a americana em qualquer lugar que não seja o topo da lista de mais cotadas. Até prova incontestável do contrário, Serena ainda é Serena, a número 1 do mundo que venceu três Slams e ficou a duas vitórias do Grand Slam (de fato) em 2015.

Em público, Serena afirma que a lesão não é séria e que ela não tem nada a perder. Bobagem. Era o mesmo discurso do US Open do ano passado, e o mundo inteiro viu seu estado de nervos naquela semifinal contra Roberta Vinci. A pressão, desta vez, não é tão grande, mas Camila Giorgi, sua oponente na primeira rodada, pode lhe dar algum trabalho. De qualquer modo, o mais provável é que Serena tenha uma semana para calibrar seus golpes até encarar Caroline Wozniacki nas oitavas. Aí será preciso estar realmente em forma.

Esse quadrante ainda tem Belinda Bencic e Maria Sharapova, que chega sem ritmo de jogo. A suíça, por sua vez, tem um caminho nada tranquilo, com Alison Riske na estreia, possivelmente Heather Watson na segunda rodada e, quem sabe, Svetlana Kuznetsova (campeã em Sydney) na terceira. Quem avançar dessa turma pode encontrar Sharapova nas oitavas. Difícil prever alguma coisa, não?

O quadrante logo abaixo é encabeçado por Agnieszka Radwanska e Petra Kvitova. Única em forma no top 10, a polonesa estaria mais cotada ao título não fosse por uma chave ingratíssima, que tem Christina McHale na estreia, Eugenie Bouchard na segunda rodada, e Stosur/Puig na terceira. Sloane Stephens ainda pode ser sua oponente nas oitavas.

Enquanto isso, Kvitova é a incógnita de sempre. Mesmo que tenha superado o problema de saúde de Shenzhen, a tcheca precisará lidar com o calor (a previsão para este ano é de um Australian Open quentíssimo), o que deve preocupar uma tenista que joga três sets com uma frequência nada agradável. Em compensação, sua chave não é das piores. Petra tem Kumkhum na estreia, Hradecka ou Gavrilova na segunda rodada e Mladenovic ou Cibulkova em seguida. As oitavas seria contra Suárez Navarro ou Petkovic. Só nas quartas é que enfrentaria quem avançar na forte seção de Radwanska.

Angelique Kerber, vice-campeã em Brisbane, talvez tenha o caminho menos duro até as quartas. É aí que entra a vencedora da seção que tem Garbiñe Muguruza e Victoria Azarenka. E o que pensar de Vika? A bielorrussa está bem fisicamente, como demonstrou em Brisbane, onde foi campeã. O porém é que muito de seu favoritismo está baseado no currículo (bicampeã em Melbourne) e não necesariamente na campanha de Brisbane, onde encontrou uma chave nada complicada: bateu Vesnina, Bonaventure, Vinci, Crawford e Kerber.

Sim, foi uma grande atuação de Azarenka na decisão contra Kerber, mas será que um grande jogo é o suficiente para dar esse status todo à bielorrussa? Talvez esse esperado jogo de oitavas contra Muguruza nos dê a resposta definitiva. Uma vitória assim colocará Vika cheia de confiança na segunda semana do Australian Open.

Finalmente, o último quadrante é liderado por Simona Halep e tem Venus Williams na outra ponta. Se a romena conseguir atuar em bom nível mesmo com o incômodo no tendão de aquiles, pode ir longe, mas há algumas "cascas de banana" pelo caminho. Uma delas é Alizé Cornet, campeã em Hobart, que é sua provável oponente na segunda rodada. E não convém descartar quem passar do possível encontro entre a americana Madison Keys e a sérvia Ana Ivanovic na terceira rodada. Ainda assim, Halep seria, em condições normais, a favorita para ir pelo menos até a semifinal. Mas será?

A brasileira

Teliana Pereira não terá vida fácil. Depois de derrotas em Brisbane e Hobart diante de Andrea Petkovic e Heather Watson, a brasileira, atual #46 do mundo, estreará contra Monica Niculescu (#38) em Melbourne. Não foi o pior dos sorteios para Teliana, mas a romena tem um jogo cheio de variações que não dá ritmo e tira a brasileira da sua zona de conforto.

Foi exatamente o que aconteceu quando as duas se enfrentaram em Bucareste no ano passado. A dúvida sobre que estratégia adotar provocou cenas curiosas entre Teliana a seu técnico/irmão, Renato Pereira. Vejam no vídeo abaixo.

Talvez a partida em Bucareste tenha apontado uma direção a seguir desde o início para Teliana, o que pode facilitar as coisas, Por outro lado, a combinação dos slices de Niculescu com a quadra dura de Melbourne pode exigir ainda mais da brasileira. O fato é que, pelo menos no papel, a romena entra como favorita.

A ausência

Francesca Schiavone, depois de jogar 61 Slams de forma consecutiva, está fora do Australian Open. A italiana de 35 anos, campeã de Roland Garros em 2010, mas atual número 115 do mundo, foi derrotada no qualifying pela francesa Virginie Razzano. Como bem lembrou o jornalista americano Ben Rothenberg, Razzano também encerrou uma série espetacular de Serena Williams quatro anos atrás. A americana levava consigo uma série de 46 vitórias em estreias nos Slams.

Os melhores jogos nos primeiros dias

O sorteio da chave já formou um trio de partidas interessantes para a rodada inicial. A começar por Serena Williams x Camila Giorgi, com a número 1 do mundo sem ritmo e se recuperando de um problema no joelho. Ainda que a americana seja uma tenista muito superior, não custa lembrar que a italiana tem no currículo um punhado de vitórias relevantes sobre top 10 (Wozniacki no US Open, Sharapova em Indian Wells, Cibulkova em Roma e Azarenka em Eastbourne, por exemplo).

Outro jogo interessante, mas que deve ficar fora do radar (foi escalado para a Quadra 7 nesta segunda-feira) é Belinda Bencic x Alison Riske. A suíça é a número 14 do mundo e favorita, mas vem de um abandono em Sydney. Riske, por sua vez, fez semifinal em Shenzhen e parece ter deixado para trás o momento ruim do segundo semestre do ano passado (sofreu oito derrotas seguidas).

O melhor de todos pode muito bem ser Dominika Cibulkova x Kristina Mladenovic, que estarão escondidas na Quadra 19, apesar de a eslovaca ter sido vice-campeã do torneio em 2014 e a francesa ser cabeça de chave. Mladenovic é mais agressiva, enquanto Cibulkova gosta de contra-atacar. Parece uma combinação interessante entre duas tenistas talentosos.

Há também um clássico com sensação retrô, já que ambas parecem estar na parte final de suas carreiras: Svetlana Kuznetsova (#25) x Daniela Hantuchova (#88). As duas já se enfrentaram 14 vezes, com a russa levando a melhor em dez. Sveta, aliás, é a favorita aqui, já que vem de uma importante conquista em Sydney.

O que pode acontecer de mais legal

As possibilidades de confrontos de segunda rodada são empolgantes. Muito mais do que na chave masculina, aliás. De cima para baixo, a primeira metade da chave pode ter Bencic x Watson, Aga Radwanska x Bouchard e Stosur x Puig (as duas se enfrentaram em Sydney). Na outra metade, lá embaixo, um Halep x Cornet se desenha. Isso, é claro, se nenhuma zebra ocorrer na primeira fase.

O intangível

O grande fator que precisa ser levado em conta neste Australian Open é o calor. A previsão indica um torneio bem mais quente que os anteriores. Também entra na conta o fator sorte (quem vai estar jogando nas quadras cobertas nos dias mais quentes?), mas o preparo físico será essencial.

É difícil imagina, por exemplo, Petra Kvitova indo longe no torneio se encarar uma sequência de dias quentes. A tcheca tem saúde mais frágil que a maioria e pode muito bem ficar pelo caminho se a coisa literalmente esquentar. Resta saber quando isso vai acontecer e quem vai estar em quadra nesses momentos.

A tenista mais perigosa que ninguém está olhando

Com tanto equilíbrio e tantos jogos bons nas primeiras rodadas, é difícil não prestar atenção em alguém. Talvez Andrea Petkovic seja a pessoa mais indicada para esta seção. Embora não tenha obtido um resultado expressivo em seu único torneio até agora (perdeu para Samantha Crawford por 6/3 e 6/0 nas quartas), a alemã derrotou Ekaterina Makarova em Brisbane e, em Melbourne, tem uma chave interessante. Estreia contra Kulichkova, pega Teliana/Niculescu em seguida e, se passar por Suárez Navarro (ou alguma zebra) na terceira rodada, estará nas oitavas contra Kvitova ou Mladenovic.

Levando em conta a inconstância de tcheca e francesa (sem esquecer a irregularidade da própria Petkovic), não é tão difícil assim imaginar a alemã igualando seu melhor resultado no Australian Open e alcançando as quartas – como fez em 2011, quando eliminou Sharapova nas oitavas.

Quem pode (ou não) surpreender

A partir dos resultados de Auckland e Sydney – duas derrotas e nenhum set vencido -, já será uma surpresa se Ana Ivanovic fizer alguma coisa no torneio. Brincadeira à parte, a sérvia inicia este Australian Open sem expectativa alguma e se deu bem no sorteio, que lhe colocou diante de Tammi Patterson, #462 e convidada da organização. Talvez seja o jogo que Ivanovic precisa para ganhar um pouco de confiança e arrancar.

Vale prestar atenção também em Madison Keys. Em dias quentes, com a bola "voando", a americana (#17) é perigosíssima. Se o favoritismo se confirmar, ela e Ivanovic duelarão nas oitavas, com a vencedora avançando para encarar a baleada Halep. Será que… Fiquemos de olho.

Onde ver

Os canais ESPN mostram o torneio com o auxílio do recurso online do WatchESPN. "Serão mais de 1.400 horas de tênis na Internet e cerca de 130 horas de cobertura ao vivo na ESPN e na ESPN+!"

A ESPN, inclusive, anunciou recentemente a renovação dos direitos de transmissão do Australian Open até 2021. A partir de 2017, o canal terá também os direitos da Copa Hopman do ATP de Brisbane e do ATP de Sydney.

Nas casas de apostas

Na casa virtual Bet365, Serena não é tão favorita quanto já foi, e Victoria Azarenka passa a ser cotadíssima depois do título em Brisbane. A americana, contudo, ainda lidera a lista de favoritas, e um título seu paga 3/1, ou seja, três dólares para cada um apostado em seu triunfo. Vika vem logo atrás, cotada em 4/1.

As outras candidatas estão bem para trás. O top 10 ainda inclui Simona Halep (9/1), Maria Sharapova (10/1), Garbiñe Muguruza (12/1), Petra Kvitova (14/1), belinda Bencic (18/1), Agnieszka Radwanska (18/1), Angelique Kerber (28/1) e, sim, acreditem, Eugenie Bouchard (33/1), empatada com Sloane Stephens.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

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