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Um Brasil Open menor e mais fraco, mas sem drama

Alexandre Cossenza

13/01/2016 20h34

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A organização do Brasil Open, torneio nível ATP 250 disputado em São Paulo, anunciou nos últimos dias algumas informações sobre o evento. Na terça-feira, houve o aviso oficial de que o torneio deixará de ser disputado no Ginásio do Ibirapuera. Dizendo tratar-se de "boas notícias para o tênis brasileiro", o texto oficial confirmou que o Esporte Clube Pinheiros será a nova sede da competição.

Na quarta-feira, foi divulgada a lista de tenistas participantes. Os oito atletas de maior ranking são Fabio Fognini (atual #21 do mundo), Thomaz Bellucci (37), Pablo Cuevas (41), Federico Delbonis (52), Albert Ramos-Viñolas (55), Pablo Andújar (59), Pablo Carreño Busta (67) e Paolo Lorenzi (69).

As duas novidades mostram que o torneio diminui de tamanho. Primeiro porque deixa um estádio coberto com capacidade para quase 10 mil pessoas. Depois porque a chave será consideravelmente mais fraca do que a de 2015. Ano passado, os oito cabeças de chave estavam no top 40. Em 2016, pelo ranking de hoje, há apenas três atletas no top 50.

Tentei conversar com o diretor do Brasil Open, Roberto Marcher, mas ele não estava disponível para uma entrevista. Ainda assim, mesmo sem uma palavra do evento, é possível enumerar alguns dos motivos para o, digamos, "encolhimento" do Brasil Open, que será jogado de 22 a 29 de fevereiro.

O principal deles talvez seja a mudança de data. Em 2015, o Brasil Open era jogado na semana de 9 de fevereiro, antes do Rio Open, que é o principal evento da série sul-americana de saibro. Na mesma data, havia o ATP 500 de Roterdã e o ATP 250 de Memphis, só que o torneio paulista (ATP 250) servia como uma espécie de aquecimento para o Rio Open (ATP 500).

Este ano, São Paulo trocou de data com o ATP 250 de Buenos Aires e será jogado na semana de 22 de fevereiro, junto com os ATPs 500 de Acapulco e Dubai. O grande problema é Acapulco, jogado na quadra dura. Muitos dos bons nomes que estarão no Rio de Janeiro, na semana de 15 de fevereiro, deixam o saibro e mudam para a quadra dura, já pensando nos Masters de Indian Wells em Miami, em março. Acapulco, além de ser um 500, leva também a vantagem geográfica. Fica "no caminho" para os Estados Unidos.

Como referência da importância da é a própria chave de Buenos Aires este ano. Ano passado, o torneio teve um top 10 (Nadal) e o oitavo cabeça de chave era o #55 do mundo (Carreño Busta). Agora, em 2016, os organizadores portenhos conseguiram dois top 10 (Ferrer e Tsonga), além de Isner (11), Thiem (20), Sock (26) e Mayer (35). O cabeça 8 é Cuevas, #40. É um torneio fortíssimo, que soube aproveitar seu lugar no calendário para crescer.

Outra questão óbvia que pesou contra o Brasil Open foi a alta do dólar, na casa dos R$ 4. Ano passado, com a moeda americana cotada por volta de R$ 3, o Brasil Open só conseguiu anunciar Feliciano López como atração. Este ano não houve nenhum anúncio do tipo, mesmo com tantos nomes de peso (Nadal, Ferrer, Tsonga e Isner) jogando no continente na mesma época. Talvez, inclusive, a mudança para o Pinheiros tenha sido forçada pela falta de nomes de peso. Caso tivessem conseguido atrair um tenista que "vendesse" ingressos, seria viável manter o torneio no Ibirapuera.

Do jeito que ficou, calendário e dólar jogando contra, o Brasil Open passa a ter um papel menos relevante no circuito. Em vez de Nadal, Almagro e Nalbandian, como em 2013, o torneio conta com especialistas de saibro como Fognini e Bellucci para atrair público (Almagro, ainda se recuperando, também estará na chave). Não é o fim do mundo, não é uma chave ruim, não é o início do fim do evento (que eu saiba). É, contudo, uma queda de patamar em relação a anos anteriores.

Coisas que eu acho que acho:

– De certo modo, pensando no público e na exposição de mídia, a chave mais fraca pode até jogar a favor, como aconteceu no WTA de Floripa. Com menos nomes de peso brigando pelo título, aumentam as chances de Bellucci, Feijão e quem mais receber wild card fazer uma campanha empolgante. E, proporcionalmente, a chave paulista não está nem perto de ser tão fraca quanto a de Santa Catarina.

– O torneio será realizado em três quadras do Esporte Clube Pinheiros. O fato de ser saibro outdoor conta a favor da qualidade técnica do evento. Quadras de terra batida provisórias nem sempre agradam aos tenistas. A problemática edição 2013 do Brasil Open, no Ibirapuera, é uma prova enorme disso.

– Por outro lado, é perigoso usar apenas três quadras em um evento outdoor, especialmente em São Paulo no mês de fevereiro. É um risco que a promotora aceitou correr quando fez a mudança para o Pinheiros. Como não consegui falar com o diretor, não sei dizer se há um plano B ou se haverá quadras cobertas prontas para jogo em caso de necessidade/emergência.

– Não sei dizer a capacidade das quadras do Pinheiros. Na terça-feira, quando fiz essa pergunta à assessoria da Koch Tavares, essa informação ainda não havia sido recebida para repasse à imprensa. Também é fato que, a 40 dias do torneio, a organização não revelou detalhe algum sobre a venda de ingressos.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.