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Saque e Voleio

O que testa um evento-teste?

Alexandre Cossenza

12/12/2015 08h00

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Uma arena bonita para as câmeras, mas inacabada nos bastidores; um mini-torneio para cerca de dois mil convidados, sem assentos marcados; nenhum check de segurança nos pontos de acesso; placas de sinalização precárias e riscadas a mão; e uma sala de imprensa modesta e mal preparada para receber uma coletiva. Foi o que eu vi no segundo dia do evento-teste de tênis para os Jogos Olímpicos Rio 2016 – o primeiro dia aberto à imprensa.

Se faltava tanta coisa, que diabos testa um evento-teste, afinal de contas? Foi essa a intenção da minha ida ao Centro Olímpico de Tênis na sexta-feira. Quem me ofereceu uma resposta foi Gustavo Nascimento, gerente de arquitetura de instalações esportivas do comitê organizador. A explicação foi a seguinte:

"A gente não quer fazer dois Jogos Olímpicos. Toda instalação é focada no sistema de resultados e na área de competição. O voluntário que vai pegar a bola, a arbitragem, o calendário de competição, o look que vai na quadra no painel ali atrás do fundo de quadra, o equipamento esportivo, a rotina de chegada do atleta, check de vestiário, salas de chamada, pessoal de apresentação do esporte, DJ, locutor, músicas que vêm no intervalo dos jogos… Tudo isso. A gente não faz marketing nenhum. Isso aqui tem um objetivo principal, que é um teste operacional focado no esporte, na gestão da área de competição, no sistema de resultado. Temos o nosso parceiro de resultado do COI aqui, fazendo todo o ensaio de tecnologia com o mesmo aparato dos Jogos. E os testes que são um pouco mais subjetivos: engajamento da equipe, todo mundo que vai estar trabalhando nos jogos. Muitos serão contratados, mas os que já estão contratados dedicados a essa instalação estão aqui dando suporte… O que você chama de improviso (eu afirmei que a sala de imprensa era improvisada e pequena, longe de nível olímpico), na verdade, a gente chama de 'ajustar à necessidade do evento' porque não temos pretensão nenhuma de fazer nada dimensionado no tamanho do evento porque não é 'o' evento. A gente entende que um teste não necessariamente precisa ser idêntico àquilo que a gente vai realizar nos jogos."

Fiz uma segunda pergunta, relativa à segurança, que é uma preocupação mundial em qualquer evento esportivo – ainda mais nessa escala olímpica -, e Nascimento explicou que a segurança dos Jogos é da Secretaria Especial de Grandes Eventos Esportivos (e não do Comitê Rio 2016), dentro do Ministério da Justiça. "Eles são os donos do planejamento de segurança", disse o arquiteto. O Comitê fará três eventos-teste maiores em 2016 (um de ginástica, um de saltos ornamentais e outro de atletismo paralímpico), mas ficará a cargo a Sege a dimensão desse teste no quesito de segurança. Fica registrada, então, a explicação do Comitê Rio 2016.

Quem ganha?

O Comitê pode dizer que não faz marketing, mas o prefeito do Rio, Eduardo Paes, faz. Foi à arena na noite de quinta-feira, tirou fotos e mostrou o espaço "inaugurado", ainda que haja um bom trabalho a ser feito internamente, como as imagens abaixo mostram, e que a entrega já esteja atrasada. Apesar disso, o prefeitão apareceu, bateu uma bolinha e fez as fotos para divulgação da imprensa.

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Ganha também a CBT, a "dona" dos atletas. O evento-teste só existiu, afinal, porque a Confederação topou levar para o Rio de Janeiro seu evento de fim de ano, com os melhores tenistas do país jogando para convidados que, em sua maioria, estão ali bancados pela CBT e seu patrocinador.

Mas não foi só isso. Além de levar seus convidados ilustres para a estreia da arena olímpica, a CBT viu seus atletas – todos apoiados pelos Correios (vide foto abaixo com o presidente da entidade, Jorge Lacerda, na cabeceira) – discursarem incessantemente sobre a necessidade de o tênis brasileiro ter uma "casa". Vale lembrar que até agora não há definição sobre o destino do Centro Olímpico de Tênis após os Jogos do Rio. Não se sabe quem administrará o espaço. A CBT, que faz lobby para isso há alguns anos, certamente ganhou exposição nessa causa durante o evento-teste.

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Ainda sobre o tema, vale ler a reportagem que a Sheila Vieira fez para o Tenisbrasil, com as frases mais relevantes dos tenistas.

A primeira queixa

Entrando no aspecto esportivo da coisa, uma das primeiras curiosidades de todo mundo era saber como ficou o piso. Segundo a maioria dos profissionais que jogaram na sexta-feira, a quadra dura está mais para lenta (bem áspera), com a bola quicando bem alto.

A queixa ficou por conta do painel verde-limão colocado no fundo de quadra. Ele faz parte de uma decoração que usa tons diferentes de verde, mas enxergar a bolinha com aquele painel no fundo não é tão fácil assim. Com o devido cuidado para não criticar o evento, quase todos tenistas falaram sobre isso. Feijão foi quem melhor resumiu: "Já que é evento de teste, por que não falar?"

A cor do painel não deve ser mantida para os Jogos, já que não há torneios com o fundo de quadra em cor clara – justamente para que haja contraste com a cor da bola. E se a cor do fundo de quadra foi um problema, a cor do piso foi outro. O verde claro também dificultou a vida de quem estava vendo pela TV. Os tweets da Aliny Calejon mostram.

Depois de ler alguns comentários sobre isso no Twitter, vi a reprise de um jogo no SporTV3 e tive a mesma impressão. Enxergar a bolinha não é tão fácil em alguns momentos. Resta saber o que o Comitê vai fazer a respeito.

Duas dúvidas

Na coletiva de pouco mais de 40 minutos organizada (inteligentemente, como já citei acima) pela CBT, pouco deu para aproveitar de conteúdo. No entanto, como Bruno Soares afirmou na entrevista ao blog, não há um critério para definir quem formará a dupla mista ao lado de Teliana Pereira. Com dois duplistas na mesa, João Zwetsch, capitão brasileiro na Copa Davis, ficou meio sem jeito com a pergunta e respondeu que por enquanto a questão vai ficar "de banho-maria" e que tudo vai ser resolvido "mais para a frente".

E qual seria o critério mais justo, hein? Ranking de duplas (Melo)? Ranking de simples (Bellucci)? Ou histórico em duplas mistas (Soares)?

A outra dúvida diz respeito ao futuro do WTA de Florianópolis. Após boatos de que o evento estaria prestes a ser comprado pela Federação Suíça, a Sheila conversou com Jorge Lacerda, que disse que o negócio ainda não foi fechado. Pelo texto, a impressão que tive é que o dirigente não foi tão enfático assim no que diz respeito a manter o evento após 2016. Leiam aqui e digam se tiveram a mesma impressão.

Coisa que eu acho que acho:

Nada a ver com o fato de ser evento-teste, mas sempre me incomodou a CBT realizar seu "Masters" longe do público, em evento para presidentes de federação, acompanhantes e convidados. Ainda que amistoso, um torneio com Marcelo Melo, Thomaz Bellucci, Bruno Soares, Feijão, Teliana Pereira e Bia Haddad seria uma chance enorme de aproximar do público os melhores tenistas do Brasil, que passam a maior parte do ano viajando e jogando torneio pelo mundo.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.