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Thomaz Bellucci: "Não posso perder 17 jogos seguidos de top 10"

Alexandre Cossenza

09/12/2015 08h00

Muito antes do evento que lançou o Rio Open 2016, Thomaz Bellucci e eu nos sentamos em uma das mesas do Jockey Club Brasileiro para bater um papo sobre 2015, o que esperar de 2016 e um pouco mais. O número 1 do Brasil fez uma avaliação positiva de sua última temporada, mas reconheceu que lhe faltam vitórias "grandes" recentemente. Disse, inclusive, que é impossível entrar no top 20 sem quebrar a sequência de derrotas para top 10. Afirmou também que precisa melhorar muito seu jogo defensivo.

De modo geral, foi um papo bem leve. Bellucci, que está em pré-temporada há mais de 15 dias, riu ao lembrar da derrota para Paolo Lorenzi em 2011, fez força para escolher uma vitória mais importante em 2015 e lembrou rápido da derrota mais doída: diante de Djokovic, no Masters de Roma. O paulista de 27 anos também admitiu que já jogou "de salto alto". Leia a íntegra da conversa abaixo.

Você começou 2015 como #64 do mundo e terminou como #37. Nem sempre dá para fazer essa avaliação pelo ranking, mas neste caso, em 2015, dá para usar o número como um parâmetro de que foi um bom ano?

Foi, foi uma temporada positiva. Eu acho que poderia ter terminado até um pouco mais baixo (Bellucci usa o termo "mais baixo" para se referir a um ranking melhor – de numeração mais baixa), mas dentro das possibilidades… Comecei o ano 64 e passei de 100, se não e engano, mas enfim… Comecei o ano ruim e talvez se eu começasse o ano melhor, poderia ter chegado a um ranking mais baixo no fim do ano. Mas, de uma certa maneira, foi um ano muito positivo. Eu consegui jogar muito melhor do que no ano passado. No ano passado, eu também tive dois ou três momentos ruins, mas este ano, a partir de meio, eu consegui manter uma regularidade muito grande de resultados e acredito que foi um ano positivo, sim.

A impressão que eu tive é que este ano você foi mais consistente até do que no ano que você chegou a #21. Você acha isso ou não?

Não (risos). Eu acho quando cheguei a #21, eu tive um ano melhor. Porque comecei melhor e mantive isso o ano inteiro. Cheguei a #21, mas talvez eu tenha mantido como top 30 o ano inteiro. neste ano, eu entrei no top 40 em Genebra e me mantive até o fim do ano. Hoje, eu sou um jogador melhor do que eu era quando cheguei a #21, mas não consegui ter os resultados daquela época, de oitavas em Grand Slam, de fazer quartas e semis em torneios grandes, então. Em 2015 talvez eu tenha jogado melhor do que em 2010, mas tive resultados mais expressivos naquele ano. Peguei umas chaves um pouco melhores do que neste ano. No final do ano, tive uma sequência de quatro, cinco torneios que, mesmo eu jogando bem, não consegui avançar porque peguei jogadores muito bons. Então tenho que contar um pouquinho com a sorte em certos momentos. Lógico que sorte é um pouco relativo, mas no fim do ano, mesmo jogando bem, eu não consegui avançar porque tive uns jogos difíceis.

Uma coisa que se comenta é que tem faltado para você nos últimos anos uma vitória grande. Ganhar de um top 10, um top 5… Inclusive no último jogo contra o Djokovic, o comentarista do TennisTV lembrou que eram 17 derrotas seguidas suas contra top 10. É uma coisa que te incomoda? E o que você acha que falta para isso começar a acontecer com frequência?

Eu cheguei a ganhar de top 10, mas nos últimos anos eu não consegui… Os últimos anos não foram meus melhores anos, né? Mesmo com o Dani (Daniel Orsanic), com o Pato… Não foram anos que eu joguei tão bem, né? Mas ainda falta um pouco. Este ano, joguei com Ferrer, com Raonic e não fiz jogos extraordinários. Falta um pouco mais de tranquilidade, de não entrar tão nervoso, de não entrar tão ansioso contra esses jogadores. Queira ou não, você entra mais ansioso de saber que essa vitória pode ser importante. Talvez falte um pouco mais de tranquilidade. Acredito que jogo eu tenho para ganhar desses caras, como já ganhei algumas vezes. Então falta mais a parte de manter uma cabeça tranquila, de entrar solto na quadra e tranquilo, acreditando que eu possa entrar na quadra e ganhar de qualquer um. Eu tenho até chegado perto, mas, às vezes, nos momentos importantes, eu acabo não jogando tão bem, o que faz muita diferença.

Você vê isso como condição para entrar no top 20, no top 10, talvez?

Com certeza. Se eu quiser entrar entre os 20, é impossível. Não dá para perder 17 jogos seguidos de top 10, senão nunca vou entrar entre os 20. Tenho que estar preparado para jogar contra esses caras e de cinco, pelo menos ganhar umas duas, por exemplo. Matematicamente, acho que é impossível. Daqui para a frente, se eu não estiver preparado, se eu não conseguir ganhar desses caras, eu não vou conseguir entrar. Então tenho que estar… Meu foco é totalmente para esses jogos, para eu conseguir ter um rendimento melhor nesses jogos importantes.

(O revés diante de Djokovic em Paris aumentou para 18 a sequência negativa contra tenistas do top 10)

Olhando para trás, você mudaria algo de 2015 em termos de preparação, calendário, não sei…

Foi um ano que eu não consegui fazer uma pré-temporada tão boa quanto eu queria. Então este ano acredito que eu já comece 201 com uma vantagem em relação a 2015. Em 2015, eu comecei meio sem técnico, não sabia com quem eu ia ficar. Acabou a temporada e não tive tanto tempo de fazer um planejamento, de conseguir fazer uma pré-temporada completa. Comecei a pré-temporada um pouco machucado, estava me poupando e só no final consegui fazer uns treinos legais, mas este ano acho que vou começar melhor, mais preparado do que comecei 2015. Talvez mesmo se os resultados não vierem, pode ser um ano de mais produtividade e com mais planejamento. Vai ser meu segundo ano com o João (Zwetsch, técnico). Em 2015 eu voltei a trabalhar com ele e, por mais que eu conhecesse o João muito bem, sempre tem coisas novas que ele me passa e, queira ou não, de 2010 a 2015 eu também mudei como pessoa e como jogador. Ele também mudou como técnico. Teve um momento de transição. Nos dois, três primeiros meses, é normal que os resultados piorem um pouco porque a gente estava mudando algumas coisas no meu jogo. Eu estava incrementando certas coisas, então o começo do ano foi um pouco difícil para nós dois. A gente não conseguiu encaixar bem os jogos. Acredito que ano que vem seja um pouco melhor.

O Sylvio Bastos (comentarista do Fox Sports) costuma dizer que alguns técnicos não tiveram tanto sucesso com você porque quiseram mudar seu jogo. O João, por outro lado, faz você jogar bem o jogo que você gosta de jogar. Você concorda? 

Concordo, concordo. O João… Ele mesmo, quando a gente começou a trabalhar, falou "não quero mudar nada no seu jogo, só quero aperfeiçoar a sua maneira de jogar." Talvez com os outros técnicos… Eles me traziam um pouco mais de… Com o Pato (o espanhol Francisco Clavet), por exemplo, e com o Larri (Passos), eles queriam que eu adaptasse um pouco mais o meu jogo. Jogar um pouco mais atrás, jogar com mais bolas, ser um pouco mais regular e diminuir um pouco a velocidade… E o João tem um estilo diferente. Ele acha que é complicado mudar o estilo de um jogador porque eu aprendi a jogar assim e é a maneira que eu jogo bem. E é assim que a gente tem que aperfeiçoar meu jogo. Não mudar de uma hora para a outra. "Ah, vamos dar dois passos para trás e começar a dar bola alta." Não é meu estilo de jogo. Por mais que eu possa fazer isso…

(interrompendo) Mas até deu resultado com o Larri em alguns torneios…

(também interrompendo) Eu tive resultados esporádicos com o Larri, né? Eu tive dois, três torneios bons, mas não tive um ano consistente. Não foi um ano bom. Mas com o João acredito que ele me entenda mais tanto dentro da quadra quanto fora. Mesmo nos momentos difíceis, é um cara que me dá muito apoio. Ele consegue ver quando eu estou mal, quando estou bem. Isso também me ajuda muito.

Qual foi a vitória mais legal desta temporada?

A melhor vitória… (pensativo) É… Pô, é difícil.

Tem a final de Genebra…

É, então, essa que eu estava pensando.

Foi essa?

Não sei, talvez no (pensa um pouco mais)… A mais legal? Ah, acho que deve ter sido essa mesma, o jogo contra o João Sousa. Deve ter sido o momento mais marcante da temporada.

E a derrota que incomodou mais?

(responde rápido) Com certeza, foi com o Djokovic em Roma.

O que doeu mais? É porque você sentiu que tinha chance?

É, eu senti que o jogo era meu. O primeiro set eu ganhei, e mesmo no resto do jogo, eu achei que estava melhor do que ele, mas não conseguia passar adiante. No final, por mais que o cara seja número 1, tenha feito uma temporada incrível, de perder muito poucos jogos, eu senti que naquele dia eu estava jogando melhor que ele e poderia ser meu o jogo. Então eu terminei um pouco frustrado (Djokovic venceu por 5/7, 6/2 e 6/3).

A essa altura, você já está acostumado com essas sensações? É uma coisa que você, alguns dias depois, já consegue apagar? Ou esse sentimento vai com você por mais tempo?

É mais fácil apagar quando você joga com o número 1 (sorri). Se você joga com o número 1 e perde, no outro dia você fica frustrado, mas esquece. Quando você joga com um cara que você tem mais condições de ganhar, você fica mais frustrado. Com a experiência, você vai levando melhor isso. Talvez se essa derrota fosse há uns cinco anos, eu levaria de uma maneira pior, mas do jeito que foi, até porque no torneio seguinte tive um bom resultado (Bellucci foi campeão do ATP 250 de Genebra), não deixei aquilo me influenciar.

Você falou "cinco anos atrás". Madri foi em 2011. Aquela derrota para o Djokovic (o sérvio venceu em três sets na semifinal do Masters 1.000 de Madri após estar um set e uma quebra abaixo no placar) você demorou mais para…

(interrompendo) Ah, foi um momento… Mesmo porque na semana seguinte eu perdi para o (italiano Paolo) Lorenzi, né? Então acho que hoje em dia eu consigo lidar melhor com essas derrotas, apagá-las no dia seguinte e aprender com elas. Talvez, nessa época, eu não conseguia lidar muito bem. E também eu, às vezes, com uma vitória, ficava de salto alto e acabava perdendo um jogo fácil na semana seguinte. Então eu era muito irregular, não conseguia manter uma consistência grande. Com a maturidade, você vai sabendo administrar isso. Por mais que você tenha uma vitória magnífica no dia anterior, isso não vale nada se você não faz um bom jogo de novo no dia seguinte.

Você falou do Lorenzi… O que chateou mais? Perder do Djokovic numa semifinal depois de estar um set e uma quebra na frente ou perder do Lorenzi, que era, sei lá, 300 e alguma coisa do ranking?

Não, ele não era tão ruim assim (risos de ambos). Ele era, sei lá, uns 150, 200?

Sim (rindo), mas você entende o que eu quero saber?

Não, uma derrota contra o Lorenzi dói muito mais do que uma contra o Djokovic. Sem dúvida nenhuma (mais risos).

(Registrando: Lorenzi era, de fato, número 148 do mundo naquela semana de 2011, no Masters 1.000 de Roma)

Seu calendário para 2016 muda alguma coisa?

Muda um pouco, mesmo porque o calendário também mudou, né?

Ficou uma zona com os Jogos Olímpicos encaixados ali…

É, a gente vai para os Estados Unidos, volta, vai para os Estados Unidos de novo, então… Eu nem sei, na verdade. Mas no começo do ano muda também. A gente joga Brisbane, depois Sydney, depois Australian Open. Sydney eu nunca joguei, e Brisbane nos últimos anos eu não joguei também. A gente quer tentar…

(interrompendo) Você não gosta de Auckland?

Gosto, mas eu nunca joguei bem lá (risos). Esse que é o problema. Eu até gosto, é um dos meus torneios favoritos, mas não adiante se você vai lá e não consegue jogar bem. E também Sydney tem condições mais parecidas com o Australian Open, então vamos ver se a gente consegue chegar mais bem preparado.

Não tem como fazer preparação diferente para Jogos Olímpicos, né? Tem um Masters duas semanas antes, depois Rio, depois outro Masters… Não dá para parar dois meses e treinar só para uma coisa, né?

No tênis, não tem isso como nos outros esportes. A gente tem competições importantes o tempo inteiro. Não tem como falar "vou ficar um mês sem jogar porque quero estar bem preparado para aquele torneio." No tênis, não existe isso. Não tem como fazer preparação especial. Lógico que eu gostaria, mas é um calendário complicado para todo mundo. Para mim, as Olimpíadas talvez sejam o torneio mais importante do ano que vem.

Tiraram os pontos do ranking para o torneio olímpico de tênis. Você acha que isso afeta muito?

Não, acho que não. Nos últimos anos, os jogadores já têm priorizado as Olimpíadas. Por mais que dê ponto, não sei se é a razão principal para a gente jogar. As coisas que você acaba ganhando em Jogar Olimpíadas são muito mais que a pontuação que você ganha. E também não é uma pontuação magnífica.

Eram 750 pontos para o campeão…

Era como se fosse um ATP 500. Para os jogadores no topo, não faz tanta diferença. Para os lá de baixo, pode ser, mas para o Federer, o Djokovic, 750 pontos não muda quase nada no ranking deles. Não acredito que seja um empecilho para eles.

É possível que o Brasil entre com uma dupla mista nos Jogos. E tem você, Marcelo, Bruno, André talvez esteja… Quem vai jogar com a Teliana?

Ah, não sei (sorriso), mas os especialistas em dupla são o Marcelo e o Bruno, Não tem muito sentido a gente pegar um jogador de simples para estar na dupla porque é o que eles fazem de melhor.

Eu sei que não funciona exatamente assim porque ninguém trabalha uma coisa só numa pré-temporada, mas se você tivesse que estabelecer uma prioridade máxima para a pré-temporada, o que seria?

A parte principal, que a gente já vem conversando durante o ano, é a parte de defesa. Conseguir me defender melhor e aguentar mais os pontos quando eu estou sendo deslocado. Isso, contra esses jogadores, é muito importante porque jogadores que estão entre os (top) 10 geralmente devolvem bem saque, e é muito difícil ganhar o ponto em duas, três bolas. Por mais que eu tenha um jogo agressivo, eu tenho que jogar defendendo, mesmo que seja uma parte pequena durante o jogo. Então eu tenho que fazer melhor isso. A maioria dos pontos em que eu começo me defendendo, eu não consigo ganhar. Preciso melhorar isso daqui para a frente. É uma prioridade.

É questão mais de velocidade lateral, de arranque para chegar nas bolas, ou é a execução do golpe defensivo mesmo?

Os dois. A parte física também é importante, de eu conseguir me deslocar melhor… Ah, você vê que o diferencial dos grandes jogadores hoje em dia é a parte física. Antigamente, não tinha tanta diferença assim. Você pega dos jogadores número 1 do passado… Não necessariamente eles tinham o melhor físico. Hoje em dia, é ao contrário. Você pega os cinco primeiros e vê que fisicamente eles são melhores que os outros. Essa é uma coisa que eu tenho que tentar trabalhar com o André (Cunha, preparador físico). Mas, de qualquer maneira, a parte técnica também é importante, de melhorar minha técnica de chegar nessas bolas e me defender melhor.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

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