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Saque e Voleio

Rio Open terá chave forte, mas será que vale o dobro da final olímpica?

Alexandre Cossenza

02/12/2015 01h10

Coincidência ou não, durante a apresentação de 1h30min com patrocinadores, organizadores e políticos, ninguém tocou no assunto. Coincidência ou não, a tabela de preços dos ingressos do Rio Open 2016 só foi entregue aos jornalistas ao fim do evento – na saída, para ninguém pegar e voltar para perguntar. Coincidência ou não, quando indagada sobre ingressos e valores, a COO da IMM (Chief Operating Officer – em outras palavras, quem manda no evento), Márcia Casz, lembrou-se dos valores dos ingressos mais baratos, mas sobre alguns outros valores, resumiu-se a responder coisas como "tem que ver a lista" e "não estou com a lista aqui."

A grande verdade é que havia um enorme elefante na sala e ninguém do torneio teve a coragem de tocar no assunto (ao mesmo tempo, nas redes sociais, fãs já reclamavam da pré-venda de ingressos), mas vamos a ele: os ingressos mais relevantes do Rio Open estão, em média, 30% mais caros do que no ano passado. E não só isso: os bilhetes mais baratos para a final do Rio Open custam quase o triplo das entradas para a final do torneio olímpico de tênis.

Talvez tenha sido este o motivo de evitar o assunto. É difícil justificar como o bilhete mais nobre do tênis olímpico, que vale para final masculina, final de duplas mistas e final de duplas femininas, custa R$ 220 enquanto a decisão do Rio Open custa R$ 580. Sim, é verdade que as entradas mais caras para o domingo olímpico custarão R$ 700 (contra R$ 640 do Rio Open), mas também é inegável que serão três partidas valendo medalha de ouro. Além disso, a chave masculina nos Jogos Rio 2016 terá todos os grandes jogadores do circuito.

Não que o Rio Open seja um torneio fraco. Pelo contrário. A edição 2016 deve ser a mais forte das três edições, com Nadal, Ferrer, Tsonga e Isner. São três top 10 e o atual número 11 do ranking. Não é pouco. Ao mesmo tempo, talvez seja pouco do lado do torneio olímpico. E talvez seja pouquíssimo se colocarmos na balança o nível das chaves e os preços dos bilhetes mais baratos.

Atualizado à 0h do dia 03/12/2015 com os quatro parágrafos abaixo em itálico:

Recebi duas ligações nesta quarta-feira. Uma da chefe da assessoria de imprensa do Rio Open, Diana Gabanyi, e outra do diretor do torneio, Lui Carvalho. Os dois me garantiram que não houve intenção por parte de ninguém da organização em esconder os preços dos ingressos do torneio no evento de apresentação.

Segundo Diana, a tabela só foi entregue ao fim do evento porque estavam juntos da informação de que John Isner estaria no torneio. O anúncio do tenista americano seria feito durante a apresentação, por isso os valores dos ingressos acabaram sendo não informados durante o evento.

Lui fez o mesmo comentário e inclusive concordou com alguns dos pontos que levantei neste post. Segundo ele, foi uma pena a questão dos ingressos não ter sido levantada no evento porque seria melhor para o torneio ter a chance de explicar os valores.

Minha crítica original, no entanto, segue válida. Um evento de apresentação com duração de 1h30min não poderia ter deixado  de mencionar os preços de ingressos, e a COO não poderia ter respondido coisas como "não estou com a lista aqui". Na melhor das hipóteses, faltou vontade de buscar a lista e dar a devida resposta à pergunta da jornalista.

O que mais?

A coletiva de apresentação, que talvez seja mais justo chamar de "evento" do que de coletiva, foi um grande desfile de organizadores, políticos, patrocinadores e convidados. A maior parte do tempo foi preenchida com discursos corporativos e pouco elucidativos. Durou 1h30min (!!!) com quase nada de informação relevante e teve até desfile com Felipe Andreoli e Fiorella Matheis.

Demorou tanto que o representante da Prefeitura do Rio deixou o pódio no meio do evento, acompanhado pelo representante do Governo do Rio, que nem teve a chance de explicar, por exemplo, por que o Estado dá incentivos fiscais de R$ 10 milhões ao Rio Open e ainda deve a Novak Djokovic pela exibição que fez com Guga três anos atrás. Ainda assim, há alguns pontos interessantes a ressaltar sobre que rolou.

O novo horário

Tenisticamente falando, a novidade mais relevante do Rio Open é o horário de início dos jogos. Em vez de começar a rodada às 11h (em fevereiro, no Rio de Janeiro, quente e úmido), o evento terá as primeira partidas às 14h15min. São três horas a menos em condições desumanas para atletas.

Ninguém da organização admitiu que foi uma falha insistir no horário em 2015. Em vez disso, o discurso oficial foi de que, além do calor, a intenção é criar um "ambiente de Grand Slam", com mais jogos acontecendo simultaneamente em mais quadras – e até mais tarde.

De certo modo, é interessante imaginar o que vai acontecer e como o torneio distribuirá tantos jogos pelas quadras externas. Outra questão importante é ver se o espaço comportará o número adicional de pessoas à noite – juntando a sessão diurna, que esticará até mais tarde, com a sessão noturna, que tem início às 17h. E se você está imaginando, a resposta é "sim": sim, é estranho que um torneio tenha duas sessões diferentes iniciando num intervalo de apenas 2h45min.

A chave feminina e a aposta nas brasileiras

O Rio Open continua com problemas para atrair nomes de peso para sua chave feminina. Com um evento de isolado na América do Sul em fevereiro (e no saibro!) e com premiação de US$ 250 mil, é difícil competir com o WTA de Dubai, disputado na mesma semana, em quadras duras e com prêmio de US$ 2 milhões. A semana seguinte ainda tem o WTA de Doha, que distribui US$ 2,8 milhões. Logo, as melhores tenistas preferem ir ao Oriente Médio para duas semanas de eventos fortes a viajar até a América do Sul para um evento modesto.

Diretor do torneio, Lui Carvalho, não aceita falar em chave "fraca" para o feminino. Diz que o Rio fica mais ou menos na média dos torneios de série International (todos que pagam US$ 250 mil) e que a vantagem disso será mais chances para brasileiras como Teliana Pereira. Não é muito diferente do que aconteceu em Florianópolis, que teve a chave mais fraca do mundo em 2015. Teliana foi lá, aproveitou o saibro e saiu com o título.

Pode acontecer o mesmo no Rio. A vantagem do torneio carioca é que é um evento combinado com uma chave masculina que é forte e vende ingressos.

A forte chave masculina

Como já escrevi acima, tudo indica que será o ano mais interessante do Rio Open. Além de um revigorado e recalibrado Rafael Nadal e do atual campeão, David Ferrer, o evento terá Jo-Wilfried Tsonga e John Isner. Os dois, além de ótimos tenistas, dão um ar mais interessante ao torneio. São tenistas com estilos de jogo diferentes e que devem fazer partidas interessantes com os especialistas em saibro, que aparecem por aqui todos os anos.

Nos dois casos – Tsonga e Isner -, o Rio Open contou com a ajuda do ATP de Buenos Aires, que também correu atrás dos atletas. Os eventos carioca e portenho, então, fizeram um "pacote" e bancaram os cachês de ambos. Buenos Aires, por ser um ATP 250 (o Rio Open é um ATP 500) pagou uma porcentagem maior.

Sobre os brasileiros, Bellucci e Feijão estavam no evento. Bati um bom papo com Bellucci, que publicarei em breve aqui no blog. Também tinha uma conversa marcada com Feijão, mas o número 3 do Brasil vinha de São Paulo e teve um atraso grande na ponte aérea. Deveria ter chegado às 9h30min, mas só apareceu no Jockey Club Brasileiro por volta do meio-dia, justamente quando começou a apresentação (marcada para começar às 10h30min).

Os preços dos ingressos

Os valores deste ano estão no quadro acima. A pré-venda para clientes de Claro, NET e Embratel começou nesta terça e vai até 10 de dezembro. Os clientes têm direito a 20% de desconto e, segundo o Rio Open, receberão código por SMS para fazer suas compras. Sim, sei que muitos clientes não receberam código algum – e muitos já declararam sua insatisfação em mais de uma rede social. Honestamente, não sei sue procedimento sugerir. Eu mesmo sou cliente da NET e não recebi nada. Mas sendo bem sincero, alguém aí acha que todos clientes dessas empresas receberiam código promocional?

Para o público em geral, as vendas começam no dia 11, às 10h. E, para quem tiver a curiosidade de lembrar, vejam os preços de bilhetes do Rio Open em 2015. Atenção para as cadeiras laterais, que tiveram aumento de mais de 50% na sexta-feira e de quase 40% no sábado!

Coisas que eu acho que acho:

– Sim, Rio Open e Olimpíadas são dois eventos bem diferentes, disputados em arenas diferentes, com estruturas diferentes e chaves diferentes. Cada um tem seus objetivos próprios. Ainda assim, insisto: para o fã de tênis, é difícil justificar que um ingresso para três finais olímpicas custe R$ 220, enquanto a entrada para a decisão do Rio Open – um único jogo – custe R$ 580.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.