Topo

Saque e Voleio

Sobre Bruno Soares e o "timing" do número 1 de Marcelo Melo

Alexandre Cossenza

26/10/2015 08h00

Tênis, no fundo, no fundo, é como quase tudo na vida. É preciso dedicação, talento e um pouco de sorte. "Estar no lugar certo na hora certa", já diz o clichê. E é assim que veio o número 1 de Marcelo Melo: em uma temporada brilhante, com um título de Grand Slam, mas também com uma pitadinha de "timing".

Afinal, o melhor momento na carreira do mineiro veio coincidentemente em uma temporada abaixo da média dos irmãos Bryan, que dominam a modalidade há mais de dez anos e lideram o ranking juntos e de forma ininterrupta desde fevereiro de 2013. Os dois juntos conquistaram pelo menos um Slam por ano desde 2005. Este ano, a sequência acabou. Não seria exagero dizer que Bob e Mike são, em números, a dupla de mais sucesso da história.

E a série pão de queijo continua hoje aqui no blog usando outro brasileiro para ilustrar o quão importante é o "timing". Bruno Soares, afinal, é o exemplo perfeito. Eu explico. Na quinta-feira, quando Marcelo Melo assegurou a conquista do posto de número 1 do mundo, ele encerraria o ATP de Viena com 7.980 pontos se não tivesse vencido nenhum outro jogo. Pois sabem quanto pontos Soares somou em 2013, sua melhor temporada? Os mesmos 7.980!

Naquele 2013, porém, Bob e Mike Bryan venceram três Slams, cinco Masters 1.000 e ainda foram vice-campeões do ATP Finals. O ranking de fim de ano mostrou os gêmeos americanos com 14.960 pontos. na mesma data, Soares tinha 7.380 – menos da metade – após descartes.

Os confrontos diretos pesaram um bocado nessa diferença em 2013. Naquele ano, foram sete partidas de Bob e Mike contra Bruno e Alex. Brasileiro e austríaco venceram apenas uma, em Valência. Perderam nas semis do ATP Finals, de Roland Garros e de Memphis e nas finais de Paris, Queen's e Madri.

E nem foi só isso. No US Open, quando escapou dos irmãos Bryan e tinha uma chance melhor de conquistar seu primeiro Slam em duplas-duplas (sem contar mistas), Bruno Soares viu Peya sofrer uma lesão nos últimos pontos da semifinal. O austríaco entrou em quadra para a decisão sem condições de jogo, e a partida foi uma formalidade que acabou com os troféus nas mãos de Paes e Stepanek.

Em 2015, dois anos depois de Soares ser o simbólico "número 1 entre os mortais", os irmãos Bryan deram sinais de vulnerabilidade e não conseguiram manter o ritmo absurdo das temporadas anteriores. O "timing" para brasileiro e austríaco, entretanto, já havia passado. Os dois viveram um ano nada brilhante. Bons resultados vieram aqui e ali, mas sem a consistência necessária – e desejada. A parceria chegou ao fim, e o mineiro de 33 anos começará 2016 ao lado de Jamie Murray. Que a sorte lhe sorria um pouco mais no ano que vem.

Coisas que eu acho que acho:

– Importante não deixar de citar: se Bob e Mike Bryan não conquistaram um Slam em 2015, Marcelo Melo e Ivan Dodig têm sua parcela de "culpa". Os dois fizeram um partidaço na final de Roland Garros  e conquistaram o título.

– Nos outros três Slams, os Bryans foram eliminados por Inglot e Mergea (Australian Open, oitavas de final), Bopanna e Mergea (Wimbledon, quartas) e Johnson e Querrey (US Open, primeira rodada).

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.