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Saque e Voleio

O novo velho problema da WTA

Alexandre Cossenza

12/10/2015 11h19

Os quatro Grand Slams já se foram, os grandes nomes acumulam lesões e o desgaste de nove meses de torneios, e o circuito feminino chega à Ásia. Longas viagens para quase todo mundo, um choque cultural (ainda) para muita gente e três torneios grandes em sequência. E o que acontece? Tenistas começam a cair das chaves como folhas das árvores numa ventania de outono.

Entre abandonos e desistências, Halep, Sharapova, Azarenka, Bencic, Wozniacki, Bouchard, Keys e Muguruza deixaram de completar partidas ou anunciaram que não disputariam mais um torneio. Somando Tóquio, Pequim e Wuhan, foram 12 abandonos e WOs (sem contar as desistências antes da formação das chaves. Logo, conclui-se: a WTA tem um sério problema em seu calendário.

É bastante contraditório, aliás, que Stacey Allaster, ex-CEO da WTA, tenha deixado o cargo elogiadíssima, enquanto o novo ocupante do cargo, Steve Simon, chega dizendo que o calendário é um problema e precisa de ajustes. Não, sua declaração não poderia ser muito diferente neste momento, mas não é segredo que a expansão para a Ásia e certos itens do regulamento da WTA não agradam a muitas tenistas relevantes para o circuito feminino. E vale fazer uma breve viagem no tempo para lembrar a origem deste problema específico.

Tudo começou em 2008, quando Larry Scott, então CEO da WTA (Allaster era seu braço direito na ocasião), anunciou o "revolucionário" Road Map (cujo nome até hoje não faz lá tanto sentido assim). Sua intenção era aumentar os prêmios em dinheiro dos torneios, garantindo maior presença de estrelas nos torneios realmente grandes (leia-se: que pagam bem) e reduzindo a obrigatoriedade de competir em um número X de eventos.

O então novo calendário tinha uma temporada mais curta, férias maiores e bons prêmios em dinheiro. Até aí, tudo legal. Só que o regulamento "amarrou" as tenistas e os torneios pequenos. Agora, uma top 10 só pode disputar um torneio da série International por semestre. Ou seja, adeus aos gordos appearance fees, aqueles cachês pagos por fora por eventos menores que precisam atrair estrelas. Além disso, a recente expansão para a Ásia, combinada com o calendário mais enxuto, causou esse engarrafamento de eventos importantes no fim do ano.

O resultado acaba sendo um período quase irrelevante de torneios no Extremo Oriente, com jogos disputados em horários ruins para boa parte do planeta e diante de um público que não tem estrelas próprias. Na Li se aposentou e, hoje, a tenista mais bem ranqueada da região é a chinesa Saisai Zheng, número 76 do mundo (não levo em consideração a Ásia inteira porque acabaria incluindo Sharapova, que não pode ser considerada um ícone representante do continente).

Cingapura, sede do WTA Finals, deve ser um torneio interessante, até pela importância da competição, com tantos pontos e dinheiro em jogo. Resta saber, entretanto, o que a entidade e seu novo presidente vão conseguir fazer para solucionar rapidamente mais essa questão de calendário.

Coisas que eu acho que acho:

– A pior notícia para o circuito talvez nem seja a sequência de abandonos citada no post, mas o aviso de que Serena Williams encerrou antecipadamente sua temporada. Não jogou no Extremo Oriente nem disputará o WTA Finals. O caso da americana parece ser muito mais falta de motivação do que lesões, que foram a justificativa oficial. Ainda assim, vale imaginar se a número 1 do mundo faria o mesmo com os últimos torneios menos longe de casa. E mais ainda: vale imaginar o quanto será duro para a WTA ver Serena Williams de volta à quadra na IPTL, jogando exibições justamente na Ásia.

– Registrando: os três grandes torneios Tóquio, Wuhan e Pequim tiveram como campeãs, respectivamente, Agnieszka Radwanska, Venus Williams e Garbiñe Muguruza.

– As três semanas pós-US Open foram uma espécie mini-férias do blog. Aos poucos, a "programação" volta ao normal por aqui. Em breve, volto com um resumo da passagem do circuito masculino pela Ásia.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.