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Saque e Voleio

Davis: favoritismo é brasileiro contra a Croácia

Alexandre Cossenza

16/09/2015 08h00

É compreensível que, em tempos de politicamente correto, ninguém goste de assumir favoritismo. Principalmente técnicos de equipes – ou, no caso, capitães de Copa Davis. Muito menos ainda no caso específico de João Zwetsch, que é um capitão de frases longas e pouco objetivas. O máximo que vai se ouvir do gaúcho é que sua equipe tem "uma situação com possibilidade maior."

Mas que ninguém se engane: a ausência de Marin Cilic, que sofreu uma lesão durante o US Open, faz do Brasil o favorito contra a Croácia no confronto que será disputado neste fim de semana, em Florianópolis, valendo vaga no Grupo Mundial da Copa Davis (quem perder volta à "segunda divisão" do tênis mundial). Sim, o Brasil é favorito mesmo com a Croácia trazendo o #33 do mundo. E mesmo com Feijão em uma longa fase ruim que o tirou do top 100.

E não é difícil entender os porquês. O primeiro é Thomaz Bellucci jogando possivelmente o melhor (e mais consistente!) tênis de sua carreira. Ok, a combinação Bellucci + Davis é quase sinônimo de drama mesmo em condições favoráveis (vide Sorocaba, Chennai, Rio Preto e São Paulo), mas é inegável que o número 1 do país tornou-se um belo tenista de Copa Davis. No saibro, o paulista é favorito para vencer as duas partidas de simples. Com uma dupla quase imbatível, ainda que Bruno Soares não viva o melhor momento de sua carreira, não é nada improvável que o Brasil saia vitorioso com dois pontos de Bellucci e um de Marcelo Melo e Soares. Foi assim contra a Espanha, no Ibirapuera, ano passado.

Outro fator é a torcida. A arena montada no Costão do Santinho não é das maiores nem das mais barulhentas (outdoor com quatro mil lugares), mas a CBT contratou Dartagnan (aquele da corneta!) e sua equipe para garantir que os adversários serão incomodados de sexta a domingo. Sem Cilic, a Croácia põe todas suas esperanças em Borna Coric, #33 do mundo, que tem talento demais, mas experiência de menos. Sim, o adolescente de 18 anos acaba de conquistar um título em Barranquilla em um torneio com condições não tão diferentes das de Florianópolis. Mas seu tênis esteve longe de ser brilhante no Challenger colombiano. Além disso, como o garotão vai lidar com a pressão de carregar o time nas costas e suportar o barulho da torcida? Esse ponto de interrogação vai permanecer pelo menos até sexta-feira.

Não custa lembrar que se Feijão vive mau momento, o #2 croata neste confronto, Ivan Dodig, não está tão melhor assim. É bem verdade que ele e Marcelo Melo foram campeões de duplas em Roland Garros, mas a temporada do experiente (30 anos) Dodig nas simples deixou a desejar. Sua última vitória em chaves principais de torneios de nível ATP aconteceu em abril, no 250 de Istambul. Desde então, tem disputado qualifyings com pouco sucesso. O "copo meio cheio" de Dodig é ter feito seu melhor torneio justamente na última semana, quando foi campeão do Challenger de St. Remy, na França. Por outro lado, pode ser bom para o Brasil enfrentar um adversário que esteve jogando em quadras duras até domingo e que só chegou a Florianópolis na terça-feira, cerca de 72h antes de entrar em quadra na Davis.

Coisas que eu acho que acho:

– Desnecessário dizer o óbvio, mas direi assim mesmo: "favoritismo" não significa vitória garantida (Roberta Vinci que o diga!). É por isso que eles entram em quadra.

– É possível que Dodig tenha um belo fim de semana e apronte algum resultado inesperado? Sim, claro que é. Mas que ninguém descarte a hipótese de Feijão, que fez uma excelente Davis em Buenos Aires, se reencontrar com um bom tênis. O resto do time motivando e a torcida a favor podem ter um peso considerável nisso.

– No papel, a ausência de Cilic facilita demais a vida de Bellucci, que entraria pressionado contra Coric logo no primeiro dia do confronto. Agora, contra Dodig, a margem aumenta bastante para o número 1 do Brasil.

– O ponto da dupla é sempre dado como ganho pelo Brasil ainda antes do confronto. É justificável: Soares e Melo estão entre os melhores do mundo na modalidade e têm entrosamento invejável. Na teoria, o cenário mais provável (e nem é tão provável) de uma vitória croata passa por duas vitórias de Coric e uma de Dodig. Todas nas simples.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.