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US Open, dia 12: Vinci, Vinci, Vinci

Alexandre Cossenza

11/09/2015 22h23

Não, não escrevi errado a frase de Julio César (veni, vidi, vici). É que é difícil pensar em outro assunto nesta sexta-feira depois da espetacular vitória de Roberta Vinci sobre Serena Williams. Um resultado que formou uma inesperada final italiana na chave feminina do US Open e, muito mais do que isso, encerrou o sonho da americana de completar o Grand Slam (vencendo todos os Slams na mesma temporada) em 2015.

O resumaço do 12º dia do US Open também fala de Flavia Pennetta, Simona Halep, Novak Djokovic, Marin Cilic, Roger Federer e Stan Wawrinka, mas tudo parece secundário para o grande tênis e o gigante carisma da italiana que conquistou a vaga na final e o público do Estádio Arthur Ashe em uma semifinal memorável.

A entrevista

Antes de entrar na parte técnica e tática do jogo, vejam a fantástica entrevista de Roberta Vinci à ESPN logo depois de protagonizar a maior zebra de 2015. Abaixo, transcrevo os trechos mais bacanas (não tenho tempo de legendar).

Roberta Vinci – Entrevista épica, histórica e mitológica

"É um sonho. Estou na final, derrotei Serena… Desculpa, gente."

"Quando acordei, falei 'ok, estou está na semifinal hoje. Tente se divertir, não pense na Serena. Jogue, Divirta-se.' Não esperava vencer!"

"Na minha cabeça, eu pensava 'coloque a bola na quadra. Não pense. Tente colocar toda as bolas na quadra. Não pense que é a Serena do outro lado da quadra. E corra! Coloque a bola, não pense e corra.' E ganhei."

"(Desculpas) Pelo povo americano, por Serena, pelo Grand Slam e tudo, mas hoje é meu dia. Desculpa, gente."

"Não sei. Faça outra pergunta, por favor (sobre enfrentar outra italiana na final)."

O jogo

Antes de mais nada, aquele lembrete óbvio. Serena Williams é a melhor tenista do mundo na atualidade. Quando está em seus melhores dias, a americana é imbatível. Logo, conclui-se que a derrota desta sexta-feira veio numa atuação abaixo do esperado. Até aí, tudo bem, né? Só que reconhecer um dia ruim de Serena não significa menosprezar Roberta Vinci, que fez uma apresentação sensacional e teve, sim, muito a ver com o que sua adversária (não) apresentou durante as 2h de partida.

O curioso é que Vinci, #43 do mundo, quebrou o saque de Serena logo no primeiro game, mas a americana venceu seis games seguidos depois disso. Com um set à frente e depois de sair de 0/40 no game inicial do segundo set, era de se imaginar que a favorita dispararia no placar. Não aconteceu. Também era de se imaginar que Serena controlaria o jogo quando abriu 2/0 no terceiro set. Também não aconteceu.

Foi um dia de muitos erros de Serena (40 falhas não forçadas ao todo), que nunca esteve completamente à vontade na partida. E é aí que entra o mérito de Vinci. A italiana variou seus golpes em potência e profundidade e, quando pôde, subiu à rede. Às vezes, usava slices cruzados. Às vezes, na paralela. Mas variava com seu backhand com top spin. Serena ora precisava entrar na quadra para se abaixar e bater na bola, ora precisava dar alguns passos para trás e correr para o lado.

No quinto game do terceiro set, o nível de tensão da tenista da casa era enorme. Deu um berro gigante quando ganhou um ponto de saque para fazer 15/15. Deu três berros, na verdade. A desproporcionalidade em relação ao momento do que seria um jogo normal (2/2, 15/15) foi tanta que Vinci começou a rir do outro lado da rede. Serena, aliás, gritou longos e altos "Come on" nos quatro pontos seguidos. Rolou até um "yes, bitch" em um certo momento (vide vine acima).

Pouco adiantou. Dois games, depois, Vinci tinha a quebra e 4/3 no placar. Serena chamou o fisioterapeuta e mexeu numa atadura. Depois, chamou o público mais uma vez. E ainda pediu seguidas vezes que Vinci esperasse para sacar. Nada adiantou. Nada tirou a italiana do sério. Pelo contrário. Vinci estava curtindo o momento, vencendo pontos e pedindo apoio da galera.

Vinci curtiu sem perder o foco, o que não é fácil numa situação dessas. E, melhor ainda, não se intimidou com a chance de fechar uma partida contra Serena, enterrando o Grand Slam e avançando a uma final de Slam pela primeira vez na carreira. Quando sacou para fechar, ganhou dois pontos subindo à rede, sem esperar os erros de Serena. Game, set, match, Vinci: 2/6, 6/4 e 6/4.

O culpado

Se você gosta de de apontar um culpado para tudo ou apenas gosta do mundo das fofocas de celebridades, saiba que "a internet" já escolheu Drake, o namorado, como responsável pela eliminação de Serena Williams.

Melhor mesmo foi o tweet de Lolo Jones, velocista americana dos 100m com barreiras. "Quando Serena terminar com Drake, estarei aqui, gato. Minha temporada já está uma porcaria, então ninguém vai te culpar" (tradução livre – rs).

A data ingrata

O 11 de setembro, dia do ataque às Torres Gêmeas do World Trade Center, não é lá uma data muito queria por Serena no Ashe. Há quatro anos, num 11/09 com direito a bandeira americana, cerimônia e data pintada na quadra, a americana perdeu a final do US Open para a australiana Sam Stosur. Agora, quatro anos depois, cai diante de Vinci e a duas vitórias do Grand Slam.

A final italiana

Vinci completou uma festa italiana, já que o primeiro dia também havia terminado em "zebra". Simona Halep, #2 do mundo, caiu diante de Flavia Pennetta, #26, em dois sets e com um placar espantoso: 6/1 e 6/3. Ainda que o retrospecto da italiana fosse favorável (3×1), era de se esperar uma atuação melhor da romena.

O que li (porque não vi o primeiro set) é que Pennetta foi extremamente consistente, enquanto Halep tentava agredir e cometia muitos erros. O que vi na segunda parcial não foi muito diferente disso. Depois de a #2 do mundo fazer 3/1, a italiana dominou. Não deu nada de graça, defendeu-se magistralmente e ganhou cinco games seguidos, inclusive 20 dos últimos 23 pontos do jogo. E encheu de orgulho o namorado, Fabio Fognini.

Preços de ingressos

Sem o Grand Slam no horizonte, o 12 de setembro, que poderia ser a data de um feito raríssimo no tênis, passa a ser uma final "normal" de Slam. Isso se reflete nos preços de ingressos. Duas horas após a eliminação de Serena, os preços médios das entradas no StubHub despencaram de US$ 686 para "apenas" US$ 366.

Os finalistas

A primeira semifinal masculina mal foi uma semi de fato. Marin Cilic, atual campeão, entrou em quadra sem condições de ser competitivo contra um adversário como Novak Djokovic e acabou sucumbindo rapidamente: 6/0, 6/1 e 6/2 em 1h28min. Cilic torceu o tornozelo na partida contra o francês Jeremy Chardy, nas oitavas de final, e vinha no sacrifício desde então.

Após a derrota desta sexta, revelou que pensou até em não entrar em quadra, mas é difícil abandonar uma semifinal de Slam. Cilic também ressaltou que estará no Brasil para a Copa Davis, que será disputada de 18 a 20 (sexta a domingo que vem) deste mês, em Florianópolis. Só não se sabe em que condições…

A segunda semi foi mais interessante, com Federer e Wawrinka mostrando um ótimo nível de jogo – pelo menos no começo. Talvez a melhor chance do campeão de Roland Garros tenha sido logo no segundo game, com um break point, só que a devolução de backhand que voou para longe no segundo seque de Federer daria o tom das chances de Stan no jogo: poucas e não aproveitadas.

O #2 quebrou logo em seguida e seguiu mantendo o serviço espetacularmente até o fim do set – inclusive saindo de um 0/40 com três bolas vencedoras no sexto game. Aos poucos, a coisa foi ficando mais fácil para Federer. Não que tenha sido uma partida fácil, mas talvez tenha sido aquele velho caso clichê do duelo que alguém jogou tão bem que "fez ficar fácil". O fato é que depois da primeira parcial, Wawrinka venceu apenas quatro games. E, no fim, a segunda semifinal durou quase o mesmo da primeira: 6/4, 6/3 e 6/1 em 1h32min.

Pentacampeão do torneio, Federer não disputa uma final em Flushing Meadows desde 2009, quando, de forma surpreendente, foi derrotado por Juan Martín del Potro. Desta vez, no entanto, chega sem perder um set sequer, o que só aconteceu três vezes antes em sua carreira. Será também sua quarta decisão de Slam contra Djokovic. E não deixa de ser curioso que o sérvio some duas vitórias na grama (2014 e 2015), enquanto o suíço tenha triunfado na quadra dura (NY, 2007). Alguém aí arrisca apostar em algum favorito? Eu, não.

O vídeo

No resumaço de anteontem, relatei o incidente com James Blake, que foi preso em Nova York por ter sido confundido com um criminoso. Nesta sexta, a polícia da cidade divulgou as imagens da câmera de segurança que mostram o momento em que Blake foi atirado a chão desnecessariamente, já que não ofereceu resistência. Vale lembrar que, em momento algum, o ex-tenista falou em racismo da polícia. A queixa foi justamente sobre a força desnecessária. Vejam e entendam.

Durante a partida entre Federer e Wawrinka, Blake foi mostrado no telão, levantou-se para acenar ao público e foi aplaudido de pé. Cena emocionante.

Os brasileiros

Sem brasileiros no US Open (na verdade, Luisa Stefani ainda estava jogando, mas não tenho o hábito de registrar duplas juvenis), acompanhemos a campanha de Teliana Pereira no ITF de Biarritz, torneio no saibro com premiação de US$ 100 mil. Nesta sexta, a brasileira, cabeça de chave #2, derrotou a holandesa Cindy Burger (#205) por 6/2 e 6/0, em 1h01min. O resultado põe Teliana nas semifinais.

O que vem por aí no dia 13

A final italiana, marcada para começar às 16h e terminar com uma nova campeã de Slam. Antes, às 13h, Jamie Murray e John Peers fazem a final de duplas contra Pierre-Hugues Herbert e Nicolas Mahut (horários de Brasília). Programação completa aqui.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.