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Saque e Voleio

US Open, dia 8: o tombo de Murray e o show de Federer (e Isner?)

Alexandre Cossenza

08/09/2015 02h01

Em um dia dominado por vitórias de favoritos, o grande assunto da segunda-feira foi a eliminação de Andy Murray. O britânico, em um fim de tarde longe não tão inspirado, foi vítima dos saques e forehands violentos de Kevin Anderson. O oitavo dia do US Open também teve um divertido jogo entre Roger Federer e John Isner e "estreantes" nas quartas de final da chave feminina. É só rolar a página e ficar por dentro com o resumaço da jornada.

A cabeça que rolou

Andy Murray é o primeiro do Big Three (expressão que Rafa Nadal nos força a usar em 2015) a dar adeus ao US Open. O britânico, que estava cotadíssimo para pelo menos brigar com Stan Wawrinka nas quartas, acabou sucumbindo diante da potência do sul-africano Kevin Anderson (#14).

Anderson fez o seu jogo de sempre, mas com rara precisão e, mais ainda, foi excepcional nos momentos importantes. No tie-break do primeiro set, executou um espetacular bate-pronto com o placar em 5/5 para chegar a um set point (convertido na sequência). Mais tarde, foi perfeito novamente no game de desempate do quarto set. No fim, com 4h18min de jogo, Anderson já somava 81 winners quando fechou em 7/6(5), 6/3, 6/7(2) e 7/6(0). E vale ressaltar que Murray cometeu apenas 20 erros não forçados na partida, que é a mais longa do US Open 2015 até agora.

É muito, muito bacana ver Kevin Anderson, depois de sete tentativas, finalmente alcançar as quartas de um Slam. O tenista de 29 anos é uma das figuras mais respeitadas e queridas do circuito e se não foi mais longe antes em torneios deste porte é porque encontrou tenistas mais regulares e não conseguiu jogar seu melhor nos momentos cruciais. Agora, vindo do título em Winston-Salem e com nove vitórias seguidas, o #14 do mundo certamente vive dias especiais.

Quanto a Murray, não foi uma péssima atuação, mas o péssimo começo de segundo set pesou muito – até porque Anderson lhe deu chances no fim da parcial. Além disso, seu forehand foi facilmente atacado pelo adversário. Não sei se por falta de confiança ou simplesmente por uma tática mais conservadora em seu golpe mais fraco, mas o forehand andou menos do que precisava nesta segunda. Anderson aproveitou e atacou sem pena.

Outro número interessante: é o pior resultado de Murray em um Slam em cinco anos. O britânico viu acabar uma série de 18 quartas de final em torneios assim.

A noite nova-iorquina

O ponto alto da sessão noturna foi o duelo de Roger Federer, que apareceu disfarçado de Change Mermaid para enfrentar John Isner. O duelo acabou sendo bem interessante, ainda que o resultado tenha sido o mais esperado: 7/6(0), 7/6(6) e 7/5 para o suíço. Como também era de se esperar, Isner defendeu seu serviço bravamente durante os dois primeiros sets, inclusive com direito a jogadas dificílimas como esta:

Atual número 13 do mundo, o americano teve até uma ótima chance de quebrar o saque de Federer na segunda parcial. No quarto game, o suíço precisou sair de 0/40 e salvar até um quarto break point antes de confirmar. Isner também teve vantagem no tie-break e, tivesse matado um voleio fácil, abriria 5/2 com o saque. Em vez disso, voleou no meio da quadra, perdeu o ponto e permitiu a recuperação de Federer, que fechou o game de desempate com dois lances espetaculares.

No terceiro set, Federer já ameaçava muito mais o serviço do grandalhão. teve um 0/40 no oitavo game, depois 0/30 no décimo. Isner se salvou, mas não evitou a quebra no 12º, dando números finais à partida. Essa quebra, aliás, foi a primeira vez que Isner perdeu seu serviço no US Open desde 2013. Ano passado, foi eliminado sem ser quebrado.

Federer agora vai encarar Gasquet, que derrotou Berdych em um jogo de sessão diurna que acabou quase à meia-noite em Nova York por 2/6, 6/3, 6/4 e 6/1. O vice-líder do ranking entrará em quadra com status de favoritíssimo. Em 16 jogos, o francês só conseguiu bater o suíço duas vezes, e a última delas aconteceu em 2011, no saibro. Desde então, perdeu seis jogos e não venceu nenhum set.

As candidatas

Todas as claras favoritas venceram na segunda-feira. Primeiro, Victoria Azarenka derrubou Varvara Lepchenko por 6/3 e 6/4 de forma relativamente tranquila. A americana nascida no Uzbequistão até saiu com uma quebra de frente na segunda parcial, mas perdeu o serviço logo em seguida. Vika ainda deu emoção ao público quando sacou para fechar, mas quebrou Lepchenko novamente na sequência e garantiu sua vaga nas quartas de final. Com direito a dancinha!

Pela quarta vez seguida nas quartas, Azarenka enfrentará uma "estreante" na próxima rodada. Sua adversária será a número 2 do mundo, Simona Halep, que nunca antes havia se colocado entre as oito melhores em Flushing Meadows. A romena avançou ao superar de virada a alemã Sabine Lisicki, que chegou a ter um set e uma quebra de vantagem (ok, ainda era o primeiro game do segundo set, mas a vantagem era essa mesma). Halep acabou vencendo a segunda parcial – que teve nove quebras! – e foi melhor no set decisivo: 6/7(6), 7/5 e 6/2.

Estatística interessante: Halep converteu 10 dos 11 break points que teve contra Lisicki, que detém os recordes de saque mais rápido da história e de maior número de aces em uma partida.

Curiosamente, outra das estreantes nas quartas de final também era favorita nesta segunda. Petra Kvitova, #4 do mundo, venceu por 7/5 e 6/3 o duelo das invictas contra a qualifier britânica Johanna Konta (#97), que não perdia há 16 jogos. A tcheca, por sua vez, agora soma oito triunfos seguidos – a série começou no WTA de New Haven. Dona de um histórico nada memorável nesta época do ano, Kvitova curiosamente tem mostrado bom tênis apesar do diagnóstico de mononucleose que ouviu pouco antes do verão no hemisfério norte.

Liberada pelos médicos, a tcheca encontra bom humor para fazer piada com a situação e afirmar que seus técnicos talvez não estejam muito felizes, já que ela não pode treinar tanto quanto antes.

Outra favorita a vencer foi Flavia Pennetta (#26), que derrotou a freguesa Samantha Stosur (#22) por 6/4 e 6/4. Foi a sétima vitória da italiana em sete encontros com a australiana. Após o jogo, Stosur disse que suas melhores armas não funcionam contra Pennetta. A italiana, por sua vez, disse que é fácil enfrentar o "estilo tipo espanhol" da rival por ter treinado muitos anos na Espanha. A italiana, aliás, é uma das mais experientes do grupo na próxima fase. Nos últimos sete anos, ela esteve nas quartas de final seis vezes. Pennetta será a próxima oponente de Kvitova. Veja como ficaram todos os confrontos da próxima fase.

Os candidatos

Donald Young, protagonista de duas viradas improváveis e dono de pares de tênis furtados no sábado, pelo menos teve o que calçar nesta segunda. Recebeu um par de volta, que apareceu magicamente em seu armário no vestiário. Aparentemente, algum "caçador de lembranças" achou que Young havia sido eliminado e fez a limpa no armário dele. Stan Wawrinka, seu adversário de hoje, indagado sobre o assunto, saiu-se bem: "Não foi meu técnico que pegou."

O suíço, se não foi estável do começo ao fim, foi superior e sacou bem. Inclusive se disse bastante satisfeito com a variação de seu serviço nesta segunda-feira. Logo, chegou ao fim a inesperada campanha do americano: 6/4, 1/6, 6/3 e 6/4.

O brasileiro

Orlando Luz, único brasileiro na chave juvenil e cabeça de chave 7 do US Open, venceu com tranquilidade nesta segunda, em seu primeiro jogo na competição. O gaúcho aplicou 6/1 e 6/1 no alemão Tim Sandkaulen e avançou sem dramas.

Trocando o grip

A Confederação Brasileira de Tênis finalmente confirmou a escalação do time que defenderá o país nos playoffs do Grupo Mundial, em Florianópolis, contra a Croácia: Thomaz Bellucci, João Souza, Bruno Soares e Marcelo Melo. É o time óbvio, o que não é necessariamente ruim, até porque o capitão João Zwetsch adotou critérios diferentes em convocações recentes. Desta vez, porém, repetiu o critério dos playoffs do ano passado e leva Feijão, o simplista que melhor jogou no confronto anterior.

A Croácia vai com Marin Cilic, Borna Coric, Ivan Dodig e Franko Skugor (#269 de simples e #208 de duplas). As partidas serão disputadas nos dias 18, 19 e 20 deste mês, com as simples iniciando às 10h locais (sexta e domingo), e as duplas, às 11h (sábado). Não há iluminação artificial na quadra de saibro do Costão do Santinho.

O que vem por aí no dia 9

Nesta terça-feira, os dois atuais campeões do US Open tentarão vagas nas semifinais. Depois de Kristina Mladenovic x Roberta Vinci, que entram no Estádio Arthur Ashe às 13h, Marin Cilic tenta dar mais um passo para o bicampeonato contra o francês Jo-Wilfried Tsonga, que ainda não perdeu sets no torneio. E é só isso na sessão diurna.

À noite, Serena e Venus se enfrentam a partir das 20h (horários de Brasília) em uma partida que deve animar o Ashe – se o jogo for equilibrado. Em seguida, Novak Djokovic encara o azarão Feliciano López.

A programação completa está neste link.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

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