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US Open, dia 5: o anti-Nadal e o Grand Slam de Serena por um fio

Alexandre Cossenza

05/09/2015 03h17

Um memorável jogo de cinco sets que só terminou além da 1h da manhã em Nova York e a inesperada ameaça de Bethanie Mattek-Sands a Serena Williams fizeram da sexta-feira o dia (ou só a noite?) mais empolgante do US Open até agora. E nem foi só isso que rolou de interessante neste quinto dia de torneio. Que tal ficar por dentro com o resumaço? É só rolar a página e conferir o melhor da sexta-feira.

A noite nova-iorquina

Rafael Nadal e Fabio Fognini fecharam a sessão noturna de forma espetacular, em uma partida com níveis obscenos de tênis. O espanhol, que oscilou bem menos do que vem fazendo na temporada, teve uma atuação quase perfeita por dois sets. E se a partida foi tão emocionante, Fognini merece a maior parte do mérito porque foi fantástico quando já não se esperava muito mais dele (leia-se: quando Nadal abriu dois sets e conseguiu uma quebra de vantagem no início do terceiro set).

Só que o Nadal superagressivo de hoje, no estilo que escolheu para levar às quadras, tem pouca margem para erro. Diferentemente de alguns anos atrás, a postura tática de hoje não lhe deixa vencer partidas jogando abaixo de seu melhor nível. O Nadal de hoje parece ser uma espécie de anti-Nadal. Em vez de exibir a consistência absurda que ganhou títulos e mais títulos, o espanhol de hoje permite que qualquer período de instabilidade cobre um preço muito mais caro – ainda mais contra um Fognini que pode começar a acertar tudo de uma hora para a outra.

E quando Fognini começou a acertar tudo, Nadal perdeu o controle da maioria dos pontos. Passou a depender mais de sua consistência e de erros do rival. A consistência até veio. As falhas de Fognini, nem tanto. O italiano disparou, ao todo, 70 (!) winners – 20 só no quinto set. O ex-número 1 mostrou a luta de sempre e manteve-se vivo o máximo possível em uma última parcial nervosa, que teve sete quebras de saque seguidas, só que o italiano foi espetacular na reta final.

Por 3/6, 4/6, 6/4, 6/3 e 6/4, em 3h46min, em uma partida que acabou à 1h26min da madrugada em Nova York, Fognini eliminou Nadal, tornando-se o primeiro tenista na história a derrotar o espanhol depois de estar perdendo por 2 sets a 0 em um Grand Slam. Mais do que isso: não que seja surpresa, mas o revés desta sexta-feira assegura que 2015 será o primeiro ano sem um título de Grand Slam de Nadal desde 2004 – uma sequência e tanto.

O ex-número 1 saiu de quadra bem mais abatido do que de costume. Talvez não só pelo resultado, mas por ter jogado dois sets quase perfeitos e ainda assim ter deixado o Ashe sem a vitória. Talvez um pouco por acreditar que vinha em uma evolução e viu seu momento interrompido de maneira inesperada. Difícil apontar um motivo só, mas a imagem não deixa dúvidas sobre o sentimento.

O que ninguém contava é que a sessão noturna começaria com uma partida tão emocionante. Quem imaginaria que Serena Williams passaria por tamanho aperto logo na primeira partida da noite? A "culpa" é de Bethanie Mattek-Sands e seu jogo agressivo, que "venceram" o primeiro set por 6/3.

Mas não foi só a parcial inicial que teve equilíbrio. Serena fez um segundo set melhor e, depois de ver a inspirada adversária salvar dois break points no segundo game e outros três no quarto, a #1 finalmente quebrou o serviço de Mattek-Sands e sacou para fechar. Só que a Lady Gaga do tênis devolveu a quebra e igualou o placar em 5/5. Em outras palavras, o sonho do Grand Slam de fato (os quatro Slams no mesmo ano) esteve a dois games de se evaporar na noite nova-iorquina.

Em vez disso, Serena quebrou outra vez, fechou o set e fez soar as 12 badaladas e transformou em abóbora a carruagem metafórica de Bethanie Mattek-Sands. A número 1 do mundo acabou vencendo oito games seguidos e fechou o jogo com um pneu: 3/6, 7/5 e 6/0. A quatro games do Grand Slam, Serena agora enfrentará outra compatriota: a perigosa Madison Keys (#19), que eliminou a polonesa Agnieszka Radwanska (#15) por 6/3 e 6/2.

Os brasileiros

Depois das eliminações de Marcelo Melo, Bruno Soares e André Sá, Thomaz Bellucci e Marcelo Demoliner eram a última esperança do país na chave de duplas. Os dois, no entanto, foram eliminados nesta sexta-feira, depois de uma partida equilibrada contra Tommy Haas e Radek Stepanek. Alemão e tcheco venceram só no tie-break do terceiro set: 6/3, 3/6 e 7/6(3).

Pouco depois, Bruno Soares fez sua estreia nas duplas mistas, ao lado da indiana Sania Mirza. Campeões no ano passado e cabeças de chave #1 desta vez, os dois não passaram da estreia. Perderam para a tcheca Andrea Hlavackova e o polonês Lukasz Kubot por duplo 6/3. O resultado selou um esquecível US Open para Soares, que também perdeu na estreia nas duplas masculinas.

Os candidatos

Novak Djokovic não foi espetacular, mas não precisou. Andreas Seppi até fez uma partida respeitável contra o #1, mas a diferença de nível era muito grande. O sérvio venceu por 6/3, 7/5 e 7/5, com direito a um soluço no fim do terceiro set, quando sacou para o jogo e foi quebrado no décimo game.

Quem precisou de mais tempo em quadra foi o atual campeão, Marin Cilic. O número 9 do mundo perdeu o primeiro set e esteve atrás por 5/2 no segundo, mas seu adversário, o cazaque Mikhail Kukushkin, não conseguiu fechar a parcial. O croata virou o segundo set, venceu o terceiro e abriu vantagem no quarto, mas permitiu reação. Kukushkin conseguiu forçar o quinto set, mas pouco ameaçou. O placar final registrou 6/7(5), 7/6(1), 6/3, 6/7(3) e 6/1 para o campeão.

Não sei se é justo encaixar alguma atleta não chamada Serena Williams no texto sobre "candidatos", mas cabe registrar que Ekaterina Makarova (#13) voltou a avançar em sets diretos, desta vez derrotando Elina Svitolina por 6/3 e 7/5 – com direito a parada para pedir atendimento quando sacava em 6/5 e 40/40 no segundo set. O árbitro não permitiu o tempo médico (Makarova tinha cãibras), e a russa teve de continuar a partida. Para sua sorte, conseguiu fechar naquele mesmo game.

E não seria honesto terminar essa parte do resumaço sem citar ela, Eugenie Bouchard. Depois de chegar desacreditada a Nova York, a canadense já venceu um, dois, três jogos. Desde o Australian Open, aliás, ela não vencia tantos jogos em sequência. Mais animador para a jovem de 21 anos é que o triunfo da vez foi sobre Dominika Cibulkova em uma partida disputadíssima: 7/6(9), 4/6 e 6/3. Poderia ter sido mais fácil, já que Genie abriu 3/1 no segundo set, mas o lado positivo é que a coisa não desandou nem depois de Cibulkova forçar o terceiro set e abrir a última parcial com uma quebra de saque. São bons sinais de recuperação para a canadense. Será?

As cabeças que rolaram

Belinda Bencic, #12 do mundo aos 18 anos, escapou por pouco da eliminação na segunda rodada, mas não resistiu a Venus Williams nesta sexta. A americana de 35 anos, que disputou sua primeira final de US Open quando Bencic tinha 6 meses de idade, despachou a adolescente para casa: 6/3 e 6/4.

A vitória vale um bocado para Venus, especialmente neste momento de sua carreira. Foi seu primeiro triunfo sobre uma top 15 desde o WTA de Miami e lhe colocou a uma partida de possivelmente enfrentar a irmã nas quartas de final.

Se facilitou ou não o caminho de Serena, ainda não dá para saber, mas Bencic foi a última tenista a derrotar a #1 do mundo. Desde aquela semifinal de Toronto, a americana já venceu oito partidas em sequência. E, apenas por curiosidade, vale a pena lembrar que em 2002-03 Venus enfrentou a irmã nas quatro finais de Slam – justamente quando a caçula completou seu primeiro "Serena Slam".

A lista de cabeças de chave "surpreendidos" nesta sexta ainda teve Milos Raonic, #10, superado por Feliciano López (#19), que já vinha mesmo apresentando melhor tênis recentemente. O espanhol fez 6/2, 7/6(4) e 6/3 e passou às oitavas para encarar Fognini/Nadal.

Quem também deu adeus foi Tommy Robredo, #26, superado por Benoit Paire (#41) por 7/6(3), 6/1 e 6/1. O francês, que já havia eliminado Kei Nishikori (#4) na primeira rodada, agora duelará com o compatriota Jo-Wilfried Tsonga (#18), que vem avançando meio que fora do radar, mas já derrubou Nieminen, Granollers e Stakhovsky sem perder um set sequer.

No fim do dia, ainda caiu o top 10 David Ferrer (#7), o que não chega a ser uma grande surpresa, já que o espanhol não jogava um torneio desde Nottingham (antes mesmo de Wimbledon). Jeremy Chardy (#27) foi quem mandou Ferrer para casa: 7/6(6), 4/6, 6/3 e 6/1. Sua vitória coloca três franceses entre os quatro que estão na briga por uma vaga na semi. Chardy agora encara Cilic pelo direito de enfrentar Paire ou Tsonga nas quartas. Interessante, não?

A desistência

Já virou hábito nesta edição do US Open. Todo dia tem pelo menos uma desistência. A mais significativa de hoje foi a do belga David Goffin, #15, que vencia a partida contra o espanhol Roberto Bautista Agut (#23) quando começou a se sentir mal. Pediu medicação, perdeu o terceiro set e abandonou na quarta parcial. Depois, já fora de quadra, alegou problemas estomacais e disse que não era nada grave – ou seja, espera estar 100% para as semifinais da Copa Davis. E só para registrar: o placar final mostrou 2/6, 5/7, 6/3, 3/1 e abandono a favor do espanhol.

Crie uma legenda

Eugenie Bouchard e Nick Kyrgios jogaram duplas mistas nesta sexta-feira. Entre muitas cenas e GIFs que circularam durante a partida, a cena abaixo talvez seja a melhor. Conseguem imaginar o diálogo?

Canadense e australiano, aliás, derrotaram a ucraniana Elina Svitolina e o neozelandês Artem Sitak por 5/7, 6/3 e 10/6.

O que vem por aí no dia 6

O sabadão tem, antes de mais nada, Thomaz Bellucci x Andy Murray. A expectativa para o jogo é tão boa que o US Open escalou brasileiro e britânico para fecharem a programação noturna do Estádio Arthur Ashe, com o jogo começando por volta das 21h30min, 22h. Tudo depende de Simona Halep x Shelby Rogers, partida programada para começar às 20h (horários de Brasília).

Mas também tem muita coisa boa na sessão diurna. No Ashe, tem Federer x Kohlschreiber (que muita gente espera que seja um jogão e eu imagino mais um passeio do suíço) e o esperadíssimo Azarenka x Kerber. na Grandstand, tem Tomic x Gasquet e Errani x Stosur. Veja a programação completa aqui.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.