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US Open, dia 4: susto de Murray, drone invasor e jogão além da meia-noite

Alexandre Cossenza

04/09/2015 01h21

Não foram muitos os jogos emocionantes deste quarto dia de US Open, mas houve duas top 10 se despedindo, Andy Murray passando aperto, Jack Sock exausto e carregado para fora da quadra, Lleyton Hewitt se despedindo do torneio e uma campeã em atividade fazendo grandes queixas sobre a organização. Tem muita coisa interessante neste resumaço, então que tal já ir rolando a tela e mergulhando no que aconteceu de melhor na quinta-feira?

O susto de Murray

Andy Murray se viu em um considerável buraco antes de engrenar e arrancar para sua segunda vitória neste US Open. O britânico, número 3 do mundo, fez dois sets abaixo da expectativa e permitiu que o francês Adrian Mannarino (#35) abrisse 2 a 0. O escocês, no entanto, se encontrou na terceira parcial, ao mesmo tempo em que seu oponente já não mostrava a mesma disposição física. Quando o jogo mudou de direção, mudou de vez, e Mannarino, apesar da vantagem, não esteve em momento algum perto da vitória. Murray fez 5/7, 4/6, 6/1, 6/3 e 6/1.

Assim como foi para Mannarino, Murray promete ser um teste gigante de consistência e preparo físico para Bellucci. O ponto abaixo (um de muitos em que o britânico correu como um louco) ilustra bem o que quero dizer.

Os brasileiros

Thomaz Bellucci confirmou o favoritismo e derrotou o qualifier japonês Yoshihito Nishioka (#128) por 6/0, 6/3 e 6/4. Mais importante do que a esperada vitória foi a sólida atuação, com um mísero vacilo no início do terceiro set. O resultado significa que pela primeira vez o paulista disputará a terceira rodada do US Open – algo que chega a ser surpreendente por seu potencial.

O lado bom é que Bellucci enfrentou dois tenistas que não estão no top 100 e passou fácil, como tinha que ser. O lado ruim é chegar a uma terceira rodada de Slam sem ter sua consistência e seu preparo físico testados de verdade. Pode ser um impacto deparar-se agora com o número 3 do ranking mundial. Murray, campeão em Montreal e semifinalista em Cincinnati, vem jogando um belíssimo tênis desde o início da temporada. O britânico é favorito, mas oscila o suficiente (Mannarino que o diga) para que se acredite que Bellucci terá suas chances.

Na chave de duplas, contudo, o Brasil sofreu outro baque. Bruno Soares e Alexander Peya, que vinham tendo ótimos resultados e voltando a mostrar um nível de tênis mais condizente com a parceria, deram adeus logo na estreia. Perderam em dois sets para Philipp Oswald e Adil Shamasdin: 6/3 e 6/3. Assim, após as derrotas de Melo e Sá, resta apenas a parceria de Bellucci e Demoliner.

Nas duplas femininas, Teliana Pereira e a romena Andreea Mitu também caíram na estreia. Elas perderam por 6/1 e 7/6(2) para Timea Babos e Kristina Mladenovic.

A desistência

As cenas mais fortes do dia ficaram por conta do americano Jack Sock, que não aguentou o calor desta quinta-feira. No início do quarto set, quando já não aparentava ter condições físicas de ser competitivo, o jovem de 22 anos, #28, passou a não conseguir mais nem caminhar. Teve de ser auxiliado para deitar na quadra e não voltou ao jogo. O belga Ruben Bemelmans, que perdia por 4/6, 4/6, 6/3 e 2/1, avançou.

Jack Sock abandona partida no US Open 2015 

Um detalhe importante a ser lembrado: a partida tinha 1h56min de andamento quando o árbitro registrou a desistência. Logo, parece que cabe muito mais questionar o preparo físico do americano do que o regulamento (melhor de cinco sets) ou as condições climáticas, que não eram as mais amenas. É sempre preciso dizer: não é segredo que faz calor durante o US Open. E muito calor em alguns dias. Logo, cabe aos tenistas fazer uma preparação adequada para isso.

A despedida

Lleyton Hewitt, em seu último US Open, despediu-se do torneio nesta quinta-feira. E o fez no mais clássico estilo Hewitt: cinco sets, depois de estar duas parciais atrás. Bernard Tomic, o compatriota algoz, chegou a sacar para o jogo no quarto set, mas o veterano de 34 anos se salvou. O campeão do US Open de 2001 (derrotou Pete Sampras na final!) ainda teve dois match points no serviço de Tomic e sacou para a vitória pouco depois, mas, como aconteceu com cada vez mais frequência na reta final de sua carreira, vacilou nos momentos decisivos.

O jovem de 22 anos, atual #24, saiu com a vitória por 6/3, 6/2, 3/6, 5/7 e 7/5, mas o mais aplaudido foi o respeitadíssimo ex-número 1, que ganhou ovação semelhante quando deu seu adeus a Wimbledon. Hoje, na Grandstand, teve a torcida australiana toda a seu favor – do começo ao fim. Merece muito.

Para Hewitt, restam ainda a Copa Davis deste ano (a Austrália disputará as semifinais contra a Grã-Bretanha em solo escocês) e o Australian Open de 2016. Depois, vai curtir a família, sua fortuna e sua casa nas Bahamas.

Os candidatos

A maioria das favoritas venceu na equilibrada metade de baixo da chave feminina. A começar com a cabeça 2, Simona Halep. A romena, que havia perdido apenas dois games na curta estreia (sua adversária, Marina Erakovic, abandonou), voltou a vencer sem drama. Fez 6/3 e 6/4 em cima da ucraniana Kateryna Bondarenko (#104) e passou à terceira rodada. A romena ainda será favoritíssima contra a americana Shelby Rogers (#154), que passou por Kurumi Nara nesta quinta (a japonesa eliminou Alizé Cornet, a cabeça de chave desta seção).

A carismaticamente instável Petra Kvitova também triunfou: 6/3 e 6/4 em cima da americana Nicole Gibbs. Só que o mais importante – mesmo – deste dia é ver que Victoria Azarenka e Angelique Kerber venceram. As duas vão se enfrentar em um fortíssimo jogo de terceira rodada, que promete equilíbrio e nervosismo. Será também uma ótima chance de ver quem está em ótima forma para fazer, quem sabe, quartas de final contra Halep e semi contra Kvitova (ou Cetkovska?).

Entre os homens, em mais um dia de poucas surpresas, Stan Wawrinka voltou a vencer, ainda que com certa dificuldade. O atual #5 do mundo precisou de três tie-breaks para passar pelo sul-coreano Hyeon Chung, #69 aos 19 anos: 7/6(2), 7/6(4) e 7/6(6). Em um caminho bem generoso, o suíço enfrenta na terceira fase o belga Ruben Bemelmans, que perdia por 2 sets a 1, mas avançou graças ao esgotamento físico de Jack Sock.

As cabeças que rolaram

A principal cabeça de chave a dar adeus hoje foi a espanhola Garbiñe Muguruza, vice-campeã de Wimbledon. A número 9 do mundo batalhou por 3h23min, mas acabou sucumbindo diante da qualifier britânica Johanna Konta (#97): 7/6(4), 6/7(4) e 6/2. A partida, aliás, foi a mais longa da chave feminina do US Open desde que o torneio americano adotou o tie-break, em 1970.

Konta agora enfrentará a alemã Andrea Petkovic (#18) por uma vaga nas oitavas de final contra Kvitova ou Schmiedlova.

A noite nova-iorquina

Para quem gosta de Roger Federer, a sessão noturna começou com um espetáculo do suíço, que sacou uma a uma as muitas armas de seu arsenal. Quem queria ver um jogo equilibrado saiu frustrado. O belga Steve Darcis, #66, venceu apenas quatro games: 6/1, 6/2 e 6/1.

Segundo Greg Sharko, assessor de imprensa e guru das estatísticas na ATP, Federer faz numericamente seu melhor início de US Open – e são 16 participações! Nos dois jogos que disputou este ano, perdeu apenas nove games.

O melhor, contudo, veio no fim. Caroline Wozniacki, que entrou em quadra carregando um histórico nada bom de quatro vitórias e quatro derrotas na temporada norte-americana de quadras duras, teve mais uma atuação abaixo da média. A tcheca Petra Cetkovska, que foi top 30 em 2012 e hoje é a #149, aproveitou. Distribuiu o jogo, venceu o primeiro set e chegou a fazer sete games seguidos em um momento.

Distribuindo winners, Cetkovska parecia ter o jogo na mão quando sacou em 3/0 e, depois, quanto teve o serviço no 4/1 do segundo set. O cenário, porém, mudou rapidamente. A tcheca passou a errar mais, Wozniacki ganhou confiança e, de repente, era a dinamarquesa que mandava. Saiu do buraco, venceu a parcial e parecia a aposta mais segura no terceiro set.

Só que Cetkovska e seu jogo corajoso fizeram valer a partida longa, que terminou além da meia-noite em Nova York. A tcheca sacou em 4/5 e precisou salvar um match point. No 5/6, esteve a um ponto da derrota outras três vezes. Se salvou sempre. Ao todo, foram quatro match points. Todos – eu dosse todos! – salvos com winners em bolas corajosas.

Quando começou o tie-break do terceiro set (essa praga que abrevia partidaças como a desta quinta), Cetkovska transbordava com confiança, enquanto Wozniacki seguia com sua estratégia de agredir menos, que parecia um tanto arriscada àquela altura. Pois a ex-número 1 pagou um preço alto. Cetkovska mandou no game de desempate e triunfou por 6/4, 5/7 e 7/6(1).

A invasão

Flavia Pennetta e Monica Niculescu se enfrentavam no Estádio Louis Armstrong quando um drone despencou dos céus e caiu na arquibancada. O jogo foi paralisado, a segurança foi acionada, e o drone, retirado. Imaginem o caos se acontece uma cena dessas no dia 11…

A reclamação

Não é um grande segredo que o esquema de transporte do US Open não está no mesmo nível dos outros Grand Slams. Todo ano alguém reclama – especialmente os duplistas, que são os mais prejudicados. Nos primeiros dias de torneio, com todos os simplistas ainda "vivos", não há carros para transportar todos. Alguns precisar ir até Flushing Meadows nos ônibus oficiais.

Só que a reclamação de hoje veio de uma campeã: Samantha Stosur, que levantou o troféu em 2011, quando derrotou a queridinha da casa Serena Williams em uma final nervosa. "Não me ajudou ou atrapalhou de maneira alguma na partida de hoje. Mas, sim, quando você ainda está no torneio e tenta marcar um carro, eles dizem que é impossível antes das 10h porque você não tem uma partida. Acho que não é bom o suficiente. Não sou só eu. Muitos jogadores passam por essa situação. É um Grand Slam. É um dos maiores torneios do mundo. Você precisar fornecer transporte aos jogadores quando eles precisam."

E não foi só isso. Sobrou até para Serena. Quando indagada se acreditava que Serena tinha direito a um carro, Stosur respondeu "eu diria que sim. Ela me expulsou da minha quadra de treino ontem também."

A chave confusa

Aparentemente, foram tantas cabeças de chave caindo nos quatro primeiros dias de torneio que a organização do US Open acabou se atrapalhando na hora de preencher a chave feminina… Vejam a imagem.

Brincadeiras à parte, a falha não durou tanto assim. Antes do fim da rodada, a chave feminina já estava devidamente corrigida no site oficial.

O que vem por aí no dia 5

A terceira rodada do US Open começa pegando fogo, com jogaços nas três quadras principais. No Ashe, a maior atração ficou para o fim, com Rafael Nadal e Fabio Fognini fechando a sessão noturna depois de Serena Williams x Bethanie Mattek Sands (elas jogam não antes das 19h locais).

No Armstrong, tem coisa boa logo no começo da tarde. O segundo jogo do estádio será entre Eugenie Bouchard, que vem tentando se reencontrar no circuito, e Dominika Cubilkova, que derrubou Ana Ivanovic na estreia.

A Grandstand, por sua vez, tem Milos Raonic x Feliciano López. Promessa de muito saque-e-voleio e um caminhão de aces. A partida está marcada para começar não antes das 17h locais. Vejam a programação inteira aqui.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.