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US Open, dia 2: a desbocada, o bêbado, o suíço voando e mais abandonos

Alexandre Cossenza

02/09/2015 00h45

A terça-feira não derrubou tantos cabeças de chave relevantes, mas também teve suas zebras com as eliminações de gente como Lucie Safarova e Gilles Simon. Só que o dia foi muito mais animado que isso. Teve Azarenka discutindo com uma árbitra, um fã bêbado tomando a cadeira do árbitro, Roger Federer voando no Estádio Arthur Ashe e Thomaz Bellucci vencendo sem problemas. Também houve mais um punhado de abandonos e uma sessão noturna nada decepcionante. Que tal seguir o resumaço do dia e ficar por dentro do que rolou? É só ler abaixo!

Os candidatos

O dia foi relativamente tranquilo para os sérios candidatos ao título do US Open. A começar por Roger Federer, que perdeu apenas cinco games e aplicou 6/1, 6/2 e 6/2 sobre o argentino Leo Mayer, #34, em 1h15min. O suíço jogou no seu nível normal, mas Mayer esteve abaixo das expectativas. Tanto que ao fim da partida Federer perguntou ao rival se estava tudo bem com ele. O argentino deixou a quadra se sentindo muito mal pelo nível de tênis que apresentou.

Mas que fique registrado: quando Mayer conseguiu bons pontos, teve de lidar com tênis desse nível de Roger Federer.

Na chave feminina, Simona Halep, cabeça 2, fez pouco esforço. Sua adversária, Marina Erakovic, #99, abandonou no meio do segundo set alegando dores no joelho. A romena, que liderava por 6/2 e 3/0 no momento da desistência, enfrentará na segunda rodada a ucraniana Kateryna Bondarenko, que vem de vitória por 6/0 e 6/3 sobre a qualifier cazaque Yulia Putintseva.

A registrar também os triunfos de Stan Wawrinka, cabeça 5 da chave masculina, e Caroline Wozniacki, quarta pré-classificada entre as mulheres. Ambos venceram em sets diretos. O suíço, em chave animadora, derrotou Albert Ramos Viñolas por 7/5, 6/4 e 7/6(6) e tem pela frente o sul-coreano Hyeon Chung, #69. A dinamarquesa, por sua vez, teve o benefício de estrear contra uma das wild cards americanas: Jamie Loeb, 20 anos, #413. O resultado, triunfo por 6/2 e 6/0, não poderia ser muito diferente.

As cabeças que rolaram

A tcheca Lucie Safarova, cabeça de chave 6, foi a primeira favorita a se despedir nesta terça. Vice-campeã do WTA de New Haven, na semana passada, a tcheca foi derrubada pela ucraniana Lesia Tsurenko, #37, por 6/4 e 6/1. As duas, aliás, se enfrentaram na semifinal de New Haven, com vitória da tcheca por 6/2 e 7/6(4).

A derrota de Safarova é a quarta de uma top 10 em dois dias de torneio. A maior consequência disso é que, na teoria, facilita o caminho para Victoria Azarenka ou Angelique Kerber. Bielorrussa e alemã devem se encontrar na terceira rodada, e a vencedora enfrentaria Safarova nas oitavas.

Sem a tcheca, Irina-Camelia Begu, #28, é a principal cabeça no grupo que definirá quem chegará uma das tenistas nas oitavas. Quer dizer, "seria" porque Begu também perdeu logo depois para a bielorrussa Olga Govortsova. Assim, essa vaga nas oitavas está agora entre Tsurenko, Lepchenko, Barthel e Govortsova.

Entre os homens, a principal surpresa foi a derrota de Gilles Simon, #11 do mundo. Até porque o francês abriu 2 sets a 0 sobre Donald Young, a eterna promessa americana que nunca correspondeu às expectativas de seus compatriotas. Nesta terça, pelo menos, o rapaz brilhou e venceu de virada por 2/6, 4/6, 6/4, 6/4 e 6/4.

O brasileiro

Thomaz Bellucci, número 30 do mundo, confirmou o favoritismo e despachou o britânico James Ward, #135, em três sets: 6/3, 7/5 e 6/3. Em uma chave muito favorável nas duas primeiras rodadas, o brasileiro agora tem uma chance ótima de alcançar pela primeira vez a terceira rodada do US Open. Seu próximo adversário será o qualifier japonês Yoshihito Nishioka, #128.

O único porém do dia foi o atendimento médico que Bellucci pediu durante o terceiro set. O brasileiro também sentiu essas mesmas dores na região lombar na quinta-feira passada, no ATP de Winston-Salem. Segundo sua assessoria, trata-se de um incômodo leve. Não é uma contratura, o que é ótimo, já que Bellucci tem uma possível terceira rodada diante de Andy Murray e uma Copa Davis em duas semanas.

As desistências

O segundo dia da primeira rodada do US Open teve mais desistências, e o debate da segunda-feira se repetiu. Será que a premiação de primeira rodada não estimula a participação de tenistas que sabem que não têm condições de serem competitivos? A discussão é muito mais profunda do que isso (vale um post separado) e não parece justo generalizar. Houve casos como o de Thanasi Kokkinakis, que teve cãibras quando estava vencendo.

Ainda assim, vale registrar aqui a sugestão de Serena Williams, muito bem lembrada no post de ontem pelo ilustre leitor (e figura importantíssima no tênis brasileiro) Henrique Farinha. Se trabalhadores normais recebem salários quando ficam doentes, por que isso não acontece no tênis? Talvez fosse o caso de o torneio – especialmente os milionários Slams – pagar ao tenista que comprovar não estar em condições de jogo. Encarerecia para os organizadores? Certamente. Talvez seja o caso de sentar com os atletas e negociar.

Mas eu divago. A lista de desistências desta terça teve, além de Kokkinakis (que derrotava Gasquet por 2 sets a 1 quando começou a ter cãibras) e Gulbis (que empatava em 1 set a 1 e perdia o terceiro por 3/0), o cazaque Aleksandr Nedovyesov, que enfrentava Hewitt, o cipriota Marcos Baghdatis, que desistiu no quarto set contra Steve Darcis, e a neozelandesa Marina Erakovic, que duelava com a cabeça de chave 2, Simona Halep.

Antes que alguém sugira que melhor de cinco sets é um formato muito desgastante para o tênis moderno, é importante registrar que apenas dois dos cinco abandonos de hoje aconteceram além do terceiro set.

A noite nova-iorquina

A sessão noturna começou com um jogão – principalmente para primeira rodada – muito esperado entre Andy Murray e Nick Kyrgios. E parece dizer que a partida fez jus à expectativa. O australiano fez seus lances fantásticos e oscilou como de costume, enquanto Murray brilhou de forma mais consistente, sem deixar de lado o pequeno e igualmente habitual vacilo. No fim, o escocês venceu por 3 sets a 1, com parciais de 7/5, 6/3, 4/6 e 6/1.

Vale registrar o momento que chamou a atenção de muita gente – e inclusive rendeu um tweet oficial do US Open. Após perder o primeiro set, Kyrgios relaxou, fechou os olhos e pareceu tirar uma soneca.

E nem foi o único momento divertido envolvendo Kyrgios na partida. Justiça seja feita, o australiano é sempre uma ótima atração enquanto mantém sua educação dentro de quadra. Olha só esse lance:

Murray, por sua vez, enfrentará na segunda rodada o francês Adrian Mannarino, #35, que estreou superando o qualifier russo Konstantin Kravchuk por 7/6(6), 6/4 e 6/1. Quem vencer, relembro, enfrenta Bellucci ou Nishioka.

Na sequência, Petra Kvitova, vindo do título de New Haven, no último fim de semana, manteve o embalo na estreia em Flushing Meadows. A tcheca, #5 do mundo, perdeu só dois games na vitória por 6/1 e 6/1 sobre a alemã Laura Siegemund. Seu próximo desafio será a convidada americana Nicole Gibbs, uma dos poucos wild cards caseiros a avançar.

O momento "na canjebrina"

A noite nova-iorquina raramente decepciona – até mesmo para quem não tem ingresso para a sessão noturna. Enquanto Murray e Kyrgios duelavam no Ashe, um australiano embriagado entrou na Quadra 5, subiu na cadeira do árbitro, ligou o microfone e começou a falar, atrapalhando a partida ao lado. O "fanatic" foi gentilmente escoltado para fora da quadra pelos seguranças.

O momento "Você já jogou tênis?"

Victoria Azarenka não é lá muito conhecida por sua educação com árbitros e árbitras de cadeira. Na partida contra a tcheca Lucie Hradecka, a ex-número 1 do mundo discordou de uma decisão da árbitra e fez a seguinte pergunta/crítica: "Você já jogou tênis? Já? Provavelmente você não era muito boa."

Cabeça de chave 20, Vika perdeu só três games na partida: 6/1 e 6/2. Ela agora enfrenta Yanina Wickmayer pelo direito de enfrentar Kerber na terceira fase. Isso, é claro, se a alemã número 11 do mundo confirmar o favoritismo e superar a italiana Karin Knapp.

Sobre a entrevista polêmica

A entrevista com Coco Vandeweghe, realizada no meio da partida (vide post de ontem), continua repercutindo. Roger Federer não tem uma opinião radicalmente contra ou a favor das entrevistas, mas deu um recado quando indagado na coletiva desta terça: "O que eu ouvi é que eles (a ESPN) não passaram pela ATP, o que seria a coisa normal a fazer. Eles foram direto aos jogadores. Não é a maneira correta."

O melhor de quarta-feira

A programação da quarta-feira, primeiro dia da segunda rodada, não tem nenhum jogo espetacular no Ashe, mas um bocado de partidas interessantes espalhados pelas outras quadras. No Armstrong, por exemplo, Mardy Fish e Feliciano López abrem o dia às 11h locais; a mais modesta Grandstand é palco ideal para ver de perto os saques de Raonic contra Verdasco; e na Quadra 5, Cuevas x Fognini é promessa de bom tênis, provocações e, quem sabe, polêmicas.

A chave feminina, devastada pelas zebras do primeiro dia, não tem muitos confrontos envolvendo dois nomes de peso, mas tem sempre a atração de Serena Williams, que ainda não perdeu games. Ela encara Kiki Bertens fechando a programação diurna do Ashe.

A sessão noturna começa às 19h (20h de Brasília) com um duelo americano entre Irina Falconi e Venus Williams. Em seguida, Novak Djokovic fecha o dia como favoritíssimo diante do austríaco Andreas Haider-Maurer.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

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