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Sete jogos para Serena (US Open: o guia da chave feminina)

Alexandre Cossenza

29/08/2015 08h00

Faltam sete jogos para um dos feitos mais espetaculares do esporte – não só do tênis. Campeã do Australian Open, de Roland Garros e de Wimbledon, Serena Williams está a sete vitórias de completar o Grand Slam de fato, o chamado calendar-year Grand Slam. Algo tão raro que muitos gigantes do tênis encerraram suas carreiras sem esse feito. Entre as mulheres, a última foi Steffi Graf, em 1988. Entre os homens, ninguém fecha o Grand Slam desde Rod Laver, em 1969. Logo, a chave feminina do US Open tem uma favorita e um tema óbvios: Serena Williams e a maior sequência de sua carreira.

Com isso em mente, chega o momento de analisar o tamanho do favoritismo da número 1 do mundo e que obstáculos podem aparecer em seu caminho até o título. Quem são as maiores ameaças à americana? Que fatores podem pesar contra Serena? Pressão? Ansiedade? Como ela lidará com isso tudo?

Obviamente, o US Open não tem só Serena. Quem corre por fora na corrida até o troféu? Quem pode surpreender? Quais serão os melhores jogos nas primeiras rodadas? O que esperar das próximas duas semanas de tênis? Este guiazão da chave feminina oferecer respostas para tudo isso. Leia abaixo e não deixe ouvir o podcast Quadra 18, que vai ao ar em breve!

Tiremos o óbvio do caminho logo de cara: Serena Williams é favoritíssima. E talvez seja ainda mais favorita do que em Melbourne, Paris e Londres. Não por acaso, venceu os últimos quatro Slams. Não por acaso, o resto do circuito parece endeusar a americana em declarações e até dentro de quadra, quando a coisa aperta. A "mística" definitivamente joga a favor da número 1 do mundo aqui.

Mas se tanta coisa joga a favor, o que joga contra? O sorteio das chaves é um exemplo. Serena pode ter um caminho bem trabalhoso em Nova York. A começar por um duelo chatinho com Sloane Stephens/Coco Vandeweghe na terceira rodada. E outro com Madison Keys/Aga Radwanska nas oitavas. E mais um com Belinda Bencic (sua algoz em Toronto) nas quartas. Sejamos sinceros, Serena poderia ter encontrado um caminho bem menos turbulento.

Outra casca de banana para a número 1 do mundo é a atenção enorme que vem recebendo da imprensa mundial. Sim, quem já ganhou 21 Slams (só em simples) deve estar acostumada com um certo nível de atenção, mas desta vez há número ainda ainda maior de holofotes em Serena. A possibilidade de fechar o Grand Slam um dos motivos. Fazê-lo em Nova York, em casa, deixa tudo mais "quente". Com uma chave não tão simples, a margem para erro diminui. Será preciso concentração total para não perder o objetivo de vista.

As chances de Serena também aumentam à medida em que rivais que poderiam ameaçá-la seriamente não chegam a Flushing Meadows na melhor das formas. É o caso de Victoria Azarenka, ex-número 1 do mundo que faz uma temporada de recuperação e vem subindo aos poucos no ranking.

A bielorrussa é a cabeça de chave 20 do US Open e só enfrentaria na final, mas sua preparação não foi a ideal. Em Toronto, derrotou Petra Kvitova e parecia pronta para deslanchar, mas teve uma atuação desastrosa (mais de 50 erros não forçados em dois sets) e caiu diante de Sara Errani na sequência.

Para piorar, teve de abandonar o WTA de Cincinnati por causa de dores na perna esquerda. Logo, seu ritmo não pode ser o melhor possível. Seu primeiro bom teste deve vir na terceira rodada, contra Angelique Kerber. A partida, caso aconteça mesmo, deve deixar o cenário mais claro quanto às chances de quem avançar.

Outro nome com talento e recursos suficientes para derrotar Serena é o da tcheca Petra Kvitova, que decidiu encarar – com liberação médica – a série de torneios na América do Norte mesmo enfrentando uma mononucleose. A doença dá uma dose adicional de imprevisibilidade a uma tenista que não é a mais estável do planeta.

A #5 do mundo passou em branco em Toronto (perdeu para Azarenka) e Cincinnati (Caroline Garcia), mas mostrou sinais de recuperação em New Haven, onde disputa a final neste sábado contra Lucie Safarova. É um bom sinal para quem tem uma chave bem acessível até as oitavas, quando pode ter de encarar Muguruza ou Petkovic. Se passar daí, o resto da chave deve ficar em alerta.

O panorama não é tão diferente assim para Maria Sharapova. A russa, que tem uma lesão na perna direita, não disputa uma partida oficial desde Wimbledon. Era até de se imaginar que a ex-número 1 iria até Nova York só para divulgar seus produtos e marcas – como fez na Bloomingdale's com seus Sugarpovas e na campanha da Nike, que escalou uma seleção de craques para bater bola em uma das ruas da Big Apple.

Sharapova, contudo, decidiu encarar o torneio mesmo sem ritmo. Para piorar, sua estreia é um tanto perigosa. Vale lembrar que a mesma Daria Gavrilova que enfrentará na primeira rodada do US Open a eliminou do WTA de Miami, no começo do ano. O "copo metade cheio" para a russa é que sua seção da chave não é das piores até as oitavas. E, mesmo assim, a principal cabeça de chave para ser sua adversária nas quartas é Ana Ivanovic.

Em condições normais, Sharapova seria barbada para atropelar até a semifinal (que seria contra Serena), mas no momento atual a expectativa sobre sua campanha vem acompanhada de um grande ponto de interrogação.

Nenhuma análise ficaria completa sem citar Simona Halep e Caroline Wozniacki, que encabeçam a metade de baixo da chave (em outras palavras, a parte que define a provável adversária de Serena na decisão). A romena, #2 do mundo, parece ter reencontrado seu tênis depois de uma temporada europeia abaixo das expectativas. Finalista em Toronto e Cincinnati, Halep pode fazer uma ótima partida de quartas de final contra Vika – se a bielorrussa chegar lá.

Wozniacki, por sua vez, aproveitou o pós-Wimbledon para se fazer mais conhecida nos Estados Unidos – e nos mercados americanos. Fez anúncios de chocolate, fez o arremesso inicial em um jogo de beisebol e ainda cavou uma vaga de "editora sênior" no Players' Tribune. Ganhar jogo que é bom… nada! Foram três derrotas em estreias (Stanford, Toronto e Cincy) antes de encerrar a seca em New Haven. Será o suficiente para fazer um bom US Open? Talvez sim. Três rodadas contra Loeb, Cetkovska/McHale e Pennetta/Niculescu podem dar o ritmo que a dinamarquesa precisa para embalar. Mas se Kvitova chegar às quartas, a tcheca será favorita para avançar.

A brasileira

Como já virou costume, o Brasil entra em um Grand Slam com Teliana Pereira como única representante. O sorteio não foi muito generoso com a pernambucana. Estrear em um torneio de quadra dura (onde Teliana ainda tem muito a evoluir) contra Ekaterina Makarova é tarefa ingrata. A russa é bastante favorita.

Bia Haddad, lesionada, nem tentou o qualifying. Gabriela Cé bem que arriscou a ida até Flushing Meadows, mas venceu apenas sete games e foi eliminada na primeira rodada pela chinesa Zhaoxuan Yang.

Os melhores jogos nos primeiros dias

De cara, Ivanovic x Cibulkova promete ser um jogão. A eslovaca ficou quatro meses sem jogar, despencou para fora do top 50 (é a #58 hoje) e ficou "solta" na chave. Ainda lhe falta ritmo, mas seu estilo de jogo, colocando todas bolas em jogo, não é o preferido de Ivanovic. Pode ser interessante.

Outros jogos com bom potencial de primeira rodada são Kuznetsova x Mladenovic, Pennetta x Gajdosova e Petkovic x Garcia. E ainda vale aguardar por Lisicki x Giorgi, Azarenka x Schiavone, e Bencic x Hantchova que podem acontecer na segunda rodada. Ah, sim: Agnieszka e Urszula farão a quinta edição do Radwanska Classic se passarem por seus desafios de estreia.

A tenista mais perigosa que ninguém está olhando

Dois nomes me chamam atenção: o primeiro é o da sérvia Jelena Jankovic. Nem tanto pela fase atual da ex-número 1 do mundo, que não é nada fantástica, apesar de uma respeitável semifinal em Cincy. Entretanto, a chave de JJ em Nova York é um tanto imprevisível. Naquele bolo estão Carla Suárez Navarro, número 10 do mundo que vem de seis derrotas consecutivas, Ana Ivanovic, que nunca foi modelo de regularidade, e Eugenie Bouchard, que… Vocês sabem, né? Ivanovic ainda é a favorita do quadrante, mas uma visita de Jankovic às quartas (e, quem sabe, à semi) não parece tão improvável assim, viu?

A outra tenista perigosa e pouco badalada é Lucie Safarova, número 6 do mundo. A tcheca perdeu na estreia em Toronto e decepcionou ao perder de Svitolina nas quartas de Cincinnati, mas está na final em New Haven. Com a confiança em alta, pode muito bem avançar além daquele duelo de oitavas de final com quem avançar do quadrante de Azarenka e Kerber.

Quem pode (ou não) surpreender

Não dá mais para chamar Belinda Bencic, #12, de zebra. A suíça de 18 anos, vem de uma incrível campanha em Toronto, onde derrubou, nesta ordem, Bouchard, Wozniacki, Lisicki, Ivanovic, Serena e Halep. Ninguém imagina que Bencic repita a façanha e elimine Serena também no US Open, até porque todo mundo sabe como a americana atua contra quem perdeu recentemente. Ao mesmo tempo, não parece exagero considerar que a suíça é quem tem mais chances de derrubar a favorita antes da final. Será?

Minha lista de surpresas em potencial também tem Eugenie Bouchard e Laura Robson. A canadense porque… Bem, na fase atual, qualquer vitória é uma surpresa. Mesmo que não pareça lá muito provável que Genie passe por Ivanovic na terceira rodada.

Quanto à britânica, número 1 do mundo na época de juvenil e campeã de Wimbledon aos 14 anos, uma lesão no punho esquerdo fez um estrago e tanto em sua carreira. Laura Robson fez só dois jogos oficiais em 2014 e mais meia dúzia em 2015 – venceu só uma vez. Não é justo esperar vitória contra Elena Vesnina no US Open, mas se a inglesa vencer, será um momento muito feliz para uma jovem talentosa e que, aos 21 anos, ainda pode alcançar muita coisa.

Nas casas de apostas

O tamanho do favoritismo de Serena Williams é refletido nas casas de apostas. Enquanto, por exemplo, um título de Djokovic, o mais cotado na chave masculina, paga 2,10 para cada "dinheiro" apostado, uma conquista de Serena paga apenas 1,83 na casa virtual bet365. O segundo nome na lista é o de Victoria Azarenka, que vem muito atrás (9,00). O top 10 ainda tem Halep (11,00), Belinda Bencic (19,00), Maria Sharapova (21,00), Petra Kvitova (23,00), Agnieszka Radwanska (34,00), Caroline Wozniacki (34,00), Garbiñe Muguruza (34,00) e Angelique Kerber (41,00). Teliana Pereira está entre as maiores zebras (1001,00).

Na casa australiana Sportsbet, o cenário não é muito diferente, mas Sharapova e Wozniacki estão mais bem cotadas. O top 10 lá é formado por Serena (1,83), Vika (9,00), Halep (11,00), Sharapova (17,00), Wozniacki (23,00), Bencic (23,00), Muguruza (26,00), Kvitova (26,00), Kerber (34,00) e Radwanska (34,00).

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.