Topo

Saque e Voleio

US Open: o guia

Alexandre Cossenza

28/08/2015 08h00

Um grande título para um Andy Murray em excelente forma, outro para o imortal Roger Federer. Dois vices para Novak Djokovic, duas campanhas nada animadoras para Rafael Nadal e uma grande polêmica para Stan Wawrinka. Não é exagero dizer que na última década o campeão do US Open, o último Slam da temporada, nunca esteve tão difícil de prever.

É com esse cenário, que inclui Thomaz Bellucci em ótimo momento e Feijão vivendo uma fase ruim que parece não acabar (até o sorteio das chaves foi cruel com o #2 do Brasil), que chega a hora de analisar o que pode acontecer de mais interessante nas próximas duas semanas.

Quem são os favoritos? Quem pode surpreender? Quais são os melhores jogos nas primeiras rodadas? Que canal terá a melhor transmissão? Este guiazão da chave masculina do US Open tenta oferecer respostas para tudo isso. Leia abaixo e não deixe de voltar amanhã (sábado) para ler sobre a chave feminina e ouvir o podcast Quadra 18!

Novak Djokovic escapou de um possível confronto nas semifinais contra Murray ou Federer. Em compensação, pode reencontrar nas semifinais o japonês Kei Nishikori, seu algoz em Nova York no ano passado. O japonês, aliás, foi o grande "vencedor" do sorteio, já que ficou no mesmo quadrante de David Ferrer, que não joga um torneio desde junho por causa de lesão.

O sérvio não passou perto de seu melhor tênis em Montreal e Cincinnati. Ainda assim, somou dois vices. O que isso quer dizer? Que Nole ainda é o tenista mais consistente do circuito e, num dia normal, é dificílimo vencê-lo. E com uma semana de folga e uma chave favorável na primeira semana, há tempo para adquirir o ritmo necessário e estar calibrado nas fases mais importantes.

A estreia é contra Feijão – sim, o brasileiro João Souza, que não vence há seis jogos – e os jogos seguintes serão contra Pospisil/Haider-Maurer, Seppi/Andújar/Gabashvili e Goffin/Bautista-Agut. Passando por isso, estará nas quartas e possivelmente pronto para jogar seu melhor tênis.

O número 1, é claro, também pode enfrentar Rafael Nadal nas quartas, mas hoje em dia seria ousado demais cravar que o espanhol chegará lá. O atual #8 estreia contra o perigoso Borna Coric e pode ter pelo caminho Fabio Fognini na terceira rodada e Feliciano López ou Milos Raonic nas oitavas. Italiano, Deliciano e canadense já computam vitórias sobre Nadal em 2015.

Talvez jogue a favor de Nadal o fato de serem partidas em melhor de cinco sets. Afinal, quem aí consegue imaginar "aquele Nadal" perdendo uma melhor de cinco para Fognini, Raonic ou Feliciano? Pois é. Ainda assim, parece improvável um triunfo sobre Djokovic – a não ser que Nadal mostre uma evolução incrível na primeira semana do torneio (a ressalva se faz necessária porque, afinal de contas, Nadal é Nadal e nunca se sabe o que o cidadão é capaz de fazer).

Para os otimistas – ou apenas torcedores mesmo -, alguns números talvez sirvam de alento: o espanhol não perde em Nova York desde 2011 e acumula 20 vitórias em suas últimas 21 partidas disputadas no US Open. Mas será que isso ajuda?

Para Roger Federer, o caminho não é dos mais fáceis, mas também não é lá tão complicado assim. Difícil imaginá-lo perdendo antes das quartas, quando pode ter Tomas Berdych (ou Tomic/Gasquet/García-López) pela frente. Ainda assim, o suíço vem dominando o tcheco recentemente. Em 2015, Berdych venceu apenas dez games em dois confrontos. Só então viria uma semi contra Murray ou Wawrinka.

Independentemente da chave, Federer chega a Nova York como seríssimo candidato ao título e com o favoritismo endossado pelo título de Cincinnati. Lá, mostrou ao mundo um novo recurso: a devolução de bate-pronto, que executa posicionado quase na linha de saque e, consequentemente, quase pronto para fechar a rede na sequência.

O golpe – considerado por muitos uma revolução – chamou muita atenção durante o torneio, mas que ninguém se engane: Federer devolveu saque assim menos de uma dúzia de vezes durante a competição inteira. Se foi campeão em Cincinnati, grande parte do mérito esteve na incrível competência que teve para confirmar seu serviço sem passar problemas.

A "nova" devolução vem como bônus, algo que o próprio Federer admitiu ainda estar estudando quando e como executar com o máximo de eficiência. E embora não seja recomendável superestimar o recurso e sua eficiência, parece óbvio que qualquer arma adicional pode fazer diferença – ainda mais quando o cidadão vem sacando de maneira excelente, o que pressiona ainda mais o saque adversário. Vale ficar de olho, esperando essa devolução naqueles games com o oponente sacando em 4/5, 5/6 e games assim.

Dos quatro principais cabeças, Andy Murray talvez tenha sido o "perdedor" do sorteio. Estreia contra Nick Kyrgios, pode enfrentar Bellucci na terceira rodada e Anderson/Thiem nas oitavas. Se passar, Wawrinka pode estar lhe esperando nas quartas. Só depois disso é que Federer apareceria no caminho – nas semifinais.

O bom para o britânico é que seu momento não poderia ser muito melhor. Campeão em Montreal, onde fez uma excelente final contra Djokovic, Murray conseguiu vitórias improváveis em Cincinnati (saiu de buracos contra Dimitrov e Gasquet) e só parou diante de um fantástico Federer.

O piso do US Open, que tradicionalmente não é tão rápido quanto o de Cincy, pode também jogar a seu favor. E, mesmo com uma rota cheia de cascas de banana, o escocês é um forte candidato ao título.

O que pode acontecer de mais legal

Não vai faltar jogo bom nas primeiras rodadas. A começar por Djokovic x Feijão, sempre um atrativo para brasileiros. Mas jogos quentes mesmo devem ser Murray x Kyrgios e Nadal x Coric, especialmente com o espanhol jogando esse tênis que desaparece em momentos. Quer mais? Que tal Gasquet x Kokkinakis? E, sendo otimista, é capaz até que Leo Mayer dê algum trabalho a Federer, hein?

Também vale ficar de olho na despedida de Mardy Fish, que estreia contra o italiano Marco Cecchinato e, se vencer, encara Feliciano López ou um qualifier. O mesmo grupinho da chave tem Verdasco x Haas na primeira rodada, com o vencedor avançando para duelar com Raonic ou Smyczek.

Ah, sim: em Nova York, Lleyton Hewitt disputa seu último US Open. Campeão do torneio em 2001, o australiano encara Aleksandr Nedovyesov na estreia e, se vencer, pode ter pela frente o compatriota Bernard Tomic. De qualquer modo, sua derrota terá emoção digna de ser registrada.

E isso é só nas duas primeiras rodadas. Na terceira, os cabeças começam a se enfrentar, e a tendência é o torneio só melhorar.

O tenista mais perigoso que ninguém está olhando

Talvez Grigor Dimitrov estivesse sendo visto como um nome mais perigoso se não tivesse perdido (duas vezes!) uma partida quase ganha contra Murray em Cincinnati. Só que o búlgaro, que fez uma primeira metade de ano nada animadora, mostrou um ótimo tênis em alguns momentos na última semana.

Além disso, caiu em uma chave que, se não é fácil, é interessante. Confirmando o favoritismo, Dimitrov enfrentará o atual campeão, Marin Cilic, na terceira rodada. O croata é outro que deixou a desejar em 2015. E quem avançar desse grupo vai às oitavas contra quem passar da seção que tem Ferrer (sem ritmo) e Chardy. Logo, não é nada difícil imaginar Dimitrov ou Cilic nas quartas.

Os brasileiros

Bellucci, que chegou a Nova York no top 30 e cabeça de chave, teve sorte. Estreia contra James Ward, #134 e, se avançar, enfrentará um qualifier. Na terceira rodada, aí, sim, pode encarar Andy Murray. Ainda que o britânico pareça um obstáculo difícil de superar, o #1 do Brasil tem uma chance enorme de finalmente passar da segunda rodada em Flushing Meadows.

Feijão, por sua vez… Que fase, hein? Vindo de seis derrotas consecutivas e em momento ruim desde a Copa Davis, o número 2 brasileiro estreia contra Novak Djokovic. Quando o momento é ruim…

Vale registrar a campanha de Guilherme Clezar no qualifying. Na quinta-feira, o #168 derrotou Nicolás Almagro em três sets e ficou a uma vitória da chave principal. Vale ficar de olho. Ao mesmo tempo, é de lamentar que apenas dois brasileiros disputaram o torneio qualificatório. O outro, André Ghem, #129, perdeu logo na primeira rodada.

Onde ver (ou não) na TV

É sempre melhor quando dois canais mostram um torneio. O US Open está nas grades do SporTV e da ESPN. Desta vez, a diferença entre as transmissões deve ser bem menor do que em Wimbledon, quando o canal da Disney deixou o rival para trás. Embora continue com um canal a mais, a ESPN tem a grade amarrada com La Vuelta e o Pré-Olímpico de Basquete. A vantagem da emissora paulista é que o Watch ESPN (pelo site do canal) tem direito a exibir os sinais de todas as quadras onde houver transmissão. Não deixa de ser uma excelente opção.

Nenhum dos canais, aliás, terá equipe de transmissão em Flushing Meadows. Qualquer que seja o motivo, tanto ESPN quanto SporTV contarão apenas com um jornalista in loco produzindo reportagens. É de se imaginar que a alta do dólar tenha relação com isso. Não sai barato manter narrador e comentarista (no mínimo) pagando US$ 300 de diária de hotel em Nova York…

Quem pode (ou não) surpreender

Entre os quatro primeiros cabeças, a aposta óbvia para derrota precoce deve ser em Kei Nishikori (apesar da estreia de Murray contra Kyrgios), que tem aqueles problemas físicos semana sim, semana não. Mas não só por isso. O japonês tem uma estreia traiçoeira contra Benoit Paire e um possível segundo jogo contra Radek Stepanek. São tenistas que lhe darão pouco ritmo – algo que será essencial na terceira fase, seja contra Tommy Robredo, Sam Groth ou Alexandr Dolgopolov. O atual vice-campeão pode fazer seu caminho ficar mais simples (e, ainda assim, parece a melhor chave entre os quatro cabeças), mas precisará estar calibrado desde os primeiros games.

Nas casas de apostas

Djokovic é favoritíssimo, como sempre. Na casa virtual bet365, um título do sérvio paga apenas 2,10 para cada "dinheiro" apostado. Murray (4,50) e Federer (5,00) estão quase colados, e o resto vem bem atrás. Nadal (21,00), por sua vez, não está nem entre os mais cotados, ficando atrás de Wawrinka (13,00) e Nishikori (17,00). O top 10 da casa de apostas ainda inclui Berdych (41,00), Cilic (51,00), Dimitrov (51,00) e Raonic (67,00). Um título de Bellucci paga 501,00, enquanto Feijão divide o último lugar. Uma conquista de João Souza pagaria 3001,00 a algum sortudo.

Na casa australiana Sportsbet, muda muito pouco. Djokovic paga 2,25, seguido de Murray (5,00), Federer (5,00), Wawrinka (13,00), Nishikori (19,00), Nadal (34,00), Dimitrov (41,00), Berdych (51,00), Cilic (51,00) e Tsonga (81,00). Curioso notar que na tarde desta quinta-feira, Almagro pagava 401,00, enquanto Bellucci e Feijão eram cotados em 501,00. A quem não percebeu a ironia: na noite de quinta, Almagro foi eliminado do qualifying pelo brasileiro Guilherme Clezar.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.