Condicional para Kyrgios
A ATP anunciou nesta segunda-feira o resultado de seu inquérito sobre o comportamento do australiano Nick Kyrgios, que ultrapassou alguns limites na partida contra Stan Wawrinka no Masters de Montreal.
No texto distribuído à imprensa, a entidade declara que Kyrgios estará sob uma espécie de "liberdade condicional" nos próximos seis meses. Caso volte a se comportar mal, pagará uma multa de US$ 25 mil e será suspenso de torneios sancionados pela ATP por um período de 28 dias.
Os critérios para a punição estão bem claros no aviso. Kyrgios não poderá:
– Ser multado por abuso físico ou verbal em um torneio sancionado pela ATP; ou
– Acumular mais de US$ 5 mil em multas por outras infrações cometidas em torneios sancionados pela ATP.
Resumindo: nos próximos seis meses, se Kyrgios se encaixar em um dos itens acima, levará uma suspensão de 28 dias. Caso se comporte bem, a "liberdade condicional" acaba no prazo de seis meses.
Um ponto importante a ressaltar é que a punição da ATP se limita a "torneios sancionados pela ATP", ou seja, não inclui Grand Slams nem Copa Davis. E isso vale para as duas extremidades do cenário. Caso Kyrgios jogasse e fosse punido nesta semana, em Winston-Salem, poderia disputar normalmente o US Open, que é um evento da ITF, e não da ATP. Do mesmo modo, uma eventual confusão envolvendo o australiano em Nova York não resultaria em violação da condicional. Qualquer problema no US Open será julgado pela ITF e não vale para a ATP.
Já li todo tipo de reação à decisão. Há quem ache uma pena branda, já que não há suspensão nem multa imediata. Há quem considere, por outro lado, uma medida severa. Principalmente pelo item que cita acúmulo de US$ 5 mil dólares em multa. Eu explico: essa quantia vale para todo tipo de violação. Uma punição por "abuso de bola", por exemplo, significa multa de US$ 350. Quebrar raquete, US$ 500. Falar palavrão (desde que punido pelo árbitro durante o jogo com "obscenidade audível"), US$ 5 mil. Logo, a conta acumulada de tudo isso ao longo de seis meses não pode passar de US$ 5 mil para Kyrgios. O garotão vai precisar mesmo se comportar.
A favor do australiano conta o fato de a condicional durar seis meses, mas a temporada tem só uns quatro meses pela frente. Ou seja, não é tão complicado assim. Além do mais, se ele for punido no Masters de Paris, ficará suspenso por 28 dias justamente no período de férias. É uma brecha perigosa que a ATP deixa.
Coisas que eu acho que acho:
– A condicional sempre me pareceu o cenário mais provável (inclusive escrevi isso no post da confusão, linkado no primeiro parágrafo deste texto). A ATP tenta mostrar firmeza ao mesmo tempo em que não quer parecer injusta. A impressão que dá é que Kyrgios foi julgado como réu primário, merecendo direito a uma segunda chance para se encaixar na sociedade.
– Ao não punir de forma imediata, a ATP corre o risco de ver Kyrgios reincidir. E se isso acontecer em Paris, como escrevi acima, vai sair barato demais. Transformará em piada uma medida com o objetivo de mostrar firmeza.
Coisas que eu acho que acho sobre outro assunto:
– Outra medida recente da ATP foi avisar aos tenistas que será adotada uma política de TOLERÂNCIA ZERO (escrita em negrito e caixa alta na carta abaixo) com quem não mostrar seu "melhor esforço" em quadra. Ou seja, quem "entregar" pontos/partidas será duramente punido.
– A carta enviada aos jogadores, vide tweet acima, cita expressamente que isso vem acontecendo com mais frequência em eventos de nível Challenger. Ou seja, é bom que todo mundo fique ligado com isso. Especialmente a molecada que acha que pode "entregar" na chave de duplas depois de ser eliminada nas simples.
– São raros os casos assim nos torneios maiores, mas houve um bem recente, em Wimbledon, envolvendo Kyrgios (sempre ele!), que enfrentava Richard Gasquet. O australiano desistiu de jogar alguns pontos – o que ficou bastante óbvio. Felizmente, a postura durou só alguns pontos. Kyrgios "voltou" para o jogo e lutou até o fim (acabou derrotado), escapando da punição e da multa.
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