Topo

Saque e Voleio

McEnroe, Trump e a idiotice humana

Alexandre Cossenza

21/08/2015 09h08

John McEnroe foi um tenista fantástico. Foi número 1 do mundo, ganhou 17 Grand Slams (sete em simples) e venceu jogos memoráveis. O americano, hoje com 56 anos, também é um grande comentarista. Acompanha o circuito, tem uma ótima leitura de jogo e, na maior parte do tempo, mostra ótimo timing em suas análises. Só que nem o mais laureado dos currículos isenta seu dono de falar grandes bobagens. McEnroe é prova disso. O exemplo mais recente veio nesta semana. Em entrevista a Jimmy Kimmel, disse que conseguiria derrotar Serena Williams em uma partida séria. Veja a partir da marca de 2'00" do vídeo.

Difícil entender a motivação de uma pessoa que já realizou tanta coisa para fazer esse tipo de comentário, menosprezando uma das maiores tenistas de todos os tempos e incluindo uma dose considerável de machismo quando Kimmel lhe perguntou por que esse confronto nunca aconteceu.

"Quinze anos atrás, Donald Trump fez uma oferta, que eu achei que não era suficiente. E Serena tem muito a perder se for derrotada por um velho como eu. E eu tenho muito a perder porque se for derrotado por – deus me livre – uma mulher, não vou poder entrar num vestiário masculino pelos próximos 15 anos, possivelmente até o fim da minha vida."

A parte nada surpreendente da história é o envolvimento de Donald Trump, um bilionário candidato à presidência dos Estados Unidos que tem tanta competência para fazer dinheiro quanto para vomitar um discurso por vezes racista e sempre preconceituoso em relação a imigrantes mexicanos – em nome de uma suposta crítica ao reinado do politicamente correto.

Coisas que eu acho que acho:

– No início do vídeo, McEnroe também diz que as duplas "contam menos" do que as simples porque são uma "versão mais lenta" do tênis em comparação com as simples e porque os duplistas não são tenistas tão bons quanto os simplistas. Existe uma parcela de verdade no que diz o ex-número 1, mas também parece existir uma dose de recalque (a palavra preferida das redes sociais) que nasceu junto com a enorme ascensão de Bob e Mike Bryan como parceria de mais sucesso na história.

– Diminuir o valor das duplas hoje soa como uma tentativa de reduzir os feitos dos gêmeos. O mesmo McEnroe (que tem 78 títulos em duplas) já afirmou, inclusive, que nem reconhece mais o jogo de duplas hoje em dia.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.