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Bellucci: #31 e nenhuma vitória espetacular

Alexandre Cossenza

05/08/2015 16h59

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O ranking desta semana da ATP mostra Thomaz Bellucci como tenista número 31 do mundo. Nas últimas 52 semanas, o brasileiro somou 1.154 pontos em 27 torneios disputados. Em todo esse período, o paulista de 27 anos não somou nenhuma vitória espetacular. Nenhum top 10 derrubado, nenhuma grande zebra e apenas dois jogos vencidos contando os quatro Grand Slams juntos.

Isso tudo, juntinho e combinado, é ótimo. Calma, muita calma. Antes que o leitor reclame e aponte o óbvio paradoxo, eu explico (também usando o paradoxo em questão). O 31º posto, melhor ranking de Bellucci em mais de quatro anos, é resultado exclusivamente das vitórias esperadas. Traduzindo: ainda que as vitórias sobre top 10 não estejam vindo e que as campanhas em Slams ainda deixem a desejar, o número 1 do Brasil vem reduzindo seu número de "chances perdidas".

Em números, fica ainda mais fácil entender o raciocínio. Os cinco torneios com maior pontuação de Bellucci são Genebra (campeão, 250 pontos), Roma (oitavas de final, 115), Valência (quartas, 110), Gstaad (semi, 90) e Quito (semi, 90). Genebra é um exemplo perfeito. Um torneio no saibro em que Bellucci enfrentou apenas um top 50 (João Sousa, #50). Campeão. Chance aproveitada. Check.

E o Masters de Roma talvez seja um exemplo ainda melhor. Bellucci furou o quali, derrotou Diego Schwartzman na primeira rodada da chave principal  e viu-se diante de Robert Bautista Agut, #19, na segunda fase. Adversário de ranking alto e derrotável (vide Davis). O brasileiro venceu e sucumbiu na rodada seguinte, depois de dar um bocado de trabalho a Novak Djokovic. Normal. Mais 115 pontos na conta. Chance aproveitada. Check.

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Já ficou claro, não? Bellucci vem subindo não por resultados fantásticos, mas por campanhas perfeitamente condizentes com seu tênis – e seu potencial. Sim, uma ótima chance escapou no ATP de Bastad, quando a semi esteve muito próxima e Bellucci cedeu uma virada ao talentoso jovem Alexander Zverev (#123), mas é fácil constatar como momentos assim foram menos frequentes recentemente.

Thomaz Bellucci nunca fez uma temporada regular. Nem no seu melhor momento. Em 2010, melhor temporada da carreira, o paulista chegou a ocupar o 21º lugar na lista da ATP e chegou ao fim do ano em 31º. Ainda assim, somou reveses diante de Ricardo Mello (#135, Costa do Sauípe), Marco Chiudinelli (#63, Gstaad), Lukas Lacko (#72, New Haven), Somdev Devvarman (Copa Davis em Chennai, abandono com problemas físicos), James Blake (#135, Estocolmo) e Marcos Daniel (#152, Challenger de São Paulo). Ainda houve derrotas diante de Guillermo García-López (#49, Indian Wells), Leo Mayer (#59, Nice) e Andreas Seppi (#70, Hamburgo) – todos bons tenistas, mas que não atravessavam momentos nada especiais.

Será que a maturidade para fazer uma sequência maior chegou? Desde Miami, Bellucci apresenta um tênis mais constante (embora ainda não tão estável quanto muitos gostariam). Os resultados vieram. É inegável que a série no saibro, seu piso preferido, ajudou. Os eventos de agora até o fim do ano, em piso duro, deixarão o cenário um pouco mais claro (descontemos a derrota em Washington após o curtíssimo tempo de adaptação). Se Bellucci mantiver a consistência, é muito provável que seu ranking de fim de ano seja o melhor da carreira.

Coisas que eu acho que acho:

– Uma das perguntas que recebo frequentemente (via Twitter ou email) é sobre a influência de João Zwetsch no bom momento de Bellucci. Difícil dizer sem acompanhar o dia a dia de treinos. Aliás, seria difícil dizer ainda que algum jornalista visse todos os bate-bolas. Logo, convém não especular.

– Quem já ouviu o podcast Quadra 18 desta semana sabe que já abordei o assunto por lá. Mesmo assim, achei que valia a pena fazer um texto para o blog. Nem todo mundo que lê aqui escuta lá e vice-versa.

– Outra questão interessante – e recorrente – é a seguinte: Bellucci ainda pode evoluir a ponto de chegar ao top 10? Esse tema também foi debatido no Quadra 18, e é por isso que deixo aqui o link para que vocês escutem o programa e mais de uma opinião sobre o potencial do número 1 do Brasil. Ouçam!

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.