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Saque e Voleio

Teliana, a especialista

Alexandre Cossenza

02/08/2015 12h10

Teliana_Floripa_col_blog

As cenas da colagem acima, captadas pelo excelente fotógrafo Cristiano Andujar, são memoráveis. A comemoração logo após o match point, os beijos no troféu, os goles do champanhe derramado na taça, o emocionado e emocionante abraço na mãe… Teliana Pereira conquistou, em Florianópolis, seu segundo título de WTA e o primeiro de um brasileiro dentro do país desde Gustavo Kuerten na Costa do Sauípe em 2004 (sem contar Challengers e eventos menores, claro).

Há muitas coisas que podem ser ditas sobre os méritos de Teliana. Sua luta, seu preparo físico, sua humildade… Tudo isso tem peso grande na caminhada que lhe coloca entre as 50 tenistas mais bem ranqueadas do mundo. Mas há algo que talvez seja pouco observado e que acredito ser importante ressaltar neste post: a pernambucana de 27 anos agora se coloca como uma das poucas especialistas em saibro no circuito mundial.

Dona de um preparo físico privilegiado, Teliana trabalha os pontos como poucas tenistas hoje em dia. Sem um saque dominante ou um golpe de definição com muita potência, a brasileira compensa com paciência e estratégia, e seu estilo de jogo se mostra muito eficiente na terra batida – principalmente contra tenistas que gostam de parar na linha base e tentar resolver na base da pancadaria (ou seja, a maioria do circuito mundial).

Teliana aposta em bolas altas e fundas, e seu forehand com spin, quando aplicado com a profundidade certa, desequilibra. Nesse nível (o WTA catarinense não teve ninguém do top 60, e a pernambucana precisou enfrentar apenas uma top 100), não são muitas tenistas que conseguem potência e regularidade para combater o jogo de porcentagens da brasileira.

Não é por acaso que o duelo mais complicado foi o primeiro, contra a argentina Maria Irigoyen, que também fez um jogo de bolas altas e paciência (Teliana venceu por 6/7(3), 6/3 e 7/5). A final, contra a competente Annika Beck (68 do mundo), foi um exemplo perfeito de como o tênis de saibro de Teliana é eficaz. A alemã até conseguiu equilibrar o jogo em alguns momentos e venceu o segundo set porque encaixou uma boa série de golpes nos últimos três games.

Entretanto, a impressão que ficava, ao longo da partida, era que Beck vinha correndo muito mais riscos do que a brasileira – tática necessária para a alemã. Só que quando o terceiro set começou, depois de mais de duas horas de jogo, Beck já não conseguia a precisão necessária. Enquanto Teliana continuava paciente e trocando bolas, a alemã cometia uma série de erros. A parcial decisiva durou pouco. Por 6/4, 4/6 e 6/1, a especialista triunfou.

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Coisas que eu acho que acho:

– Não me parece justo dizer que Teliana Pereira foi campeã porque a chave estava fraca. Sim, a chave estava fraquíssima e já escrevi um bocado sobre isso no post anterior, mas me parece que o nome da brasileira já não pode ser descartado em nenhum torneio da série International (equivalente aos ATPs 250) no saibro. Dois títulos e um lugar no top 50 lhe dão esse direito.

– Vale lembrar: no tênis feminino, o último título vencido por uma brasileira em casa havia sido em 1987, quando Niege Dias foi campeã no Guarujá.

– Foi bacana ver a quadra central lotada para a final, disputada numa manhã de sábado, com entrada franca. Por outro lado, é uma pena constatar que um evento como esse, um WTA International, não oferecia sequer mil assentos. Muita gente viu o jogo de pé ou sentada em cadeiras improvisadas no barranco.

– Quase tão brilhante quanto a conquista de Teliana foi o texto de Fernando Meligeni sobre ela. Inclusive com o relato de que "alguns anos atrás [Teliana] foi contra um projeto olímpico capitaneado por Guga, Larri, Ministério do Esporte e CBT e bancou seu irmão como técnico e não aceitou mudar de sua cidade em vez de ser mais uma tenista dentro do projeto olímpico. Sua decisão causou problemas, boicote a ela e muita virada de cara. O mais triste foi o corte na Fed Cup em sua cidade por motivos ( técnicos) que todos sabemos que não foi por isso." Leiam, por favor, o texto inteiro.

– O WTA de Florianópolis, como já previsto, voltará a ser disputado em quadras duras em 2016. Só não se sabe em que lugar da cidade. O diretor do torneio, Rafael Westrupp não deu garantias, dizendo apenas "provavelmente na Federação Catarinense", mesma sede do evento em 2013 e 2014.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.