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Wimbledon, dia 13: Djokovic derruba Federer e come grama outra vez

Alexandre Cossenza

12/07/2015 15h44

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Durante duas semanas, Roger Federer roubou os holofotes. Mostrou, página por página, o livrinho de golpes. Ganhou pontos espetaculares. Executou lances improváveis. Sacou como nunca, venceu como sempre. E, quando derrubou Andy Murray em uma atuação memorável nas semifinais, lembrou o planeta (como se alguém tivesse esquecido) por que venceu Wimbledon sete vezes.

Djokovic, por sua vez, foi competentíssimo nos últimos 15 dias, mas só foi o foco das atenções quando passou perigo diante de Kevin Anderson, nas oitavas de final. Na semi, jogou para o gasto. Parecia que o atual campeão de Wimbledon teria sérios problemas para manter seu reinado no All England Club.

Neste domingo, Djokovic teve, sim, sérios problemas contra o suíço. Precisou salvar set points antes de fechar uma parcial. Perdeu sete set points antes de perder outra parcial. No fim, contudo, o número 1 teve mais de onde tirar. Venceu o xadrez tático e, quando conseguiu anular o serviço do adversário, navegou até seu terceiro título de Wimbledon: 7/6(1), 6/7(10), 6/4 e 6/3.

O set quase perfeito

Um início nervoso, mas com poucos erros. A partida começou com nível altíssimo e poucas chances para os devolvedores. Federer conseguiu uma quebra no sexto game, no primeiro break point que conseguiu, mas Djokovic deu o troco imediatamente depois. O suíço ainda conseguiu dois set points no 12º game, mas o #1 se salvou com dois ótimos saques abertos. No tie-break, Djokovic foi perfeito. Iniciou o game com uma passada espetacular quase por fora da rede, abriu 4/1 vencendo um rali duríssimo de 22 golpes e fechou em 7/1.

Os sete set points

A segunda parcial foi igualmente parelha, mas com papéis invertidos. Desta vez, foi o suíço que salvou set point antes do game de desempate. Nole novamente fez um game de desempate impecável e chegou a abrir 6/3. Teve, inclusive, o set point no 6/5, em seu serviço, mas não aproveitou. Federer salvou um set point atrás do outro e até evitou mais um no serviço do adversário. Djokovic cometeu sua única falha grave no 10/10, jogando um forehand afobado na rede. O suíço, então, subiu à rede no 11/10 e empatou o jogo depois de salvar sete set points.

As cenas no intervalo deixam bastante claro que o número 1 do mundo tinha plena consciência das chances desperdiçadas e de quanto o jogo se complicaria.

A chuva que não mudou nada

A Quadra Central, que fez um barulho absurdo durante os 15 minutos do tie-break e festejou muito a parcial vencida por Federer (sim, a maioria torcia pelo suíço), ainda se recuperava dos momentos de tensão quando aconteceram os lances mais importantes do terceiro set. Primeiro, quando o #2 brilhou ao sair de um 15/40 no game inicial. Depois, com o sérvio salvando um break point. Por fim, com Federer cometendo seu erro mais bobo logo em um lance tão importante. Ao jogar para longe uma direita fácil, alta e perto da rede, o suíço perdeu o saque no terceiro game e viu o atual campeão abrir vantagem.

Os primeiros pingos – bem finos – apareceram no meio do quarto game. Não demorou para que a partida fosse interrompida. Como a previsão era de chuva passageira, a organização preferiu não fechar o teto retrátil, o que faz sentido. As regras dizem que o jogo deve seguir com teto fechado até o fim, e o ideal é sempre manter as características originais de jogo. Afinal de contas, Wimbledon, como os outros três torneios do Grand Slam, é um torneio outdoor.

A interrupção durou cerca de 15 minutos, e nada mudou quando os tenistas voltaram. Djokovic só perdeu dois pontos no serviço até o fim do set a aproveitou a vantagem. O #1 fez 6/4 e voltou a abrir vantagem.

As devoluções massacrantes

Quando o quarto set começou, Djokovic estava em um nível acima do de Federer. O suíço tentou um pouco de tudo, mas não encontrou uma tendência que lhe favorecesse consistentemente. Fugir do backhand e atacar o direita de Djokovic permitia o sérvio contra-atacar e pegar Federer na corrida o tempo quase inteiro. Atacar de dentro para fora dava ao número 1 a opção da paralela de backhand. Com Nole afundando a bola o tempo inteiro, subir à rede era arriscado demais.

Durante o torneio inteiro, se nada funcionasse, Federer tinha a eficiência do saque para manter-se no jogo. Só que contra Djokovic nem isso dava ao suíço uma zona de conforto. As devoluções do número 1 estavam calibradíssimas, tanto quando buscavam a linha de base quanto com o suíço subindo à rede.

E não era Federer sacando mal. O suíço foi quebrado quando tinha cerca de 80% de aproveitamento de primeiros serviços. No fim, buscou mais aces – consequentemente errando mais – e, ainda assim, terminou o último set com respeitáveis 67%. A diferença estava nas devoluções de Djokovic, que destruíram a principal arma do adversário no torneio. O match point é o melhor exemplo.

This is the moment Novak Djokovic became a three-time #Wimbledon champion.

Posted by Wimbledon on Sunday, July 12, 2015

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O bom perdedor

Um dos melhores momentos do dia foi ver Roger Federer na Quadra Central, após o fim da partida, dando todos os méritos do mundo a Djokovic. "Novak jogou um grande tênis não só hoje, mas nas duas semanas inteiras, em todo o ano, mais o ano passado, mais o ano anterior, então ele merece. Parabéns, Novak."

O comedor de grama

Djokovic fez pela primeira vez em 2011, quando levantou o troféu pela primeira vez em Londres. Desde então, vem repetindo a cena. Não podia ser diferente neste domingo. Depois de fechar o jogo, o sérvio se agachou e provou um pedacinho minúsculo do piso da Quadra Central. Na entrevista, ainda brincou e disse que a grama tinha ótimo gosto.

A transmissão

Ao fim do torneio, faz-se necessário um elogio à transmissão da ESPN, que sublicenciou os direitos de transmissão do SporTV e acabou mostrando muito mais quadras e jogos do que o canal concorrente. Fez um negócio da China. Não acertou em tudo, é verdade. Volta e meia, um comentarista despreparado compromete a transmissão. Um exemplo: Osvaldo Maraucci, que passou a maior parte do tempo na ESPN+, comentou a final de duplas sem saber identificar Rojer e Tecau. Passou mais de um set chamando um pelo nome do outro.

Felizmente, os Fernandos (Nardini e Meligeni) dão conta do recado na ESPN, que mostrou os jogos mais relevantes. O mais importante de tudo, entretanto, foi constatar que o canal fez esforço para disponibilizar um grande número de jogos e passar muita informação – junto com o programa diário Pelas Quadras, à noite.

O golpe de misericórdia foi o encerramento da transmissão. Enquanto o SporTV já havia encerrado seus trabalhos, a ESPN seguiu no ar, mostrando Novak Djokovic dentro do All England Club, recebendo os parabéns dos convidados especiais, dando autógrafos e acenando para os fãs.

A câmera que acompanhava o sérvio pelos corredores mostrou ainda um longo abraço do campeão e sua esposa, Jelena. Enquanto isso, Roger Federer passava de cara fechada ao lado do casal. Um momento impagável.

O top 10

O ranking fica assim após o encerramento de Wimbledon:

1. Novak Djokovic: 13.845
2. Roger Federer: 9.665
3. Andy Murray: 7.810
4. Stan Wawrinka: 5.790
5. Kei Nishikori: 5.525
6. Tomas Berdych: 5.140
7. David Ferrer: 4.445
8. Milos Raonic: 3.810
9. Marin Cilic: 3.540
10. Rafael Nadal: 3.000

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.