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Wimbledon, dia 12: Serena reina absoluta e um "avada kedavra" de Jo Rowling

Alexandre Cossenza

11/07/2015 15h56

Este texto não vai tentar explicar por que Serena é tão melhor que o resto do mundo. Esse debate ficou para trás há pelo menos uns oito Slams. A vitória por 6/4 e 6/4 sobre Garbiñe Muguruza, a 28ª seguida de Serena Williams nos quatro maiores torneios do circuito, foi só mais uma evidência disso. Hoje em dia, a número 1 do mundo reina sozinha. Seus números são comparáveis apenas com as maiores da história. Aliás, antes de falar sobre o jogo, comecemos por eles:

O Serena Slam

É a segunda vez na carreira que a americana conquista o chamado "Serena Slam", ganhando os quatro Slams de forma consecutiva, mas não todos na mesma temporada. Até hoje, só Steffi Graf tinha vencido os quatro Slams de forma consecutiva duas vezes. Além de seu calendar-year Grand Slam em 1988, a alemã venceu RG, Wimbledon e o US Open em 1993 e o Australian Open em 1994.

Faltam sete

Serena agora tem a chance de completar o Grand Slam de fato, também chamado de calendar-year Grand Slam (vencer os quatro torneios na mesma temporada). Na história, só três tenistas conseguiram isso: Maureen Connolly (1953), Margaret Smith (1970) e Steffi Graf (1988). Faltam sete vitórias.

Melhor e mais velha

Com 33 anos e 289 dias, Serena é a campeã de Grand Slam mais velha da Era Aberta (Navratilova foi campeã de Wimbledon em 1990 com 33 anos e 263 dias). A americana, aliás, é quem mais venceu Slams depois dos 30. Já são oito triunfos, contando Wimbledon. Juntando todas as outras seis tenistas que conseguiram vencer depois dos 30, são 13 troféus. Margaret Court e Martina Navratilova, com três cada, eram as maiores vencedoras de "Era pré-Serena".

Melhor nas finais

Wimbledon marcou 21º título de Grand Slam para Serena Williams. O impressionante é que ela venceu tudo isso jogando "só" 25 finais. É o segundo melhor aproveitamento da Era Aberta. Só perde para Margaret Court, que somou 11-1 (91,7%). Em toda a carreira, contudo, o aproveitamento de Court foi de 82,7% (24v e 5d). Serena, hoje, tem 84%.

Faltam três

Serena tem 21 títulos de Grand Slam. Na Era Aberta, apenas Steffi Graf (22) tem mais. Em toda a história, a maior campeã ainda é Margaret Court, com 24.

As sequências

O recorde de mais títulos de Grand Slam consecutivos é dividido por Margaret Court e Martina Navratilova: 6. Court venceu do US Open de 1969 até o Australian Open de 1971, enquanto Navratilova começou sua sequência em Wimbledon/83 e foi até o US Open/84. A maior sequência de vitórias de Serena em torneios desse porte veio no embalo do primeiro Serena Slam, em 2002-03. Foram 33 triunfos, com a série sendo interrompida em Roland Garros/2003.

O jogo

Não seria justo não citar a bravura e a competência da jovem Garbiñe Muguruza, 21 anos, em sua primeira final de Grand Slam. Quando Serena abriu a partida cometendo três duplas faltas no game inicial, a espanhola aproveitou as chances e tomou a dianteira. Mais do que isso: quando a #1 se encontrou e conquistou dois break points, Muguruza jogou quatro pontos perfeitos em sequência, confirmou o saque e abriu 4/2.

A reação de Serena foi exatamente o que o nome diz: uma reação de Serena. Não foi um deslize, uma tremedeira ou uma amarelada da espanhola. Muguruza seguiu jogando bem, mas encontrou outro nível da americana, que atropelou, vencendo quatro games seguidos e fechando a parcial: 6/4.

Era difícil imaginar uma reação da espanhola a essa altura. Além do tênis superior da favorita, as estatísticas jogavam seriamente contra Muguruza. Em Wimbledon, Serena tinha um retrospecto de 69 vitórias e duas derrotas após vencer os sets iniciais (agora são 70v e 2d).

Não houve mais dúvida sobre quem ficaria com o troféu. Houve, sim, uma incerteza sobre quando o jogo acabaria. Depois que abriu 5/1 no segundo set, talvez por ansiedade, talvez por sei lá que outro motivo que acometa pessoas de outro planeta, Serena começou a errar. Perdeu o serviço no sétimo game e foi quebrada outra vez no nono. De repente, Muguruza, que continuava lutando bravamente, tinha a oportunidade de igualar a parcial.

A espanhola, então, viveu um momento "mortal". Foi seu único game realmente ruim na partida. Em quatro pontos, Serena quebrou e fechou o jogo. Depois de permitir que a rival encostasse e de ver o estádio acordar e fazer barulho, a americana ficou tão surpresa com a rapidez do último game que precisou de alguns instantes para ouvir o árbitro e perceber que a final estava mesmo encerrada.

Quase tão indelével quanto o nome de Serena Williams na história no tênis será a memória da cena de Garbiñe Muguruza sendo aplaudida de pé por toda a Quadra Central após a partida – por cerca de um minuto e meio! Até a rival, sorridente, ergueu-se do banco (ou trono?) para bater palmas. A espanhola não segurou as lágrimas. Nem deveria. Chegou a uma final de Wimbledon com 21 anos e portou-se como veterana.

A huge ovation for the runner-up Garbine Muguruza on Centre Court. Who thinks she'll win #Wimbledon one day? http://bit.ly/W15Gabine

Posted by Wimbledon on Saturday, July 11, 2015

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Depois de passar as últimas duas semanas sem mencionar o Serena Slam, a número 1 do mundo pôde enfim comemorar o feito: 28 vitórias e quatro títulos consecutivos em torneios do Grand Slam. Enquanto isso, Andy Roddick, comentarista na cabine da BBC, avisava a todos que sua compatriota já estava pensando no US Open, onde poderá completar o Grand Slam de fato. Quando soube do comentário, Serena respondeu no Twitter, como sempre trollando o amigo: "Andy, você está 20 minutos atrasado."

Avada kedavra

J.K. Rowling, autora da série de livros de Harry Potter, usou o Twitter para festejar Serena Williams e acabou colocando no lugar um desses idiotas anônimos e sem rosto que gostam de rebater pessoas famosas. Pouco depois de a escritora inglesa falar sobre como Serena era "que atleta, que exemplo, que mulher!", o bobão respondeu "irônico que a principal razão para seu sucesso seja ter o corpo como o de um homem." Rowling rebateu com uma foto de Serena em um vestido vermelho com a resposta: "É, meu marido fica igualzinho em um vestido. Você é um idiota."

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.