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Wimbledon, dia 7: entregada, coletiva confusa e campeão na corda bamba

Alexandre Cossenza

06/07/2015 17h25

A Manic Monday, tradicional segunda-feira em que todas as oitavas de final – masculinas e femininas – são disputadas, é a sessão mais agitado de Wimbledon e também o momento em que mais estrelas do tênis entram em quadra no mesmo dia. Esta segunda-feira foi das mais interessantes. Começou com um confronto entre as irmãs Serena e Venus Williams, que terminou em um emocionante abraço na Quadra Central; incluiu uma polêmica "entregada" do australiano Nick Kyrgios; e terminou com o atual campeão, Novak Djokovic, na corda bamba. Teve até jornalista se atrapalhando feio na coletiva de Tomas Berdych. O resumaço conta tudo que aconteceu de melhor em Wimbledon nesta segunda.

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A corda bamba

O texto começa pelo fim – o jogo que não acabou. Kevin Anderson, número 14 do mundo, mostrou-se um adversário mais do que perigoso para Novak Djokovic. Encaixando ótimos saques e acertando tudo com sua direita, o sul-africano começou o duelo tomando o controle da maioria dos pontos em seus games de serviço. Venceu o primeiro set no tie-break e salvou um set point antes de fechar a segunda parcial, também no game de desempate.

O momento era complicado para Djokovic, que chegou a abrir 4/0 no tie-break do segundo set, mas o número 1 do mundo não perdeu o equilíbrio. Manteve-se no jogo, ganhando pontos duros e aguardando algum tipo de oscilação do outro lado da quadra. Quando Anderson vacilou, o sérvio aproveitou. Fez 6/1 no terceiro set e 6/4 na sequência. O jogo parecia nas mãos de Nole, mas já passava das 21h em Londres e a luz natural não era suficiente para continuar na Quadra 1.

Os dois retomarão a partida nesta terça-feira, depois de 3h03min jogados na segunda. Em condições normais, o sérvio é favorito, mas é perfeitamente plausível imaginar outro começo de jogo impecável do sul-africano. Afinal, é inegável que Anderson foi o grande beneficiado pela paralisação. Se conseguir repetir o que mostrou na Manic Monday, pode conseguir a maior zebra do torneio.

As irmãs

O aguardado e badalado duelo de Serena e Venus não foi muito diferente do que todo mundo previa: uma partida sem muita emoção e com vitória da irmã mais nova. As duas nunca mostraram muita emoção em seus jogos, nem quando atuavam em nível bem mais parecido. Hoje, Serena está bastante bem acima de Venus, o que ficou claro desde o começo do jogo.

Favoritíssima mais do que nunca, Serena fez 6/4 e 6/3 e comemorou de forma um tanto tímida – para os seus padrões. O que valeu mesmo, e foi lindo de ver, foi o abraço junto à rede, logo depois do match point. Nunca se sabe, mas com as duas acima dos 30 anos e Venus possivelmente vislumbrando a aposentadoria, pode ter sido a última partida entre elas. E se essa história terminar assim, o vídeo do tweet de Wimbledon comprova que foi um belíssimo fim.

Serena agora enfrentará Victoria Azarenka nas quartas de final. Será o terceiro jogo entre elas este ano. Os outros dois tiverem três sets, mas terminaram com a costumeira vitória da americana. Em 19 duelos, Serena levou a melhor em 16 – inclusive nos quatro últimos. O melhor jogo do dia Daria para fazer um texto grande só desse jogo. Richard Gasquet venceu o primeiro set, e Nick Kyrgios entregou o segundo. Ah, você acha que "entregou" é exagero deste texto? Então olha isso:

Depois de perder sete games seguidos, o australiano voltou a jogar sério no terceiro set. A parcial foi parelha e só acabou no tie-break, depois de Kyrgios salvar dois match points. Aqui vale lembrar de quando os dois se enfrentaram na segunda rodada de Wimbledon no ano passado. Gasquet abriu 2 sets a 0 e teve nove (!) match points, mas acabou cedendo a virada e dando adeus ao torneio. Então, quando Kyrgios venceu o terceiro set de hoje, era de se esperar uma reação assim:

Só que os papéis se inverteram. Depois de mais uma parcial equilibrada, Kyrgios sacou em 6/4 no tie-break do quarto set e cometeu uma dupla falta. Gasquet aproveitou, confirmou seus dois saques, e o australiano fez outra dupla falta no match point. Game, set, match, Gasquet: 7/5, 6/1, 6/7(7) e 7/6(6).

Sobre o game em que Kyrgios entregou um par de pontos, os tablóides britânicos nem esperaram a entrevista coletiva do australiano e já saíram publicando que Wimbledon pode multá-lo em até US$ 250 mil. Isso tudo baseado na regra que exige que o tenista dê seu "melhor esforço" em quadra e em um artigo que prevê uma multa adicional quando o tenista comete uma violação grave que prejudique seriamente um torneio.

Poderia ser até o caso de aplicar a multa por falta de "melhor esforço", que pode ser de até US$ 20 mil, mas esse tipo de punição não é tão aplicado assim. E como Kyrgios fez isso em apenas dois pontos, não parece lá muito provável que ele receba uma multa tão pesada. Minha opinião? O mais provável, ao que parece, é que nada vai acontecer. Se bem que um puxão de orelha "oficial" não seria nada mau para dar uma acalmada no garotão.

(Atualizado às 18h22min: Kyrgios foi multado em 1.300 libras por "audible obscenity", ou seja, por falar palavrão em quadra. Não haverá punição por falta de esforço)

Os cabeças

Os grandes favoritos não decepcionaram nesta segunda-feira, o que não espanta. Quando começa a segunda semana de um Slam, gente do nível de Djokovic, Federer, Murray e Sharapova já está calibrada e jogando bem perto de seu melhor nível. Logo, a lista de cabeças de chave que avançaram inclui justamente três dos quatro acima – além de Stan Warinka, campeão de Roland Garros.

Sharapova, que entrou cedo em quadra, perdeu seu serviço duas vezes, mas quebrou a cazaque Zarina Diyas, #34, em quatro oportunidades. Em 1h37min,fez duplo 6/4 e avançou. Contando com a generosidade dos deuses das chaves, a tenista russa, que só enfrentou uma cabeça de chave até agora (Begu, #31 do mundo), terá pela frente a 47ª do ranking, Coco Vandeweghe, na disputa por uma vaga na semi. A americana, por sua vez, vem fazendo estragocom seus saques e soma três vitórias seguidas sobre cabeças de chave: Karolina Pliskova, Sam Stosur e Lucie Safarova. Mais uma será possível?

Wawrinka, segundo deste grupo a avançar, voltou a fazer uma partida abaixo de seu melhor nível. No entanto, mais uma vez triunfou em sets diretos: 7/6(3), 7/6(7) e 6/4. David Goffin, sua vítima do dia, teve set point na segunda parcial e uma quebra de vantagem na terceira. Jogou como nunca… Vocês sabem o resto.

Ao mesmo tempo, Andy Murray fazia uma belíssima apresentação diante de Ivo Karlovic na Quadra Central. O croata, que disparou 136 aces nas três rodadas, conseguiu "só" 29 saques vencedores nesta segunda e acabou sucumbindo diante do queridinho da casa. O escocês, aliás, deu uma impressionante aula de lobs, passando meia dúzia de bolas por cima do adversário, que tem 2,11m de altura (contem esses 2,11m mais um braço esticado mais a raquete de pé!).

O britânico, campeão de Wimbledon em 2013, enfrentará nas quartas o nome mais surpreendente do torneio: Vasek Pospisil, #56 do mundo, que eliminou Fabio Fognini na segunda rodada, aproveitou a desistência de Ferrer e a derrota de Nadal, e bateu Viktor Troicki, #22, nesta segunda. Contra Murray, o canadense entrará mais uma vez em quadra como azarão. Vem mais zebra por aí? Duvido.

Por fim, Roger Federer fez seu (rápido) passeio pela Quadra Central. Venceu o primeiro set em 19 minutos, viu Roberto Bautista-Agut torcer o tornozelo e oferecer pouca resistência. O espanhol ainda voltou para a quadra e lutou bravamente até o fim, mas o resultado não mudaria se ele tivesse tirado o resto do dia de folga. O suíço não bobeou e fechou o jogo em 1h25min: 6/2, 6/2 e 6/3.

As cabeças que rolaram

Depois da queda de Kvitova, Caroline Wozniacki, número 5 do mundo, era a principal cabeça na parte de baixo da chave. Era. Nesta segunda, a dinamarquesa foi mais uma vítima do jogo agressivo de Garbiñe Muguruza, #20. Por 6/4 e 6/4, a espanhola derrubou a ex-número 1 e deu um passo adiante no que já era sua melhor participação em Wimbledon.

O resultado põe Muguruza nas quartas de final diante da suíça Timea Bacsinszky na metade maluca da chave feminina. Quem vencer esse encontro vai enfrentar Agnieszka Radwanska, #13, que resta como principal cabeça na parte de baixo. Depois de eliminar Jelena Jankovic por 7/5 e 6/4, a polonesa é favorita nas quartas de final contra a americana Madison Keys – as duas se enfrentaram três vezes, e Aga venceu todas, cedendo apenas um set.

Na chave masculina, que ficou pelo caminho antes da hora foi Tomas Berdych, número 6 do mundo. O tcheco, que já não vinha jogando um tênis tão sólido desde o início do torneio, acabou parando diante da consistência de Gilles Simon, que faz uma ótima temporada de grama. Atual 13º do ranking, o francês que fez semifinal em Queen's e quartas em Nottingham, já havia derrubado Almagro e Monfils em Wimbledon. Hoje, perdeu apenas oito games: 6/3, 6/3 e 6/2. O placar espanta mais do que o resultado em si. Afinal, não custa lembrar que Simon agora soma 7 vitórias em 11 confrontos contra Berdych.

O jornalista que se atrapalhou

São tantos jogos relevantes e tanta gente importante em quadra ao mesmo tempo na Manic Monday que eventualmente algum jornalista acaba se confundindo com os resultados. Um deles chegou atrapalhado à coletiva de Tomas Berdych. No tweet de Christopher Clarey, do New York Times, a transcrição da entrevista mostra que o repórter perguntava como Berdych chegaria às quartas de final. O tcheco, com certa razão, perguntou se o rapaz estava de gozação.

As quartas de final

[1] Novak Djokovic / [14] Kevin Anderson x Marin Cilic [9]
[4] Stan Wawrinka x Richard Gasquet [21]
Vasek Pospisil x Andy Murray [3]
[12] Gilles Simon x Roger Federer [2]

[1] Serena Williams x Victoria Azarenka [23]
[4] Maria Sharapova x Coco Vandeweghe
[20] Garbiñe Muguruza x Timea Bacsinszky [15]
[21] Madison Keys x Agnieszka Radwanska [13]

Os brasileiros

Bruno Soares e Alexander Peya contra o canadense Daniel Nestor e o indiano Leander Paes, uma partida de veteranos – com 152 anos somados dentro de quadra. A dupla octogenária (ambos têm 42 anos), que não vem obtendo grandes resultados no circuito, até que resistiu bravamente, vencendo o terceiro e o quarto sets depois de uma estratégica pausa para ir ao banheiro. Soares e Peya, entretanto, evitaram um drama ainda maior vencendo a parcial decisiva sem sustos: 6/3, 7/5, 3/6, 2/6 e 6/2.

O resultado coloca Peya e Soares nas quartas de final contra Jamie Murray e John Peers, que eliminaram os atuais campeões, Vasek Pospisil e Jack Sock. Vale lembrar que Soares e Peya podem encontrar nas semifinais Ivan Dodig e Marcelo Melo, que também venceram hoje: 6/1, 6/4 7/6(6) sobre Frederik Nielsen e Jonathan Marray, campeões de Wimbledon em 2012. Nas quartas, Melo e Dodig vão precisar passar por Jonathan Erlich e Philipp Petzschner.

Por fim, na chave de simples juvenil, a última representante brasileira foi eliminada. Sophia Chow perdeu por 6/2 e 6/1 para a suíça Jil Teichmann. Resumindo a participação brasileira entre os juvenis, foram dois jogos e apenas quatro games (games!) vencidos – lembrando que não houve representantes do país na chave masculina. E há quem diga que nosso circuito juvenil é ótimo…

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.