Topo

Saque e Voleio

Wimbledon, dia 4: Nadal tomba, Federer faz mágica e realeza assiste

Alexandre Cossenza

02/07/2015 17h10

Wimbledon começou esta quinta-feira com mais cara de Wimbledon. Não, não é todo ano que chove em Londres durante o Slam da grama, mas é uma sensação estranha passar duas semanas de tênis em Londres sem ver, pelo menos uma vez, as quadras do All England Club cobertas pelas tradicionais lonas verdes. Pois a chuva atrasou a programação em cerca de 40 minutos. Mas e daí? A quinta-feira foi das melhores. Um campeão tombou espetacularmente, a realeza apareceu, Federer fez mágica e mais dois brasileiros venceram na jornada mais divertida deste ano (até agora). Este resumaço lembra tudo que aconteceu de importante!

O tombo

Nada agita mais os primeiros dias de um Slam do que um grande nome correndo risco de eliminação, e foi o que aconteceu nesta quinta, com Rafael Nadal dando adeus precoce (ou não?) a Wimbledon. O espanhol, que faz sua pior temporada nos últimos dez anos – talvez na vida -, tombou espetacularmente diante de um espetacular Dustin Brown. O alemão, que joga arriscando tudo e subindo à rede o tempo inteiro, não deu ritmo para Nadal, fez uma jogada incrível atrás da outra e triunfou por 7/5, 3/6, 6/4 e 6/4.

O resultado é daqueles que mexem com o torneio, que fazem com que todos os outros jogadores parem diante de monitores para observar. Até Rufus, o falcão de Wimbledon, quis fechar os olhos nos primeiros match points.

Para Nadal, é mais um resultado decepcionante em uma temporada que acumula resultados abaixo da expectativa desde janeiro. Não é, no entanto, novidade no All England Club. Em suas últimas quatro participações, o bicampeão do torneio (2008 e 2010) foi eliminado por tenistas que estavam não estavam entre os 99 melhores do mundo!

Para Dustin Brown, 30 anos, um dos tenistas mais habilidosos e divertidos de ver no circuito, a vitória foi daquelas que colocam um ponto de exclamação na carreira. Jogar o nível de tênis que ele jogou, logo na Quadra Central de Wimbledon, o ícone de tudo que é mais bonito na modalidade, e ainda mais contra um bicampeão do torneio… É espetacular (quantas vezes já usei a palavra neste texto mesmo?)!

A realeza

Antes disso tudo, porém, o torneio deu as boas vindas à Duquesa da Cornualha, que visitou o All England Club. Rafael Nadal, Tomas Berdych e Daniela Hantuchova estavam entre os tenistas que cumprimentaram a Duquesa, que pareceu mais interessada, contudo, em Rufus, o falcão de Wimbledon.

Mais tarde, a Duquesa foi assistir à partida do britânico favorito, Andy Murray. O escocês triunfou e ainda de uma munhequeira de presente. Leia mais aqui.

Os cabeças

Roger Federer voltou a vencer com tranquilidade. E 1h25min, aplicou 6/4, 6/2 e 6/2 sobre Sam Querrey, com direito a 32 winners e apenas dez erros. O jogo desta quinta, contudo, foi daqueles em que importa mais o "como" do que a vitória em si. O suíço voltou a dar espetáculo na Quadra Central de Wimbledon, mostrando que a combinação de seu jogo com a grama continua inigualável. De tudo que Federer aprontou contra o americano, vale destacar esse lob executado por baixo das pernas.

Outro candidatíssimo ao título, Andy Murray oscilou bem menos do que na primeira rodada e avançou rápido. Disparou 25 winners, cometeu só 11 erros não forçados e aplicou 6/1, 6/1 e 6/4 sobre Robin Haase, aproveitando muito bem o segundo saque nada ameaçador do holandês. O escocês agora enfrenta o italiano Andreas Seppi, 27º do ranking, contra quem continuará sendo favoritíssimo.

Quem também atropelou foi a tcheca Petra Kvitova. A atual campeã perdeu apenas dois games contra a japonesa Kurumi Nara: 6/2 e 6/0. O encontro durou apenas 57 minutos, o que significa que, após duas rodadas, Kvitova ficou apenas 1h32min em quadra e cedeu míseros três games (média de menos de um por set!). Antes do torneio, o consenso era que a número 2 do mundo seria a única real ameaça a Serena Williams em condições normais (ênfase na expressão "condições normais", por favor). Agora, depois de duas atuações tão sólidas seguidas (coisas rara para ela), Kvitova reforça esse pensamento.

O susto

De novo, Sabine Lisicki aparece nesta seção aqui. A alemã, dona do saque mais potente do circuito e finalista de Wimbledon em 2013, esteve um set e uma quebra atrás na partida de hoje, contra a americana Christina Mchale, #64. Lisicki, no entanto, reagiu, devolveu a quebra e venceu o segundo set graças a seguidos erros da oponente no 12º game. Na parcial decisiva, deslanchou. O próximo jogo da número 18 do mundo será interessante. Ela enfrenta a inteligente suíça Timea Bacsinszky, 15ª do ranking.

As (outras) cabeças que rolaram

Ekaterina Makarova, número 8 do mundo, foi mais uma top 10 a dar adeus ao torneio (se juntando a Halep e Ivanovic). A russa, que não estava entre as mais cotadas por causa de seu retrospecto nada fantástico na grama, foi eliminada pela eslovaca Magdalena Rybarikova, #65, que fez 6/2 e 7/5.

A eliminação da russa não traz grandes consequências na chave. O curioso é que Rybarikova enfrentará outra responsável por eliminar uma cabeça de chave. A bielorrussa Olga Govortsova, #122, superou a francesa Alizé Cornet, 27ª do ranking, por 7/6(6), 2/6 e 6/1. Cornet segue sem uma campanha relevante em um Grand Slam. Em toda carreira, a francesa, que já foi número 11 do mundo, jamais passou das oitavas de final em um dos quatro maiores torneios do circuito.

Lisicki_W_r2_get_blog

Os brasileiros

Marcelo Melo e Ivan Dodig, cabeças de chave número 2, tiveram pouco problema para superar seu primeiro obstáculo. Brasileiro e croata, campeões de Roland Garros, venciam por 6/4 e 4/0 quando o argentino Diego Schwartzman, que jogava com seu compatriota Leo Mayer, abandonou por causa de lesão. Os próximos adversários de Melo e Dodig serão o polonês Mariusz Fyrstenberg e o mexicano Santiago González. Não é, nem de longe, um jogo tranquilo, especialmente para segunda rodada de Slam.

E Melo não foi o único brasileiro a contar com uma desistência nesta quinta. Marcelo Demoliner e seu parceiro, o neozelandês Marcus Daniell, tornaram-se a primeira dupla classificada para as oitavas de final porque seus adversários, o espanhol Guillermo García-López e o tunisiano Malek Jaziri, abandonaram o torneio. Com a vitória por WO, Demoliner e Daniell aguardam os próximos adversários.

A única derrota brasileira veio com André Sá, que manteve a parceria vencedora com o australiano Chris Guccione. Os dois foram campeões em Nottingham, na semana passada, e vinham em ótimo momento, mas não deram sorte na chave de Wimbledon. Os colombianos Juan Sebastian Cabal e Robert Farah, cabeças de chave 16, venceram de virada em cinco sets: 6/4, 3/6, 4/6, 7/6(2) e 6/4.

Berdych_W_r2_get_blog

Os favoritos que venceram

A lista dos candidatos ao título que correm por fora e venceram nesta quinta-feira inclui Angelique Kerber e Caroline Wozniacki, que atuaram logo no começo do dia. A alemã passou pela russa Anastasia Pavlyuchenkova por 7/5 e 6/2, enquanto a dinamarquesa fez 6/1 e 7/6(6) sobre a tcheca Denisa Allertova, número 83 do mundo.

Wozniacki, em especial, só passou sufoco no segundo set porque deixou escapar uma vantagem de 5/1, perdendo cinco games seguidos. É de se imaginar que a margem para outra atuação excessivamente passiva será menor na próxima rodada, quando Wozniacki vai enfrentar a italiana Camila Giorgi, #32.

Na chave masculina, um resultado que vale destaque foi o triunfo de Tomas Berdych, número 6 do mundo, sobre Nicolas Mahut. O francês, sempre um perigo na grama, pouco ameaçou o tcheco, que aplicou 6/1, 6/4 e 6/4. Berdych, portanto, segue como possível (provável?) adversário de Federer nas quartas de final.

O imortal

Depois de dar adeus nas simples, Lleyton Hewitt, disposto a aproveitar o máximo sua última passagem como jogador profissional por Wimbledon, voltou à quadra nesta quinta para estrear na chave de duplas. E, novamente, o australiano ficou cinco sets em quadra. Desta vez, saiu um pouco mais alegre. Ele e seu jovem parceiro e compatriota Thanasi Kokkinakis (19 anos, #71) derrotaram Marin Draganja e Henri Kontinen por 6/7(6), 3/6, 7/6(1), 6/2 e 8/6, em 3h53min.

O jogo foi tão legal que o também australiano Nick Kyrgios se pendurou pra ver!

A interminável polêmica

Outro assunto relevante do envolvendo Nadal foi a publicação de mais uma notícia sobre a velha briga entre jogadores e a Real Federação Espanhola de Tênis (RFET). Segundo o "Noticias Mallorca", a RFET falsificou a assinatura de Rafael Nadal em uma camisa que foi colocada em um leilão beneficente. O próprio presidente da RFET, José Luis Escañuela, admitiu que o autógrafo não era verdadeiro. Escañuela, aliás, anunciou hoje que deixará o cargo após o próximo confronto de Copa Davis, que será contra a Rússia. Por enquanto, a capitã Gala León, escolhida pela federação e rejeitada pelos principais jogadores do país, continua no cargo.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.