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Saque e Voleio

Wimbledon, dia 3: calor recorde, canhão, desmaio e um buraco na chave

Alexandre Cossenza

01/07/2015 16h55

O Torneio de Wimbledon continua proporcionando rodadas agitadas, resultados surpreendentes e muita coisa fora de quadra. Neste primeiro dia da segunda fase, o All England Club viu um boleiro desmaiar sob o calor, uma desistência com grandes porporções, duas zebras consideráveis, um par de sustos e terceiro saque mais rápido do torneio. O resumaço a seguir conta tudo para você!

O abandono e o buraco

Embora dentro de quadra os primeiros jogos não empolgassem, as notícias "animaram" esta quarta-feira desde cedo. Primeiro, com o boato sobre um incêndio (não confirmado) na Quadra 1. Depois, com a informação do abandono de Kei Nishikori. O japonês, número 5 do mundo, já começou o torneio se recuperando de uma lesão na panturrilha esquerda e, depois de vencer na primeira rodada, disse que o local não deveria lhe causar problemas durante Wimbledon. Dois dias depois, no entanto, desistiu de continuar.

Nishikori enfrentaria Santiago Giraldo, #60, que avança à terceira rodada. Assim, o colombiano, que foi o algoz de Feijão na segunda-feira, repete seu resultado do ano passado, quando também caiu diante de Federer depois de vencer dois jogos. Giraldo deu mais sorte ainda porque Pablo Cuevas, principal cabeça dessa seção da chave, caiu na primeira rodada – e o algoz do uruguaio, o jovem promissor alemão Alexander Zverev, tombou nesta quarta. Assim, Giraldo lutará por uma vaga nas oitavas contra o americano Denis Kudla, #105 do mundo. E tem mais: é desse grupo, junto com John Isner e Marin Cilic, que sairá o adversário de Djokovic nas quartas de final. Será que o sérvio está feliz?

Os cabeças

Falando nele, Novak Djokovic venceu mais uma partida de forma confortável. Só teria sido mais fácil de o número 1 do mundo não tivesse perdido o saque logo no primeiro game da partida. Ainda assim, não houve drama nem no set inicial. O sérvio venceu por 6/4, 6/2 e 6/3 e garantiu seu lugar na terceira rodada. O duelo também marcou a despedida de Jarkko Nieminen, que já havia avisado que faria sua última participação em Wimbledon. O finlandês de 33 anos não tem muito do que reclamar. Conquistou uma belíssima vitória sobre Hewitt e teve o prazer de dar o adeus na Quadra Central, com direito a aplausos do número 1 do mundo e beijo na grama. Privilégio para poucos.

Ainda sobre Djokovic, é curioso apontar que seu desafio na terceira rodada promete ser mais duro que o das oitavas. O sérvio terá pela frente o talentoso (e imprevisível) Bernard Tomic, #26 do mundo. O australiano tem todos os golpes e um saque respeitável, mas nunca mostrou (ainda) postura para derrotar um oponente do nível de Djokovic em um evento dessa magnitude.

Serena Williams, número 1 do mundo no ranking feminino, também avançou com facilidade e eliminou a húngara Timea Babos por 6/4 e 6/1. A americana quebrou o saque da adversária no primeiro game de cada set e jamais foi ameaçada. Serena agora enfrentará uma tenista da casa, o que deve resultar num ambiente animado. Heather Watson, #59, chega à terceira embalada por vitórias importantes. Na estreia, eliminou a cabeça de chave 32, Caroline Garcia, da França, em um tenso terceiro set que só acabou em 8/6 (sem tie-break, lembremos). Nesta quarta, bateu a veterana Daniela Hantuchova por 6/4 e 6/2.

Vale lembrar que Serena continua em rota de colisão com sua irmã. Venus, que também é pentacampeã de Wimbledon venceu mais uma nesta quarta-feira: 7/6(5) e 6/4 sobre a cazaque Yulia Putintseva. As Williams se enfrentarão nas oitavas de final se vencerem suas adversárias na próxima rodada.

O boleiro que desmaiou

Foi também um dia bastante quente – e falo de temperatura mesmo – para os padrões britânicos. Embora não tenha sido o suficiente para incomodar os tenistas, acostumados a jogar em condições assim (até piores em torneios como o Australian Open e o Rio Open), o calor fez um boleiro passar mal na Quadra 17, durante a partida entre o americano John Isner e o australiano Matthew Ebden.

Enquanto o jogo estava interrompido, John Isner foi fotografado conversando tranquilamente com seu técnico, Justin Gimelstob – algo não permitido nas regras do tênis, já que a partida não havia dada como suspensa pelo árbitro de cadeira. Ainda sobre o calor, o Met Office, serviço meteorológico nacional da Grã-Bretanha, anunciou que teria sido, inclusive, o dia mais quente da história do torneio, com uma temperatura máxima de 35,7 graus Celsius.

O canhão

Na partida contra o veterano alemão Tommy Haas, o canadense Milos Raonic disparou o terceiro saque mais rápido da história do torneio: 145 mph ou 233 km/h.

Raonic não só aplicou um pneu no set inicial como passou para a terceira fase ao triunfar por 6/0, 6/2, 6/7(5) e 7/6(4). O canadense fará um duelo interessantíssimo com o polêmico garotão australiano Nick Kyrgios, #29, de 20 anos, que eliminou o argentino Juan Mónaco, número 35 do mundo, por 7/6(5), 6/3 e 6/4.

As cabeças que rolaram

Apesar de uma semifinal no já longínquo ano de 2007, Ana Ivanovic nunca se mostrou uma grande força na grama. Pelo contrário. A pouca mobilidade e a falta de intimidade com o jogo de rede são grande empecilhos à sérvia. Pois a americana Bethanie Mattek-Sands, #158 do mundo em simples, mas sexta colocada na lista de duplas, se aproveitou da fragilidade da rival. Com seu jogo versátil e voleios precisos, fez 6/3 e 6/4 e derrubou a favorita (no papel). Resta saber se Mattek-Sands conseguirá fazer o mesmo com Belinda Bencic, sua próxima adversária. A suíça de 18 anos, número 22 do mundo, acumula oito vitórias seguidas e foi campeã do WTA de Eastbourne na última semana. E que vencer terá pela frente Victoria Azarenka ou Kristina Mladenovic. É uma das seções mais interessantes da chave feminina.

Dona de um dos saques mais respeitáveis (e temidos, talvez?), Karolina Pliskova, número 11 do mundo, foi outra que não passou da segunda rodada. Sua algoz foi a americana Coco Vandeweghe, outra boa sacadora, #47, que fez 7/6(5) e 6/4. Vandewegue, assim, vai à terceira fase para enfrentar a australiana Sam Stosur, #23, que avançou ao derrotar Urszula Radwanska, a irmã menos ilustre da família. Vale lembrar que americana e australiana se enfrentaram no Australian Open deste ano, e Vandeweghe levou a melhor.

Os brasileiros 100%

O dia foi ótimo para os brasileiros nas duplas – como quase sempre. De cara, o gaúcho Marcelo Demoliner, que joga com o neozelandês Marcus Daniell, venceu o primeiro jogo de sua carreira em Wimbledon. Sua parceria fez 6/3, 7/6(4) e 6/1 sobre Robin Haase e Benoit Paire. "Demo" e Daniell, aliás, disputaram o qualifying e perderam na última rodada. A parceria só ganhou vaga na chave principal após a desistência da dupla formada por Marcos Baghdatis e Borna Coric.

Quem também venceu foi Thomaz Bellucci. Ele e o argentino Guilermo Duran precisaram de cinco sets, mas eliminaram Radek Stepanek e Mikhail Youzhny por 5/7, 6/4, 6/2, 6/7(5) e 6/3. O último brasileiro a entrar em quadra foi justamente o mais cotado entre os desta jornada: Bruno Soares. O mineiro e Alexander Peya, cabeças de chave número oito, derrotaram os espanhóis Pablo Carreño-Busta e Daniel Gimeno-Traver sem drama: 6/3, 6/4, 6/7(5) e 6/1.

Os favoritos tranquilos

Maria Sharapova entrou e saiu rapidinho da quadra. Em 1h04min, a russa despachou a holandesa Richel Hogenkamp, número 123 do mundo. Com uma chave favorável, a ex-número 1 será igualmente favorita na próxima rodada, contra a romena Irina-Camelia Begu.

O campeão de Roland Garros também navegou por mares tranquilos nesta quarta. Dono de um jogo muito mais potente e versátil que seu adversário, o suíço Stan Wawrinka, número 4 do ranking, aplicou 6/3, 6/4 e 7/5 sobre o veteraníssimo dominicano Victor Estrella Burgos, de 34 anos e #48 do mundo. Stan agora encara Fernando Verdasco e, se avançar, pega Marcos Baghdatis ou David Goffin. É seguro dizer que o suíço que mais venceu Grand Slams nos últimos cinco anos é favorito para alcançar pelo menos às quartas de final.

Os sustos

Marin Cilic, campeão do US Open e número 9 do mundo, esteve pertinho de dar adeus a Wimbledon nesta quarta-feira. O croata enfrentou um bravo Ricardas Berankis, que forçou um quinto set e parecia o melhor tenista em quadra durante a maior parte da parcial decisiva. O lituano de 25 anos inclusive fez Cilic sacar de 15/40 em dois games. o croata escapou ambas vezes – uma delas no importantíssimo 11º game. No 12º, Berankis cometeu seguidos erros e perdeu o match point com uma dupla falta – a bola bateu na fita e saiu por muito pouco, mostrou o replay.

Cabeça de chave 21 e sorteada numa seção bem "amigável" da chave (ainda mais depois da eliminação de Eugenie Bouchard), Madison Keys completou hoje sua virada em cima da suíça Stefanie Voegele: 6/7(6), 6/3 e 6/4. A partida começou na terça-feira, mas acabou suspensa por falta de luz natural, quando a escuridão era tanta que impedia até o funcionamento do Hawk-Eye (sistema de replay). Dona de um saque respeitável e golpes muito potentes do fundo de quadra, Keys pode ser a única real ameaça a Petra Kvitova antes das semifinais. Pode. Ou não.

(Mais?) Incêndio

Se o boato do começo do dia era verdade, ninguém confirmou, mas no fim do dia, aconteceu. A Quadra Central foi evacuada por causa de uma suspeita de problema elétrico. A brigada de incêndio foi ao local. Essa notícia não dava para a organização abafar, já que parte do procedimento envolvia evacuar a sala de imprensa. Alguns jornalistas acabaram usando lixeiras como escrivaninhas.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.