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Wimbledon, dia 2: amarelão assumido, favorito entediante e brasileiros caem

Alexandre Cossenza

30/06/2015 16h54

Duas zebras de porte considerável, um par de favoritos voando na Quadra Central, um favorito "entediante, sem graça e miserável", um amarelão assumido e três brasileiros eliminados (ou quatro?). O segundo dia do Torneio de Wimbledon correspondeu às expectativas, com jogos interessantes e muito assunto para comentar. Vejamos , então, o que aconteceu de mais legal ao longo do longo dia – que só acabou às 21h28min de Londres.

Os brasileiros

Thomaz Bellucci foi eliminado por Rafael Nadal por 6/4, 6/2 e 6/4. O brasileiro fez até um bom começo de jogo, mas não aproveitou os break points que teve. Sacando mal (tinha 35% de aproveitamento de primeiros serviços depois de quatro games), foi quebrado e viu o espanhol deslanchar na parcial. Bellucci ainda perdeu o saque logo no primeiro game do segundo set e precisou correr atrás, ficando numa posição desconfortável. O terceiro set ainda começou com um sopro de esperança e uma quebra de vantagem, mas o placar foi rapidamente de 2/0 a favor do paulista para 4/2 a favor do espanhol, que não teve problemas para fechar o jogo.

O aproveitamento ruim nos serviços pode ser explicado, pelo menos parcialmente, pela lesão nas costas sofrida em Nottingham. Bellucci precisou ficar alguns dias sem treinar, o que deve ter afetado seu ritmo. A parte ruim do resultado desta terça-feira é constatar que Rafa Nadal não esteve nem perto de seu melhor tênis. O espanhol não sacou especialmente bem (59%) nem ganhou tantos pontos com o primeiro serviço (65%, número bem abaixo do ideal na grama). Sua atuação não foi das mais animadoras. Contra um saque melhor, Nadal teria problemas assim.

Teliana Pereira, que não era favorita para derrotar a número 32 do mundo, Camila Giorgi, também se despediu do torneio. Apesar de sair com quebras de vantagem em ambos sets, a brasileira foi superada por 7/6(4) e 6/3. A italiana, campeã do WTA de 's-Hertogenbosch há pouco mais de duas semanas, cometeu 11 duplas faltas, mas compensou com 29 winners. Outro brasileiro que voltou para casa hoje foi Feijão. Eliminado nas simples ontem, João Souza tentou a sorte na chave de duplas ao lado do dominicano Victor Estrella Burgos. Não deu. Andre Begemann e Julian Knowle venceram por três sets a um, com parciais de 6/4, 7/6(3), 3/6 e 7/5.

Teve até técnico brasileiro se despedindo do torneio. Larri Passos, o mesmo que levou Guga ao topo do ranking e hoje trabalha com Tamira Paszek (#243, passou pelo qualifying), viu a austríaca dar adeus ao perder por 6/2 e 6/2 para a australiana Casey Dellacqua, 61ª colocada no ranking da WTA.

Os cabeças

O massacre do dia foi cortesia da atual campeã de Wimbledon, Petra Kvitova. A tcheca ficou só 35 minutos em quadra e despachou a holandesa Kiki Bertens por 6/1 e 6/0. Número 2 do mundo e considerada a única ameaça real a Serena Williams em Wimbledon (em condições normais, claro), Kvitova só perdeu um ponto em seus games de serviço durante a partida inteira. A curiosidade? Esse pontinho veio numa dupla falta da própria tcheca.

Após a partida, Kvitova estava tão feliz com o desempenho que publicou uma foto ao lado de um pôster com sua imagem recebendo a bandeja de campeã no ano passado, dizendo: "Passei por essa moça no caminho para a coletiva. Fiquei feliz de ter jogado como ela hoje. Obrigado pelos arrepios."

Quase tão rápida quanto Kvitova foi a passagem de Roger Federer pela Quadra Central de Wimbledon. O suíço teria vencido em 43 minutos se o torneio masculino não fosse disputado em melhor de cinco sets. Ainda assim, o suíço fez 6/1, 6/3 e 6/3 em 1h07min sobre o bósnio Damir Dzumhur, 88º do mundo. Tempo suficiente para executar seis aces, 26 winners, ganhar 85% dos pontos com o primeiro serviço e quebrar o saque do adversário cinco vezes. O suíço Federer segue como fortíssimo candidato ao título.

As cabeças que rolaram

Número 3 do mundo e sorteada numa seção nem tão complicada da chave de Wimbledon, Simona Halep já deu adeus. A romena venceu o primeiro set, mas cedeu a virada à eslovaca Jana Cepelova, #106 do mundo: 5/7, 6/4 e 6/3. A eliminação só enfatiza o momento irregular de Halep.

Difícil dizer o quanto isso vem afetando a romena, mas desde que anunciou planos de se casar, em abril, Halep vem sendo alvo de assédio e ameaças de morte de um fã dinamarquês. A história é relatada em ótima reportagem do New York Times, que faz uma relação com o ataque sofrido por Monica Seles há 22 anos.

A grande decepção do dia, contudo, nem foi a queda de Halep, mas o tombo de Eugenie Bouchard. Número 12 do mundo e atual vice-campeã de Wimbledon, a canadense já vinha em má fase, mas cavou um buraco ainda mais fundo nesta terça-feira, dando adeus ao torneio logo na estreia. Sua algoz foi a desconhecida (mesmo!) chinesa Ying-Ying Duan, #117, que fez 7/6(3) e 6/4.

Ilustrando o tamanho da derrota: em 2015, a adversária de melhor ranking a ser derrotada por Duan era a também chinesa Lin Zhu, #127, que perdeu aquele jogo ao abandonar no segundo set. O resultado desta terça marca a primeira vitória na carreira de Duan em um Grand Slam. A moça, que tem 25 anos, já havia disputado quatro Slams, sem nunca vencer uma partida.

Na entrevista coletiva, Bouchard alegou estar com um estiramento no abdômen e deu a entender que não deveria nem ter entrado em quadra. Resta saber se a moça manterá o bom humor de antes do torneio. Pouco antes a estreia em Wimbledon, a canadense (que deve cair para perto do posto de 25 do mundo) compatilhou no Twitter uma imagem que fazia piada com sua má fase. No gráfico, Simba pergunta a Mufasa "o que é vencer?", e o pai responde "Não sei, filho, somos fãs de Eugenie Bouchard."

O favorito entediante, sem graça e miserável

O nome mais esperado na Quadra Central hoje era o de Andy Murray, que superou em três sets o cazaque Mikhail Kukushkin: 6/4, 7/6(3) e 6/4. O único momento de tensão aconteceu no fim do segundo set. O britânico tinha 5/2 no placar, mas foi quebrado duasvezes seguidas e permitiu que o adversário sacasse para o set. Murray, por sorte, conseguiu a quebra e venceu o tie-break. Na próxima rodada, o escocês enfrenta o holandês Robin Haase, que passou em quatro sets pelo colombiano Alejandro Falla.

Murray brilhou mais, inclusive, no vídeo publicado pelo canal oficial de Wimbledon nesta terça, em uma descontraída entrevista para o "emprego de campeão de Wimbledon". atendendo o pedido para se descrever em três palavras, respondeu: entediante, sem graça e miserável. Quando indagado sobre seus pontos fracos, disse "são tantas!" Bem no estilo britânico do humor autodepreciativo. Vale ver!

Uma favorita quase tranquila

Sabine Lisicki, vice-campeã de Wimbledon em 2013 e semifinalista em 2011, começou com vitória. Não foi lá o mais tranquilo dos triunfos, mas foi o suficiente para eliminar Jarmila Gajdosova, que esteve à frente nas duas parciais (mas sem chegar a sacar para os sets). A alemã fez 7/5 e 6/4 e manteve seu nome na lista de candidatas ao título.

Os sustos

Por problemas físicos, Jo-Wilfried Tsonga não jogou nenhum dos torneios preparatórios na grama. Logo, era esperado que o francês encontrasse problemas nas rodadas iniciais em Wimbledon. Não foi diferente. Diante de um tenista com ótimo saque, como Gilles Muller, 44 do mundo, Tsonga foi exigido e só escapou no quinto set: 7/6(8), 6/7(3), 6/4, 3/6 e 6/2. E isso depois de salvar um set point na parcial inicial, o que teria complicado bastante sua terça-feira.

Caroline Wozniacki, cabeça de chave 5, também viveu momentos perigosos. Escalada de última hora para a Quadra Central, a ex-número 1 viu a chinesa Saisai Zheng, #66, abrir 4/1 e, mais tarde, sacar para o set. A dinamarquesa se encontrou a tempo de evitar um desastre e, quando o fez, passeou em quadra: venceu dez games seguidos, aplicando pneu e fechando o jogo em 7/5 e 6/0.

O amarelão assumido

O ucraniano Sergiy Stakhovsky, que teve break points no nono e no 11º games do quinto set, acabou derrotado pelo jovem Borna Coric, de 18 anos e número 40 do mundo, em pouco menos de 4h de jogo: 4/6, 7/6(5), 6/2, 1/6 e 9/7. Stakho não deixou a quadra nada feliz com sua atuação e desabafou no Twitter: "O prêmio de amarelão de Wimbledon vai … para … MIM!!!!"

Coric, por sua vez, segue em ascensão. A vitória foi a sua primeira em Wimbledon e significa um encontro de segunda rodada com o italiano Andreas Seppi, cabeça de chave 25. Um jogo bem ganhável para o talentoso croata.

A bicicleta

Com menos de uma hora de jogo nesta terça-feira, Angelique Kerber, número 10 do mundo, já havia aplicado sua bicicleta. O jogo contra a compatriota Carina Witthoeft, 53ª do ranking, durou 45 minutos. Em sua segunda participação no torneio londrino, Witthoeft, de 20 anos, parecia atordoada pela situação. Quase não parou entre os pontos. Bateu muito na bola, mas pensou pouco. Pagou o preço.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

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