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Saque e Voleio

Todos sorriem em Wimbledon (menos Bellucci)

Alexandre Cossenza

26/06/2015 11h55

Federer_W_JonBuckle_AELTC2_blog

Não dá para dizer que a chave de Wimbledon foi especialmente cruel com ninguém. Novak Djokovic não vai precisar enfrentar ninguém do Big Four até a final; Roger Federer tem um caminho livre de tenistas que ameaçam na grama até, pelo menos, as quartas de final; a história de Andy Murray não é tão diferente, e até Rafael Nadal pode dizer que teve sorte com o caminho que colocaram à sua frente. Thomaz Bellucci, adversário do espanhol na estreia, é que não tem tanto assim para comemorar. Vejamos, então, o que podemos esperar do Torneio de Wimbledon, que começa na próxima segunda-feira.

Número 1 do mundo e atual campeão do torneio, Djokovic escapou do Big Four, o que é sempre bom – principalmente para quem tem muitos pontos a defender. Por outro lado, o sérvio tem algumas cascas de banana nas primeiras rodadas. Ninguém gostaria de estrear contra Philipp Kohlschreiber nem de encarar Lleyton Hewitt na grama (ou Nieminen?) logo depois. Tomic pode ser o possível rival de terceira rodada. Não é lá a primeira semana dos sonhos de ninguém. E seu quarto de chave ainda tem L. Mayer/Kokkinakis/Anderson/Tipsarevic (oitavas) e Cilic/Isner/Nishikori (quartas).

A recompensa por tudo isso, se Djokovic chegar na semi, é não ter de enfrentar nem Murray nem Nadal antes da decisão. Na outra ponta da parte de cima da chave está Stan Wawrinka, que não tem um histórico tão honroso assim em Wimbledon (13v e 10d). O grande ponto de interrogação, contudo, é a forma em que o número 1 se encontra. Como não jogou nenhum torneio de grama antes de Wimbledon (Nole está jogando exibições no evento conhecido como The Boodles), ninguém sabe exatamente a quantas anda seu tênis.

Não é a primeira vez que Djokovic chega a Wimbledon sem participar de eventos no piso. Ano passado, fez o mesmo e saiu de Londres com o troféu. Este ano, porém, são três semanas entre Roland Garros e o Slam da grama. Além disso, as rodadas iniciais são traiçoeiras. Vale prestar bastante atenção na segunda-feira, quando o sérvio inaugurar a grama da Quadra Central contra Kohlschreiber. Está longe de ser uma daquelas estreias sonolentas de cabeças de chave.

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O mesmo pode se dizer da primeira rodada de Rafael Nadal. Embora Bellucci não tenha lá um retrospecto animador na grama, o brasileiro tem armas para incomodar o espanhol – especialmente esta versão 2015 inconstante do ex-número 1. Pode ser um duelo interessante se Bellucci estiver recuperado das dores nas costas que lhe fizeram abandonar a chave de duplas em Nottingham.

De modo geral, contudo, o sorteio foi bom para Nadal. Se passar pelo paulista, enfrentará Lu/Brown e depois pode reencontrar Troicki (ou Stepanek) na terceira rodada. Se chegar às oitavas, seu provável rival será Fognini ou Ferrer, o que, convenhamos, não é nada mal em Wimbledon. Ainda mais levando em conta que Nadal entra no evento como cabeça de chave 10 e poderia cair num confronto contra Nishikori, Berdych ou Raonic, que, em tese, ofereceriam mais dificuldades em um piso como a grama.

Ainda assim, parece ousado apostar em Rafa Nadal neste torneio. Em uma temporada cheia de altos e baixos, parece difícil acreditar que o espanhol encontrará regularidade para superar um caminho que ainda pode lhe colocar diante de Murray nas quartas, Federer na semi e Djokovic na decisão.

Andy Murray, sim, vem em grande momento. Fez um belo torneio em Roland Garros, foi campeão em Queen's e chega a Wimbledon como candidato sério ao título. Em seu caminho estão Kukushkin (estreia), Haase/Falla, Seppi/Stakhovsky/Coric (terceira rodada) e Tsonga/Karlovic (oitavas) antes de precisar enfrentar quem avançar da seção de Nadal. Pesando tudo – inclusive o fato de Tsonga não ter jogado desde Paris – não é uma chave das mais duras.

Murray_W_JonBuckle_AELTC2_blog

Do mesmo modo, Roger Federer pode comemorar o sorteio. O suíço estreia contra Dzumhur, então enfrenta Sijsling/Querrey e, depois, Sock/Groth/Jaziri/Duckworth. Nas oitavas, seu rival sai do grupo que tem Feliciano/Bautista/Paier/Youzhny. Só, então, nas quartas, Federer precisaria encarar alguém que possa lhe ameaçar na grama, como Tomas Berdych (ou, quem sabe, Ernests Gulbis, perdido no meio da seção já que não é mais cabeça de chave).

O suíço sempre foi, é e sempre será candidatíssimo ao título de Wimbledon enquanto colocar os pés no All England Club. Agora, nos últimos anos de sua carreira, o torneio londrino é, mais do que nunca, sua melhor chance de voltar a conquistar um Slam. E Federer sabe disso, o que lhe torna ainda mais perigoso. Com um caminho relativamente tranquilo até as semifinais (nem Berdych tem causado problemas ultimamente), o suíço pode trabalhar todos aspectos de seu jogo com calma e chegar lá na frente descansado e mais perigoso do que nunca – ou tão perigoso como sempre.

B4+1

Se criaram o P5+1 para negociar com o Irã, é possível incluir Stan Wawrinka no Big Four+1. Atual cabeça de chave número 4, o campeão de Roland Garros ficou na parte de cima da chave, junto com Djokovic. O jogo na grama tira um pouco do tempo que Stan tem para preparar seus longos golpes. Logo, o suíço tende a ser um pouco mais errático nesse tipo de piso. Ainda assim, uma chave com João Sousa na estreia, Estrella Burgos/Becker na segunda rodada e Thiem/Sela/Verdasco/Klizan em seguida não é das piores.

É de se esperar que Wawrinka alcance pelo menos as quartas de final. Aí, sim, encararia seu primeiro grande obstáculo contra Raonic/Kyrgios/Dimitrov. É justo dizer que Stanimal não estará em Wimbledon como favorito ao título, mas seria injusto descartá-lo totalmente. Se conseguir superar bem os primeiros adversários, pode chegar confiante lá na frente. E se seu primeiro saque estiver entrando "daquele" jeito, Wawrinka será bem difícil de superar.

Wawrinka_W_JonBuckle_AELTC_blog

Os brasileiros

Bellucci não deu lá muita sorte. Tudo bem que o Nadal de hoje – ainda mais na grama – não intimida tanto quanto o de 2013 (ou 2012 ou 2011 ou 2010 ou 2009…), mas enfrentá-lo numa primeira rodada de Grand Slam não está na lista de ninguém para o Papai Noel. Sorte mesmo deu Feijão, que escapou dos cabeças de chave e dos especialistas na grava e vai estrear contra Santiago Giraldo. O colombiano é bom tenista, claro, mas tem um segundo saque muito vulnerável. A grande questão é que o próprio Giraldo deve estar pensando o mesmo: "me dei bem!"

O que ver (ou não) na TV

Desde que a ESPN anunciou ter sublicenciado os direitos de Wimbledon junto ao SporTV, os fãs têm motivo para comemorar. Em vez da tradicional transmissão engessada do "canal campeão" (raramente saía das quadras principais e mostrava, no máximo, quatro jogos por dia), quem gosta de tênis poderá acompanhar o torneio londrino em dois canais na ESPN. Embora a ESPN nem sempre acerte a mão na escolha do que mostrar, é sempre uma opção a mais vindo de uma equipe que mostra interesse de verdade em fazer a coisa bem feita – e isso vale muito!

A lista de jogos legais de primeira rodada já é animadora. A começar pelos já citados aqui Djokovic x Kohlschreiber, que abre o torneio, e Nadal x Bellucci. Também já deixei anotado aqui Almagro x Simon e o inflamável Gulbis x Rosol, em que pode acontecer de tudo.

O que pode (ou não) acontecer de mais legal

Confirmados os favoritismos, alguns dos confrontos de terceira rodada – em tese, quando os cabeças de chave vão começar a se enfrentar – serão interessantes. Kyrgios x Raonic é o meu preferido, mas Djokovic x Tomic pode ser um tanto divertido também – dependendo da consistência do sérvio.

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O tenista mais perigoso que ninguém está olhando

Atual número 9 do mundo, Marin Cilic não fez nada de especial nem em Stuttgart nem em Queen's – perdeu para Troicki em ambos – e, por isso, anda meio fora do radar nas previsões para o Slam da grama.

Cilic, contudo, tem as armas para ir longe na grama e uma chave um tanto acessível. Se passar por Isner na terceira rodada, chega nas oitavas para enfrentar quem sair do grupo encabeçado por Nishikori e Cuevas. Não é nada impossível que o campeão do US Open chegue às quartas de final contra (possivelmente) Djokovic. E quem aí lembra que Cilic esteve vencendo o sérvio por 2 sets a 1 em Wimbledon no ano passado? Será?

Quem pode (ou não) surpreender

Um nome intrigante solto na chave é o de Nicolas Mahut – sim, aquele do jogo de 11h que deu o nome ao podcast Quadra 18. O francês de 33 anos estava fora do top 100 até algumas semanas atrás, mas furou o quali e acabou campeão do ATP de 's-Hertogenbosch. Ganhou um wild card para Wimbledon, estreia contra Krajinovic e pode enfrentar Berdych na segunda rodada. Se passar pelo tcheco, deus sabe até onde o francês pode chegar.

Vale prestar atenção também em Alexander Zverev, ex-número 1 do mundo no ranking juvenil e atual #76 aos 18 anos. Em uma chave sem especialistas na grama, o alemão pode muito bem chegar a uma terceira rodada. Se acontecer, será azarão contra Nishikori, mas não convém descartar uma zebra nesse duelo.

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Além disso, pode até soar paradoxal, mas como Djokovic não competiu na grama (e este ano são três semanas de intervalo desde Roland Garros), todos adversários do sérvio na primeira semana são potenciais candidatos a uma zebraça. Kohlschreiber e Tomic, principalmente.

Nas casas de apostas

Na casa australiana sportsbet, Djokovic lidera as cotações. Um título do sérvio paga 2,37 para cada "dinheiro" apostado nele. A lista tem, em seguida, Murray (4,33), Federer (7,50), Wawrinka (13), Nadal (23), Raonic (34), Dimitrov (41), Berdych (41), Nishikori (51) e Tsonga (51).

A ordem dos mais cotados não é tão diferente para os britânicos da William Hill. A lista lá tem Djokovic (5/4, ou seja, cinco "dinheiros" para cada quatro apostados), Murray (5/2), Federer (6/1), Wawrinka (14/1), Nadal (16/1), Dimitrov (25/1), Tsonga (33/1), Nishikori (33/1), Raonic (33/1) e Cilic (40/1).

Bellucci e Feijão estão na lista dos maiores azarões. caso um dos brasileiros seja campeão, o apostador recebe 500/1 na William Hill e 501/1 na sportsbet.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.